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LUZ DA TERRA 

Arthur C. Clarke

Mais uma vez, através de seu  processo imaginativo,  Arthur C. Clarke nos conduz ao espaçointerplanetário, que cria a ambiência necessária para onde possam a luir outros aspectos da vidahumana em eterno choque consigo mesma.

!este livro, Arthur C. Clarke lança suas personagens em uma era, separada da nossa por doisséculos. "ominando o #istema #olar, mundos hostis $ sua constituiç%o &sica, o homem ainda se vêpreso ao seu pr'prio inv'lucro e vencido por ele. ( é  )ustamente esta ambivalência humana,parado*al na sua constante reincidência, que serve de plataorma de onde se pro)etam aç+es ereaç+es mescladas, consciente ou inconscientemente, de medo, ansiedade, vigor e aniquilamento.

!o decorrer de sua narrativa, o Autor dei*a entrever como esses ingredientes se )untam para queique patente a impotência do homem na busca de uma verdade que ainda n%o delineou na suaglobalidade. #uas personagens v%o, imperceptivelmente, caminhando pelas linhas deinidas de urnaposs& vel sociedade geométrica nas suas aspiraç+es e limitaç+es. A individualidade, dilu& da nosquadriláteros sociais de cada planeta, rar&ssimas vezes é preservada. Mas tudo isso az parte de umaobra que tem como problemática central a essência humana, que suas pr'prias personagens risamcomo sendo repetitiva nos seus complicados meandros, em contraposiç%o $ descoberta de novosmundos que se despem aos olhos do homem, transormandose em rele*os destorcidos dele mesmo.

-or outro lado, a ragilidade do homem diante do universo que ele pr'prio cria, a partir de suasdescobertas, tornao inconsistente e, por vezes, incoerente. ( esta é uma constante dentro doconte*to desta obra, a qual Arthur C. Clarke leva até suas ltimas consequências, em tom quase quecarregado de ironia.

/ornase ácil, pois, detectar nas várias passagens do livro um Clarke que n%o omite a suapreocupaç%o pela tra)et'ria do ser humano, mas, contrariamente, iniltrase por entre as personagens,rotulando sutil e corretamente as aç+es que praticam.

Edição de

BESTSELLER 

 Importadora de Livros S.A.

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ARTUR C. CLAR!E

LUZ DA TERRA

/raduç%o de   A4"A!5 A331"A

6 ( # / # ( 0 0 ( 3 7mportadora de 0ivros #. A.SÃO PAULO

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"o original inglês8Earth Light 

Cop9right : b9 A3 / ; 1 3 C C 0  A3< (

"ireitos para a l&ngua portuguesa adquiridos por

BESTSELLER

Importadora de Livros S. A.3ua /upi, =>? #@5 -A105

que se reserva a propriedade desta traduç%o

1973

7 mpr es s o no 6 rasil

- r l nte d i n 6rasil  

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5 monotrilho perdia velocidade $ medida que subia, aastandose das bai*adasensombradas. Agora, a qualquer momento, pensou #adler, alcançariam o sol. A linhade escurid%o moviase ali t%o devagar que, com um pouco de esorço, um homempoderia acompanhála, poderia conservar o sol equilibrado no horizonte até ter umapausa para repousar. Mesmo depois o sol se esconderia com tanta relutncia quetranscorreria mais de uma hora, antes que o ltimo e deslumbrante segmentodesaparecesse abai*o da beirada da 0ua e a longa noite lunar começasse.

(le estivera correndo através da noite, ao longo do solo que os primeiros pioneiros

haviam aberto. dois séculos antes, a uma estável e conortável velocidade dequinhentos quilBmetros por hora. Além de um entediado condutor, que parecia nadater a azer sen%o ornecer *&caras de caé a pedido, os nicos outros ocupantes docarro eram quatro astrBnomos de 5bservat'rio. ;aviam acenado aavelmente com acabeça quando ele subira a bordo, mas prontamente se perderam em uma discuss%otécnica e, a partir de ent%o, ignoraram #adler. (le se sentiu um pouco oendido poresse abandono, depois se consolou com a idéia de que talvez o tomassem por ume*perimentado residente, n%o um recémchegado em sua primeira miss%o na 0ua.

 As luzes do carro tornavam imposs&vel ver muita coisa do solo escurecido, atravésdo qual corriam quase em silêncio completo. (scurecida era, naturalmente, um

termo relativo. !a verdade, o sol se pusera, mas n%o longe do zênite a /erraapro*imavase de seu primeiro quarto. Cresceria irmemente até a meianoite lunar,dentro de uma semana, e seria ent%o um cegante disco, brilhante demais para servisto a olho nu ..

#adler dei*ou seu banco e oi para a rente, passando pelos astrBnomos que aindadiscutiam, em direç%o $ alcova encortinada na parte dianteira do carro. Ainda n%oestava acostumado a possuir um se*to apenas de seu peso normal e moviase come*agerada cautela ao longo do estreito corredor entre os lavat'rios e a pequena salade controle.

 Agora podia ver melhor. As )anelas de observaç%o n%o eram t%o grandes quanto

gostaria que ossem. Algum regulamento de segurança seria responsável por isso.Mas n%o havia luz interna para distrair seus olhos e inalmente ele pBde dedicarsecom a ria gl'ria daquela crosta antiga e vazia.

Dria sim, ele era bem capaz de acreditar que, do lado de ora daquelas )anelas, atemperatura )á alcançava duzentos graus abai*o de zero, embora o sol se tivesseposto apenas duas horas antes. Certa qualidade da luz que vinha dos distantesmares e nuvens da /erra dava essa impress%o. (ra uma luz tingida de azuis e verdesEuma radiaç%o ártica que n%o proporcionava um átomo de calor. ( que, pensou #adler,era sem dvida um parado*o, pois vinha de um mundo de luz e calor.

 F rente do veloz carro, o trilho nico apoiado em pilares incomodamentedistantes entre si dirigiase para leste . 5utro parado*o. Aquele mundo estava cheiode parado*os. -or que n%o podia o sol se pBr no oeste, como acontecia na /erraG"evia haver alguma e*plicaç%o astronBmica simples, mas no momento #adler n%oconseguia decidir qual era. "epois percebeu que, ainal de contas, tais r'tulos eram

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puramente arbitrários e podiam ser acilmente mal empregados quando se azia omapa de um mundo novo.

 Ainda estavam subindo devagar e havia $ direita um penhasco que limitava avis%o. F esquerda ve)amos, isso seria sul, n%o seriaG o solo partido ca&a em umasérie de camadas, como se há um bilh%o de anos a lava que se erguera do centroundido da 0ua se tivesse solidiicado em ondas sucessivas e cada vez mais racas.

(ra uma cena que esriava a alma, mas havia na /erra lugares t%o desolados quantoesse. As terras áridas do Arizona eram igualmente desoladasE as encostas superioresdo (verest eram ainda muito mais hostis, pois aqui pelo menos n%o havia ventoeterno e ustigante.

"epois #adler quase gritou, pois o penhasco $ direita terminara abruptamente,como se um monstruoso cinzelo tivesse cortado da super&cie da 0ua. !%o barravamais sua vistaE agora podia ver claro em direç%o ao norte. A arte n%o premeditadada natureza produzira um eeito t%o emocionante, que era di&cil acreditar que ossemeramente um acidente de tempo e lugar.

 Ali, marchando através do céu em lame)ante gl'ria, estavam os picos dos

 Apeninos, incandescentes sob os ltimos raios do sol oculto. A abrupta e*plos%o deluz dei*ou #adler quase cegoE protegeu os olhos contra o clar%o e esperou até poderenrentar de novo a vista, com segurança. Huando voltou a olhar, a transormaç%oera completa. As estrelas, que um momento antes enchiam o céu, haviamdesaparecido. #uas pupilas contra&das n%o conseguiam mais vêlasE mesmo aresplandecente /erra n%o parecia mais do que uma raca mancha de. luminosidadeesverdeada. 5 clar%o das montanhas iluminadas pelo sol, ainda a centenas dequilBmetros de distncia, eclipsava todas as outras ontes de luz.

5s picos lutuavam no céu, como antásticas piramides de chama. -areciam n%oter mais ligaç%o com o solo abai*o deles, do que as nuvens que se )untam sobre um

pBr de sol na /erra. A linha de sombra era t%o n&tida, as encostas ineriores dasmontanhas t%o perdidas em completa escurid%o, que s' os cumes ardentes tinhamalguma e*istência real. /ranscorreriam ainda horas, antes que o ltimo dessesorgulhosos picos voltasse a cair na sombra da 0ua e se entregasse $ noite ..

 As cortinas atrás de #adler abriramse. 1m de seus companheiros de viagementrou na alcova e tomou posiç%o ao lado da )anela. #adler perguntou a si pr'prio sedeveria iniciar conversaç%oE ainda se sentia um pouco ressentido por ter sido t%ocompletamente ignorado. Contudo, o problema de etiqueta oi resolvido para ele.

Iale a pena vir da /erra para ver isso, n%o éG disse uma voz no escuro a seulado.

#em a menor dvida respondeu #adler."epois, tentando ser blasé, acrescentou8 Mas suponho que com o tempo a gentese acostuma.

;ouve uma risadinha no escuro8 (u n%o diria isso. Com algumas coisas a gente nunca se acostuma, por mais

tempo que se viva entre elas. Acaba de chegarG #im. Cheguei ontem $ noite na /9cho 6rahe. -orém, ainda n%o tive tempo de ver

muita coisa.(m inconsciente imitaç%o, #adler se viu empregando as rases curtas de seu

companheiro. -erguntou a si pr'prio se todos na 0ua alavam assim. /alvezpensassem que isso economizava ar.

Iai trabalhar no 5bservat'rioG (m certo sentido, embora n%o vá azer parte do quadro permanente. #ou

contador. Iou azer uma análise de custo de suas operaç+es.

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7sso produziu um silêncio pensativo, que oi inalmente interrompido pela voz8 Doi indelicadeza de minha parte... deveria terme apresentado. 3obert Molton.

Chee de (spectroscopia. J bom ter alguém que possa ensinarnos a azer nossadeclaraç%o de renda.

3eceava que isso acontecesse disse #adler secamente. Meu nome é 6ertram#adler. (u sou do /ribunal de Contas.

;um. -ensa que estamos desperdiçando dinheiro aquiG 7sso será decidido por outros. (u s' vou descobrir como vocês gastam o dinheiro,

n%o por quê. 6em, você vai se divertir um pouco. /odos aqui s%o capazes de apresentar bons

argumentos para gastar o dobro do dinheiro que recebem. ( eu gostaria de sabercomo você conseguirá pBr uma etiqueta de preço em pesquisa cient&ica pura.

#adler vinha pensando nisso desde algum tempo antes, mas achou que era melhorn%o tentar dar mais e*plicaç+es. #ua hist'ria ora aceita sem perguntasE se tentassetornála mais convincente, poderia trairse. !%o era um bom mentiroso, emboraesperasse melhorar com a prática.

(m todo caso, o que dissera a Molton era absolutamente verdadeiro. #adler s'dese)ava que osse toda a verdade e n%o apenas cinco por cento dela. (u gostaria de saber como vamos atravessar aquelas montanhas observou ele,

apontando para os picos ardentes $ rente. -assamos por cima... ou por bai*oG -or cima respondeu Molton. (las parecem espetaculares, mas na realidade

n%o s%o t%o grandes. (spere até ver as Montanhas 0eibnitz ou a Cordilheira 5berthe.#%o duas vezes mais altas.

(ssas )á eram suicientemente boas para começar, pensou #adler. 5 carro domonotrilho, abraçando seu trilho nico, urava as sombras em um tra)eto que subiavagarosamente. !a escurid%o que os cercava, rochedos e penhascos vagamente

avistados apro*imavamse com e*plosiva velocidade, depois desapareciam atrás.#adler percebeu que provavelmente em nenhum outro lugar seria poss&vel via)ar comtal velocidade t%o perto do solo. !enhum avi%o a )ato, muito acima das nuvens da/erra, dava uma impress%o de pura rapidez igual a essa.

#e osse dia, #adler poderia ver os prod&gios de engenharia que tornaram poss&velesse trilho estendido nos sopés dos Apeninos. Mas a escurid%o velava as numerosaspontes e as curvas $ beira de desiladeirosE ele s' via os picos que se apro*imavam,ainda magicamente lutuando sobre o mar de noite que se estendia em volta.

"epois, muito longe no leste, um arco ardente espiou por cima da beirada da 0ua.;aviam subido acima da sombra, )untandose $s montanhas em sua gl'ria ealcançado o pr'prio sol. #adler desviou os olhos do clar%o que inundava a cabina e,pela primeira vez, viu claramente o homem em pé a seu lado.

5 "outor Kou seria -roessorGL Molton tinha uns cinquenta e poucos anos, masseus cabelos eram muito pretos e abundantes. /inha uma daquelas isionomiasimpressionantemente eias que, por algum motivo, inspiram imediata coniança.#entiase que ali estava o il'soo bem humorado e praticamente )udiciosoE omoderno #'crates, suicientemente desprendido para dar conselhos imparciais atodos, mas de maneira alguma distante do contato humano. 5 coraç%o de ouro porbai*o do e*terior rude, pensou #adler, encolhendose mentalmente diante davulgaridade da rase .

#eus olhos encontraramse na silenciosa apreciaç%o de dois homens que sabem

que suas atividades uturas os reunir%o de novo. "epois Molton sorriu, enrugandoum rosto que era quase t%o áspero quanto a paisagem lunar circundante.

"eve ser sua primeira alvorada na 0ua. #e é poss&vel chamar a isto de alvorada,

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naturalmente... se)a como or, é um nascer do sol. J pena que s' dure dez minutos...depois passaremos pelo topo e voltaremos a entrar na noite. (nt%o você. terá queesperar duas semanas para ver novamente o sol.

!%o é um pouco... tedioso... icar no escuro durante quatorze diasG perguntou#adler. Mal proerira as palavras, percebeu que provavelmente havia dito tolice. MasMolton corrigiuo delicadamente.

Iocê verá respondeu ele. "ia ou noite, é quase a mesma coisa embai*o dosolo. #e)a como or, você. poderá sair sempre que quiser. Algumas pessoas preeremo per&odo da noite. A luz da /erra az com que elas se sintam romnticas.

5 monotrilho atingira agora o ápice de sua tra)et'ria através das montanhas. 5sdois via)antes icaram em silêncio, enquanto os picos de ambos os lados se erguiamaté seu cl&ma* e depois começavam a aundarse atrás. ;aviam irrompido através dabarreira e estavam descendo as encostas muito mais &ngremes que davam para oMare lmbrium. (nquanto desciam, o sol, que a velocidade do ve&culo tirara da noite,encolheuse, passando de um arco a um io, de um io a um nico ponto de ogo, edepois desapareceu da e*istência. !o ltimo instante daquele also pBr do sol,

segundos antes de aundarem novamente na sombra da 0ua, houve um momentomágico que #adler nunca esqueceria. Avançavam por uma serra que o sol )á dei*ara,mas a linha do monotrilho, a menos de um metro acima do solo, ainda recebia osltimos raios. (ra como se estivessem correndo ao longo de uma tira de luz semapoio, um ilamento de chama constru&do por eitiçaria e n%o pela engenhariahumana. "epois, a escurid%o inal caiu e a magia cessou. As estrelas começaram avoltar ao céu, enquanto os olhos de #adler se adaptavam $ noite.

Iocê teve sorte disse Molton. (u iz esta viagem centenas de vezes, masnunca tinha visto isso. J melhor voltar ao carro... v%o servir uma pequena reeiç%odentro de um minuto. #e)a corno or, nada mais há para ver.

7sso, pensou #adler, n%o era verdade. A resplandecente luz da /erra, voltandosozinha agora que o sol sumira, inundava a grande plan&cie que os astrBnomosantigos haviam batizado t%o erroneamente como Mar das Chuvas. Comparada comas montanhas que icaram para trás, n%o era espetacular, mas ainda assim era coisade azer perder o Blego.

Iou esperar, mais um pouco respondeu #adler. 0embrese que tudo 7sto énovo para mim e n%o quero perder coisa alguma.

Molton riu, n%o sem bondade. !%o posso culpálo por isso disse ele. 3eceio que $s vezes a gente aceite as

coisas como muito normais.

5 monotrilho deslizava agora para bai*o em um declive absolutamente vertiginosoque na /erra teria sido suic&dio. A ria plan&cie iluminada de verde subia paraencontrarse com eles8 uma cordilheira de montes bai*os, an+es ao lado dasmontanhas que haviam dei*ado para trás, quebrava a linha do horizonte $ rente.Mais .uma vez o horizonte, antasticamente pr'*imo, daquele pequeno mundocomeçava a echarse sobre eles. (stavam de volta ao n&vel do mar...

#adler, seguindo Molton, atravessou as cortinas e entrou na cabina, onde ocomissário de bordo servia bande)as ao pequeno grupo.

#empre há t%o poucos passageiros assimG perguntou #adler. (u acharia quen%o é um serviço muito econBmico.

"epende do que você entende por economia respondeu Molton. Muita coisaaqui vai parecer engraçada em suas olhas de balanço. Mas a manutenç%o desteserviço n%o custa muito. 5 equipamento dura eternamente... n%o há errugem, nem

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aç%o do tempo. 5s carros s' s%o submetidos a revis%o de dois em dois anos.(ssa era uma coisa que #adler certamente n%o havia considerado. ;avia muitas

coisas que precisava aprender e algumas delas talvez tivesse que descobrir pelométodo mais di&cil.

 A reeiç%o era saborosa, mas imposs&vel de ser identiicada. Como todos osalimentos na 0ua, devia ter sido cultivada nas grandes azendas hidropBnicas, que seestendiam por quilBmetros quadrados, em estuas pressurizadas, ao longo doequador. A carne presumivelmente era sintética8 dava a impress%o de carne de vaca,mas por acaso #adler sabia que a nica vaca e*istente na 0ua vivia lu*uosamente no2oo de ;ipparchus. (ssa era a espécie de inormaç%o intil que sua mentediabolicamente retentiva estava sempre recolhendo e recusando eliminar.

/alvez a hora da comida tornasse os outros astrBnomos mais aáveis, pois semostraram bastante amistosos quando o "r. Molton os apresentou, conseguindodurante alguns minutos evitar conversas sobre serviço. (ra evidente, porém, que elesconsideravam a miss%o de #adler com certo alarma. #adler podia mentalmente vertodos eles passando em revista as verbas e se perguntando que espécie de

argumentaç%o poderiam apresentar se ossem desaiados. !%o tinha dvida de quetodos apresentariam est'rias muito convincentes e tentariam dei*álo cego comciência, se tentasse apertálos. Ná passara por tudo isso antes, embora nunca emcircunstncias iguais a essas.

5 carro estava agora na ltima etapa de sua viagem e chegaria ao 5bservat'rioem pouco mais de uma hora. 5 percurso de seiscentos quilBmetros através do Mare7mbrium era quase reto e plano, com e*ceç%o de um breve desvio para leste, a imde evitar os montes em volta da gigantesca plan&cie murada de Arquimedes. #adleracomodouse conortavelmente, tirou seus papéis de anotaç+es e começou a azeralguns estudos.

5 organograma que desdobrou cobriu quase toda a mesa. (ra caprichosamenteimpresso em várias cores, de acordo com os vários departamentos do 5bservat'rio,e #adler olhou para ele com certo desgosto. 5 homem antigo, lembrouse, ora certavez deinido como um animal que az erramentas. Com requência pensava que amelhor descriç%o do homem moderno seria a do animal que desperdiça papel.

 Abai*o dos t&tulos "iretor e Iicediretor, o organograma dividiase em trêspartes sob as denominaç+es de A"M7!7#/3AO@5, #(3I7O5# /JC!7C5# e56#(3IA/P375. #adler procurou o "r. MoltonE sim, ali estava ele, na seç%o do56#(3IA/P375, diretamente abai*o do Cientista Chee e encabeçando a curtacoluna de nomes denominada (spectroscopia. -arecia ter seis assistentes8 dois

deles Namieson e Qheeler eram homens aos quais #adler acabara de serapresentado. 5 outro via)ante do monocarro, conorme descobriu, n%o erarealmente cientista. /inha seu quadradinho pr'prio no organograma e n%o estavasubordinado sen%o ao "iretor. #adler suspeitou que o #ecretário Qagnal eraprovavelmente uma potência na 0ua que valeria a pena cultivar.

Dazia meia hora que estudava. o organograma e perderase completamente emsuas ramiicaç+es, quando alguém ligou o rádio. #adler n%o ez a menor ob)eç%o $msica suave que encheu o carroE seus poderes de concentraç%o permitiamlhetolerar intererência pior do que essa. "epois a msica cessouE houve uma brevepausa, os seis bips de um sinal horário e uma voz suave começou8

Aqui é a /erra, Canal "ois, 3ede 7nterplanetária. 5 sinal que acabaram de ouviroi o das vinte e uma horas, RM/. Aqui est%o as not&cias.

!%o havia o menor traço de intererência. As palavras eram claras como se

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viessem de uma estaç%o local. !o entanto, #adler notara o sistema de antenainclinado em direç%o ao céu no teto do monocarro e sabia que estava ouvindo umatransmiss%o direta. As palavras que ouvia haviam dei*ado a /erra quase um minuto emeio antesE )á estavam passando por ele em direç%o a mundos muito mais distantes.;avia homens que ainda demorariam minutos para ouvilas... talvez horas, se asnaves que a Dederaç%o tinha além de #aturno estivessem ouvindo. ( aquela voz da

/erra ainda continuaria, e*pandindose e enraquecendose, até muito além doslimites e*tremos das e*ploraç+es do homem, até algum lugar no caminho de AlphaCentauri, onde seria inalmente apagada pelo incessante murmrio rádio daspr'prias estrelas.

Aqui est%o as not&cias. Acaba de ser anunciado em ;aia que a conerência sobrerecursos planetários se encerrou. 5s delegados da Dederaç%o dei*ar%o a /erraamanh%, e a seguinte declaraç%o oi divulgada pelo Rabinete do -residente...

!ada havia ali que #adler n%o esperasse./odavia, quando um temor, ainda que previsto durante muito tempo, se

transorma em realidade, há sempre aquela sensaç%o de abatimento. #adler olhou

para seus companheiros. -erceberiam eles a gravidade do atoG-ercebiam. 5 #ecretário Qagnall tinha o quei*o erozmente apertado contra suasm%os em conchaE o "r. Molton estava recostado em sua cadeira, com os olhosechadosE Namieson e Qheeler itavam a mesa em sombria concentraç%o. #im. elescompreendiam. #eu trabalho e seu distanciamento da /erra n%o os isolaram dascorrentes principais dos neg'cios humanos.

 A voz impessoal, com. seu catálogo de desentendimentos e acusaç+es rec&procas,de ameaças mal veladas pelos euemismos da diplomacia, parecia azer com que odesumano rio da noite lunar se iltrasse através das paredes. (ra duro enrentar aamarga verdade, e milh+es de homens ainda deviam estar vivendo em um para&so

de tolos. #acudiriam os ombros e diriam com orçada )ovialidade8 !%o sepreocupem... tudo passará.#adler n%o acreditava nisso. #entado dentro daquele pequeno e brilhantemente

iluminado cilindro que corria para o norte através do Mar das Chuvas, sabia que pelaprimeira vez em duzentos anos a humanidade estava diante da ameaça de guerra.

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#e viesse a guerra, pensou #adler, seria uma tragédia de circunstncia e n%o depol&tica deliberada. 3ealmente, o ato obstinado que colocara a /erra em conlito comsuas e*colBnias parecialhe $s vezes uma brincadeira de mau gosto por parte da!atureza.

Mesmo antes de sua miss%o n%o dese)ada e n%o esperada, #adler conhecia bem osatos por trás da crise atual. Iinhamse desenvolvendo por mais de uma geraç%o eresultaram da posiç%o peculiar do planeta /erra.

 A raça humana nascera em um mundo nico no #istema #olar, carregado de umariqueza mineral que n%o encontrava par em nenhum outro lugar. (sse acidente dodestino proporcionara impulso temporário $ tecnologia do homem, mas quando elechegou a outros planetas descobriu para sua surpresa e decepç%o que, em relaç%o amuitos dos materiais mais vitais, precisaria depender do mundo natal.

 A /erra é o mais denso de todos os planetas, s' Iênus se apro*imando dela nessesentido. Mas Iênus n%o tem satélite e o sistema /erra0ua orma um mundo duplode tipo em nenhum outro lugar encontrado entre os planetas. #eu modo deormaç%o é ainda um mistério, mas sabese que, quando a /erra ainda estavaundida, a 0ua girava $ sua volta apenas a uma raç%o de sua distncia atual e erguia

gigantescas marés na substncia plástica de sua companheira.Como resultado dessas marés internas, a crosta da /erra é rica em metais pesados muito mais rica do que qualquer outro dos planetas. (stes guardam sua riquezamuito no undo, dentro de seus ncleos inating&veis, protegidas por press+es etemperaturas que as colocam longe das depredaç+es do homem. -or isso, quando acivilizaç%o humana se estendeu para ora da /erra, aumentou rapidamente o gastodos decrescentes recursos do mundo materno.

5s elementos leves e*istiam nos outros planetas em quantidades ilimitadas, masera quase imposs&vel obter artigos essenciais como mercrio, chumbo, urnio,platina, t'rio e tungstênio. -ara muitos deles n%o havia substitutosE sua s&ntese em

grande escala era impraticável, apesar de dois séculos de esorço e a tecnologiamoderna n%o poderia sobreviver sem eles.(ra uma situaç%o ineliz e muito irritante para as repblicas independentes de

Marte, de Iênus e dos satélites maiores, que se haviam unido para ormar aDederaç%o. Conservavaos na dependência da /erra e impedia sua e*pans%o emdireç%o $s ronteiras do #istema #olar. (mbora tivessem procurado entre osasteroides e luas, entre os entulhos sobrados quando os mundos se ormaram,encontraram pouca coisa além de rocha e gelo inteis. -recisavam chegar de chapéuna m%o diante do planeta materno, a im de pedir quase cada grama de uma dziade metais mais preciosos que o ouro.

7sso por si s' n%o seria grave, se a /erra n%o tivesse icado cada vez maisciumenta de sua prole durante os duzentos anos transcorridos, desde a aurora daviagem espacial. (ra uma velha hist'ria, sendo talvez seu e*emplo clássico o caso da

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7nglaterra e das colBnias americanas. Ná oi dito com verdade que a hist'ria nunca serepete, mas situaç+es hist'ricas reaparecem. 5s homens que governaram a /erraeram muito mais inteligentes do que Norge 777E apesar disso, estavam começando ademonstrar as mesmas reaç+es daquele ineliz monarca.

;avia desculpas de ambos os ladosE sempre há. A /erra estava cansadaEdesgastarase, mandando seu melhor sangue para as estrelas. Iia o poder ugir de

suas m%os e sabia que )á perdera o uturo. -or que aceleraria o processo, dando aseus rivais os instrumentos de que precisavamG

 A Dederaç%o, por outro lado, olhava com uma espécie de aetuoso desprezo para omundo de que sa&ra. Atra&ra para Marte, Iênus e satélites dos planetas gigantesalgumas das inteligências melhores e alguns dos esp&ritos mais aventureiros da raçahumana. Ali estava a nova ronteira, que se e*pandiria para sempre em direç%o $sestrelas. (ra o maior desaio &sico que a humanidade )á enrentara, a que s' sepoderia responder com suprema aptid%o cient&ica e inle*&vel determinaç%o. (ssasvirtudes n%o eram mais essenciais $ /erraE o ato de a /erra ter plena consciênciadisso em nada contribu&a para atenuar a situaç%o.

/udo isso poderia levar $ disc'rdia e invectivas interplanetárias, mas nunca poderialevar $ violência. -ara produzila era necessário algum outro ator, uma centelha inalque provocaria uma e*plos%o capaz de ecoar em todo o #istema #olar.

(ssa centelha ora agora acesa. 5 mundo ainda n%o sabia e o pr'prio #adlerestivera igualmente na ignorncia até apenas uns seis meses antes. A Central de7nteligência, organizaç%o obscura da qual ele era agora membro relutante, vinhatrabalhando noite e dia para neutralizar os danos. 1ma tese matemática intitulada1ma /eoria Huantitativa da Dormaç%o dos Acidentes da #uper&cie 0unar n%oparecia a espécie de coisa capaz de dar in&cio a uma guerra mas um trabalhoigualmente te'rico de um certo Albert (instein pusera outrora im a uma guerra.

5 trabalho ora escrito uns dois anos antes pelo -roessor 3oland -hillips, umpac&ico cosm'logo de 5*ord sem o menor interesse por pol&tica. Apresentarao $3eal #ociedade AstronBmica e estava icando um pouco di&cil darlhe uma e*plicaç%osatisat'ria para a demora na publicaç%o. 7nelizmente e esse era o ato quecausara grande aliç%o $ Central de 7normaç+es o -roessor -hillips inocentementeenviara c'pias a seus colegas de Marte e Iênus. "esesperadas tentativas haviamsido eitas para interceptálas, mas inutilmente. Agora a Dederaç%o devia saber que a0ua n%o era um mundo empobrecido como se acreditara durante duzentos anos.

!%o havia como obter de volta conhecimento que transpirara, mas e*istiam outrascoisas a respeito da 0ua, e era igualmente importante que n%o ossem conhecidas

pela Dederaç%o. !o entanto, de alguma maneira estavam chegando a seuconhecimentoE de alguma maneira inormaç+es estavam vazando através do espaço,da /erra para a 0ua e de lá para os planetas.

Huando há um vazamento em casa, pensou #adler, a gente chama o encanador.Mas como lidar com um vazamento que n%o se pode ver e que pode estar emqualquer lugar na super&cie de um mundo t%o grande quanto a Srica.

(le ainda sabia muito pouco a respeito da esera de aç%o, do tamanho e dosmétodos da Central de 7nteligência e ainda se ressentia, por mais til que issoosse, da maneira como sua vida privada ora perturbada. -or ormaç%o, ele eraprecisamente o que simulava ser um contador. #eis meses antes, por raz+es quen%o lhe haviam sido e*plicadas e que provavelmente nunca descobriria, oraentrevistado e recebera a oerta de um emprego n%o especiicado. #ua aceitaç%o oiabsolutamente voluntária8 simplesmente lhe tornaram claro que era melhor n%orecusar. "esde ent%o passara a maior parte de seu tempo sob hipnose, sendo

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enchido de inormaç+es das mais variadas espécies e levando uma vida monásticaem um canto obscuro do Canadá. K-elo menos pensava que era o Canadá, maspoderia igualmente ter sido a Rroenlndia ou a #ibéria.L Agora estava ali na 0ua,como um pequeno pe%o no )ogo de *adrez interplanetário. Dicaria muito satiseitoquando toda a rustradora e*periência estivesse terminada. -arecialheabsolutamente incr&vel que alguém pudesse tornarse voluntariamente agente

secreto. #' indiv&duos muito imaturos e desequilibrados poderiam obter algumasatisaç%o de comportamento t%o rancamente incivilizado.

;avia algumas compensaç+es. "a maneira comum, ele nunca teria tidooportunidade de ir $ 0ua, e a e*periência que estava adquirindo agora poderia seruma verdadeira vantagem em anos uturos. #adler sempre procurava olhar para outuro, particularmente quando estava deprimido pela situaç%o presente. ( asituaç%o, tanto no plano pessoal como no plano interplanetário, era bastantedeprimente.

 A segurança da /erra representava tremenda responsabilidade, mas era realmentegrande demais para que um nico homem se preocupasse com ela. Apesar de tudo

que a raz%o dissesse, os vastos imponderáveis da pol&tica planetária representavampeso menor do que os pequenos cuidados da vida cotidiana. -ara um observadorc'smico talvez parecesse muito esquisito que a maior preocupaç%o de #adler sereerisse a um ser humano solitário. Neanette, perguntava ele a si pr'prio, perdoáloia por ter estado ausente em seu aniversário de casamentoG -elo menos esperariaque ele lhe teleonasse e essa era uma coisa que n%o se atrevia a azer. -ara suaesposa e seus amigos, ainda estava na /erra. !%o havia meio de teleonar da 0uasem revelar sua localizaç%o, pois a demora de dois segundos e meio o trairiaimediatamente.

 A Central de 7normaç+es podia dar )eito em muitas coisas, mas diicilmente

poderia acelerar ondas de rádio. -odia entregar em tempo seu presente deaniversário, como prometera azer mas n%o podia dizer a Neanette quando eleestaria de novo em casa.

( n%o podia alterar o ato de ele ter mentido $ sua esposa no sagrado nome da#egurança, para ocultar seu paradeiro.

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3

Huando terminou de comparar as itas, Conrad Qheeler levantouse de suacadeira e caminhou três vezes em volta da sala. -ela maneira como se movia, umveterano poderia ter dito que Qheeler era relativamente recémchegado $ 0ua. Daziaparte do quadro do 5bservat'rio há seis meses e ainda supercompensava agravidade riccional em que agora vivia. ;avia em seus movimentos um caráterespasm'dico que contrastava com as maneiras suaves e quase lentas de seuscolegas. 1ma parte de sua rudeza era devida a seu pr'prio temperamento, sua altade disciplina e sua precipitaç%o em saltar a conclus+es. (ra contra essetemperamento que ele estava agora tentando se proteger.

Cometera erros antes mas desta vez certamente n%o poderia haver dvidas. 5satos eram indiscut&veisE o cálculo, trivial a resposta, impressionante. Muito longe,nas proundezas do espaço, uma estrela e*plodira com inconceb&vel violência.Qheeler olhou para os nmeros que anotara, coneriuos pela décima vez e apanhouo teleone.

#id Namieson n%o icou satiseito com a interrupç%o. J realmente importanteG indagou ele. (stou na cmara escura azendo um

serviço para a Ielha /oupeira. "e qualquer maneira, precisarei esperar até que estaschapas este)am lavadas.

Huanto tempo demoraráG

  5h, talvez cinco minutos. "epois ainda tenho mais o que azer. (u penso que isto é importante. "emorará apenas um momento. (u estou na7nstrumentaç%o T.

Namieson ainda tinha revelador escorrendo de suas m%os, quando chegou. "epoisde mais de trezentos anos, certos aspectos da otograia continuavam absolutamenteinalterados. Qheeler, que pensava que tudo podia ser eito pela eletrBnica,considerava muitas das atividades de seu velho amigo como sobreviventes da idadeda alquimia.

(nt%oG disse N Namieson, como de hábito n%o desperdiçando palavras. .Qheeler apontou para a ita perurada que se encontrava sobre a mesa.

(u estava azendo a inspeç%o de rotina no integrador de magnitude. (ledescobriu alguma coisa. (stá sempre azendo isso respondeu Namieson, buando. /oda vez que alguém

espirra no observat'rio, ele pensa ter descoberto um novo planeta.;avia s'lidas raz+es para o ceticismo de Namieson. 5 integrador era um

instrumento delicado, acilmente desorientável, e muitos astrBnomos achavam queele dava mais complicaç+es do que valia a pena. Mas acontecia que era um dospro)etos avoritos do "iretor, por isso n%o havia a menor esperança de azer algumacoisa a respeito, antes que houvesse uma mudança de administraç%o, Dora inventadopelo pr'prio Maclaurin, nos dias em que tinha tempo de azer um pouco deastronomia prática. Como vigia automático dos céus, esperava pacientementedurante anos até uma nova estrela uma nova chame)ar no espaço. (nt%o tocavauma campainha e começava a chamar a atenç%o.

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(scute disse Qheeler e*iste o registro. !%o vá apenas por minha palavra.Namieson passou a ita pelo conversor, copiou os nmeros e ez um rápido cálculo.

Qheeler sorriu de satisaç%o e al&vio quando o quei*o de seu amigo caiu. /reze magnitudes em vinte e quatro horasU -u*aU (u obtive treze v&rgula quatro, mas isso )á é suicientemente bom. Huero perder

dinheiro se n%o é uma supernova. ( pr'*ima.

5s dois )ovens astrBnomos entreolharamse em pensativo silêncio. "epoisNamieson observou8

J bom demais para ser verdade. !%o comece a contar para todo o mundo antesde termos certeza absoluta. Iamos obter seu espectro primeiro e, até ent%o, tratálacomo uma nova comum.

;avia uma e*press%o sonhadora nos olhos de Qheeler. Huando houve a ltima supernova em nossa galá*iaG Doi a estrela de /9cho... n%o, n%o oi... houve outra um pouco mais tarde, por

volta de =>VV. "e qualquer maneira, az muito tempo. 7sso deverá azer com que eu conquiste

novamente as boas graças do "iretor. /alvez respondeu Namieson secamente. -ara isso seria mesmo preciso uma supernova. (u vou preparar o espectr'grao

enquanto você az o relat'rio. !%o devemos ser gananciososE os outros observat'riosdese)ar%o participar do nmero.

5lhou para o desintegrador, que voltara $ sua paciente busca no céu. Acho que você )á se pagou acrescentou mesmo que nunca mais encontre

alguma coisa, e*ceto luzes de navegaç%o de naves espaciais.#adler ouviu a not&cia, sem particular e*citaç%o, na #ala Comum uma hora mais

tarde. (stava preocupado demais com seus pr'prios problemas e com as montanhas

de trabalho que tinha $ sua rente para dar muita atenç%o ao programa de rotina do5bservat'rio, mesmo quando o entendia inteiramente. 5 #ecretário Qagnal, porém,logo tornou claro que aquilo estava muito longe de ser uma quest%o de rotina.

A& está uma coisa para você pBr em sua olha de balanço disse ele )ovialmente. J a maior descoberta astronBmica desde há muitos anos. Iamos até o teto.

#adler dei*ou cair o veemente editorial do /ime 7nterplanetar9, que estava lendocom crescente aborrecimento. A revista caiu com aquela lentid%o de sonho a que eleainda n%o se acostumara. #eguiu Qagnall até o elevador.

#ubiram, passando pelo n&vel residencial, pela Administraç%o, pela (nergia e/ransporte, e sa&ram para uma das pequenas cpulas de observaç%o. A cápsula deplástico tinha no má*imo dez metros de dimetro e os toldos que a abrigavamdurante o dia lunar haviam sido pu*ados para trás. Qagnall desligou as luzesinternas e eles icaram olhando para as estrelas e a /erra crescente.

#adler )á estivera ali várias vezesE n%o conhecia cura melhor para adiga mental. A um quarto de quilBmetro de distncia, a grande estrutura do maior telesc'pio )á

constru&do pelo homem apontava irmemente para um ponto no sul do irmamento.#adler sabia que o telesc'pio n%o estava olhando para estrelas que seus olhospudiam ver de ato, para nenhuma estrela que pertencesse a este universo. (stavasondando os limites do espaço, um bilh%o de anosluz distantes.

"epois, inesperadamente, ele começou a girar para o norte. Qagnall riu bai*inho. Muita gente estará agora arrancando os cabelos disse ele. !'s interrompemos

a programaç%o para virar os grandes canh+es na direç%o de !ova "raconis . Iamosver se conseguimos encontrála.

-rocurou por algum tempo, consultando um esquema que tinha na m%o. #adler,

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também olhando para o norte, nada conseguiu ver de e*traordinário. /odas asestrelas pareciamlhe e*atamente iguais. Dinalmente, porém, seguindo as instruç+esde Qagnall e usando a 1rsa Maior e -oláris como guias, encontrou a raca estrela naparte inerior do irmamento norte. Absolutamente n%o era impressionante, mesmosabendose que uns dois dias antes s' os maiores telesc'pios poderiam têlaencontrado e que sua luminosidade aumentara cem mil vezes em poucas horas.

/alvez Qagnall tivesse percebido sua decepç%o. -ode n%o parecer muitoespetacular agora disse ele deensivamente mas ainda está em ascens%o. Comum pouco de sorte, poderemos realmente ver alguma coisa dentro de um ou doisdias.

"ia lunar ou dia terrestreG perguntouse #adler. (ra bastante conuso, comomuitas outras coisas ali. /odos os rel'gios uncionavam pelo sistema de vinte equatro horas e marcavam a ;ora Média de RreenWich. 1ma pequena vantagem eraque bastava olhar a terra para se ter uma noç%o razoavelmente precisa da hora. Masisso signiicava que o progresso de luz e trevas na super&cie lunar n%o tinha a menorrelaç%o com o que o rel'gio marcava. 5 #ol podia estar em qualquer lugar acima ou

abai*o do horizonte quando os rel'gios marcavam meiodia.#adler desviou os olhos do norte e olhou novamente para o 5bservat'rio. #empresupusera sem se dar ao trabalho de pensar no assunto que todo observat'rioconsistia em um amontoado de gigantescas cpulas, esquecendose de que ali na0ua sem atmosera n%o haveria necessidade de se conservarem os instrumentosechados. 5 reletor de mil cent&metros e seu companheiro menor erguiamse nus esem proteç%o no vácuo do espaço. #' seus racos senhores permaneciam abai*o dosolo no calor e ar de sua cidade enterrada.

5 horizonte era quase plano em todas as direç+es. (mbora o 5bservat'rio icasseno centro da grande plan&cie murada de -lat%o, o anel de montanhas que a cercava

era oculto pela curva da 0ua. (ra uma perspectiva nua e desolada, sem ter sequeralguns montes para conerirlhe interesse. Apenas uma plan&cie poeirenta, marcadaaqui e acolá por buracos de impactos e pequenas crateras e pelas enigmáticasobras do homem, estendendose para as estrelas e tentando arrancar seus segredos.

Huando sa&am, #adler olhou mais uma vez para "raco, mas )á se esquecera qualdas racas estrelas circumpolares era a que ora ver.

(*atamente por que perguntou a Qagnall, o mais diplomaticamente que pBde,pois n%o queria erir os sentimentos do #ecretário essa estrela é t%o importanteG

Qagnall pareceu incrédulo, depois penalizado e inalmente compreensivo. 6em começou ele acho que as estrelas s%o como pessoas. As bem

comportadas nunca atraem muita atenç%o. (nsinamnos alguma coisa, naturalmente,mas podemos aprender muito mais com aquelas que saem da linha.

( as estrelas azem coisas dessa espécie com requênciaG Anualmente, s' em nossa galá*ia, uma centena delas e*plode... mas essas s%o

apenas novas comuns. (m seu apogeu podem ser umas cem mil vezes maisbrilhantes do que o sol. 1ma supernova é coisa muito mais rara e muito maise*citante. Ainda n%o sabemos qual a sua causa, mas quando uma estrela se tornasuper pode icar vários bilh+es de vezes mais brilhante do que o sol. "e ato, podeouscar com seu brilho todas as outras estrelas da galá*ia )untas.

#adler considerou isso por algum tempo. (ra sem dvida uma idéia tendente ainspirar um momento de silenciosa rele*%o.

5 importante continuou Qagnall animadamente é que nada igual a issoaconteceu desde quando oi inventado o telesc'pio. A ltima supernova em nossouniverso ocorreu há seiscentos anos. ;ouve muitas em outras galá*ias, mas estavam

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e*cessivamente distantes para serem convenientemente estudadas. Huanto a esta,podese dizer que está bem $ nossa porta. 5 ato será bastante evidente dentro deuns dois dias. (m algumas horas, ela ouscará com seu brilho tudo quanto há nocéu, e*ceto o sol e a /erra.

( que esperam vocês aprender com elaG A e*plos%o de uma supernova é o acontecimento mais titnico que se sabe que

ocorre na !atureza. -oderemos estudar o comportamento da matéria em condiç+esque azem o centro de uma e*plos%o nuclear parecer mortalmente calmo. Mas sevocê é uma dessas pessoas que sempre dese)am aplicaç%o prática para tudo, semdvida é de considerável interesse descobrir o que az uma estrela e*plodir. Ainal decontas, um dia nosso sol pode decidirse a azer o mesmo.

( nesse caso replicou #adler eu realmente preeriria n%o saber comantecedência. Rostaria de saber se essa nova levou consigo alguns planetas.

Absolutamente n%o há meios de saber. Mas isso deve acontecer com bastanterequência, pois pelo menos uma estrela em dez tem planetas.

(ra uma idéia de gelar o coraç%o. A qualquer momento, com toda probabilidade,

em algum lugar rio universo, todo um sistema solar, com civilizaç+es e mundosestranhamente povoados, estava sendo )ogado descuidadamente em uma ornalhac'smica. A vida era um enBmeno rágil e delicado, colocado sobre o io da navalhaentre rio e calor.

/odavia, o ;omem n%o se contentava com os riscos que a !atureza podia oerecer.(stava construindo atareadamente sua pr'pria pira unerária.

 A mesma idéia ocorrera também ao "r. Molton, mas, ao contrário de #adler, elepodia opor a ela outra mais animadora. !ova "raconis  estava a mais de dois milanosluz de distnciaE o clar%o da detonaç%o estava via)ando desde o nascimento deCristo. "urante esse tempo, devia ter passado por milh+es de sistemas solares e ter

alertado os habitantes de milhares de mundos. Mesmo nesse momento, espalhadospela super&cie de uma esera de quatro mil anosluz de dimetro, deveriacertamente haver outros astrBnomos, com instrumentos n%o dierentes dos seus,que captariam as radiaç+es desse sol agonizante, $ medida que se dirigissem para asronteiras do universo. ( era ainda mais estranho pensar que observadoresininitamente mais distantes, t%o distantes que para eles toda a galá*ia n%o era maisdo que uma vaga mancha de luz, notariam dentro de algumas centenas de milh+esde anos que nosso universo insular dobrara momentaneamente de luminosidade...

5 "r. Molton estava parado ao lado da mesa de controle na cmara suavementeiluminada que era seu laborat'rio e sua oicina. Anteriormente ela ora pouco

dierente de qualquer das outras celas que constitu&am o 5bservat'rio, mas seuocupante estampara nela sua personalidade. (m um canto havia um vaso de loresartiiciais, coisa ao mesmo tempo incongruente e agradável em um lugar comoaquele. (ra a nica e*centricidade de Molton e ninguém lhe queria mal por isso.Como a vegetaç%o lunar nativa oerecia muito pouca oportunidade como ornamento,ele ora orçado a usar criaç+es de cera e arame, habilmente eitas a seu pedido naCidade Central. Iariava o arran)o dessas criaç+es com tanto engenho e recurso, quenunca parecia ter as mesmas lores em dois dias sucessivos.

 Fs vezes Qheeler azia caçoada desse seu passatempo, airmando que issoprovava que ele tinha saudade da /erra e dese)ava voltar. "e ato, azia mais de trêsanos que o "r. Molton visitara pela ltima vez sua terra natal, a Austrália, mas eleparecia n%o ter pressa de voltar a azêlo. Como acentuava, havia ali uma centena devidas de trabalho para ele e preeria dei*ar suas licenças acumularemse, até sentirvontade de tirálas de uma s' vez.

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 As lores eram ladeadas por arquivos de metal contendo os milhares deespectrogramas que Molton reunira durante suas pesquisas. (le n%o era, comosempre azia quest%o de acentuar, um astrBnomo te'rico. #implesmente olhava eregistravaE outras pessoas tinham a tarea de e*plicar o que ele descobrira. Fs vezesmatemáticos indignados chegavam protestando que nenhuma estrela poderia ter umespectro assim. (nt%o Molton ia a seus arquivos, veriicava que n%o havia o menor

erro e respondia8 !%o culpem a mim. Huei*emse da velha M%e !atureza.5 resto da sala era uma massa atravancada de equipamentos que seriam

completamente sem sentido para um. leigo e, de ato, dei*ava perple*os muitosastrBnomos. A maior parte desses equipamentos ora constru&da pelo pr'prio Moltonou, pelo menos, desenhada por ele e entregue a seus assistentes para construç%o.!o decurso dos dois ltimos séculos, todo astrBnomo prático precisara ser um poucode eletricista, de engenheiro, de &sico e, $ medida que o custo de seu equipamentocrescia, também homem de relaç+es pblicas.

5s comandos eletrBnicos percorreram rápida e silenciosamente os cabos enquantoMolton a)ustava Ascens%o e "eclinaç%o "iretas. Muito acima de sua cabeça, o grande

telesc'pio, como um gigantesco canh%o, girava macia mente em direç%o ao norte. 5vasto espelho na base do tubo captava mais de um milh%o de vezes a quantidade deluz que o olho humano podia receber e ocalizavaa com bela precis%o em um nicoei*e. (sse ei*e, reletido novamente de espelho para espelho como em umperisc'pio, estava agora chegando ao "r. Molton, para que izesse com ele o quedese)asse.

#e olhasse para o ei*e de luz, o simples clar%o da !ova "raconis  o dei*aria cegoe, em comparaç%o com seus instrumentos, seus olhos praticamente nada poderiamdizerlhe. A)ustou o espectrBmetro eletrBnico no lugar e ez com que ele iniciasse suae*ploraç%o. (*ploraria o espectro da !ova "raconis  com paciente precis%o, descendo

através do amarelo, verde e azul até o violeta e o ultravioleta em alto grau,completamente ora do alcance do olho humano. (nquanto e*plorava, traçava sobrea ita m'vel a intensidade de cada linha espectral, dei*ando um registro indiscut&velque astrBnomos poderiam consultar mil anos mais tarde.

;ouve uma batida na porta e Namieson entrou, carregando algumas chapasotográicas ainda molhadas.

Aquelas ltimas e*posiç+es deram certoU disse ele )ubiloso. Mostram a conchagasosa e*pandindose em volta da nova. ( a velocidade conere com seus desvios de"oppler.

(ra o que eu esperava resmungou Molton Iamos olhálas.

(studou as chapas, enquanto no undo o zumbido de motores elétricos continuavavindo do espectrBmetro que prosseguia em sua busca automática. (ram negativos,naturalmente, mas como todos os astrBnomos ele estava acostumado a isso e eracapaz de interpretálos t%o acilmente quanto c'pias positivas.

!o centro estava o pequeno disco que assinalava a !ova "raconis , queimadaatravés da emuls%o por supere*posiç%o, (, em volta dela, quase invis&vel a olho nu,havia um tênue anel. Com o passar dos dias, sabia Molton, aquele anel e*pandirseia cada vez mais no espaço até inalmente se dissipar. -arecia t%o pequeno einsigniicante que a mente n%o era capaz de compreender o que realmentesigniicava.

(stavam olhando para o passado, para uma catástroe que ocorrera dois mil anosantes. (stavam vendo a casca de ogo t%o quente que n%o se esriara ainda aoponto de coisa aquecida ao branco que a estrela lançara no espaço a milh+es de

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quilBmetros por hora. Aquela parede de ogo em e*pans%o teria engolido o maispoderoso planeta, sem reduzir sua velocidadeE no entanto, vista da /erra, n%o eramais do que um raco anel nos limites da visibilidade.

(u me pergunto alou Namieson em voz bai*a se n's chegaremos um dia adescobrir por que uma estrela az uma coisa assim.

Fs vezes respondeu Molton quando estou ouvindo rádio, penso que seriauma boa idéia se isso acontecesse. 5 ogo é bom esterilizador.

Namieson icou evidentemente chocado. Aquilo era t%o estranho em Molton, cu)oe*terior brusco escondia inadequadamente seu proundo calor interior.

Iocê n%o está realmente alando sérioU protestou ele. 6em, talvez n%o. Dizemos algum progresso no ltimo milh%o de anos e suponho

que um astrBnomo deve ser paciente. Mas ve)a a encrenca em que estamos nosmetendo agora... você )á pensou como tudo isso vai acabarG

;avia por trás das palavras uma pai*%o, uma proundidade de sentimento queespantou Namieson e o dei*ou proundamente perturbado. Molton nunca antesbai*ara sua guarda nunca, realmente, indicara que possu&a sentimentos muito

ortes em relaç%o a qualquer assunto ora de seu pr'prio terreno. Namieson sabiaque vislumbrara o momentneo enraquecimento de um controle érreo. 7sso agitoualguma coisa dentro de sua pr'pria mente e, como um cavalo assustado, empinousecontra o choque de reconhecimento mental.

-or um longo momento os dois cientistas se itaram, avaliando, especulando,estendendose através do abismo que separa todo homem de seu vizinho. "epois,com um zumbido agudo, o espectrBmetro automático anunciou que conclu&ra suatarea. A tens%o oi rompidaE o mundo cotidiano envolveuos de novo. ( assim, ummomento que poderia terse alargado em incalculáveis consequências tremeu naiminência de ser e voltou novamente ao limbo.

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!#adler n%o era tolo a ponto de esperar uma sala s' para ele. 5 mais que podia

esperar era uma modesta mesa em algum canto na #eç%o de Contabilidade e oie*atamente o que obteve. 7sso n%o o aborreceu. (stava ansioso por n%o causarcomplicaç+es, nem chamar desnecessária atenç%o sobre si pr'prio, e de qualquermaneira passava relativamente pouco tempo $ sua mesa. /odo o trabalho inal deredigir seus relat'rios era e*ecutado na intimidade de seu quarto um minsculocub&culo, de tamanho apenas suiciente para evitar claustroobia, entre uma centenade celas idênticas no !&vel 3esidencial.

"emorara vários dias para adaptarse a esse modo de vida completamenteartiicial. Ali, no coraç%o da 0ua, o tempo n%o e*istia. As violentas mudanças detemperatura entre o dia e a noite lunar n%o penetravam mais do que um ou doismetros na rochaE as ondas diurnas de calor e rio desaziamse antes de chegar aessa proundidade. #' dos rel'gios do ;omem escorregavam os segundos e minutosEa cada vinte e quatro horas, as luzes do corredor apagavamse e havia umasimulaç%o de noite. Mesmo ent%o o 5bservat'rio n%o dormia. Dosse qual osse ahora, havia sempre alguém em serviço. 5s astrBnomos, naturalmente, semprehaviam estado estado acostumados a trabalhar em horas peculiares, para grandeaborrecimento de suas esposas e*ceto nos casos muito comuns em que as esposastambém eram astrBnomas. 5 ritmo da vida lunar, n%o representava incomodo

adicional para elesE os nicos que resmungavam eram os engenheiros, os quaisprecisavam manter ar, energia, comunicaç+es e outros mltiplos serviços do5bservat'rio em uma base de vinte e quatro horas.

"e maneira geral, pensou #adler, o pessoal administrativo era o que levava maisvantagem. !%o tinha muita importncia se a Contabilidade, "ivers+es ou Almo*ariado echavam por oito horas, como aziam a cada vinte e quatro horas,desde que alguém continuasse a cuidar da (nermaria e Cozinha.

#adler izera o poss&vel para n%o aborrecer ninguém e acreditava terse sa&domuito bem até ent%o. Dicara conhecendo todo o pessoal superior, com e*ceç%o dopr'prio "iretor que estava ausente, na /erra e conhecia de vista metade dos

uncionários do 5bservat'rio. #eu plano era trabalhar conscienciosamente de seç%oem seç%o, até ver tudo que cada lugar pudesse oerecer. "epois disso, sentarseia epensaria durante uns dois dias. ;avia alguns serviços que simplesmente n%opoderiam ser apressados, n%o importando sua urgência.

1rgência sim, esse era o problema principal. Iárias vezes lhe haviam dito, n%osem bondade, que chegara ao 5bservat'rio em uma ocasi%o muito impr'pria. Acrescente tens%o pol&tica dei*ara $ lor da pele os nervos da pequena comunidade ea paciência se tornara escassa. (ra verdade que !ova "raconis  melhorara um tanto asituaç%o, pois ninguém se preocupava com trivialidades como pol&tica enquanto esseenBmeno ulgurava nos céus. Mas n%o era de se esperar também que se

preocupassem com contabilidade de custos e #adler diicilmente poderia culpálospor isso./odo o tempo que podia poupar de sua investigaç%o passava na #ala Comum,

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onde o pessoal se rela*ava quando estava de olga. Ali era o centro da vida social do5bservat'rio, o que lhe dava uma oportunidade ideal para estudar os homens emulheres que se haviam e*ilado para o bem da ciência ou, alternativamente, pelossalários inlacionados, necessários para atrair $ 0ua indiv&duos menos dedicados.

(mbora n%o gostasse de me*ericos e se interessasse mais por atos e ciras do quepor pessoas, #adler sabia que precisava aproveitar ao má*imo essa oportunidade. "e

ato, suas instruç+es sobre esse ponto haviam sido espec&icas, de uma maneira queele considerava desnecessariamente c&nica. Mas n%o se podia negar que a naturezahumana é sempre a mesma, entre todas as classes e em todos os planetas. #adlerreunira algumas de suas inormaç+es mais teis, simplesmente se postando em umlugar de onde pudesse ouvir o que se dizia no bar...

 A #ala Comum ora plane)ada com grande aptid%o e gosto. 5s otomurais emconstante mudança tornavam di&cil acreditar que aquela espaçosa cmara estivesse,na realidade, enterrada na crosta da 0ua. Como capricho do arquiteto, havia umalareira aberta, na qual uma real&stica pilha de lenha ardia constantemente sem serconsumida. 7sso ascinava #adler, que nunca vira coisa igual na /erra.

Mostrarase suicientemente bom em )ogos e conversa geral para tornarsemembro aceito do pessoal e grande parte dos escndalos locais )á lhe havia sidoconiada. A n%o ser pelo ato de seus uncionários serem dotados de inteligênciadistintamente superior, o 5bservat'rio era um microcosmo da pr'pria /erra. Come*ceç%o de homic&dio Ke isso era provavelmente apenas uma quest%o de tempoL,quase tudo quanto acontecia na sociedade terrestre estava ocorrendo em algumlugar ali. #adler raramente icava surpreendido com alguma coisa e certamente n%ose surpreendeu com esse ato. (ra simplesmente de se esperar que todas as seismoças da computaç%o, depois de algumas semanas em uma comunidadeprincipalmente masculina, tivessem agora uma reputaç%o que s' poderia ser descrita

como rágil. !em era notável que o (ngenheiro Chee n%o alasse com o Assistentedo (*ecutivo Chee, que o -roessor X considerasse o "r. 4 um comprovado lunáticoou que o #r. 2 tivesse a ama de roubar na ;iper canastra /odos esses itens n%ointeressavam diretamente a #adler, mas ele os ouvia com grande interesse.Contribu&am simplesmente para provar que o 5bservat'rio era uma grande e elizam&lia.

#adler estava perguntando a si pr'prio que humorista teria carimbado as palavras!@5 -5"( #(3 0(IA"5 -A3A D53A "5 #A0@5 sobre a escultural dama na capa da/riplanet !eWs do mês anterior, quando Qheeler entrou violentamente na sala.

Hue aconteceu agoraG perguntou #adler. "escobriu outra novaG 5u está

apenas procurando um ombro sobre o qual chorarGCalculava que a ltima hip'tese era a verdadeira e que seu ombro teria que servirna ausência de coisa mais adequada. A essa altura, )á icara conhecendo Qheelermuito bem. 5 )ovem astrBnomo podia ser um dos membros mais )ovens do quadrode pessoal, mas era também o mais memorável. #eu humor sarcástico, sua alta derespeito por autoridade superior, sua coniança nas pr'prias opini+es e sua tendêncianatural a discuss%o impediam que ele osse muito bem visto. Mas haviam dito a#adler, mesmo aqueles que n%o gostavam de Qheeler, que ele era brilhante e irialonge. !o momento, ainda n%o consumira o estoque de boa vontade criada por suadescoberta de !ova "raconis , que por si s' seria suiciente para assegurarlhe umareputaç%o durante o resto de sua carreira.

(u estava procurando Qagtail, KYL (le n%o está em sua sala e eu precisoapresentar uma quei*a.

KYL Z!. do /. Nogo de palavras entre Qagnall e Qagtail, que sugere a idéia de sacudir o rabo,

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como az um c%o.[ 5 #ecretário Qagnall respondeu #adler, pondo a maior censura censura que

pBde na correç%o oi $ ;idropBnica há meia hora. (, se me permite azer umcomentário, n%o é um tanto estranho você ser a onte, ao invés da causa, de umaquei*aG

Qheeler mostrou um largo sorriso que lhe deu aparência incr&vel e

apaziguadoramente inantil. 3eceio que você tenha raz%o. ( sei que isto deveriaseguir os canais competentes e tudo o mais... mas é bastante urgente. 1mas duashoras de meu trabalho oram estragadas por um tolo que ez um pouso n%oautorizado.

#adler precisou pensar rapidamente antes de perceber o que Qheeler queria dizer."epois se lembrou de que aquela parte da 0uz era interditada8 nenhuma navedeveria voar sobre o hemisério norte sem antes comunicar ao 5bservat'rio. 5cegante ulgor de iBnios dos oguetes, captado por um dos grandes telesc'pios,poderia arruinar e*posiç+es otográicas e causar devastaç%o nos delicadosinstrumentos.

!%o acha que oi uma emergênciaG perguntou #adler, dominado por uma idéiarepentina. J bastante mau para seu trabalho, mas aquela nave pode estar emdiiculdade.

Qheeler evidentemente n%o pensara nisso e sua raiva declinou instantaneamente.5lhou hesitante para #adler, como que perguntando o que deveria azer em seguida.#adler dei*ou cair sua revista e levantouse.

!%o acha que dever&amos ir a Comunicaç+esG perguntou. (les devem saber oque está acontecendo. !%o az quest%o que eu vá )untoG

#adler era muito cauteloso nesses pontos de etiqueta e nunca se esquecia de queali se encontrava principalmente por tolerncia. Além disso, era sempre boa pol&ticadar aos outros indicaç+es de que est%o prestando avores $ gente.

Qheeler agarrou de um salto a sugest%o e tomou a dianteira em direç%o aComunicaç+es, como se toda a idéia osse sua. A sala de sinalizaç%o era umaposento grande, imaculadamente limpo, no n&vel mais alto do 5bservat'rio, apenasa alguns metros abai*o da crosta lunar. Ali icava a central teleBnica automática, queera o sistema nervoso central do 5bservat'rio, e os monitores e transmissores quemantinham esse distante e avançado posto cient&ico em contato com a /erra. (ratudo presidido pelo 5perador de #inalizaç%o em #erviço, que desencora)avavisitantes casuais com um grande cartaz no qual estava escrito8

-5#7/7IAM(!/( ( A6#501/AM(!/( -35767"A A (!/3A"A "( -(##5A# !@5 A1/5372A"A#.

7sso n%o é conosco disse Qheeler, abrindo a porta. Doi prontamentecontraditado por um cartaz ainda maior8 7##5 J C5M I5C\. #em se perturbar, ele sevoltou para o sorridente #adler e acrescentou8 Ainal de contas, todos os lugaresonde a gente realmente n%o deve entrar s%o echados $ chave.

 Apesar disso, n%o abriu a segunda porta, mas bateu e esperou até uma vozentediada dizer8 (ntre.

5 5##, que estava dissecando um aparelho transmissorreceptor de tra)e espacial,pareceu muito satiseito com a interrupç%o. 7mediatamente chamou a /erra e pediuao Controle de /ráego que descobrisse o que estava azendo uma nave no Mare

7mbrium sem notiicar o 5bservat'rio. (nquanto esperavam a resposta, #adler icouandando entre as prateleiras de instrumentos.

(ra realmente surpreendente que osse necessário tanto aparelhamento apenas

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para alar com gente ou transmitir imagens entre a 0ua e a /erra. #adler, que sabiacomo os técnicos gostam de e*plicar seu trabalho a quem demonstra verdadeirointeresse, ez algumas perguntas e procurou absorver o mais que pBde dasrespostas. #entiase agradecido pelo ato de ninguém terse dado ao trabalho depensar, dessa vez, se ele tinha motivos ocultos ou estava tentando descobrir sepodiam azer seu trabalho com metade do dinheiro. Aceitavamno como uma

audiência de uma s' pessoa, interessada e inquisitiva, pois era 'bvio que muitas dasperguntas por ele eitas n%o poderiam ter a menor signiicaç%o inanceira.

 A resposta da /erra chegou através do impressor automático, logo ap's o 5## terterminado sua rápida e*curs%o como guia. (ra uma mensagem ligeiramentedesconcertante8

 I]5 !@5 -35R3AMA"5. !(RPC75# "5 R5I(3!5. !@5 D57 (M7/7"A!5/7D7CAO@5. 51/35# -51#5# -3(I7#/5#. 0AM(!/A#( 5 /3A!#/53!5.

Qheeler olhou para as palavras como se n%o pudesse acreditar em seus olhos. Atéesse momento, os céus do 5bservat'rio haviam sido sacrossantos. !enhum abade,vendo a violaç%o de seu mosteiro, poderia ter icado mais indignado ..

( eles v%o continuar com issoU gague)ou Qheeler. ( o nosso programaG Acorde, Con disse o 5perador de #inalizaç%o em tom indulgente. Iocê n%oouviu as not&ciasG 5u tem estado muito ocupado olhando sua nova de estimaç%oG(sta mensagem signiica apenas uma coisa8 algo secreto está acontecendo no Mare.-osso darlhe um palpiteG

#ei disso alou Qheeler. J outra daquelas e*pediç+es secretas procurandominérios pesados com a esperança de que a Dederaç%o n%o descubra. J tudo t%oinernalmente inantil.

-or que você pensa que essa é a e*plicaç%o perguntou #adler incisivamente. 6em, az anos que se ala em coisas dessas espécie. Hualquer bar na cidade lhe

dará todos os ltimos me*ericos. .#adler ainda n%o estivera na cidade como era chamada a Cidade Central masbem podia acreditar nisso. A e*plicaç%o de Qheeler era muito plaus&vel,particularmente em vista da presente situaç%o.

#implesmente teremos que azer o que or poss&vel, suponho eu disse o 5##,voltando a atacar seu transmissorreceptor. #e)a como or, há um consolo. /udoisso se passa ao sul de n's... do outro lado do céu oposto a "raco. Assim, n%ointererirá realmente em seu trabalho principal, n%o éG

Acho que n%o admitiu Qheeler resmungando. -or um momentoE pareceu muitoabatido. !%o que ele dese)asse... longe disso... que alguma coisa intererisse no

trabalho. Mas estava esperando uma boa briga e vêla ugir de suas m%os assim erauma amarga decepç%o.  !%o era necessário ter conhecimento das estrelas para ver agora !ova "raconis ."epois da /erra crescente, ela era o ob)eto mais brilhante no céu. Mesmo Iênus,seguindo o sol para leste, estava pálido em comparaç%o com essa arrogante recémchegada. (la )á começara a lançar uma n&tida sombra e ainda estava crescendo emluminosidade.

!a /erra, de acordo com as not&cias que chegavam pelo rádio, era claramentevis&vel mesmo durante o dia. "urante algum tempo, havia e*pulsado a pol&tica dasprimeiras páginas, mas agora a press%o dos acontecimentos começava a azersesentir de novo. 5 ;omem n%o suporta pensar na eternidade por muito tempo. ( aDederaç%o estava distante apenas minutosluz, n%o séculosluz.

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"

;avia ainda aqueles que acreditavam que o ;omem seria mais eliz se tivessepermanecido em seu pr'prio planeta mas agora )á era muito tarde para azeralguma coisa a respeito. (m qualquer caso, se tivesse permanecido na /erra, n%oseria ;omem. A inquietaç%o que o impulsionara sobre a super&cie de seu pr'priomundo, que o izera subir aos céus e sondar os mares, n%o seria minorada enquantoa 0ua e os planetas o chamassem das proundezas do espaço.

 A colonizaç%o da 0ua ora uma empresa lenta, penosa, $s vezes trágica e sempreabulosamente cara. "ois séculos depois dos primeiros pousos, grande parte dogigantesco satélite da /erra ainda estava ine*plorada. /odos os pormenores haviam

sido, naturalmente, cartograados do espaço, mas mais de metade daquele ásperoglobo nunca ora e*aminada de perto.

 A Cidade Central e outras bases estabelecidas com tanto trabalho eram ilhas devida em um imenso vazioE oásis em um silencioso deserto de luz resplandecente ounegra escurid%o. Muitos haviam perguntado se o esorço necessário para sobreviverali valeria a pena, uma vez que a colonizaç%o de Marte ou Iênus oereciaoportunidades muito maiores. Contudo, apesar de todos os problemas com que sederontava, o ;omem n%o poderia ter passado sem a 0ua. Dora sua primeira cabeçade ponte no espaço e era ainda a chave dos planetas. As naves de passageiros queaziam a travessia de mundo para mundo obtinham toda sua massa de combust&vel

ali, enchendo seus grandes tanques com a poeira inamente reinada que osoguetes iBnicos e*peliriam em )atos eletriicados. 5btendo a poeira da 0ua e n%oprecisando erguêla através do enorme campo de gravitaç%o da /erra, ora poss&velreduzir o custo da viagem espacial mais de dez vezes. "e ato, sem a 0ua como basede reabastecimento de combust&vel, nunca teria sido conseguido o vBo espacialeconBmico.

 A 0ua se mostrara também, como haviam previsto os astrBnomos e &sicos, deimenso valor cient&ico. 0ibertada inalmente da aprisionada atmosera da /erra, aastronomia izera gigantescos progressosE e, na verdade, diicilmente se encontrariaum ramo da ciência que n%o se tivesse beneiciado dos laborat'rios lunares. Dossem

quais ossem suas limitaç+es, os estadistas da /erra haviam aprendido bem umaliç%o8 pesquisa cient&ica era o sangue vital da civilizaç%oE era o nico investimentoque pagaria dividendos garantidos, durante toda a eternidade...

 Iagarosamente, com incontáveis e desanimadores recuos, o ;omem descobriracomo e*istir, depois como viver e inalmente como lorescer na 0ua. 7nventaratécnicas inteiramente novas de engenharia de vácuo, de arquitetura de bai*agravidade, de controle de ar e temperatura. Iencera os demBnios gêmeos do dia eda noite lunar, embora precisasse sempre estar em guarda contra suas depredaç+es.5 calor causticante podia e*pandir suas cpulas e rachar seus edi&ciosE o rio intensopodia rasgar qualquer estrutura de metal n%o plane)ada de modo a protegersecontra contraç+es nunca encontradas na /erra. /odos esses problemas, porém,haviam sido inalmente superados.

/oda empresa nova e ambiciosa parece muito mais perigosa e di&cil de longe. 7ssoacontecera com a 0ua. -roblemas que pareciam insuperáveis antes de se alcançála

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haviam agora passado para o olclore lunar. 5bstáculos que haviam desanimado osprimeiros e*ploradores estavam quase esquecidos. #obre o solo onde homenshaviam outrora lutado a pé, os monocarros transportavam agora os turistas da/erra, em lu*uoso conorto.

(m alguns aspectos, as condiç+es na 0ua haviam a)udado em lugar de atrapalharos invasores. ;avia, por e*emplo, a quest%o da atmosera lunar. !a /erra seria

considerada um bom vácuo e n%o teria o menor eeito sobre observaç+esastronBmicas. (ra pereitamente suiciente, porém, para atuar como eiciente escudocontra meteoros. A maioria dos meteoros é interceptada pela atmosera da /erraantes de chegar a uma centena de quilBmetros da super&cieE é portantointerceptada, em outras palavras, enquanto percorrer ar n%o mais denso que o da0ua. "e ato, o invis&vel escudo da 0ua contra meteoros é ainda mais eicaz que o da/erra pois, graças $ bai*a gravidade lunar, se estende muito mais pelo espaço.

 A mais espantosa descoberta dos primeiros e*ploradores talvez tenha sido ae*istência de vida vegetal. #uspeitavase desde muito tempo antes, pelas mudançaspeculiares de luz e sombra em crateras como as de Aristarco e (rat'stenes, que

havia alguma orma de vegetaç%o na 0ua, mas era di&cil entender como poderiasobreviver em condiç+es t%o e*tremas. -resumiase que talvez pudessem e*istiralguns l&quens e musgos primitivos, e seria interessante ver como conseguiam e*istir.

 A con)etura estava completamente errada.1m pouco de pensamento teria mostrado que qualquer planta lunar n%o seria

primitiva, mas altamente especializada e*tremamente soisticada, de ato, para quepudesse enrentar seu ambiente hostil. -lantas primitivas n%o poderiam e*istir na0ua mais do que o poderia o ;omem primitivo.

 As plantas lunares mais comuns eram ormaç+es carnudas, requentementeglobulares, n%o dierentes de cactos. #ua pele c'rnea impedia a perda da preciosa

água e era salpicada aqui e acolá de )anelas transparentes que dei*avam entrar aluz do sol. (ssa espantosa improvisaç%o, por mais surpreendente que pudesseparecer a muitos, n%o era singularE ora desenvolvida independentemente por certasplantas do deserto na Srica, colocadas diante do mesmo problema de absorver a luzdo sol, sem perder água.

5 aspecto singular das plantas lunares era, entretanto, seu engenhoso mecanismopara captar ar. 1m sistema complicado de portinholas e válvulas, n%o dierentedaquele com o qual algumas criaturas marinhas bombeiam o ar através de seuscorpos, atuava como uma espécie de compressor. As plantas eram pacientesEesperavam anos ao longo das grandes endas que ocasionalmente soltavam racas

nuvens de di'*idos de carbono e en*ore do interior da 0ua. (nt%o as portinholaspunhamse a trabalhar reneticamente, e as estranhas plantas sugavam através deseus poros toda molécula que passasse a seu alcance, antes que o eêmero nevoeirolunar se dispersasse no quase vácuo aminto, que era toda a atmosera restante da0ua.

(ra assim o estranho mundo que servia agora de lar a alguns milhares de sereshumanos. Apesar de todas as suas diiculdades, eles o amavam e n%o dese)avamvoltar para a /erra, onde a vida era ácil e, por isso, oerecia pouca oportunidadepara empreendimento ou iniciativa. "e ato, a colBnia lunar, embora ligada $ /errapor laços econBmicos, tinha mais coisas em comum com os planetas da Dederaç%o.(m Marte, Iênus, Mercrio e os satélites de Npiter e #aturno, homens travavamuma guerra de ronteira contra a !atureza, muito semelhante $ que ora vencida na0ua. Marte )á estava completamente conquistadoE era o nico mundo ora da /erraonde um homem podia caminhar ao ar livre sem o uso de au*&lios artiiciais. (m

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 Iênus, a vit'ria estava $ vista e o prêmio seria uma super&cie três vezes maior que ada /erra. (m outros lugares, s' e*istiam postos avançados8 o ardente Mercrio e osgelados mundos e*teriores eram um desaio para séculos uturos.

 Assim pensava a /erra. Mas a Dederaç%o n%o podia esperar e o -roessor -hillips,em completa inocência, levara sua impaciência ao ponto de ruptura. !%o era aprimeira vez que um trabalho cient&ico mudava o curso da hist'ria, e n%o seria a

ltima.#adler nunca vira as páginas de matemática que causaram toda a complicaç%o,

mas conhecia as conclus+es a que chegavam. Muitas coisas haviamlhe sidoensinadas nos seis meses transcorridos, desde quando ora tirado de sua vida. Algumas delas aprendera em uma pequena e nua sala de aulas com seis outroshomens, cu)os nomes nunca lhe oram mencionados, mas muito conhecimentoadquirira em sono ou no sonhador estando de transe da hipnose. 1m dia, talvez,esse conhecimento seria retirado dele pelas mesmas técnicas.

 A super&cie da 0ua, haviam dito a #adler, consistia em duas espécies distintas deterreno as áreas escuras dos chamados mares e as regi+es luminosas, que eram

geralmente mais altas e muito mais montanhosas. As áreas luminosas s%o marcadaspelas incontáveis crateras lunares e parecem ter sido rasgadas e crestadas pormilênios de ria vulcnica. 5s Mares, em contraste, s%o planos e relativamente lisos.Contêm ocasionais crateras, muitos buracos e endas, mas s%o incomparavelmentemais regulares do que as acidentadas terras altas. Doram ormados, segundo parece,muito mais tarde do que as cadeias de montanhas e de crateras da eroz mocidadeda 0ua. "e alguma maneira, muito tempo ap's as ormaç+es mais antigas teremsecongelado, a crosta undiuse de novo em algumas áreas de modo a ormar asplan&cies escuras e lisas. que s%o os Mares. (les contêm os destroços de muitasantigas crateras e montanhas que se derreteram como cera, e suas costas s%o

criadas de penhascos meio destru&dos e plan&cies interrompidas que mal escaparamao desaparecimento completo.5 problema que durante muito tempo ocupara cientistas e que o -roessor -hillips

resolvera era este8 por que o calor interno da 0ua irrompera para ora apenas nasáreas seleciona das dos Mares, dei*ando intactas as antigas terras altasG

5 calor interno de um planeta é produzido por radiatividade. -arecia, portanto, aoproessor -hillips que, sob os grandes Mares, deveria haver ricos dep'sitos de urnioe seus elementos associados. 5 lu*o das marés no interior undido da 0ua produzirade alguma maneira essas concentraç+es locais, e o calor assim gerado através demilênios de radiatividade derretera os acidentes da super&cie muito acima delas, a

im de ormar os Mares."urante dois séculos homem haviam e*aminado a super&cie da 0ua com todos osinstrumentos de mediç%o conceb&veis. ;aviam eito seu interior tremer comterremotos artiiciaisE haviamno sondado com campos magnéticos e elétricos.Rraças a essas observaç+es, o -roessor -hillips conseguira assentar sua teoria sobres'lida base matemática.

 Iastos dep'sitos de urnio e*istiam, muito abai*o dos Mares. 5 urniopropriamente dito n%o tinha mais a vital importncia que tivera nos séculos XX e XX7,pois as velhas pilhas de iss%o desde muito tempo antes haviam cedido lugar aoreator de hidrogênio. Mas, onde havia urnio, seriam encontrados também os outrosmetais pesados.

5 -roessor -hillips sentiase absolutamente certo de que sua teoria n%o tinhaaplicaç+es práticas. /odos esses grandes dep'sitos, acentuara ele cuidadosamente,encontravamse a tal proundidade que qualquer orma de mineraç%o estaria

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inteiramente ora de cogitaç%o. Dicavam pelo menos a uma centena de quilBmetrosabai*o da super&cie e a press%o na rocha a essa proundidade era t%o grande que omais duro metal luiria como l&quido, de modo que nenhum poço de mina ou ori&ciode peruraç%o poderia permanecer aberto por um instante sequer.

-arecia ser uma grande pena. Aqueles sedutores tesouros, conclu&ra o -roessor-hillips, deveriam permanecer eternamente ora do alcance dos homens que deles

tanto precisavam.1m cientista, pensou #adler, n%o deveria realmente ter dito uma tolice dessas. 1m

dia o -roessor -hillips iria ter uma grande surpresa.

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#

#adler permaneceu deitado em sua tarimba e tentou ocalizar a mente na semanaanterior. (ra muito di&cil acreditar que chegara da /erra há apenas oito dias, mas orel'giocalendário na parede conirmava as anotaç+es que izera em seu diário. (, seduvidasse dessas duas testemunhas, bastaria simplesmente subir $ super&cie eentrar em uma das cpulas de observaç%o. "e lá poderia olhar a /erra im'vel, queacabara de passar a ase cheia e começava a minguar. Huando chegara $ 0ua, a/erra estava em seu primeiro quarto.

(ra meianoite sobre o Mare 7mbrium. Alvorada e ocaso eram igualmente remotos,mas a paisagem lunar resplandecia de luz. "esaiando a pr'pria /erra estava a !ova

"raconis , )á mais luminosa do que qualquer estrela da hist'ria. Mesmo #adler, queachava a maioria dos acontecimentos astronBmicos muito remota e impessoal paratocar suas emoç+es, $s vezes azia a caminhada até em cima para olhar esse novoinvasor no norte do irmamento. (staria olhando a pira unerária de mundos maisantigos e mais sábios do que a /erraG (ra estranho que acontecimento t%o inspiradorde reverência ocorresse em um momento de crise humana. #' poderia sercoincidência, naturalmente, o ato de !ova "raconis  ser uma estrela pr'*ima, mas osinal de sua morte estivera via)ando durante vinte séculos. (ra preciso ser n%oapenas supersticioso, mas também muito geocêntrico para imaginar que esseacontecimento ora plane)ado como advertência $ /erra. -ois o que dizer de todos os

outros planetas, dos outros s'is, em cu)os céus a nova resplandecia com igual oumaior luminosidadeG#adler recolheu seus pensamentos errantes e concentrouse em seu assunto

apropriado. Hue dei*ara de azerG Iisitara todas as seç+es do 5bservat'rio e icaraconhecendo todas as pessoas importantes, com e*ceç%o apenas do "iretor. 5-roessor Maclaurin deveria voltar da /erra dentro de um ou dois dias e sua ausênciasimpliicara a tarea de #adler. Huando o Chee voltasse, como todos haviam lheavisado, a vida n%o seria t%o ácil e livre, e tudo precisaria ser eito através dosCanais Competentes. #adler estava acostumado a isso, mas nem assim gostava ..

;ouve uma discreta vibraç%o do altoalante na parede sobre a cama. #adler

estendeu um pé e bateu em um interruptor com a ponta de sua sandália. Conseguiaazer isso logo na primeira vez, mas racos rasp+es na parede eram ainda umalembrança vis&vel de sua aprendizagem.

#im disse ele. Huem éG #eç%o de /ransporte. (stou echando a lista para amanh%. ;á ainda uns dois

lugares vagos... voce quer irG #e há lugar respondeu #adler. !%o dese)o que causas mais merit'rias se)am

pre)udicadas. (stá bem... você será inclu&do disse a voz energicamente, ap's o que desligou.#adler sentiu apenas a mais leve pontada na consciência. "epois de uma semana

de s'lido trabalho, poderia passar algumas horas na Cidade Central. Ainda n%oestava no tempo de encontrarse com seu primeiro contato e até ent%o seusrelat'rios haviam seguido pelo serviço postal normal, sob uma orma que nada

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signiicasse para alguém que por acaso os lesse. Mas )á era tempo de conhecer acidade e de ato pareceria estranho se n%o aproveitasse uma nica olga.

#ua principal raz%o para a viagem era, porém, puramente pessoal. ;avia umacarta que dese)ava remeter e sabia que a correspondência cio 5bservat'rio estavasendo censurada por seus colegas da Central de 7normaç+es. A essa altura elesdeviam mostrarse indierentes a tais quest+es, mas #adler ainda preeria guardar

consigo sua vida privada. A Cidade Central icava a vinte quilBmetros do espaçoporto e #adler nada vira da

metr'pole lunar por ocasi%o de sua chegada $ 0ua. Huando o monocarro muitomais cheio agora do que na sua primeira viagem entrou mais uma vez no #inusMedii, #adler n%o se sentia mais um completo estranho. Conhecia, pelo menos devista, todas as pessoas que estavam no carro. Huase metade dos uncionários do5bservat'rio nele se encontravaE a outra metade teria seu dia de olga na semanaseguinte. !em mesmo !ova "raconis   conseguira intererir nessa rotina, que sebaseava em bom senso e s'lida psicologia.

5 aglomerado de grandes cpulas começou a erguerse acima do horizonte. 1ma

luz de arol brilhava no topo de cada uma, mas, aora isso, todas estavam escuras en%o davam sinal de vida. Algumas, segundo #adler sabia, podiam se tornartransparentes quando se dese)ava. /odas estavam agora opacas, conservando seucalor contra a noite lunar.

5 monocarro entrou em um longo tnel na base de uma das cpulas. #adler teveum vislumbre de grandes portas que se echavam por trás dele depois outrocon)unto e em seguida ainda outro. !%o se arriscavam, pensou ele, aprovando talcautela. "epois houve o inconund&vel som de ar movendose $ sua volta, uma portainal abriuse $ rente e o ve&culo parou ao lado de uma plataorma que poderia estarem qualquer estaç%o na /erra. #adler e*perimentou um choque quando olhou pela

 )anela e viu pessoas andando do lado de ora sem tra)es espaciais... Iai a algum lugar determinadoG perguntou Qagnall, enquanto esperavam quediminu&sse o aperto na porta.

#adler sacudiu negativamente a cabeça. !%o... #' dese)o andar um pouco e dar uma olhada. Huero ver onde vocês

conseguem gastar todo seu dinheiro.Qagnall evidentemente n%o poderia decidir se ele estava brincando ou n%o e, para

al&vio de #adler, n%o oereceu seus serviços como guia. (ssa era uma das ocasi+esem que ele se sentiria muito eliz em ser dei*ado sozinho.

#aiu da estaç%o e viuse no alto de uma larga rampa que descia para uma cidade

pequena e compacta. 5 n&vel principal icava a vinte metros abai*o de onde estavaEn%o havia percebido. que toda a cpula era aundada na plan&cie lunar, reduzindoassim a quantidade de estrutura de teto necessária. Ao lado da rampa, uma largaesteira rolante levava carga e bagagem para a estaç%o em ritmo vagaroso. 5sedi&cios mais pr'*imos eram evidentemente industriais e, embora bem conservados,tinham a aparência surrada que inevitavelmente tudo adquire nas vizinhanças deestaç+es ou docas.

!%o oi sen%o quando )á estava na metade da rampa que #adler percebeu quehavia um céu azul no alto, que o sol brilhava logo atrás dele e que altas nuvenscirrus lutuavam em cima.

 A ilus%o era t%o pereita que ele considerara tudo normal e se esquecera por ummomento que era meianoite na 0ua. Ditou por longo tempo as proundezasestonteantes daquele céu sintético e n%o conseguiu encontrar alhas em sua

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pereiç%o. Agora compreendia por que as cidades lunares insistiam em suasdispendiosas cpulas, quando poderiam muito bem terse enterrado como o5bservat'rio.

!%o havia risco de perderse na Cidade Central. Com uma nica e*ceç%o, cadauma das sete cpulas interligadas era traçada dentro do mesmo padr%o de avenidasradiais e anéis rodoviários concêntricos. A e*ceç%o era a Cpula T, principal centro

industrial e de produç%o, que era virtualmente uma nica vasta ábrica e que #adlerresolveu dei*ar de lado.

Caminhou ao acaso durante algum tempo8 indo onde impulsos casuais o levavam.Hueria tomar o pulso do lugar, pois percebia que era completamente imposs&velconhecer a cidade de maneira conveniente no curto espaço de tempo $ suadisposiç%o ;avia uma coisa na Cidade Central que o impressionou imediatamente8ela tinha uma personalidade, um caráter pr'prio. !inguém pode dizer por que issoacontece em algumas cidades e n%o em outras, e #adler sentiuse um poucosurpreendido por acontecer em um ambiente t%o artiicial quanto aquele. "epois selembrou de que todas as cidades, quer na /erra quer na 0ua, eram igualmente

artiiciais... As ruas eram estreitas e os nicos ve&culos eram pequenos carros abertos de três

rodas que circulavam a menos de trinta quilBmetros por hora e pareciam ser usadose*clusivamente para carga e n%o para passageiros. /ranscorreu algum tempo antesque #adler descobrisse o metrB automático que ligava as seis cpulas e*ternas emum grande anel, passando por bai*o do centro de cada uma delas. (ra realmenteuma esteira rolante gloriicada e moviase apenas da direita para esquerda. Huemn%o tivesse sorte poderia precisar dar toda a volta na cidade a im de chegar $cpula ad)acente mas como a viagem demorava apenas cinco minutos, essa n%o erauma grande diiculdade.

5 centro comercial e principal reposit'rio da elegncia lunar icava na Cpula =. Alitambém moravam os altos e*ecutivos e técnicos os mais altos de todos, em casaspr'prias. A maioria dos edi&cios residenciais tinha )ardins no teto, onde plantasimportadas da /erra subiam a alturas improváveis nessa bai*a gravidade. #adlerconservou os olhos abertos $ procura de vegetaç%o lunar mas n%o viu sinais dela.!%o sabia que havia rigoroso regulamento contra a entrada de plantas nativas nascpulas. 1ma atmosera rica em o*igênio superestimulavaas de tal modo que elasse descontrolavam e morriam prontamente, quando seus organismos carregados deen*ore se decompunham, produzindo um mau cheiro que s' quando e*perimentadose azia idéia.

 A maioria dos visitantes da /erra era encontrada ali. #adler, selenita de oito dias depermanência, surpreendeuse olhando com divertido desprezo os recémchegados'bvios. Muitos deles haviam alugado cintos de peso assim que entraram na cidade,sob a impress%o de que essa era a coisa mais segura a azer. #adler ora avisado emtempo contra a alsidade disso e assim evitara contribuir para o que na realidade erauma pequena e*ploraç%o. !a verdade, se a pessoa se carregasse com chumbo haviamenos perigo de erguerse do solo com passos incautos e talvez terminar a tra)et'riacom a cabeça no ch%o. Contudo, nmero surpreendentemente pequeno de pessoaspercebia a distinç%o entre peso e inércia, que azia com que esses cintos tivessemvalor duvidoso. Huando a pessoa procurava começar a moverse ou parar depressa,

descobria rapidamente que, embora cem quilos de chumbo pudessem pesar aliapenas sessenta quilos, tinham e*atamente o mesmo impulso que na /erra."e tempos a tempos, enquanto abria caminho através das escassas multid+es e

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vagueava de lo)a para lo)a, #adler encontrava amigos do 5bservat'rio. Alguns delesestavam icando carregados de embrulhos, $ medida que compensavam a economiacompuls'ria de uma semana. A maioria dos membros mais )ovens do quadro depessoal, homens e mulheres, arrumara companhia. #adler presumiu que, embora o5bservat'rio pudesse ser autosuiciente na maioria das coisas, havia outras quee*igiam certa variedade.

5 claro som como de um sino, repetido três vezes, apanhouo desprevenido.5lhou em volta, mas n%o conseguiu localizar sua origem. A princ&pio parecia queninguém estava dando atenç%o ao sinal, osse qual osse sua signiicaç%o. "epoisobservou que as ruas se esvaziavam vagarosamente e que o céu escurecia.

!uvens cobriram o sol. (ram pretas e denteadas, com suas orlas ran)adas dechamas quando a luz do sol passava por elas. Mais uma vez #adler admirouse dahabilidade com que essas imagens pois n%o poderiam ser outra coisa erampro)etadas na cpula. !enhuma verdadeira tempestade poderia parecer maisreal&stica e quando o primeiro trov%o ecoou no céu, ele n%o hesitou em procurarabrigo. Mesmo que as ruas n%o se tivessem esvaziado, ele poderia ter calculado que

os organiza dores dessa tempestade n%o iam omitir pormenor algum...5 pequeno caé de calçada estava cheio de outros reugiados quando as gotasiniciais ca&ram e a primeira eroz l&ngua de relmpago lambeu o céu. #adler nuncapodia ver relmpagos sem contar os segundos antes que retumbasse o trov%o. 5som chegou quando ele contara seis, indicando que o relmpago ora a doisquilBmetros de distncia. 7sso, naturalmente, o colocava bem ora da cpula, novácuo sem som do espaço. 5h, bem, era preciso permitir certa licença art&stica e n%oseria )usto quei*arse de pontos como esse.

Cada vez mais grossa e pesada ca&a a chuva, cada vez mais cont&nuos eram osraios. A água corria pelas ruas e pela primeira vez #adler percebeu as sar)etas rasas

que, se tivesse visto antes, teria dei*ado passar sem pensar mais nelas. !%o eraseguro tomar qualquer coisa como certa ali. A gente precisava constantemente parar.e perguntar a si mesmo8 A que unç%o serve istoG Hue está azendo aqui na 0uaG#erá o que eu penso que éG #em dvida, pensando agora na quest%o, era t%oinesperado ver uma sar)eta na Cidade Central quanto seria ver um removedor deneve. Mas talvez mesmo isso...

#adler virouse para seu vizinho mais pr'*imo, que observava a tempestade comevidente admiraç%o.

"esculpeme disse mas com que requência acontece essa espécie de coisaG 1mas duas vezes por dia... dia lunar, quero dizer oi a resposta. J sempre

anunciada com algumas horas de antecedência, para que n%o interira nas atividadescomerciais.

!%o quero ser e*cessivamente inquisitivo continuou #adler, receando estarsendo e*atamente isso mas estou surpreendido pelo trabalho a que vocês sederam. #erá mesmo necessário todo esse realismoG

/alvez n%o, mas gostamos dele. -recisamos de um pouco de chuva, lembrese,para conservar a cidade limpa e eliminar poeira. -or isso, procuramos azer as coisasde maneira apropriada.

#e #adler tivesse alguma dvida a respeito, teria sido dissipada quando umglorioso arco&ris duplo surgiu das nuvens. As ltimas gotas bateram sobre a calçadaEo trov%o reduziuse a um murmrio zangado e distante. 5 espetáculo estava

encerrado e as ruas ainda reluzentes da Cidade Central começaram novamente aencherse de vida.

#adler icou no caé para tomar uma reeiç%o e, depois de uma barganha um

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pouco di&cil, conseguiu livrarse de um pouco de dinheiro terrestre por uma ta*aapenas ligeiramente abai*o do cmbio oicial. A comida, um pouco para suasurpresa, era e*celente. /udo ora sintetizado ou cultivado nos tanques de ermentoe clorela, mas misturado e processado com grande aptid%o. 5 mal na /erra, reletiu#adler, era poder tomar a comida como coisa certa e raramente dar $ quest%o aatenç%o que merecia. Ali, por outro lado, os alimentos n%o eram coisa cu)a obtenç%o

se pudesse esperar de uma bondosa natureza, com um pouco de est&mulo.-recisavam ser plane)ados e produzidos desde o começo e, uma vez que o trabalhoprecisava ser eito, alguém providenciara para que osse eito da maneira correta.Como os enBmenos meteorol'gicos, realmente...

(ra tempo de porse em movimento. A ltima correspondência para a /erra seriarecolhida dentro de duas horas e, se a perdesse, Neanette s' receberia sua cartaquase uma semana depois, pelo tempo da /erra. (la )á ora mantida em suspensepor tempo mais que suiciente.

/irou do bolso a carta ainda aberta e leua de novo para alguma correç%o inal quepudesse ser necessária.

Neanette, minha querida8Rostaria de poder dizerlhe onde estou, mas n%o tenho permiss%o para isso. A

idéia n%o oi minha, mas eu ui escolhido para um serviço especial e tenho que mearrumar da melhor maneira poss&vel. (stou bem de sade e, embora n%o possaentrar diretamente em contato com você, todas as cartas que mandar para a Cai*acu)o nmero eu lhe dei chegar%o $s minhas m%os mais cedo ou mais tarde.

5diei estar ausente por ocasi%o de nosso aniversário, mas, creiame, euabsolutamente nada poderia azer para evitálo. (spero que tenha recebido meupresente... e espero que tenha gostado. "emorei muito tempo para encontrar aquelecolar e n%o vou dizerlhe quanto custouU

(stá sentindo muita alta de mimG Meus "eus, como eu gostaria de estarnovamente em casaU #ei que você icou oendida e preocupada quando parti, masquero que conie em mim e compreenda que eu n%o podia contarlhe o que estavaacontecendo. #em dvida você sabe que dese)o Nonathan -eter tanto quanto você.-or avor, tenha é em mim e n%o pense que oi por ego&smo ou por n%o amála queagi da maneira como o iz. (u tinha raz+es muito boas, que um dia poderei e*plicarlhe.

 Acima de tudo, n%o se preocupe e n%o se impaciente. Iocê sabe que eu voltarei assim que puder. ( uma coisa eu lhe prometo8 quando

estiver novamente em casa, iremos em rente. (u gostaria de saber quando

acontecerá isso.(u a amo, minha querida... nunca duvide disso. (ste é um serviço duro e sua éem mim é a nica coisa que me sustenta...

0eu a carta com muito cuidado, tentando por um momento esquecer tudo quantoela signiicava para si, a im de encarála como uma mensagem que pudesse ter sidoescrita por um indiv&duo completamente estranho. A carta revelava muita coisaG Acreditava que n%o. -oderia ser indiscreta, mas nela nada havia que revelasse sualocalizaç%o ou a natureza de seu trabalho.

Dechou o envelope, mas n%o escreveu nele nome ou endereço. "epois ez umacoisa que, estritamente alando, era uma violaç%o direta de seu )uramento. Colocou acarta em outro envelope, que endereçou, com um bilhete incluso, a seu advogadoem Qashington.

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Caro Reorge8 KescreveuL Iocê icará surpreendido ao saber onde estou agora.Neanette n%o sabe e n%o quero que ela se preocupe. -or isso, por avor, enderece oenvelope incluso para ela e coloqueo na cai*a de correspondência mais pr'*ima./rate minha atual localizaç%o como coisa absolutamente conidencial. (u e*plicareitudo um dia.

Reorge adivinharia a verdade, mas era capaz de guardar segredos t%o bem quantoqualquer pessoa na Central de 7nteligência. #adler n%o conseguira pensar em outromeio seguro de azer sua carta chegar $s m%os de Neanette e estava disposto acorrer o ligeiro risco em troca de sua paz de esp&rito... e da dela.

-erguntou onde icava a cai*a de correspondência mais pr'*ima Kera di&cilencontrar uma na Cidade CentralL e eniou a carta nela. "entro de umas duas horasestaria a caminho da /erraE $ mesma hora do dia seguinte estaria nas m%os deNeanette. #' podia esperar que ela compreendesse ou, se n%o pudesse compreender,suspendesse seu )ulgamento até se encontrarem de novo.

;avia uma banca de )ornais ao lado da cai*a de correspondência e #adler comprou

um e*emplar do Central !eWs. Ainda dispunha de várias horas antes que omonotrilho partisse para o 5bservat'rio e, se alguma coisa interessante estavaacontecendo na cidade, o )ornal local presumivelmente contaria tudo a respeito.

 As not&cias pol&ticas ocupavam t%o pouco espaço que #adler perguntou a si pr'priose n%o estaria em vigor uma branda censura. #' pelos t&tulos, ninguém teriapercebido que havia uma criseE era necessário procurar no )ornal para descobrir asnot&cias realmente signiicativas. !a segunda página, embai*o, por e*emplo, havia anot&cia de que uma nave de passageiros da /erra estava tendo complicaç+es dequarentena em Marte e n%o recebera autorizaç%o para pousar... enquanto outra em Iênus n%o conseguia autorizaç%o para decolar. #adler tinha bastante certeza de quea verdadeira complicaç%o era pol&tica e n%o médica8 a Dederaç%o estavasimplesmente endurecendo.

!a quarta página havia uma not&cia que dava ainda mais o que pensar. 1m grupode e*ploradores de minério ora preso em um aster'ide remoto nas vizinhanças deNpiter. A acusaç%o, segundo parecia, era de violaç%o dos regulamentos desegurança no espaço. #adler suspeitou que a acusaç%o osse alsa... e ose*ploradores também. A Central de 7nteligência provavelmente perdera alguns deseus agentes.

!a página central do )ornal havia um editorial bastante ingênuo que azia pouco dasituaç%o e e*pressava a coniante esperança de que prevaleceria o senso comum.#adler, que n%o tinha ilus+es a respeito do mais comuns dos sensos comuns,

permaneceu cético e voltouse para as not&cias locais./odas as comunidades humanas, onde quer que este)am no espaço, seguem o

mesmo padr%o. -essoas nascem, s%o cremadas Kcom cuidadoso aproveitamento de'soro e nitratosL, casamse e divorciamse, mudam de cidade, processam seusvizinhos, d%o estas, promovem reuni+es de protesto, envolvemse em acidentesespantosos, escrevem Cartas $ 3edaç%o mudam de emprego... #im, era e*atamentecomo na /erra. (ssa era uma idéia um tanto deprimente. -or que o ;omem se deraao trabalho de dei*ar seu pr'prio mundo, se todas as suas viagens e e*periênciashaviam eito t%o pouca dierença em sua natureza undamentalG -oderia muito bemter permanecido em casa, em lugar de e*portar a si pr'prio e suas raquezas, com

grandes gastos, para outro mundo.#eu serviço está tornandoo c&nico, disse #adler a si mesmo. Ie)amos o que aCidade Central oerece em matéria de divertimento.

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 Acabara de perder um torneio de tênis na Cpula Huatro, que valia a pena terassistido. (ra )ogado, segundo lhe dissera alguém, com uma bola de tamanho emassa normais. /odavia, a bola era cheia de cavidades, o que aumentava suaresidência ao ar, de modo que seu alcance n%o era maior do que na /erra. #em talsubtergio, uma boa raquetada aria com que a bola atingisse acilmente uma dascpulas. Contudo, as tra)et'rias seguidas por essas bolas viciadas eram muito

peculiares e suicientes para provocar rápido colapso nervoso em alguém que tivesseaprendido a )ogar na gravidade normal.

;avia um Ciclorama na Cpula /rês, prometendo uma e*curs%o $ 6acia AmazBnicaKpicadas de mosquito opcionaisL, com in&cio de duas em duas horas. /endo acabadode chegar da /erra, #adler n%o sentia dese)o de voltar t%o depressa. Além disso,achava que )á vira uma e*ibiç%o de ciclorama na tempestade que havia passado.-resumivelmente ora produzida da mesma maneira, por baterias de pro)etores dengulo largo.

 A divers%o que inalmente o atraiu oi a piscina na Cpula "ois. (ra a coisaprincipal no Rinásio da Cidade Central, muito requentada pelo pessoal do

5bservat'rio. 1m dos riscos ocupacionais da vida na 0ua era a alta de e*erc&cio e aresultante atroia muscular. Huem permanecia ora da /erra mais de algumassemanas sentia muito severamente a mudança de peso quando voltava. 5 que atraiu#adler ao Rinásio oi, porém, a idéia de que poderia praticar alguns dos saltosornamentais a que nunca se arriscaria na /erra, onde uma pessoa ca&a cinco metrosno primeiro segundo e adquiria muito maior energia cinética antes de atingir a água.

 A Cpula "ois icava do outro lado da cidade e, achando que devia poupar energiapara gastar na piscina, #adler tomou o metrB. Mas dei*ou passar a seç%o de bai*avelocidade, que permitia $ pessoa sair da esteira rolante em cont&nuo movimento, eoi levado contra a vontade até a Cpula /rês antes que pudesse escapar. -ara n%o

dar novamente a volta em torna da cidade, voltou pela super&cie, passando pelocurto tnel que ligava todas as cpulas nos pontos onde se tocavam. ;avia ali portasautomáticas que se abriam a um toque... e se echavam instantaneamente se apress%o do ar ca&a de qualquer dos lados.

Metade do pessoal do 5bservat'rio parecia estar se e*ercitando no Rinásio. 5 "r.Molton praticava em uma máquina de remar, com os olhos ansiosamente i*ados noindicador que marcava suas remadas. 5 (ngenheiroChee, de olhos apertadamenteechados de acordo com as instruç+es de advertência, estava em pé no centro de umc&rculo de lmpadas ultravioleta que emitiam uma luz antástica enquanto renovavameu bronzeado. 1m dos médicos da enermaria atacava uma bola de treinamento debo*e com tanta violência, que #adler esperou nunca precisar recorrer a seusserviços proissionais. 1m personagem de aparência robusta, que #adler acreditavater vindo da manutenç%o, tentava erguer uma toneladaE mesmo descontandosementalmente a bai*a gravidade. ainda era uma proeza de causar respeito.

/odos os outros estavam na piscina e #adler rapidamente se )untou a eles. !%otinha certeza do que esperava, mas por algum motivo imaginava que nadar na 0uaseria drasticamente dierente da mesma e*periência na /erra. Mas era e*atamenteigual e o nico eeito da gravidade estava no peso anormal das ondas e na lentid%ocom que se moviam através da piscina.

5s mergulhos correram bem enquanto #adler nada tentou de muito ambicioso. (rasimplesmente maravilhoso saber o que estava acontecendo e ter tempo de admirar o

ambiente durante a vagarosa descida. "epois, muito arro)ado, #adler tentou umsalto mortal de cinco metros. Ainal de contas, isso equivalia a menos de um metrona terra...

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7nelizmente, calculou errado o tempo da queda e deu uma meia volta a mais... oua menos. 6ateu com os ombros na água e lembrouse tarde demais da batida que agente podia levar, mesmo de pequena altura, quando as coisas corriam mal.Manque)ando um pouco e sentindose como se tivesse sido esolado vivo, saiuraste)ando da piscina. (nquanto as vagarosas ondas se aastavam languidamente,#adler decidiu dei*ar aquela espécie de e*ibicionismo para homens mais )ovens.

"epois de todo esse esorço, era inevitável que se )untasse a Molton e alguns deseus outros conhecidos quando dei*aram o Rinásio. Cansado, mas satiseito, esentindo que aprendera muita coisa a respeito do modo de vida lunar, #adlerrecostouse em seu banco quando o monocarro saiu da estaç%o c as grandes portasse echaram hermeticamente ap's sua passagem. 5 céu azul salpicado de nuvenscedeu lugar $ dura realidade da noite lunar. 0á estava a /erra inalterada, e*atamentecomo ele a vira hora antes. -rocurou a cegante estrela !ova "raconis , depois selembrou de que naquela latitude ela estava oculta abai*o da beirada norte da 0ua.

 As cpulas escuras, que davam t%o pouco sinal da vida e luz que continham,aundaramse abai*o do horizonte. (nquanto as observava sumir, #adler teve um

repentino e sombrio pensamento8 haviam sido constru&das para resistir $s orças quea !atureza poderia lançar contra elas mas como seriam lamentavelmente rágeis seum dia enrentassem a ria do ;omemU

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7

  (u ainda penso ^ alou Namieson. (nquanto o trator avançava e direç%o $parede sul de -lat%o que haverá uma bronca dos diabos quando o velho souberdistoG

-or quêG perguntou Qeeler. Huando voltar, ele estará ocupado demais parapreocuparse conosco. Além disso, n's estamos pagando todo o combust&vel queusamos . -ortanto. dei*e de se preocupar e divirtase. (ste é o nosso dia de olga,caso você tenha esquecido.

Namieson n%o respondeu. (stava muito ocupado em concentrarse na estrada $rente... se aquilo podia ser chamado de estrada. 5s nicos sinais de que outros

ve&culos )á haviam passado por aquele caminho eram os sulcos ocasionais na poeira.Como estes perdurariam eternamente ali na 0ua sem ventos, nenhum outro sinal eranecessário, embora ocasionalmente. se encontrassem avisos inquietadores dizendo8-(37R5 D(!"A# F D3(!/(U ou 5X7R\!75 "( (M(3R\!C7A =V H170]M(/35#.

#' há dois métodos de transporte para longas distncias na 0ua. 5s monotrilhosde alta velocidade ligam as principais colBnias, com serviço rápido e conortáveluncionando em horário regular. Mas o sistema erroviário é muito limitado eprovavelmente assim permanecerá devido a seu custo. -ara movimentaç%o semlimitaç+es na super&cie lunar, é preciso voltar aos potentes tratores propelidos porturbinas, conhecidos como Caterpillars ou, resumidamente, Cats. #%o,

virtualmente, pequenas naves espaciais montadas sobre pequenos e gordos pneusque lhes permitem ir a qualquer lugar razoável, mesmo na super&cieespantosamente acidentada da 0ua. (m terreno liso podem acilmente atingir cemquilBmetros por hora, mas normalmente é sorte conseguir metade dessa velocidade. A bai*a gravidade e as lagartas, que podem bai*ar quando necessário, permitemlhes subir encostas antásticas. (m emergências, sabese de casos em que seergueram em penhascos verticais com o au*&lio de seus guinchos embutidos. !osmodelos maiores, podese viver durante semanas a io sem e*cessivo sorimento, etoda a minuciosa e*ploraç%o da 0ua oi realizada por prospectores usando essespequenos e resistentes ve&culos.

Namieson era um motorista mais do que perito e conhecia pereitamente ocaminho. Apesar disso, durante a primeira hora Qheeler sentiu que seu cabelosnunca se assentavam. Reralmente os recémchegados $ 0ua demoram um poucopara perceber que as encostas s%o pereitamente seguras, quando tratadas comrespeito. /alvez osse bom Qheeler ser noviço, pois o a técnica de Namieson era t%opouco ortodo*a que encheria de verdadeiro alarma um passageiro mais e*periente.

5 ato de Namieson ser motorista arro)adamente brilhante era um parado*o quecausava muita discuss%o entre seus colegas. !ormalmente, ele era muito minuciosoe cauteloso, inclinado a n%o agir, a menos que estivesse certo das consequências.Namais alguém o vira realmente aborrecido ou e*citadoE muitos o consideravampreguiçoso, mas isso era calnia. (le passava semanas trabalhando em algumasobservaç+es até os resultados serem absolutamente incontestáveis e depois osdei*ava de lado por dois ou três meses para e*aminálos de novo mais tarde.

!o entanto, na direç%o de um cat esse calmo e pac&ico astrBnomo tornavase

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um motorista temerário, que detinha o recorde e*traoicial de quase todos ospercursos de tratores no hemisério norte. A raz%o residia enterrada t%oproundamente que nem Namieson tinha consciência dela em um dese)o dameninice de ser piloto de nave espacial, sonho que ora rustrado por um coraç%oerrático.

"o espaço ou da /erra através de um telesc'pio as paredes de -lat%o parecem

uma barreira ormidável quando a luz obl&qua do sol as mostra melhor. !a realidade,porém, têm menos de um quilBmetro de altura e, se a pessoa escolher a rota certaatravés dos numerosos passos, a viagem para sair da cratera e entrar no Mare7mbrium n%o oerece grande diiculdade. Namieson atravessou as montanhas emmenos de um hora, mas Qheeler gostaria que tivesse demorado um pouco mais.

-araram em uma alta escarpa que dominava a plan&cie. "iretamente $ rente,erguendose no horizonte, icava o piramidal cume do -ico. F direita, aundandosepara nordeste, estavam os cumes mais escarpados das Montanhas /enerie. Muitopoucos desses cumes )á haviam sido escalados, em grande parte porque ninguém sepreocupara em tentar a proeza. A brilhante luz da /erra azia com que parecessem

ter uma antástica cor azulverde, contrastando estranhamente com sua aparênciadurante o dia, quando eram reduzidos a tons brancos e pretos, nus pelo solimpiedoso.

(nquanto Namieson se rela*ava para apreciar a vista, Qheeler iniciou umcuidadoso e*ame da paisagem com poderoso bin'culo. "ez minutos depois desistiu,nada tendo descoberto de estranho. !%o icou surpreendido por isso, pois a áreaonde haviam pousado os oguetes n%o programados estava bem abai*o do horizonte.

Iamos continuar disse ele. -oderemos chegar ao -ico dentro de umas duashoras e lá )antaremos.

( depoisG perguntou N Namieson em tom resignado.

#e nada conseguirmos ver, voltaremos como meninos bonzinhos. (stá bem... mas você achará a viagem incBmoda daqui para rente. Acho quenem doze tratores desceram por aqui até ho)e. -ara animálo, posso dizerlhe quenosso Derdinand é um deles.

Dez o ve&culo avançar devagar, contornando cautelosamente uma &ngreme ladeiraonde rochas lascadas haviamse acumulado durante milênios. /ais encostas erame*tremamente perigosas, pois a menor perturbaç%o podia muitas vezes azer comque se movessem em lentas e irresist&veis avalanchas que levavam de rold%o tudoquanto houvesse $ sua rente. Apesar de toda sua aparente temeridade, Namiesonn%o se arriscava realmente e sempre evitava tais ciladas. 1m motorista menose*periente teria corrido alegremente ao longo do sopé da encosta, sem parar ummomento para pensar e noventa e nove vezes em cem teria se sa&do bem.Namieson )á vira o que acontecia na centésima vez. "epois que a onda de entulhopoeirenta engolava um trator n%o havia como escapar, pois qualquer tentativa desalvaç%o s' provocaria novos deslizamentos.

Qheeler começou a sentirse claramente ineliz na descida das paredes e*ternasde -lat%o. 7sso era estranho, pois elas eram muito menos _ngremes do que asparedes internas e ele havia esperado uma viagem mais comoda. !%o contara com oato de que Namieson aproveitaria as condiç+es mais áceis para desenvolvervelocidade, em resultado do que Derdinand entregavase a um peculiar movimentode balanço. Dinalmente Qheeler desapareceu na parte traseira do bem equipado

trator e n%o oi visto pelo piloto durante algum tempo. Huando voltou, observoubastante zangado8 !inguém me havia dito que a gente podia realmente soreren)Bo do mar na 0ua.

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 A vista agora era bastante decepcionante, como geralmente acontece quando sedesce $s terras lunares bai*as. 5 horizonte ica t%o perto apenas a uns dois ou trêsquilBmetros de distncia que dá uma impress%o de coninamento ou pris%o. Jquase como se o pequeno c&rculo de rocha que cerca a pessoa osse a nica coisae*istente. A ilus%o pode ser t%o orte que se soube de homens que dirigiram seustratores mais devagar do que o necessário, como se subconscientemente temessem

cair pela beirada daquele horizonte antasticamente pr'*imo."urante duas horas Namieson ez o ve&culo avançar irmemente, até quando, por

im, a tripla torre do -ico dominou o céu $ rente. 5utrora essa magn&ica montanhaora parte de uma vasta parede de cratera que devia ter sido gêmea de -lat%o. Masmilênios atrás a invasora lava do Mare 7mbrium arrastara todo o resto do c&rculo decento e cinquenta quilBmetros de dimetro, dei*ando o -ico em estado isolado esolitário.

5s via)antes izeram ali uma parada, a im de abrir alguns pacotes de alimentos epreparar um pouco de caé na chaleira de press%o. 1m dos pequenos inconvenientesda vida na 0ua é que bebidas realmente quentes constituem uma impossibilidade a

água erve a cerca de setenta graus cent&grados na atmosera de bai*a press%o, ricaem o*igênio, universalmente empregada. "epois de algum tempo, porém, acostumase com bebidas mornas.

"epois de terem limpado os restos da reeiç%o, Namieson perguntou a seu colega8 /em certeza de que dese)a ir até o imG

(nquanto você disser que é seguro. "aqui aquelas paredes parecemhorrivelmente &ngremes.

J seguro, se você izer o que vou dizer. (u estava apenas me perguntando comovocê se sente agora. !%o há coisa pior do que icar en)oado dentro de um tra)eespacial.

(u estou bem respondeu Qheeler com dignidade. "epois lhe ocorreu outraidéia. Huanto tempo icaremos ora, ainal de contasG 5h, digamos umas duas horas. Huatro no má*imo. J melhor soltar tudo o que

quiser agora.  (u n%o estava preocupado com isso replicou Qheeler, que em seguida seretirou de novo para o undo da cabina.

!os seis meses em que estivera na 0ua, Qheeler n%o usara tra)e espacial mais doque uma dzia de vezes e, na maioria dessas ocasi+es, como e*erc&cio deemergência. (ram muito raras as ocasi+es em que o pessoal de observaç%o precisavasair para o vácuo a maior parte de seu equipamento era de controle remoto. Mas

Qheeler n%o era completo noviço, embora ainda estivesse no estágio de cautela, oque é muito mais seguro do que a despreocupada super coniança.Chamaram a 6ase, através da /erra, para comunicar sua posiç%o e suas intenç+esE

depois cada um a)ustou o equipamento do outro, cuidando de todos os pormenores.Huando tiveram certeza de que todo seu equipamento estava em pereitascondiç+es, abriram a porta da esclusa de ar e sa&ram para a plan&cie poeirenta.

Como a maioria das montanhas lunares, o -ico n%o era t%o ormidável visto deperto quanto parecia $ distncia. ;avia alguns penhascos verticais, mas semprepodiam ser evitados, e raramente era necessário subir ladeiras de mais de quarentae cinco graus. Com um se*to da gravidade, isso n%o e*igia muito esorço, mesmoquando se usava tra)e espacial.

 Ainda assim, o esorço a que n%o estava acostumado ez Qheeler suar e arque)arum pouco, ap's terem subido durante meiahora. #eu visor estava muito embaçado,de modo que precisava espiar pelos cantos para en*ergar convenientemente.

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(mbora osse teimoso demais para pedir um andar mais lento, icou muito satiseitoquando Namieson resolveu azer uma parada.

(stavam agora quase a um quilBmetro acima da plan&cie e podiam ver pelo menosaté cinquenta quilBmetros ao norte. -rotegeram seus olhos contra o clar%o da /erra ecomeçaram a procurar.

"emoraram apenas um momento para encontrar seu ob)etivo. A meio caminho dohorizonte, dois grandes oguetes de carga estavam parados como eias aranhassobre seus trens de aterragem abertos. Rrandes como eram, icavam ananicadospela curiosa estrutura em orma de cpula que se erguia da plan&cie. !%o era umacpula comum de press%o suas proporç+es estavam todas erradasE dava quase aimpress%o de que uma esera inteira ora parcialmente enterrada, de modo que ostrês quartos superiores emergiam $ super&cie. Através de seus bin'culos, cu)osoculares especiais permitiam seu uso apesar do visor do tra)e espacial, Qheeler pBdever homens e máquinas movendose em volta da base da cpula. "e tempos atempos, nuvens de poeira erguiamse para o céu e voltavam a cair, como se

estivesse havendo e*plos+es. (ssa era outra coisa estranha na 0ua, pensou ele. Amaioria dos ob)etos, ali naquela bai*a gravidade, ca&a com e*cessiva lentid%o paraquem estivesse acostumado $s condiç+es da /erra. Mas poeira ca&a e*cessivamentedepressa de ato na mesma velocidade que qualquer outra coisa pois n%o havia arpara conter sua queda.

6em `. disse Namieson, depois de ter eito também demorado e*ame através dobin'culo alguém está gastando uma tremenda quantia de dinheiro.

Hue pensa você que se)aG 1ma minaG -ode ser respondeu o outro, cauteloso como sempre. /alvez tenham decidido

beneiciar os minérios no local e toda sua usina de e*traç%o este)a naquela cpula.

Mas isso é apenas palpite... certamente até ho)e nunca vi coisa assim. -odemos chegar lá em uma hora, se)a aquilo o que or. Iamos continuar e olharmais de pertoG

(u receava que você dissesse isso. !%o estou certo de que se)a coisa muitoprudente. (les poderiam insistir em que icássemos lá.

Iocê andou lendo muitos artigos assustadores. Alguém poderia pensar que háuma guerra e n's somos dois espi+es. (les n%o poderiam deternos... o 5bservat'riosabe onde estamos e o "iretor aria um barulho dos diabos se n%o voltássemos.

"esconio que ele vai azer isso quando voltarmos, de modo que tanto vale serenorcado por um carneiro quanto por um rebanho. Iamos... é mais ácil na descida.

(u nunca disse que osse di&cil na subida protestou Qheeler, de maneira n%omuito convincente. Alguns minutos depois, enquanto descia a encosta atrás deNamieson, ocorreulhe uma idéia alarmante.

Iocê acha que nos estavam ouvindoG #uponha que alguém estivesse de escutanesta requência... teria ouvido todas as palavras que dissemos. Ainal de contas,estamos na linha direta de vis%o.

Huem está sendo melodramático agoraG !inguém a n%o ser o 5bservat'rioestaria ouvindo nesta requência, e o pessoal de lá n%o poderia nos ouvir, pois hámuitas montanhas entre n's. -arece que você tem culpa na consciência... alguémpoderia pensar que você esteve dizendo palavr+es novamente.

(ssa era uma reerência a um ineliz epis'dio ocorrido logo ap's a chegada de

Qheeler. "esde ent%o ele percebera que o sigilo da ala, que é considerado coisanormal na /erra, nem sempre é poss&vel para quem usa tra)es espaciais, cu)o menormurmrio pode ser ouvido por alguém que este)a dentro do alcance de rádio.

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5 horizonte contraiuse em volta deles quando desciam para o n&vel do solo, mashaviam marcado cuidadosamente o rumo e sabiam que caminho tomar quandoestivessem de volta a bordo de Derdinand. Namieson agora guiava com e*traordináriocuidado, pois nunca havia andado antes por aquele terreno. /ranscorreram quaseduas horas, antes que a enigmática cpula começasse a aparecer no horizonte,seguida um pouco mais tarde pelos cilindros achatados dos cargueiros.

Mais uma vez Qheeler dirigiu a antena do teto para /erra e chamou o5bservat'rio para e*plicar o que haviam descoberto e o que pretendiam azer."esligou antes que alguém pudesse dizer para n%o o azerem, reletindo como eraloucura enviar uma mensagem a oitocentos mil quilBmetros de distncia, a im dealar com alguém que se encontrava a uma centena de quilBmetros. Mas n%o haviaoutro meio de estabelecer comunicaç%o de grande distncia no n&vel do soloE tudoabai*o do horizonte era bloqueado pelo eeito blindador da 0ua. !a verdade, usandoondas longas, era poss&vel $s vezes transmitir sinais a grandes distncias por meio derele*o na tênue atmosera da 0ua, mas esse método era t%o inseguro que n%o podiaser usado seriamente. -ara todas as inalidades práticas, o contato de rádio na 0ua

precisava ser na base de. linha de vis%o.Doi muito divertido observar a comoç%o que sua chegada provocou. Qheelerpensou que havia muita semelhança com um ormigueiro que osse bem me*ido comuma varinha. (m pouco tempo, viramse cercados por tratores, escavadeirasmecnicas, carregadeiras e homens e*citados em tra)es espaciais. Doram obrigadospor puro congestionamento a parar Derdinand.

A qualquer momento disse Qheeler eles chamar%o os guardas.Namieson n%o achou graça. Iocê n%o devia azer piadas assim alou em tom de censura. -odem

apro*imarse muito da verdade.

6em, a& vem a comiss%o de recepç%o. (stá vendo as letras no capacete deleG#(C. , n%o éG #uponho que isso signiica #eç%o "ois. /alvez. Mas poderia muito bem ser #(R e signiicar #egurança. 6em... a idéia oi

sua. (u sou apenas o motorista.!esse momento houve uma série de enérgicas batidas na porta e*terna da esclusa

de ar. Namieson apertou o bot%o que abria o echo e um momento depois acomiss%o de recepç%o estava tirando seu capacete dentro da cabina. (ra umhomem grisalho, de eiç+es bem deinidas, com um ar de preocupaç%o que pareciaestar permanentemente i*ado. !%o parecia estar contente em vêlos,

5lhou para Qheeler e Namieson pensativamente, enquanto os dois astrBnomosmostraram seus sorrisos mais amistosos.

Reralmente n%o recebemos visitantes disse ele. Como. vieram parar aquiG A primeira sentença, pensou Qheeler, era de uma moderaç%o como n%o via desde

bastante tempo antes. J nosso dia de olga... n's somos do 5bservat'rio. (ste é o "r. Namieson... eu

sou Qheeler. Astro&sicos, n's dois. #ab&amos que vocês estavam por aqui, por issodecidimos vir dar uma olhada.

#abiam comoG perguntou o outro rispidamente. Ainda n%o se apresentara, oque teria sido alta de educaç%o mesmo na /erra e ali era bastante chocante.

Como talvez saiba e*plicou Qheeler humildemente n's possu&mos um ou doistelesc'pios bem grandes no 5bservat'rio. ( vocês nos têm causado muita

complicaç%o. (u, pessoalmente, tive dois espectrogramas arruinados por clar%o deoguete. Assim, n%o pode culparnos por sermos um pouco inquisitivos.

1m ligeiro sorriso apareceu nos lábios de seu inquiridor, mas oi instantaneamente

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banido. Apesar disso, a atmosera parecia terse descongelado um pouco. 6em, penso que seria melhor vocês virem comigo ao escrit'rio enquanto azemos

algumas investigaç+es. !%o demorará muito tempo. ComoG "esde quando alguma parte da 0ua é propriedade privadaG #into muito, mas o neg'cio é assim. Iamos, por avor.5s dois astrBnomos vestiram seus tra)es e seguiram o outro através da esclusa de

ar. Apesar de sua agressiva inocência, Qheeler estava começando a sentirse umpouco preocupado. Ná imaginava toda espécie de possibilidades desagradáveis esurgiram lembranças do que )á lera a respeito de espi+es, coninamento solitário emuros de ti)olos de madrugada.

Doram levados até uma porta bem a)ustada na curva da grande cpula e depois seviram dentro do espaço entre a parede e*terior e um hemisério concêntrico interno. As duas cascas, até onde podiam ser vistas, eram separadas por uma complicadaai*a de algum plástico transparente. Até o piso era eito da mesma substncia. 7ssotudo, concluiu Qheeler, era muito estranho, mas n%o teve tempo para e*aminar deperto o material.

#eu guia, nada comunicativo, aziaos andar muito depressa, como se n%odese)asse que vissem mais do que o necessário. (ntraram na cpula interna por umasegunda esclusa de ar, onde tiraram seus tra)es. Qheeler perguntousesombriamente quando teriam permiss%o de recuperálos,

5 comprimento da esclusa indicava que a cpula interna devia ser de enormeespessura e, quando a porta $ rente deles se abriu, os dois astrBnomosimediatamente notaram um cheiro conhecido. (ra ozBnio. (m algum lugar, n%o muitolonge, havia equipamento elétrico de alta voltagem. !ada havia de e*cessivamentenotável nisso, mas era outro ato a ser guardado para reerência utura.

 A esclusa abriase para um pequeno corredor ladeado por portas nas quais

estavam pintados nmeros e indicaç+es como -37IA/7I5, #5M(!/( -(##5A0/JC!7C5, 7!D53MAO@5, A3 #563(##A0(!/(, (!(3R7A "( (M(3R\!C7A eC5!/350( C(!/3A0. !em Qheeler nem Namieson puderam deduzir grande coisadessas indicaç+es, mas os dois se entreolharam pensativamente quando, por im,pararam diante de uma porta em que estava escrito #(R13A!OA. A e*press%o deNamieson dizia a Qheeler, t%o claramente quanto poderiam azêlo quaisquerpalavras8 !%o disseG

"epois de uma breve pausa, acendeuse um painel com a inscriç%o (ntre e aporta abriuse automaticamente. F rente havia um escrit'rio pereitamente comumdominado por um homem de ar decidido, sentado a uma mesa muito grande. 5

pr'prio tamanho da mesa era uma proclamaç%o ao mundo de que dinheiro ali n%oera problema e os astrBnomos compararam tristemente aquilo com o equipamentode escrit'rio a que estavam acostumados. 1m tele* de desenho e*traordinariamentecomplicado estava sobre uma mesa em um canto e as paredes restantes eraminteiramente cobertas por armários de arquivo.

6em disse a Autoridade de #egurança quem s%o essas pessoasG "ois astrBnomos do 5bservat'rio de -lat%o. Acabaram de chegar aqui em um trator e eu pensei que o senhor gostaria de alar

com eles. #em a menor dvida. #eus nomes, por avor. #eguiuse um tedioso quarto de

hora durante o qual particularidades oram anotadas cuidadosamente e o5bservat'rio oi chamado pelo rádio. 7sso signiicava, pensou Qheeler soturnamente,que a coisa começava a erver. #eus amigos na #inalizaç%o, que vinhamacompanhando seus movimentos em caso de acidente, agora precisariam comunicar

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oicialmente sua ausência.Dinalmente a identidade dos dois oi estabelecida e o homem sentado $ imponente

mesa olhouos com certo ar de perple*idade. "epois sua carranca desezse e elecomeçou a alarlhes.

Iocês percebem, naturalmente, que vieram atrapalhar um pouco. (ste é o ltimolugar onde esperar&amos visitantes, caso contrário ter&amos colocado avisos para que

ninguém se apro*imasse. J desnecessário dizer que temos meios para perceber apresença de qualquer pessoa que apareça, mesmo que n%o se)a t%o sensata a pontode apresentarse abertamente, como vocês izeram. /odavia, vocês est%o aqui e eusuponho que n%o houve dano. Iocês provavelmente adivinharam que este é umpro)eto governamental, sobre qual n%o dese)amos alar. Iou precisar mandálos devolta, mas quero duas coisas de vocês.

Huais s%oG perguntou Namieson desconiado. Huero que me prometam n%o alar sobre esta visita mais do que or preciso.

#eus amigos icar%o sabendo onde vocês estiveram, de modo que n%o poder%oguardar segredo absoluto. #implesmente n%o discutam isto com eles.

Muito bem concordou N Namieson ( o segundo pontoG #e alguém insistir em interrogálos e demonstrar especial interesse por esta suapequena aventura... comuniquem o ato imediatamente. #' isso. (spero que açamboa viagem na volta.

"e volta ao trator, cinco minutos depois, Qheeler ainda estava esbrave)ando. Aquele maldito mandachuvaU !em nos oereceu um cigarro. (u preiro pensar alou Namieson com voz mansa que tivemos muita sorte em

sair t%o acilmente. (les encaravam o neg'cio a sério. (u gostaria de saber que espécie de neg'cio. Aquilo lhe parece uma minaG ( por

que estaria acontecendo alguma coisa em um monte de esc'ria como o MareG

-enso que deve ser uma mina. Huando subimos eu notei uma coisa que seassemelhava muito a uma máquina peruratriz do outro lado da cpula. Mas é di&cile*plicar toda essa tolice de capa $ espada.

A menos que tenham descoberto alguma coisa e n%o dese)am que chegue aoconhecimento da Dederaç%o.

!esse caso, n's também provavelmente n%o vamos descobrir e talvez se)amelhorar parar de cansar nosso cérebro. Mas, voltando a coisa mais prática... daquivamos para ondeG

Iamos manter nosso plano original. J poss&vel que agora transcorra um bomtempo, antes que tenhamos oportunidade de usar novamente Derdinand, por issotalvez convenha aproveitálo ao má*imo. Além disso, uma de minhas ambiç+essempre oi ver o #inus lridum do n&vel do solo, por assim dizer.

Dica bem a uns trezentos quilBmetros a leste daqui. #im, mas você mesmo disse que o terreno é bastante plano, se evitarmos as

montanhas. -oder&amos chegar lá em cinco horas. (u )á sou motoristasuicientemente bom para substitu&lo quando quiser descansar.

!%o em terreno desconhecido... seria muito arriscado. Mas vamos azer umacordo. (u o levarei até o -romont'rio 0aplace para que você dê uma olhada na.6a&a. "epois você poderá dirigir de volta, seguindo a trilha que eu dei*ar. Mas n%o sedesvie dela, ehG

Qheeler aceitou satiseito. (stava meio receoso de que Namieson desistisse da

e*curs%o e voltasse ao 5bservat'rio sem avisar, mas concluiu que izera umain)ustiça a seu amigo.

!as três horas seguintes raste)aram ao longo dos lancos das Montanhas /enerie,

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depois atravessaram a plan&cie até a Cordilheira #traight, aquela isolada e solitáriaai*a de montanhas semelhante a um eco dos imponentes Alpes. Namieson dirigiaagora com irme concentraç%oE estava entrando em territ'rio novo e n%o podiaarriscarse.

"e tempos em tempos, apontava para marcos amosos e Qheeler coneriaos nacarta otográica.

-araram para uma reeiç%o a mais ou menos dez quilBmetros a leste da Cordilheira#traight e investigaram o contedo das cai*as que a cozinha do 5bservat'rio lhesornecera. 1m canto do trator era equipado com minscula cozinha, mas eles n%otinham a menor intenç%o de usála a n%o ser em uma emergência. !em Qheelernem Namieson era cozinheiro suicientemente bom para encontrar prazer napreparaç%o de reeiç+es e, ainal de contas, achavam que estavam de olga...

#id começou Qheeler abruptamente, entre bocados de sandu&che que pensada Dederaç%oG Iocê conheceu mais pessoas de lá do que eu.

#im e gostei delas. -ena que você n%o estivesse aqui antes que o ltimo grupopartisse. /&nhamos uma dzia deles no 5bservat'rio estudando montagem de

telesc'pio. (stavam pensando em construir um instrumento de mil e quinhentoscent&metros em uma das luas de #aturno, sabeG #eria um grande pro)eto... eu sempre disse que aqui estamos muito pr'*imos do

sol. #em dvida, eliminaria a 0uz 2odiacal e as outras complicaç+es em volta dosplanos internos. Mas, voltando $ quest%o... eles lhe deram a impress%o de terprobabilidade de iniciar uma briga com a /erraG

J di&cil dizer. (ram muito rancos e amistosos conosco, mas todos n's éramoscientistas e isso a)uda muito. /alvez osse dierente se n's Bssemos pol&ticos ouuncionários pblicos.

Hue diabo, n's somos uncionários pblicosU Ainda outro dia, aquele cara, #adler,

me lembrou disso. #im, mas pelo menos somos uncionários pblicos cient&icos... o que az muitadierença. (u poderia dizer que eles n%o davam muita importncia $ /erra, emborativessem a delicadeza de n%o dizer isso. !%o há dvida que estavam aborrecidos coma distribuiç%o de metais. 5uvi se quei*arem disso muitas vezes. #eu argumentoprincipal é que têm muito maiores diiculdades do que n's no desbravamento dosplanetas e*teriores... e que a /erra desperdiça metade do material que usa.

(m sua opini%o, que lado está com a raz%oG !%o sei. J di&cil conhecer todos os atos. Mas há muita gente na /erra que tem

medo da Dederaç%o e n%o dese)a darlhe mais poder. 5s ederais sabem disso. 1mdia talvez agarrem primeiro para discutir depois.

Namieson amassou os envolt'rios e )ogouos no cesto de papéis usados. 5lhoupara o cronBmetro, depois tomou seu lugar no banco do motorista.

J tempo de nos pormos novamente em marcha disse ele. (stamos icandoatrasados.

"a Cordilheira #traight viraram para sudeste e inalmente a grande ai*a do-romont'rio 0aplace apareceu no horizonte. Huando davam a volta a ela, avistaramuma cena desconcertante8 os amassados restos de um trator e, ao lado deles, umrstico monumento de pedras encimado por uma cruz de metal. 5 trator parecia tersido destru&do por uma e*plos%o em seus tanques de combust&vel e era um modeloobsoleto de tipo que Qheeler nunca vira. !%o icou surpreendido quando Namieson

lhe disse que estava ali há um séculoE ainda teria e*atamente a mesma aparênciaum milh%o de anos depois.

Huando passavam pela ai*a do promont'rio, a imponente parede do norte da

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#inus lridum a 6a&a dos Arcos&ris surgiu diante de seus olhos. Milênios antes, a#inus 7ridum havia sido uma montanha circular completa uma das maiores plan&ciesmuradas da 0ua. Mas o cataclisma que ormou o Mar das Chuvas destruiu toda aparede do sul, de modo que agora s' resta uma ba&a semicircular. Através dessa ba&ao -romont'rio 0aplace e o -romont'rio ;eráclides se olhavam, sonhando com o diaem que eram ligados por montanhas de quatro quilBmetros de altura. "aquelas

montanhas perdidas, tudo quanto resta agora s%o algumas serras e colinas bai*as.Qheeler estava muito quieto quando o trator passou pelos grandes penhascos que

se erguiam como uma ileira de tit%s voltados de rente para a /erra. A luz verde quese derramava por seus lancos revelava todos os pormenores das paredesterraceadas. Namais alguém escalara aquelas alturas, mas um dia, disso Qheelersabia, homens icariam em pé nos seus cumes e itariam vitoriosos o outro lado daba&a. (ra estranho pensar que depois de duzentos anos ainda havia t%o grande parteda 0ua nunca pisada por pés humanos e tantos lugares onde um homem precisavachegar sem nada que o au*iliasse, a n%o ser seu pr'prio esorço e aptid%o.

0embrouse do primeiro vislumbre que tivera do #inus 7ridum, através do pequeno

telesc'pio improvisado que constru&ra quando menino. !%o era mais do que duaspequenas lentes i*adas em um tubo de papel%o, mas lhe dera mais prazer do queos gigantescos instrumentos que agora dominava.

Namieson virou o trator, azendo uma grande curva, e parouo com a traseiravoltada para o oeste. A linha que haviam seguido através da poeira era claramentevis&vel, uma estrada que perduraria eternamente, a menos que tráego posterior aapagasse.

5 im da linha disse ele. Iocê pode tomar conta daqui por diante. A direç%o ésua até chegarmos a -lat%o. "epois me acorde e eu levarei o carro através dasmontanhas. 6oa noite.

Como ele conseguia isso Qheeler n%o era capaz de imaginar, mas em dez minutosNamieson estava dormindo. /alvez o delicado balanço do trator atuasse comoacalento e Qheeler se perguntou até que ponto conseguiria evitar os socos esolavancos no caminho do 5bservat'rio. 6em, s' havia um meio de descobrir...5lhou cuidadosamente a trilha poeirenta e começou a voltar pela estrada que levavaa -lat%o.

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$

/inha que acontecer mais cedo ou mais tarde, disse #adler consigo mesmoilosoicamente, enquanto batia na porta do "iretor. Dizera o poss&vel, mas emtrabalho como aquele era imposs&vel evitar erir os sentimentos de alguém. #eriainteressante, muito interessante, saber quem se quei*ara...

5 -roessor Maclaurin era um dos homens menores que #adler )á vira. (ra t%ominsculo que algumas pessoas cometiam o atal erro de n%o leválo a sério. #adlern%o cometeria essa tolice. ;omens muito pequenos geralmente tomam o cuidado decompensar suas deiciências &sicas Kquantos ditadores chegaram a ter sequer aaltura medianaGL e, pelo que todos diziam, Maclaurin era uma das iguras mais

enérgicas na 0ua.Ditou #adler por cima da super&cie virgem e vazia de sua mesa. !%o havia sequer

um bloco de papel para quebrar a rieza s' o pequeno painel do quadro deligaç+es do comunicador com seu altoalante embutido. #adler )á ouvira alar nossingulares métodos de administraç%o de Maclaurin e em seu 'dio a anotaç+es ememorandos. 5 5bservat'rio era administrado, em seus neg'cios cotidianos, quaseinteiramente por ordens verbais. !aturalmente, outras pessoas precisavam prepararavisos, horários e relat'rios mas Maclaurin s' ligava seu microone e dava ordens.5 sistema uncionava impecavelmente pela simples raz%o de que o "iretor gravavatudo e podia tocar de novo em um momento a quem quer que dissesse8

Mas, o senhor nunca me disse issoU "iziase, embora #adler desconiasse que eracalnia, que Maclaurin praticara $s vezes alsiicaç%o verbal, alterandoretrospectivamente a gravaç%o. J desnecessário dizer que essa acusaç%o nuncapoderia ser virtualmente provada.

5 "iretor apontou para a nica outra cadeira e começou a alar antes que #adlerchegasse até ela.

!%o sei de quem oi essa brilhante idéia começou ele. Mas nunca mecomunicaram que você viria aqui. #e tivessem me comunicado, eu teria pedido umadiantamento. (mbora ninguém aprecie mais do que eu a importncia de eiciência,estamos em época muito agitada. -areceme que meus homens poderiam ser melhor

empregados do que em e*plicarlhe seu trabalho... particularmente quando estamoslidando com as observaç+es de !ova "raconis . . #into muito que o senhor n%o tenha sido inormado, -roessor Maclaurin

respondeu #adler. #' posso presumir que os arran)os oram eitos quando o senhorestava em viagem para a /erra.

-erguntou a si pr'prio o que o "iretor pensaria se soubesse com que cuidado ascoisas haviam sido preparadas precisamente dessa maneira.

Compreendo que devo ser uma espécie de estorvo para seu pessoal, mas todosme deram o má*imo de assistência e eu n%o tenho a menor quei*a. "e ato, eupensava estar me dando muito bem com eles.

Maclaurin esregou seu quei*o pensativamente. #adler itou ascinado asminsculas m%os, pereitamente ormadas, que n%o eram maiores que as de umacriança.

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Huanto tempo espera icar aquiG perguntou o "iretor. (le certamente n%o sepreocupa com meus sentimentos, pensou #adler ironicamente.

J muito di&cil dizer... a área de minha investigaç%o é t%o indeinida. ( seráapenas lealdade de minha parte avisálo de que mal comecei na parte cient&ica deseu trabalho, provavelmente a que apresentará maiores diiculdades. Até agora,limiteime a Administraç%o e #erviços /écnicos.

(ssa not&cia n%o pareceu agradar a Maclaurin. -arecia um pequeno vulc%opreparandose para uma erupç%o. #' havia uma coisa a azer, e #adler a ezrapidamente.

Doi até a porta, abriua depressa, olhou para ora e depois a echou de novo. (ssacena de calculado melodrama dei*ou o "iretor sem ala, enquanto #adler caminhouaté a mesa e bruscamente desligou a chave do comunicador.

Agora podemos conversar começou ele. (u queria evitar isso, mas parece que é inevitável. -rovavelmente o senhor nunca

viu um cart%o como este.5 ainda estupeacto diretor, que provavelmente nunca ora tratado assim em sua

vida, itou a olha branca de plástico. (nquanto olhava, uma otograia de #adler,acompanhada de algumas inscriç+es, apareceu rapidamente e depois desapareceuabruptamente.

Hue é perguntou ele quando recuperou o Blego Central de 7normaç+esG!unca ouvi alar nisso.

!%o deveria mesmo ter ouvido respondeu #adler. J relativamente nova emuito pouco anunciada. 3eceio que o trabalho que estou azendo aqui n%o se)ae*atamente o que parece. -ara ser brutalmente ranco, diicilmente poderiainteressarme menos a eiciência de seu estabelecimento e concordo inteiramentecom todas as pessoas que me dizem ser absurdo colocar pesquisa cient&ica na base

de contabilidade de custos. Mas é uma hist'ria plaus&vel, n%o achaG Continue disse Maclaurin, com perigosa calma.#adler estava começando a divertirse além das e*igências do dever. !%o

convinha, porém, icar embriagado pelo poder... (stou procurando um espi%o disse, com ria e simples ranqueza. (stá alando sérioG !'s estamos no século XX77U (stou alando absolutamente sério e n%o preciso dizerlhe que nada deve revelar

desta conversa a pessoa alguma, nem mesmo a Qagnall.  (u recuso acreditar buou Maclaurin que algum de meus uncionários este)aenvolvido em espionagem. A idéia é antástica.

#empre é respondeu #adler pacientemente. 7sso n%o altera a situaç%o. ` #upondose que e*ista a mais ligeira base nessa acusaç%o, o senhor tem alguma

idéia de quem poderia serG #e tivesse, receio que n%o poderia contarlhe neste estágio. Mas vou ser

absolutamente ranco. !%o temos certeza de que se)a alguém daqui... estamosagindo apenas com base em uma nebulosa sugest%o que um de nossos... ah....agentes recolheu. Mas em algum lugar na 0ua e*iste um vazamento de inormaç+ese eu estou investigando esta possibilidade determinada. Agora o senhor entende porque tenho sido t%o inquisitivo. -rocurei agir de acordo com meu papel e penso queagora todos me consideram como um caráter natural. #' posso esperar que nossougidio #r. X, se e*istir, tenhame aceito pelo meu valor aparente A prop'sito, é por

isso que eu gostaria de saber quem se quei*ou ao senhor. #uponho que alguém oez.

Maclaurin hesitou através de monoss&labos surdos por alguns instantes, depois se

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rendeu. Nenkins, do Almo*ariado, insinuou que o senhor estava tomando muito de seu

tempo. Muito interessante disse #adler, mais do que um pouco perple*o. Nenkins,

almo*ariechee, nunca sequer chegara perto de sua lista de, suspeitos. -ara dizer a verdade, passei relativamente pouco tempo lá... apenas o suiciente

para tornar minha miss%o convincente. -reciso icar de olho no #r. Nenkins. /oda essa idéia é muito nova para mim alou Maclaurin pensativamente. Mas

mesmo que tivéssemos alguém aqui passando inormaç+es para a Dederaç%o,absolutamente n%o ve)o como poderia azêlo. A menos que osse um dosuncionários da sinalizaç%o, naturalmente.

(sse é o problema chave admitiu #adler. (stava disposto a discutir os aspectosgerais do caso, pois o "iretor talvez osse capaz de lançar alguma luz sobre eles.#adler estava bem cBnscio de suas diiculdades e da magnitude da tarea que lhehaviam coniado. Como contraespi%o, sua posiç%o era estritamente amador&stica. 5nico consolo que possu&a era que seu hipotético antagonista se encontraria na

mesma situaç%o. (spi+es proissionais nunca oram muito numerosos em épocaalguma e o ltimo deveria ter morrido há mais de um século. A prop'sito perguntou Maclaurin, com uma risada orçada e pouco convincente

como sabe que n%o sou eu o espi%oG (u n%o sei respondeu #adler )ovialmente. (m contraespionagem, certeza é

coisa rara. Mas n's azemos o que podemos. (spero que o senhor n%o tenha sidoseriamente incomodado durante sua visita $ /erra.

Maclaurin itouo sem compreender por um momento. "epois seu quei*o caiu. (nt%o os senhores estiveram me investigandoU gague)ou indignado. 7sso acontece aos melhores entre n's. #e lhe serve de consolo, pode imaginar

pelo que eu passei antes que me dessem este serviço. ( eu nunca o pedi... (nt%o que dese)a que eu açaG resmungou Maclaurin.-ara um homem de seu tamanho, sua voz era surpreendentemente unda, embora

tivessem dito a #adler que quando icava realmente aborrecido, sua voz adquiria umtom alto e esganiçado.

!aturalmente, eu gostaria que me comunicasse qualquer suspeita que chegue aseu conhecimento. "e tempos em tempos, talvez eu o consulte sobre vários pontos eicarei muito contente em ouvir seus conselhos. !o mais, por avor, dême o m&nimode atenç%o poss&vel e continue a considerarme como um aborrecimento.

7sso respondeu Maclaurin, com um raco sorriso n%o oerecerá diiculdades./odavia, pode contar comigo para au*iliálo em todos os sentidos. Ainda que se)aapenas para provar que suas suspeitas s%o inundadas.

#inceramente espero que se)am respondeu #adler. ( obrigado por suacooperaç%o... (u a prezo muito.

(*atamente a tempo, parou de assoviar quando echou a porta depois de passar.#entiase muito satiseito pelo ato de a entrevista ter corrido t%o bem, maslembravase de que ninguém assoviava ap's ter tido uma entrevista com o "iretor. Assumindo uma e*press%o de grave serenidade, atravessou o escrit'rio de Qagnall esaiu para corredor principal, onde imediatamente se encontrou com Namieson eQheeler.

Iocê viu o IelhoG perguntou Qheeler ansiosamente. (le está de bom humorG

Como essa oi a primeira vez que alei com ele, n%o tenho padr+es de reerência.!'s nos demos muito bem. Hual é o problemaG Iocês parecem um par de colegiaistravessos.

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9

5correu uma sutil mudança na posiç%o de #adler depois do regresso do "iretor.(ra uma coisa que #adler sabia que deveria acontecer, embora tivesse eito omá*imo para protegerse contra isso. -or ocasi%o de sua chegada, ora tratado comcortês suspeita por todos e precisara de vários dias de s'lido trabalho de relaç+espblicas para romper as barreiras. As pessoas tornaramse amistosas e tagarelas,permitindolhe azer algum progresso. Mas agora pareciam estar lamentando suaranqueza inicial e novamente o trabalho se tornava di&cil.

(le conhecia a raz%o. #em dvida ninguém desconiava do verdadeiro prop'sito desua presença ali, mas todos sabiam que o regresso do "iretor, longe de limitar suasatividades, melhorara de alguma maneira sua posiç%o. !a ecoante cai*a deressonncia do 5bservat'rio, onde rumores e me*ericos circulavam com velocidadediicilmente inerior $ da luz, era di&cil guardar segredos. "evia ter circulado a not&ciade que #adler era mais importante do que parecia. (le s' esperava que demorassemuito tempo para que alguém calculasse até que ponto era mais importante...

 Até ent%o limitara sua atenç%o $ seç%o administrativa. 7sso era em parte umaquest%o de pol&tica, pois essa era a maneira como esperariam que agisse. Mas o5bservat'rio realmente e*istia para os cientistas, n%o para cozinheiros, datil'graos,contadores e secretários, por mais essenciais que estes ltimos pudessem ser.

#e e*istisse um espi%o no 5bservat'rio, havia dois principais problemas a serempor ele enrentados. 7normaç%o é intil para um espi%o, a menos que possa sertransmitida a seus superiores. 5 #r. X n%o precisava apenas ter contatos que lhepassassem material... precisava ter também um canal de sa&da para comunicaç%o.

Disicamente s' havia três meios para sair do 5bservat'rio. -odiase sair pormonotrilho, em trator e a pé. 5 ltimo caso n%o parecia ter probabilidade de serimportante. (m teoria, um homem poderia caminhar alguns quilBmetros e dei*aruma mensagem para ser recolhida em algum lugar previamente combinado. Masprocedimento t%o peculiar logo seria notado e seria muito ácil investigar o pequenonmero de homens da Manutenç%o, os nicos que usavam tra)es espaciais

regularmente. Cada sa&da e entrada através das esclusas de ar devia ser anotada,embora #adler duvidasse que a regra osse invariavelmente obedecida.

5s tratores eram mais promissores, pois permitiam muito maior raio de. aç%o. Masseu uso envolvia conluio, pois sempre levavam uma tripulaç%o de pelo menos doishomens... regra que nunca era violada, por raz+es de segurança. ;avia,naturalmente, o estranho caso de Namieson e Qheeler. #eus antecedentes estavamsendo cuidadosamente investigados e #adler receberia um relat'rio dentro de poucosdias. Mas o comportamento deles, embora irregular, n%o ora e*cessivamenteostensivo para )ustiicar verdadeira suspeita.

3estava assim o monotrilho até a Cidade Central. /odo o mundo ia lá, em média,

cerca de uma vez por semana. 0á havia possibilidades ininitas para a troca demensagens e, naquele mesmo instante, numerosos turistas estavam discretamenteveriicando contatos e azendo toda espécie de descobertas interessantes a respeito

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da vida privada do pessoal do 5bservat'rio. (ra pequena a participaç%o que #adlerpodia ter nesse trabalho, e*ceto ornecer listas das pessoas que visitavam a Cidadecom maior requência.

#' isso quanto $s linhas &sicas de comunicaç%o. #adler aastou todas elas decogitaç%o. ;avia outros meios mais sutis e com muito maior probabilidade de seremusados por um cientista. Hualquer membro do quadro de pessoal do 5bservat'rio

poderia construir um transmissor de rádioE e havia incontáveis lugares onde oaparelho poderia ser escondido. (ra verdade que os monitores, escutandopacientemente, nada haviam captado, mas mais cedo ou mais tarde o #r. Xcometeria um erro.

(nquanto isso, #adler precisaria descobrir o que estavam azendo os cientistas. 5curso intensivo de astronomia e &sica que requentara antes de via)ar para a 0uaseria inteiramente inadequado para darlhe verdadeiro conhecimento do trabalho do5bservat'rio, mas pelo menos lhe permitiria apreciar o contorno geral. (, se tivessesorte, poderia eliminar alguns suspeitos de sua lista deprimentemente longa.

 A seç%o de Computaç%o n%o o reteve por muito tempo. -or trás de seus painéis de

vidro, as imaculadas máquinas permaneciam em silenciosa cogitaç%o, enquantomoças introduziam itas com programas em seus insaciáveis ma*ilares. !a salaad)acente, $ prova de som, as máquinas de escrever elétricas martelavam,imprimindo intermináveis ileiras e colunas de nmeros. 5 "r. Ma9s, chee da seç%o,esorçouse ao má*imo para e*plicar o que se passava... mas era uma tarea semesperança. Aquelas máquinas haviam dei*ado muito para trás operaç+eselementares como integraç%o, unç+es de )ardim da inncia como cossenos elogaritmos. 0idavam com entidades matemáticas de que #adler nunca ouvira alar eresolviam problemas cu)a simples proposiç%o n%o teria para ele o menor sentido.

7sso n%o o preocupava muitoE vira o que dese)ava ver. /odo o equipamento

principal era echado $ chaveE s' os engenheiros de manutenç%o, que alicompareciam uma vez por mês, podiam pBr as m%os nele. #em dvida, ali nadahavia para ele. #adler retirouse nas pontas dos pés, como se estivesse saindo de umsantuário.

 A oicina 'tica, onde pacientes artes%os modelavam vidro até a uma raç%o demilionésimo de polegada, empregando uma técnica inalterada durante séculos,ascinouo, mas n%o adiantou sua busca. (spiou as margens de intererênciaproduzidas por ondas de luz colidentes e observouas disparar loucamente para tráse para rente enquanto o calor. de seu corpo causava e*pans+es microsc'picas emblocos de vidro sem deeitos. Ali, arte e ciência se )untavam para alcançar pereiç+esn%o encontradas em qualquer outro lugar de toda a escala da tecnologia humana.-oderia haver alguma pista para ele ali, naquela enterrada ábrica de lentes, prismase espelhosG -arecia muito improvável...

(le se encontrava, pensou sombriamente #adler, na situaç%o de um homem emum escuro dep'sito de carv%o, procurando um gato preto que talvez n%o estivesselá. Ainda pior, para tornar a analogia mais e*ata, ele precisaria ser um homem quen%o sabia que aparência tinha um gato, mesmo quando o visse.

#uas discuss+es em particular com Maclaurin a)udaramno muito. 5 "iretor aindase mostrava cético, mas estava evidentemente cooperando ao má*imo, ainda queosse apenas para livrarse desse incBmodo intruso. #adler podia interrogálo arespeito de todos os aspectos técnicos do trabalho do 5bservat'rio, embora tomasseo cuidado de n%o lhe dar indicaç+es da direç%o em que suas investigaç+es o estavamlevando.

Compilara um pequeno prontuário de cada membro do quadro de pessoal o que

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n%o era pequena proeza, embora os dados atuais lhe tivessem sido ornecidos antesde via)ar para o 5bservat'rio. -ara a maioria de seus pacientes, uma nica olha depapel era suiciente, mas para alguns acumulara várias páginas de anotaç+escr&pticas. 5s atos de que tinha certeza escrevia a tintaE as especulaç+es eramescritas a lápis, para que pudessem ser modiicadas quando necessário. Algumasdessas especulaç+es eram muito antásticas e requentemente caluniosas, sendo que

#adler muitas vezes se sentia envergonhado delas. (ra di&cil, por e*emplo, aceitarbebida de alguém que registrara como suscet&vel de suborno, devido ao custo demanutenç%o de uma dispendiosa amante na Cidade Central...

(sse suspeito era um dos engenheiros de Construç%o. #adler logo o eliminaracomo candidato provável a chantagem, pois, longe de esconder a situaç%o, a v&timasempre se quei*ava amargamente das e*travagncias de sua amante. Chegaramesmo a advertir #adler para que n%o assumisse compromissos semelhantes.

5 sistema de arquivo era divido em três partes. A #eç%o A continha os nomes de uns dez homens que #adler considerava

suspeitos mais prováveis, embora n%o houvesse um nico contra o qual e*istissem

verdadeiras provas. Alguns estavam inclu&dos simplesmente porque teriam maioroportunidade de passar inormaç%o se dese)assem. Qagnall era um deles. #adlerestava praticamente certo de que o #ecretário era inocente, mas conservavao nalista para maior garantia.

 Iários outros haviam sido inclu&dos porque tinham parentes pr'*imos naDederaç%o ou porque. criticavam muito abertamente a /erra. #adler n%o imaginavarealmente que um espi%o bem treinado se arriscasse a levantar suspeitas,comportandose dessa maneira, mas precisava estar vigilante contra o amadorentusiástico que poderia se igualmente perigoso. 5s registros sobre espionagematBmica durante a #egunda Ruerra Mundial haviam sido muito instrutivos nesse

aspecto e #adler estudaraos com muito grande cuidado.5utro nome na 0ista A era o de Nenkins, o almo*ariechee. !esse caso haviaapenas o mais tênue dos palpites, e todas as tentativas de #adler para seguilooram inteis. Nenkins parecia ser um indiv&duo um tanto insociável, que se ressentiada intererência, e n%o era muito popular entre o resto do pessoal. /irar algumacoisa dele em matéria de equipamento era considerado o trabalho mais di&cil na 0ua.7sso naturalmente poderia signiicar apenas que ele era um bom representante desua tribo proverbialmente segura.

3estava aquela interessante dupla, Namieson e Qheeler, que muito contribu&a paraanimar o cenário do 5bservat'rio. #ua visita ao Mare 7mbrium ora uma e*ploraç%obastante t&pica e seguira, segundo airmavam a #adler, o padr%o de aventurasanteriores.

Qheeler era sempre o esp&rito orientador. #eu mal se isso era um mal consistiaem ter e*cessiva energia e e*cessivos interesses. Ainda n%o tinha trinta anosE umdia, talvez, a idade e a responsabilidade o amadureceriam, mas até ent%o n%o tiveramuita oportunidade. (ra ácil demais colocálo de lado como um caso dedesenvolvimento interrompido, de rapaz de colégio que dei*ara de crescer. /inhauma mente de primeira qualidade e nunca azia coisa alguma que osse realmentetolice. (mbora houvesse muita gente que n%o gostava dele, particularmente ap's tersido v&tima de uma de suas brincadeiras de mau gosto, ninguém lhe dese)ava mal.Moviase inc'lume através da pequena selva da pol&tica do 5bservat'rio e tinha as

duradouras virtudes de honestidade e ranqueza. #abiase sempre o que estavapensando e nunca era necessário pedirlhe sua opini%o. (le a dava primeiro.

Namieson tinha caráter muito dierente e, presumivelmente, era o contraste entre

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suas personalidades que unia esses dois homens. (ra uns dois anos mais velho doque Qheeler e considerado como inluência moderadora sobre seu companheiro mais )ovem. #adler duvidava dissoE pelo que podia )ulgar, a presença de Namieson nuncaizera muita dierença no comportamento de seu amigo. Mencionou isso a Qagnall,que pensou por um momento e depois disse8 #im, mas pense como Con seriamuito pior se #id n%o estivesse presente para vigiálo.

#em dvida Namieson era muito mais estável e muito mais di&cil de se conhecer.!%o era t%o brilhante quanto Qheeler e, provavelmente, nunca aria descobertasabaladoras, mas era um daqueles homens seguros e dignos de coniança, que azema arrumaç%o essencial ap's os gênios terem aberto novo terreno.

Cientiicamente seguro... sim. -oliticamente seguro... era outra quest%o. #adlerprocurava sondálo, sem tornar isso muito 'bvio, mas até ent%o com pouco ê*ito.Namieson parecia mais interessado em seu trabalho e seu passatempo a pintura depaisagens lunares do que em pol&tica. "urante sua estada no 5bservat'rio, ormarauma pequena galeria de arte eE sempre que tinha oportunidade, sa&a com tra)eespacial, carregando cavalete e tintas especiais eitas de 'leos de bai*a press%o de

vapor. -recisara azer muitas e*periências para encontrar pigmentos capazes de serusados no vácuo, e #adler duvidava rancamente de que os resultados valessem oesorço. -ensava conhecer arte o suiciente para concluir que Namieson tinha maisentusiasmo do que talento, e Qheeler partilhava desse ponto de vista. "izem que osquadros de #id crescem na gente depois de algum tempo, conidenciara ele a#adler. -essoalmente, n%o sou capaz de pensar em destino mais horr&vel.

 A 0ista 6 de #adler continha os nomes de todas as outras pessoas do 5bservat'rioque pareciam suicientemente inteligentes para serem espi%s. (ra deprimentementelonga e, de tempos em tempos, ele a e*aminava tentando transerir pessoas para a0ista A ou ainda melhor para a terceira e ltima lista daqueles que estavam

inteiramente livres de suspeita. #entado em seu cub&culo, baralhando suas olhas depapel e tentando colocarse no lugar dos homens que vigiava, #adler $s vezesachava que estava praticando um )ogo complicado, no qual a maioria das regras erale*&vel e todos os )ogadores, desconhecidos. (ra um )ogo mortal, os lances estavamocorrendo com acelerada rapidez e de seu resultado poderia depender o uturo daraça humana.

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1%

 A voz que saiu do altoalante era grave, culta e sincera. -ercorrera o espaçodurante muitos minutos, transmitida através das nuvens de Iênus ao longo dosduzentos milh+es de quilBmetros até a /erra, depois retransmitida da /erra para a0ua. Ap's essa imensa viagem era ainda clara e limpa, quase sem ter sido tocadapela intererência ou distorç%o.

A situaç%o aqui endureceuse depois de meu ltimo comentário. !inguém nosc&rculos oiciais e*pressa opini%o, mas a imprensa e o rádio n%o s%o t%o reticentes. Ioei de ;esperus para cá ho)e de manh% e as três horas que passei aqui oramsuicientes para que eu avaliasse a opini%o pblica.

"evo alar rancamente, ainda que isso perturbe as pessoas na /erra. A /erra n%oé muito popular aqui. A e*press%o cachorro comendo é muito usada aqui. Asdiiculdades de suprimento da /erra s%o reconhecidas, mas pensase que os planetasda ronteira têm escassez de artigos essenciais, enquanto a /erra desperdiça grandeparte de seus recursos em lu*os triviais. Iou darlhes um e*emplo8 ontem chegou anot&cia de que o posto avançado de Mercrio havia perdido cinco homens emconsequência de deeito em uma unidade de caleaç%o de uma das cpulas. 5controle de temperatura alhou e a lava apanhouos... morte n%o muito agradável. #eo abricante n%o tivesse escassez de titnio, o acidente n%o teria acontecido.

!aturalmente, n%o é )usto culpar a /erra por isso. Mas é lamentável que apenas

uma semana antes vocês tivessem cortado novamente a quota de titnio, e osgrupos interessados daqui est%o azendo com que o pblico n%o se esqueça disso.!%o posso ser mais espec&ico, porque n%o quero ser tirado do ar, mas vocêsentendem o que eu quero dizer.

!%o acredito que a situaç%o ique pior, a menos que algum novo ator entre noquadro. #uponham, porém e aqui dese)o tornar claro que estou apenasconsiderando um caso hipotético suponham que a /erra localizasse novossuprimentos de metais pesados. !as proundezas ainda ine*ploradas dos oceanos,por e*emplo. 5u mesmo na 0ua, apesar das decepç+es que ela causou no passado.

#e isso acontecer e a /erra tentar guardar para si a descoberta, as consequências

poder%o ser sérias. J muito ácil dizer que a /erra estaria no seu direito. Argumentos )ur&dicos n%o têm muito peso quando se enrenta press+es de mil atmoseras emNpiter ou se tenta descongelar as luas geladas de #aturno. !%o se esqueçam,enquanto gozam de seus amenos dias de primavera e pac&icas noites de ver%o, decomo s%o elizes em viver na regi%o temperada do #istema #olar, onde o ar nunca secongela e as rochas nunca se derretem...

Hue poderá azer a Dederaç%o se surgir tal situaç%oG #e eu soubesse, n%o poderiacontarlhes. #' posso azer algumas con)eturas. Dalar em guerra, no sentido antigo,pareceme absurdo. Hualquer dos lados poderia causar pesados danos ao outro, masnenhuma verdadeira prova de orça poderia ser conclusiva. A /erra tem muitos

recursos, embora este)am perigosamente concentrados. ( possui a maioria das navesdo #istema #olar.A Dederaç%o tem a vantagem da dispers%o.

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Como poderia a /erra travar uma luta simultnea com meia dzia de planetas eluas, por mais mal equipados que possam estarG 5 problema de suprimento seriacompletamente sem esperança.

#e, que n%o o permita "eus, se chegasse $ violência, poder&amos ver repentinasincurs+es a pontos estratégicos por naves especialmente equipadas, que ariam umataque e depois se retirariam para o espaço. Hualquer conversa sobre invas%ointerplanetária é pura antasia. A /erra certamente n%o tem o menor dese)o deocupar outros planetas. ( a Dederaç%o, ainda que dese)asse impor sua vontade $/erra, n%o disp+e de naves nem de homens para um assalto em grande escala.Como ve)o as coisas, o perigo imediato é que possa ocorrer algo como um duelo...onde e como cabe a cada um imaginar... no qual cada lado tentará impressionar ooutro com seu poderio. Mas, a quem possa estar pensando em uma guerra limitadae cavalheiresca, eu advirto que guerras raramente s%o limitadas e nunca s%ocavalheirescas. Até logo, /erra... aqui é 3oderick 6e9non, alando de Iênus paravocês.

 Alguém estendeu a m%o e desligou o aparelho, mas a princ&pio ninguém pareciainclinado a iniciar a inevitável discuss%o. "epois Nansen, da (nergia, disse em tom deadmiraç%o8

6e9non tem peito, vocês precisam admitir. (le n%o poupou golpes. #urpreendeme que o tenham dei*ado azer essa transmiss%o.

(u penso que ele ala com bom senso observou Ma9s. 5 -apa da Computaç%otinha um estilo de alar lento e medido que contrastava estranhamente com arapidez de relmpago de suas máquinas.

"e que lado você estáG perguntou alguém com desconiança. 5h, eu sou um neutro amistoso. Mas a /erra paga seu salário. Hue lado você apoiaria se houvesse um encontroG

6em... isso dependeria das circunstncias. (u gostaria de apoiar a /erra. Mas mereservo o direito de tomar minha decis%o. Huem disse Meu planeta, certo ouerrado era um maldito tolo. (u icaria com a /erra se ela tivesse com a raz%o eprovavelmente lhe daria o bene&cio da dvida em um caso ronteiriço. Mas n%o aapoiaria se achasse que sua causa era decididamente errada.

;ouve um longo silêncio, durante o qual todos ponderaram isso. #adler observaraMa9s atentamente, enquanto o matemático alava. (le sabia que todos respeitavama honestidade e a l'gica de Ma9s. 1m homem que estivesse trabalhando ativamentecontra a /erra nunca se e*pressaria t%o rancamente assim. #adler perguntou a sipr'prio se Ma9s alaria de maneira dierente se soubesse que um agente de contra

espionagem estava sentado a dois metros dele. !%o acreditava que ele alterasseuma nica palavra. Mas, que diaboU disse o (ngenheiro Chee, que como de hábito estava

obstruindo o ogo sintético. !%o se trata aqui de certo ou errado. /udo quanto édescoberto na /erra ou na 0ua nos pertence e n's podemos azer o que quisermoscom tudo.

#em dvida... mas n%o se esqueça que estamos retardando nossas entregas dequotas, como disse 6e9non. A Dederaç%o contava com elas para seus programas. #erepudiamos nossos acordos porque também n%o temos o material, é uma coisa. Masé coisa muito dierente se n's temos o material e o estamos retendo para obter

vantagens da Dederaç%o. -or que ar&amos uma coisa dessasGDoi Namieson quem, inesperadamente, respondeu.

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Medo disse ele. !ossos pol&ticos est%o com medo da Dederaç%o. #abem queela )á tem mais cérebros e um dia poderá ter mais orça. A /erra será ent%osuperada.

 Antes que alguém pudesse contestálo, Czuikov, do 0aborat'rio de (letrBnica,tomou um rumo novo.

(u estava pensando disse ele naquela transmiss%o que acabamos de ouvir.

#abemos que 6e9non é um homem bastante honesto, mas, ainal de contas, eletransmitia de Iênus, com a permiss%o deles. !o que ele alou pode haver mais doque parece.

Hue quer dizer com issoG (le pode estar azendo a propaganda deles. !%o conscientemente, talvez. J

poss&vel que o tenham industriado a dizer o que dese)am que se)a ouvido por n's. Aquela conversa sobre incurs+es, por e*emplo. /alvez tenha o prop'sito de assustarnos.

J uma idéia interessante. Hue pensa, #adlerG Iocê oi o ltimo a vir da /erra.(sse ataque rontal tomou #adler de surpresa, mas ele devolveu a bola

habilmente. -enso que a /erra n%o se atemorizaria assim t%o acilmente. Mas o trecho queme interessou oi a reerência $ possibilidade de novos suprimentos na 0ua. -areceque est%o começando a circular rumores.

(ssa oi uma indiscriç%o calculada da parte de #adler. !%o era, porém, grandeindiscriç%o, pois n%o havia no 5bservat'rio quem n%o soubesse KaL que Qheeler eNamieson haviam tropeçado em um estranho pro)eto governamental no Mare7mbrium e KbL que haviam recebido ordem para n%o alar a respeito. #adler estavaparticularmente ansioso por ver qual seriam as reaç+es deles.

Namieson assumiu uma e*press%o de perple*a inocência, mas Qheeler n%o hesitou

em morder a isca. Hue esperava vocêG disse ele. Metade da 0ua deve ter visto aquelas navesdescendo no Mare. ( deve haver centenas de trabalhadores lá. !%o podem ter vindotodos da /erra... 8 eles ir%o $ Cidade Central e alar%o com suas garotas depois debeberem alguns drinques a mais.

Como ele tinha raz%o, pensou #adler, e que dor de cabeça esse probleminhaestava dando $ #egurança.

#e)a como or `. continuou Qheeler eu tenho uma mente aberta em relaç%o aoassunto. -odem azer o que quiserem lá, desde que n%o interiram comigo. -eloe*terior do lugar nada se pode dizer... a n%o ser que está custando uma tremendaquantia de dinheiro ao pobre contribuinte.

;ouve uma tosse nervosa por parte de um homenzinho manso da 7nstrumentaç%o,onde ainda naquela manh% #adler passara umas duas maçantes horas olhandotelesc'pios de raios c'smicos, magnetBmetros, sism'graos, rel'gios de ressonnciamolecular e baterias de outros aparelhos que sem dvida guardavam inormaç+esmais rapidamente do que seria poss&vel a alguém analisar.

!%o sei se est%o intererindo com você, mas est%o criando um inerno para mim. Hue quer dizerG perguntaram todos ao mesmo tempo. 5lhei há meia hora os medidores de orça de campo magnético. (m geral o

campo aqui é bem constante, e*ceto quando há uma tempestade, e sempresabemos quando esperála. Mas no momento está acontecendo alguma coisa

estranha. 5s campos icam subindo e descendo... n%o muito, apenas alguns microgauss... e eu tenho certeza de que isso é artiicial. Ieriiquei todo o equipamento do5bservat'rio e todo o mundo )ura que n%o está me*endo com magnetos. Diquei

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pensando se nossos amigos lá no Mare n%o seriam responsáveis e, apenas poracaso, olhei os outros instrumentos. !%o encontrei coisa alguma até chegar aossism'graos. /emos um de telemediç%o perto da parede sul da cratera, como vocêssabem, e ele tem batido todo o lugar. Algumas oscilaç+es pareciam e*plos+es...estou sempre captando isso de ;9ginus e das outras minas. Mas havia também nostraços algumas agitaç+es peculiares que estavam quase sincronizadas com os pulsos

magnéticos. "escontandose a perda de tempo através da rocha, a distncia coneriapereitamente. !%o há dvida quanto ao lugar de onde vêm.

1m interessante trabalho de pesquisa observou Namieson mas que signiicaissoG

(*istem provavelmente muitas interpretaç+es. Mas eu diria que lá no Mare7mbrium alguém está gerando um colossal campo magnético, em pulsos que duramcerca de um segundo cada vez.

( os tremores do solo. Apenas um subproduto. (*iste muita rocha magnética aqui em volta e imagino

que ela deve levar um orte choque quando aquele campo entra em aç%o. Iocês

provavelmente n%o notariam aquele tremor do solo, mesmo que estivessem onde elese inicia, mas nossos sism'graos s%o t%o sens&veis que podem localizar um meteorocaindo a vinte quilBmetros de distncia.

#adler ouviu a discuss%o técnica resultante com grande interesse. Com tantasmentes aiadas preocupandose com os atos, era inevitável que alguém adivinhassea verdade e inevitável que outros a contestassem com suas pr'prias teorias. 7sson%o era importanteE o que o lhe interessava era saber se alguém demonstravaespecial conhecimento ou curiosidade.

Mas ninguém o ez e #adler icou ainda com suas três desencora)adorasproposiç+es8 o #r. X era esperto demais para eleE o #r. X n%o estava aliE ou o #r. X

absolutamente n%o e*istia.

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11

!ova "raconis  estava declinando. !%o e*cedia mais em brilho todos os s'is dagalá*ia. !o entanto, nos céus da /erra ainda era mais brilhante do que Iênusquando este mais brilhava e talvez transcorressem mil anos antes que homensvissem outra vez coisa igual.

(mbora muito pr'*ima pela escala de distncias siderais, !ova "raconis  ainda erat%o distante que sua magnitude aparente n%o variava em toda a amplitude do#istema #olar. (ra vista com igual luminosidade acima das terras ardentes deMercrio e das geleiras nitrogenadas de -lut%o. (êmera como era, desviara por ummomento as mentes dos homens de seus pr'prios neg'cios e izera com que eles

pensassem nas realidades ltimas.Mas n%o por muito tempo. A impetuosa luz violeta da maior nova da hist'ria

brilhava agora sobre um sistema dividido, sobre planetas que haviam dei*ado deameaçarse e se preparavam para aç%o.

5s preparativos estavam muito mais adiantados do que o pblico percebia. !em a/erra nem a Dederaç%o havia sido rancas com seu povo. (m laborat'rios secretos,homens estavam modiicando para a destruiç%o os instrumentos que lhes haviamdado a liberdade do espaço. Mesmo que os competidores trabalhassem com inteiraindependência, era inevitável que desenvolvessem armas semelhantes, pois sebaseavam nas mesmas tecnologias.

(ntretanto, cada lado tinha seus agentes e contraagentes, e cada um sabia, pelomenos apro*imadamente, que armas os outros estavam desenvolvendo. /alvezhouvesse algumas surpresas qualquer uma das quais poderia ser decisiva mas, demaneira geral, os antagonistas estavam igualmente equilibrados.

(m um aspecto, a Dederaç%o levava grande vantagem. -odia ocultar suasatividades, suas pesquisas e suas provas, entre as luas e asteroides dispersos, semqualquer possibilidade de descoberta. A /erra, por outro lado, n%o podia lançar umanica nave sem que a inormaç%o chegasse a Marte ou Iênus em quest%o deminutos.

 A grande incerteza que castigava ambos os lados era a eiciência de seu serviço

secreto. #e se chegasse $ guerra, seria uma guerra de amadores. #erviço secretoe*ige tradiç%o longa, embora talvez n%o honrosaE espi+es n%o podem ser treinadosda noite para o dia e, mesmo que pudessem, a qualidade de discernimento quecaracteriza um espi%o realmente brilhante n%o é ácil de se encontrar.

!inguém tinha melhor consciência disso do que #adler. Fs vezes, perguntava a sipr'prio se seus colegas desconhecidos, espalhados pelo #istema #olar, se sentiamigualmente rustrados. #' os homens no alto poderiam ver o quadro completo oualgo que se apro*imasse dele. #adler nunca imaginava o isolamento em que umespi%o precisa trabalhar o sentimento horr&vel de estar sozinho, de n%o haverpessoa alguma em que se possa coniar, ninguém com quem se possa partilhar oardo. "esde que chegara $ 0ua n%o alara pelo menos até onde sabia comqualquer outro membro da Central de 7normaç+es. /odos os seus contatos com aorganizaç%o haviam sido impessoais e indiretos. #eus relat'rios de rotina que paraqualquer leitor casual teriam parecido análises e*tremamente maçantes das contas

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do 5bservat'rio iam pelo monotrilho diário para a Cidade Central e ele tinha poucaidéia do que lhes acontecia depois disso. Algumas mensagens haviam chegado pelomesmo meio e no caso de verdadeira emergência o circuito de teletipo estava $ suadisposiç%o.

(sperava seu primeiro encontro com outro agente, que ora combinado comsemanas de antecedência. (mbora duvidasse de que pudesse ter muito valor prático,

daria a seu moral um incentivo muito necessário.#adler conhecia agora, pelo menos para sua satisaç%o, todos os aspectos

principais da Administraç%o e #erviços /écnicos. 5lhara Kde respeitável distnciaL ocentro ardente da micropilha que era a principal onte de energia do 5bservat'rio.;avia visto os grandes espelhos dos geradores solares esperando pacientemente onascer do sol. Dazia anos que n%o eram usados, mas era agradável têlos ali para umcaso de emergência, prontos para aproveitar os ilimitados recursos do pr'prio sol.

 A azenda do 5bservat'rio surpreenderao e ascinarao mais do que tudo. (raestranho que nessa era de maravilhas cient&icas, de coisas sintéticas e coisasartiiciais, ainda houvesse algumas coisas em que a !atureza n%o podia ser

superada. A azenda era parte integrante do sistema de ar condicionado e mostravao que tinha de melhor durante o longo dia lunar. Huando #adler a viu, linhas delmpadas luorescentes proporcionavam um substituto para a luz do sol e placas demetal haviam sido echadas sobre as grandes )anelas que saudariam a auroraquando o sol se erguesse acima da parede ocidental de -lat%o.

/inha a impress%o de estar de novo na /erra, em alguma estua bem equipada. 5ar, movendose lentamente, passava pelas ileiras de plantas em crescimento, davalhes seu di'*ido de carbono e sa&a n%o apenas mais rico em o*igênio, mas tambémcom aquela indein&vel rescura que os qu&micos nunca haviam conseguido produzir.

( ali #adler oi presenteado com uma maç% pequena, mas muito madura, da qual

todos os átomos haviam sa&do da 0ua8 0evoua para seu quarto onde poderiasaboreála sozinho e n%o se sentiu mais surpreendido pelo ato de a azenda serinterditada a todos, e*ceto aos homens que dela cuidavam. As árvores logo icariamnuas se qualquer visitante casual pudesse vaguear por aqueles verde)antescorredores.

 A seç%o de sinalizaç%o representava um contraste t%o grande quanto seria poss&velimaginar. Ali estavam os circuitos que ligavam o 5bservat'rio $ /erra, ao resto da0ua e, se necessário, diretamente a planetas. (ra o perigo maior e mais 'bvio. /odamensagem que chegava ou partia era registrada e os homens que operavam oequipamento haviam sido investigados e reinvestigados pela #egurança. "ois deleshaviam sido transeridos, sem saber a raz%o, para serviços menos sens&veis. Alémdisso o que nem mesmo #adler sabia uma cmara telesc'pica, a trintaquilBmetros de distncia, tirava otograias a cada minuto da grande coleç%o detransmissores que o 5bservat'rio usava para trabalho de longa distncia. #e umdesses pro)etores de rádio apontasse durante qualquer per&odo de tempo para umadireç%o n%o autorizada, o ato seria logo conhecido.

5s astrBnomos, sem e*ceç%o, mostravamse todos muitos dispostos a discutir seutrabalho e e*plicar seu equipamento. #e desconiavam das perguntas de #adler, n%odavam sinal disso. "e sua parte, ele era muito cuidadoso em n%o sair do papel queadotara. A técnica que usava era a de ranqueza de homem para homem8!aturalmente, este n%o é de ato meu trabalho, mas interessome muito por

astronomia e, enquanto estiver aqui na 0ua, dese)o ver tudo quanto puder.!aturalmente, se você está muito ocupado no momento... Duncionava semprecomo por encanto.

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Qagnall em geral azia os preparativos e amaciava o caminho para ele. 5#ecretário ora t%o til que a princ&pio #adler se perguntara se ele n%o estariaprocurando protegerse, mas novas indagaç+es mostraram que Qagnall era assimmesmo. (ra uma daquelas pessoas que n%o podem dei*ar de tentar dar boaimpress%o, simplesmente porque dese)am estar bem com todo o mundo. (le deviaachar singularmente rustrador, pensou #adler, trabalhar para um pei*e rio como o

-roessor Maclaurin.5 coraç%o do 5bservat'rio era, naturalmente, o telesc'pio de mil cent&metros o

maior instrumento 'tico )á eito pelo homem. Dicava no alto de uma pequena colinaa certa distncia da área residencial e era mais impressionante do que elegante. 5enorme cano era cercado por uma estrutura semelhante a guindaste que controlavaseu movimento vertical, e toda a estrutura podia girar sobre uma pista circular.

!%o tem a menor semelhança com qualquer telesc'pio da /erra e*plicou Moltonquando estavam parados )untos dentro da cpula de observaç%o mais pr'*ima,olhando através da plan&cie. 5 tubo, por e*emplo. J eito de tal modo que podemostrabalhar mesmo durante o dia. #em ele, a luz do sol reletirseia das estruturas de

apoio para o espelho. 7sso arruinaria nossas observaç+es e o calor deormaria oespelho. -oderia demorar horas para a)ustar de novo. 5s grandes reletores na /erran%o precisam preocuparse com coisas dessa espécie. #' s%o usados $ noite...aqueles que ainda est%o em aç%o.

(u n%o sabia ao certo se ainda havia algum observat'rio ativo na /erra observou #adler.

5h, e*istem alguns. Huase todos s%o estabelecimentos de treinamento,naturalmente. Ierdadeira pesquisa astronBmica é imposs&vel lá naquela atmosera desopa de ervilha. Ie)a meu trabalho, por e*emplo... espectroscopia de ultravioleta. Aatmosera da /erra é completamente opaca para os comprimentos de onda em que

eu estou interessado. !inguém as tinha observado até o momento em que sa&mospara o espaço. As vezes eu me pergunto como a astronomia se iniciou na /erra. A armaç%o pareceme estranha observou #adler pensativamente. Assemelha

se mais a um canh%o do que a qualquer telesc'pio que )á vi. (*atamente. !%o se preocuparam em azer uma armaç%o tropical. (*iste um

computador automático que az o aparelho acompanhar qualquer estrela quetenhamos determinado. Mas vamos lá embai*o e você verá o que acontece na parteinal.

5 laborat'rio de Molton era uma antástica conus%o de equipamentos meiomontados, dos quais diicilmente #adler reconheceria algum. Huando se quei*oudisso, seu guia pareceu muito divertido.

!%o precisa envergonharse disso. !'s plane)amos e constru&mos a maior partedisto aqui... estamos sempre tentando azer melhoramentos. Mas, alando por alto, oque acontece é isto8 a luz do espelho grande... aqui estamos diretamente embai*odele... é trazida para bai*o por aquele tubo ali. !%o posso demonstrar no momento,porque alguém está tirando otograias e meu turno s' começará daqui a uma hora.Mas quando chegar meu turno, eu poderei escolher qualquer parte do céu quequeira por meio desta mesa de controle remoto e i*ar o instrumento sobre ela."epois, a nica coisa que preciso azer é analisar a luz com estes espectrosc'pios.3eceio que você n%o possa ver muita coisa de seu uncionamento... s%o .todostotalmente echados. Huando est%o em uso, todo o sistema 'tico precisa ser

evacuado, pois, como disse ainda há pouco, mesmo um traço de ar obstrui os raiosultra violetas.

#adler oi repentinamente atacado por uma idéia incongruente.

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"igame alou correndo os olhos pela conus%o de ios, pelas baterias decontadores eletrBnicos, pelos atlas de linhas espectrais você )á olhou alguma vezatravés desse telesc'pioG

Molton sorriu para ele. !unca respondeu. !%o seria di&cil conseguir isso, mas absolutamente n%o

haveria vantagem. /odos esses telesc'pios realmente grandes s%o supercmeras. (

quem dese)a olhar através de uma cmaraG;avia, porém, outros telesc'pios no 5bservat'rio através dos quais se podia olhar

sem tanta diiculdade. Alguns dos instrumentos menores eram a)ustados a cmarasde televis%o que podiam ser colocadas em posiç%o quando era necessário procurarcometas ou asteroides cu)a localizaç%o e*ata se desconhecia. 1ma ou duas vezes,#adler conseguiu emprestado um desses instrumentos e varreu os céus ao acaso, aim de ver o que podia descobrir. "iscava uma posiç%o na mesa de controle remoto,depois espiava na tela para ver o que apanhara. "epois de algum tempo descobriucomo usar o Almanaque Astronáutico e oi um grande momento quando acertou ascoordenadas de Marte e viuo aparecer no meio do campo.

Ditou com sentimentos mistos o grande disco verde e ocre que quase enchia atela. 1ma das calotas polares estava ligeiramente inclinada para o sul era no in&cioda primavera e as grandes tundras cobertas de gelo se descongelariam lentamentedepois do duro inverno. 1m belo planeta para se olhar do espaço, mas um planetadi&cil para se construir uma civilizaç%o. !%o era de admirar que seus vigorosos ilhosestivessem perdendo a paciência com a /erra.

 A imagem do planeta era incrivelmente n&tida e clara. !%o havia o menor tremorou instabilidade enquanto ele lutuava no campo de vis%o, e #adler, que uma vezvislumbrara Marte através de um telesc'pio na /erra, podia ver agora com seuspr'prios olhos como a astronomia se libertara de seus grilh+es quando a atmosera

ora dei*ada para trás. 5bservadores localizados na /erra haviam estudado Martedurante décadas com instrumentos maiores do que aquele, mas ele podia ver agoraem poucas horas mais do que eles haviam vislumbrado durante toda a vida. !%oestava mais perto de Marte do que eles haviam estado de ato, o planeta estavaagora $ considerável distncia da /erra mas n%o havia a trêmula e dançante névoade ar para velar sua vista.

"epois que Marte o saciou, procurou #aturno. A pura beleza do espetáculo dei*ouo sem Blego. -arecia imposs&vel que n%o

estivesse olhando para uma pereita obra de arte, em lugar de uma criaç%o da!atureza. 5 grande globo amarelo, ligeiramente achatado nos polos, lutuava nocentro de seu complicado sistema de anéis. As racas ai*as e tonalidades dasperturbaç+es atmoséricas eram claramente vis&veis, mesmo a dois bilh+es dequilBmetros através do espaço. (, além das cintas concêntricas dos anéis, #adlerpBde contar pelo menos sete das luas do planeta.

(mbora soubesse que o olho de operaç%o instantnea da cmara de televis%onunca poderia equipararse $ paciente chapa otográica, procurou também algumasdas distantes nebulosas e grupos de estrelas. "ei*ou o campo de vis%o vaguear aolongo do congestionado caminho da Iia 0áctea, i*ando a imagem sempre quealgum grupo de estrelas particularmente belo ou nuvem de neblina cintilanteaparecia na tela. "epois de algum tempo, pareceu a #adler que se embriagara com oininito esplendor dos céus. -recisava de alguma coisa que o trou*esse de volta ao

reino dos neg'cios humanos. -or isso, virou o telesc'pio em direç%o $ /erra.(ra t%o enorme que mesmo com o m&nimo de potência s' podia introduzir parte

dela na tela. 5 grande crescente estava minguando rapidamente, mas mesmo a

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porç%o n%o iluminada do disco era cheia de interesse. 0á embai*o, de noite, havia osincontáveis clar+es osorescentes que assinalavam a posiç%o das cidades e láembai*o estava Neanette, agora dormindo, mas talvez sonhando com ele. -elomenos, #adler sabia que ela recebera sua cartaE sua resposta perple*a, mascautelosa, ora tranquilizadora, embora o tom de solid%o e de silenciosa censurativesse dilacerado seu coraç%o. /eria ele, ainal de contas, cometido um erroG Fs

vezes lamentava amargamente a convencional cautela que reinara no primeiro anode sua vida de casado. Como a maioria dos casais do superpovoado planeta quelutuava diante de seus olhos, haviam esperado que sua compatibilidade icasseprovada antes de embarcar na aventura da paternidade. !essa era, representavadeinido estigma social o ato de ter ilhos antes de estar casado durante vários anos era uma prova de raqueza e irresponsabilidade.

 Ambos dese)avam ter ilhos e, agora que tais quest+es podiam ser decididasantecipadamente, pretendiam começar com um menino. "epois #adler recebera suamiss%o e percebera pela primeira vez toda a seriedade da situaç%o interplanetária.!%o dese)aria trazer Nonathan -eter para o incerto uturo que havia $ rente.

(m épocas anteriores poucos homens teriam hesitado por tal raz%o. "e ato, apossibilidade de sua pr'pria e*tinç%o muitas vezes azia com que se tornassem maisansiosos em procurar a nica imortalidade que os seres humanos podem conhecer.Mas o mundo estivera em paz durante duzentos anos e, se viesse agora uma guerra,o comple*o e rágil padr%o de vida na /erra poderia desazerse em pedaços. 1mamulher sobrecarregada com um ilho talvez tivesse pouca probabilidade desobrevivência.

/alvez tivesse sido melodramático e dei*ado que seus temores dominassem suacapacidade de discernimento. #e Neanette conhecesse todos os atos, ainda assimn%o teria hesitadoE teria corrido o risco. Mas, como n%o podia alarlhe livremente,

ele n%o quis aproveitarse de sua ignorncia.(ra tarde demais para arrependerse8 tudo quanto amava estava lá naquelemundo adormecido, separado dele pelo abismo do espaço. #eus pensamentoshaviam completado o c&rculo. (le izera a viagem da estrela ao homem, através doimenso deserto do cosmo até o solitário oásis da alma humana.

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!%o tenho raz%o para supor disse o homem de terno azul que alguém suspeitede você, mas seria di&cil um encontro discreto na Cidade Central. ;á muita gente emvolta e todo o mundo conhece todo o mundo. Iocê icaria surpreendido se soubessecomo é di&cil ter algum isolamento.

!%o acha que parecerá estranho eu vir aquiG perguntou #adler. !%o... a maioria dos visitantes az isso, quando pode. J como ir $s Cataratas do

!iágara... uma coisa que ninguém dese)a perder. !%o se pode culpálos, n%o achaG#adler concordou. Ali estava um espetáculo que nunca poderia ser uma decepç%o,

que sempre superaria toda publicidade prévia. Mesmo agora, o choque de sair paraaquele balc%o n%o havia passado completamente. #adler bem podia acreditar quemuitas pessoas ossem isicamente incapazes de subir até aquele ponto.

(stava em pé em cima do nada, echado em um cilindro transparente que sepro)etava da beirada do can9on. 5 passadiço de metal embai*o de seus pés e o inocorrim%o eram os nicos s&mbolos de segurança oerecidos a ele. #eus dedos aindase agarravam irmemente $quele corrim%o...

 A Denda de ;ig9nus incluise entre as maiores maravilhas da 0ua. "e uma ponta aoutra há mais de trezentos quilBmetros de comprimento e, em certos lugares, cincoquilBmetros de largura. !%o é tanto um can9on quanto uma série de crateras

interligadas, abrindose em dois braços a partir de um vasto poço central. ( é a portaatravés da qual homens chegaram aos tesouros enterrados na 0ua.

#adler n%o conseguia agora olhar para as proundezas sem perturbarse.7ninitamente mais abai*o, segundo parecia, alguns estranhos insetos raste)avamvagarosamente de um lado para outro em pequenos ocos de luz artiicial. #e alguémocalizasse uma lanterna sobre um grupo de baratas, estas teriam igual aparência.

/odavia, aqueles insetos, #adler sabia, eram as grandes máquinas de mineraç%oem atividade no undo do can9on. (ra surpreendentemente liso lá embai*o, tantosmilhares de quilBmetros abai*o, pois parecia que a lava inundara a enda logo depoisde sua ormaç%o e, em seguida, se congelara em um rio de rocha enterrado.

 A /erra, quase verticalmente em cima, iluminava a grande parede imediatamenteoposta. 5 can9on aastavase para a direita e para a esquerda até onde alcançava avista e, $s vezes, a luz verdeazulada, caindo sobre a super&cie da rocha, produziauma ilus%o muito inesperada. #adler achou ácil imaginar que, se movesserepentinamente a cabeça, estaria olhando para o coraç%o de uma gigantescacascata, que se precipitava nas proundezas da 0ua.

 Ao longo da super&cie daquela cascata, nos invis&veis ios de cabos elevadores, ascaçambas de minérios subiam e desciam. #adler vira aquelas caçambas movendosenas linhas superiores para ora da enda e sabia que tinham altura maior do que asua. Agora, porém, pareciam contas movendose vagarosamente ao longo de um io,

enquanto levavam sua carga para as distantes usinas de undiç%o. J uma pena,pensou, que este)am apenas carregando en*ore, o*igênio, sic&lio e alum&nio seriamelhor para n's menor quantidade de elementos leves e maior de pesados.

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Mas ele ora chamado até ali para tratar de neg'cios, n%o para icar boquiabertocomo um turista. /irou as anotaç+es ciradas de seu bolso e começou a azer seurelat'rio.

!%o demorou tanto tempo quanto teria dese)ado. !%o havia meios de saber se seuouvinte estava satiseito ou decepcionado com o inconclusivo resumo. (le pensou arespeito por um minuto, depois observou8

Rostaria que pudéssemos darlhe mais a)uda, mas você bem pode imaginarcomo estamos agora com alta de pessoal. As coisas est%o icando eias... #e vaihaver alguma encrenca, acreditamos que será nos pr'*imos dez dias. Alguma coisaestá acontecendo em volta de Marte, mas n%o sabemos o que é. A Dederaç%o esteveconstruindo pelo menos duas naves de tamanho e*traordinário e pensamos queeste)am e*perimentandoas. 7nelizmente n%o temos um nico dado visual... s'alguns rumores que n%o têm sentido, mas alertaram a "eesa. (stou lhe contantoisto para darlhe mais inormaç%o básica. !inguém aqui sabe a respeito e se vocêouvir alguma pessoa alando nesse sentido, isso signiicará que ela teve acesso ainormaç%o sigilosa. Agora, quanto $ sua curta lista de suspeitos provis'rios. Ie)o

que você incluiu Qagnall, mas ele está limpo conosco. (stá bem... vou mudálo para a 0ista 6. "epois 6roWn, 0eevre e /olanski... eles certamente n%o têm contatos aqui. /em certeza dissoG 6astante. (les usam suas horas de olga em atividades altamente apol&ticas. (u desconiava disso, observou #adler, permitindose o lu*o de um sorriso. Iou

tirálos de uma vez. Agora, este Nenkins, do Almo*ariado. -or que insiste tanto em conserválo na

lista. !%o tenho o menor ind&cio verdadeiro. Mas ele parece ser a nica pessoa que ez

ob)eç+es $s minhas atividades ostensivas. 6em, continuaremos a vigiálo. (le vai $ cidade com muita requência, masnaturalmente tem bons prete*tos... é ele quem az a maioria das compras locais.7sso dei*a cinco nomes em sua 0ista A, n%o éG

#im... e rancamente eu icaria surpreendido se osse qualquer um deles.Qheeler e Namieson n's )á discutimos. #ei das suspeitas de Maclaurin com relaç%o aNamieson depois daquela viagem ao Mare 7mbrium, mas n%o conio muito nisso. "equalquer maneira, oi principalmente idéia de Qheeler.

"epois há 6enson e Carlin. #uas esposas vieram de Marte e eles apresentamconstantes argumentos quando as not&cias est%o sendo discutidas. 6enson éeletricista na Manutenç%o /écnicaE Carlin é atendente médico. -odersela dizer queeles têm algum motivo, mas é muito tênue. Além disso, seriam suspeitos 'bviosdemais.

6em, aqui está outro que n's gostar&amos que você elevasse para sua lista A.(ste Molton.

5 "r. MoltonG e*clamou #adler com certa surpresa. Alguma raz%o particularG !ada sério, mas ele esteve em Marte várias vezes em miss+es astronBmicas e

tem alguns amigos lá. (le nunca ala em pol&tica... eu o sondei uma ou duas vezes e ele simplesmente

pareceu n%o se interessar. -enso que n%o se encontra com muita gente na CidadeCentral... parece completamente absorto em seu trabalho e acho que ele vai $ cidadeapenas para manterse em orma no ginásio. Iocês n%o têm mais alguma coisaG

!%o... sinto muito. J ainda um caso de cinquenta por cento. (*iste um

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vazamento em algum lugar, mas talvez se)a na Cidade Central. 5 relat'rio a respeitodo 5bservat'rio pode ser uma trama deliberada. Como você diz, é muito di&cil vercomo alguém de lá poderia transmitir inormaç%o. 5s monitores de rádio nadacaptaram, a n%o ser algumas mensagens pessoais n%o autorizadas, mas inteiramenteinocentes.

#adler echou sua caderneta e guardoua com um suspiro. 5lhou mais uma vez

para as vertiginosas proundezas sobre as quais estava inseguramente lutuando. Asbaratas raste)avam rapidamente para longe de um ponto na base do penasco e, derepente, uma mancha pareceu espalharse devagar sobre a parede iluminada. KA quedistnciaG "ois quilBmetrosG /rêsGL 1ma nuvem de umaça apareceu e dispersousedistantemente no vácuo. #adler começou a contar os segundo para calcular adistncia da e*plos%o e chegou a doze, antes de lembrarse que estavadesperdiçando seu esorço.

Mesmo que osse uma bomba atBmica, nada teria ouvido de onde estava.5 homem de terno azul a)ustou a alça de sua máquina otográica, acenou com a

cabeça para #adler e voltou a ser novamente o turista pereito. "ême dez minutos

para eu ir embora na sua rente disse ele e lembrese de n%o me reconhecer senos encontrarmos de novo.#adler icou quase ressentido com esta ltima advertência. Ainal de contas, n%o

era um completo amador. Dazia quase meio dia lunar que estava em plena operaç%o.5 movimento era raco no pequeno caé da estaç%o de ;9ginus e #adler viuse

praticamente sozinho. A incerteza geral desencora)ava turistas. Huem se encontrassena 0ua, estaria procurando voltar para casa t%o depressa quanto lhe permitissem osvBos espaciais. -rovavelmente estavam agindo certo. #e houvesse encrenca, seriaali. !inguém realmente acreditava que a Dederaç%o atacasse diretamente a /erra edestru&sse milh+es de vidas inocentes. /ais barbaridades pertenciam ao passado era

o que se esperava. Mas como se poderia ter certezaG Huem sabia o que poderiaacontecer se estourasse a guerraG A /erra era t%o terrivelmente vulnerável.-or um momento #adler perdeuse em devaneios de saudade e autopiedade. Dicou

pensando se Neanette adivinhara onde ele estava. Agora, n%o tinha certeza dedese)ar que ela soubesse. 7sso s' aumentaria suas preocupaç+es.

(nquanto tomava caé que pedira automaticamente, embora nunca tivesseencontrado na 0ua caé digno de ser bebido considerou a inormaç%o que lhe deraseu desconhecido contato. A sugest%o a respeito de Molton ora uma clara surpresae n%o a levava muito a sério. ;avia no astro&sico uma espécie de honestidade quetornava di&cil imaginálo como espi%o. #adler sabia pereitamente bem que era atalconiar em tais palpites e, ossem quais ossem seus sentimentos, prestaria agorae*traordinária atenç%o a Molton. Mas apostou consigo mesmo que isso n%o levaria acoisa alguma.

3euniu todos os atos de que pBde se lembrar a respeito do chee da seç%o de(spectroscopia. Ná sabia que Molton izera três viagens a Marte. A ltima visita oraum ano antes, e o pr'prio "iretor estivera lá mais recentemente. Além disso, naraternidade interplanetária de astrBnomos n%o havia provavelmente membro doescal%o superior que n%o tivesse amigos tanto em Marte como Iênus.

;averia algumas caracter&sticas estranhas a respeito de MoltonG !enhuma em que#adler pudesse pensar, a n%o ser aquela curiosa insociabilidade que parecia conlitarcom um verdadeiro calor interior. ;avia naturalmente seu divertido e até comoventecanteiro de lores, como ouvira alguém chamálo. Mas, se começasse a investigare*centricidades inocentes como essa, nunca chegaria a lugar algum.

;avia, porém, uma coisa que talvez valesse a pena e*aminar. Anotaria a lo)a onde

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Molton comprava os materiais de que precisava Kera quase o nico lugar que Moltonvisitava além do ginásioL, para que um dos contra agentes na cidade pudesse sondála. #entindose bastante satiseito consigo mesmo ao demonstrar assim que n%oestava dei*ando passar probabilidades, #adler pagou sua conta e atravessou o curtocorredor que ligava o caé $ estaç%o quase deserta.

 Ioltou para a Cidade Central pelo ramal de pouco movimento, sobre o terreno

incrivelmente acidentado de /risnecker. "urante quase toda a viagem a linha domonotrilho era acompanhada pelas torres através das quais passavam as caçambascheias que sa&am de ;9ginus e as vazias que voltavam. 5s compridos cabos, comquilBmetros de e*tens%o, eram o meio mais barato e mais prático de transporte quando n%o havia pressa especial na entrega dos produtos. 0ogo em seguida ascpulas da Cidade Central apareceram, mas os cabos mudaram de direç%o e virarampara a direita. #adler pode vêlos descendo até o horizonte, em direç%o $s grandesindstrias qu&micas que, direta ou indiretamente, alimentavam e vestiam todos osseres humanos na 0ua.

!%o se sentia mais um estranho na cidade e oi de cpula para cpula com a

segurança de um via)ante e*perimentado. A primeira prioridade era um tardio cortede cabelos. 1m dos cozinheiros do 5bservat'rio ganhava dinheiro e*traordináriocomo barbeiro, mas tendo visto os resultados, #adler preerira apegarse aosproissionais. "epois houve tempo apenas para ir ao ginásio e icar quinze minutosna centr&uga.

Como de hábito, o ginásio estava cheio de uncionários do 5bservat'rio dese)ososde assegurar sua capacidade de viver novamente na /erra quando dese)assem. ;aviauma lista de espera para a centr&uga, por isso #adler eniou suas roupas em umarmário e oi dar um mergulho até quando o zumbido declinante do motor lhe disseque a grande máquina estava pronta para receber nova carga de passageiros. !otou,

com tortuoso divertimento, que dois de seus suspeitos da 0ista A Qheeler e Molton e nada menos que sete da Classe 6 estavam presentes. Mas no caso da Classe 6n%o era t%o surpreendente. !oventa por cento dos uncionários do 5bservat'rioconstavam daquela comprida lista, que, se precisasse receber um t&tulo, deveriachamarse8 -essoas suicientemente inteligentes e ativas para serem espi%s, mas arespeito das quais n%o e*iste o menor ind&cio em um sentido ou outro.

 A centr&uga recebia seis pessoas e tinha algum engenhoso dispositivo desegurança que n%o a dei*ava movimentarse, a menos que o peso estivesseconvenientemente equilibrado. 3ecusou cooperar, até que um homem gordo $esquerda de #adler trocou de lugar com um homem magro do lado oposto. "epois o

motor começou a adquirir velocidade e o grande cilindro, com sua carga humanaligeiramente ansiosa, passou a girar sobre seu ei*o. F medida que a velocidadeaumentava, #adler sentia seu peso crescer irmemente. A direç%o da vertical estavatambém mudando girava em direç%o ao centro do cilindro. 3espirou undo e tentouver se podia erguer os braços. (stes pareciam eitos de chumbo.

5 homem $ direita de #adler levantouse cambaleando e começou a andar de umlado para outro, conservandose dentro das linhas brancas cuidadosamente deinidasque marcavam os limites de seu territ'rio. /odos os outros aziam o mesmo8 eraantástico vêlos em pé sobre o que, do ponto de vista da 0ua, era uma super&cievertical. Mas estavam colados a ela por uma orça seis vezes maior do que a racagravidade da 0ua uma orça igual ao peso que teriam na /erra.

!%o era uma sensaç%o agradável. #adler achava quase imposs&vel acreditar que,até alguns dias antes, passara toda sua e*istência em um campo de gravidade comorça igual a essa. -resumivelmente se acostumaria de novo, mas no momento se

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sentia t%o raco quanto um gatinho. Dicou muito satiseito quando a centr&ugadiminuiu de velocidade e ele pode voltar vagarosamente $ delicada gravidade daamistosa 0ua.

#entia se cansado e um tanto desencora)ado quando o monotrilho saiu da CidadeCentral. !em mesmo o breve vislumbre que teve do novo dia, quando o sol aindaoculto tocava os mais altos picos das montanhas ocidentais, conseguiu animálo.

Dazia mais de doze dias do tempo da /erra que se encontrava ali e a longa noitelunar estava terminando. Mas receava pensar no que o dia poderia trazer.

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13

/odo homem tem sua raqueza, se soubermos descobrila. A de Namieson era t%o'bvia que parecia in)usto e*plorála, mas #adler n%o podia darse ao lu*o de terescrpulos. /odos no 5bservat'rio consideravam a pintura do )ovem astrBnomocomo motivo de brando divertimento e n%o lhe davam o menor encora)amento.#adler, sentindose um grande hip'crita, começou a desempenhar o papel deadmirador simpático.

"emorou algum tempo para vencer a reserva de Namieson e leválo a alarrancamente. 5 processo n%o poderia ter sido apressado sem despertar suspeita,mas #adler ez bastante progresso pela simples técnica de apoiar Namieson quando

seus colegas ca&am sobre ele. 7sso acontecia, em média, toda vez que eleapresentava um novo quadro.

"esviar a conversa de arte para pol&tica e*igiu menos habilidade do que seria de seesperar, pois a pol&tica nunca estava muito distante nesses dias. !o entanto,estranhamente, oi o pr'prio Namieson quem levantou as quest+es que #adler estavatentando ormular. (videntemente estivera pensando muito, $ sua met'dica maneira,lutando com o problema que preocupava todo cientista em escala cada vez maior,desde o dia em que a bomba atBmica nascera na /erra.

Hue aria você perguntou ele abruptamente a #adler, algumas horas ap's esteltimo ter regressado da Cidade Central se precisasse escolher entre a /erra e a

Dederaç%oG -or que me perguntaG respondeu #adler, tentando ocultar seu interesse. /enho perguntado isso a muita gente respondeu Namieson. ;avia ansiedade em

sua voz, indicando a perple*a dvida de quem procura orientaç%o em um mundoestranho e comple*o. 0embra se daquela discuss%o que tivemos na #ala Comumquando Ma9s disse que quem acreditasse em Meu planeta, certo ou errado seriaum toloG

0embrome respondeu #adler cautelosamente. (u penso que Ma9s estava certo. 0ealdade n%o é apenas uma quest%o de

nascimento, mas de ideais. -ode haver ocasi+es em que moral e patriotismo se

chocam. Como você começou a ilosoar dessa maneiraG A resposta de Namieson oi inesperada. -or causa de !ova "raconis   disse ele. Acabamos de receber os relat'rios dos

observat'rios da Dederaç%o situados além de Npiter. Doram enviados através deMarte e alguém lá )untou uma nota a eles... Molton mostroua a mim. !%o estavaassinada e era bem curta. "izia simplesmente que, acontecesse o que acontecesse...e a e*press%o oi repetida duas vezes... eles ariam com que seus relat'rioscontinuassem chegando $s nossas m%os.

1m tocante e*emplo de solidariedade cient&ica, pensou #adler. (videntementecausara prounda impress%o em Namieson. A maioria dos homens certamente amaioria dos homens que n%o ossem cientistas teria achado o incidente bastante trivial. Mas ninharias como essa podiam mudar a mente de homens em momentoscruciais.

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!%o sei e*atamente o que você deduz disso alou #adler, sentindose como seestivesse patinando sobre gelo muito ino. Ainal de contas, todo o mundo sabe quea Dederaç%o tem muitos homens t%o honestos, bem intencionados e cooperativosquanto qualquer um daqui. Mas n%o se pode governar um sistema solar com baseem acessos de emoç%o. Iocê realmente hesitaria se houvesse um encontro entre a/erra e a Dederaç%oG

;ouve uma longa pausa. "epois Namieson suspirou. (u n%o sei respondeu ele. 3ealmente n%o sei.(ra uma resposta absolutamente ranca e honesta. -ara #adler, eliminava

virtualmente Namieson de sua lista de suspeitos.

5 antástico incidente do pro)etor no Mare 7mbrium ocorreu quase vinte e quatrohoras mais tarde. #adler ouviu alar a respeito quando se )untou a Qagnall para ocaé da manh%, como geralmente azia quando estava perto da Administraç%o.

Aqui está uma coisa para azer você pensar disse Qagnall, quando #adlerentrou na #ala do #ecretário. 1m dos técnicos da (letrBnica estava agora há pouco

lá em cima na cpula, admirando a vista, quando de repente um ei*e luminososubiu no horizonte. "urou cerca de um segundo e, diz ele, era de um brilhantecolorido azulbranco.

!%o há dvida que veio do lugar onde Qheeler e Namieson estiveram. #ei que a7nstrumentaç%o tem tido diiculdades por causa deles e ui veriicar. #eusmagnetBmetros haviam sido lançados ora da escala dez minutos antes e ocorreramvários tremores locais graves.

!%o sei como um pro)etor poderia dar causa a uma coisa dessa espécie comentou #adler, genuinamente perple*o. "epois entendeu todas as implicaç+es dadeclaraç%o.

1m ei*e luminosoG disse com a voz entrecortada. Mas isso é imposs&vel. !%oseria vis&vel aqui no vácuo. (*atamente alou Qagnall, evidentemente divertido com a perple*idade do

outro. #' se pode ver um ei*e luminoso quando ele passa através de poeira ou ar.( esse era realmente brilhante... quase ouscante. A rase que Qilliams usou oi8-arecia uma barra s'lida. !a minha opini%o, sabe o que é aquele lugarG

!%o respondeu #adler, perguntando a si mesmo como Qagnall havia chegado $verdade. !%o tenho a menor idéia.

5 #ecretário parecia muito acanhado, como se estivesse tentando e*por umateoria da qual se envergonhasse um pouco.

-enso que é alguma espécie de ortaleza. 5h, eu sei que isso parece antástico,mas se pensar bem você verá que é a. nica e*plicaç%o capaz de a)ustarse a todosos atos.

 Antes que #adler pudesse responder ou mesmo pensar em uma respostaadequada, a campainha da mesa tocou e um pedaço de papel saiu do teletipo deQagnall, (ra uma 'rmula padronizada de sinalizaç%o, mas havia nela uma coisa n%opadronizada8 tinha a ins&gnia vermelha de -rioridade.

Qagnall leua em voz alta, arregalando os olhos $ medida que o azia.

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intererBmetro o grande instrumento cu)os olhos gêmeos, separados por vintequilBmetros, tornavam poss&vel medir o dimetro das estrelas. A principal atividadecentralizouse, todavia, em torno do reletor de mil cent&metros.

Molton cheiava a equipe do espelho. 5 trabalho teria sido imposs&vel sem seuminucioso conhecimento das caracter&sticas 'ticas e de engenharia do telesc'pio.#eria imposs&vel, mesmo com seu au*&lio, se o espelho osse undido em uma nica

unidade, como o do hist'rico instrumento que ainda se encontrava no topo do Monte-alomar. (ste espelho, porém, era constitu&do de mais de uma centena de seç+eshe*agonais, encai*adas umas nas outras, de modo a ormar um grande mosaico.Cada uma delas podia ser removida separadamente e levada para lugar seguro,embora o trabalho osse lento e tedioso e ossem necessárias semanas para montarde novo o telesc'pio completo com a antástica precis%o necessária.

/ra)es espaciais n%o eram realmente plane)ados para trabalho dessa espécie e umdos homens, por ine*periência ou pressa, dei*ou cair sua ponta de uma seç%o doespelho quando a erguia para tirála da célula. Antes que alguém pudesse segurálo,o grande he*ágono de quartzo undido ganhou velocidade suiciente para lascar um

de seus cantos .. (ssa oi a nica perda 'tica, o que nas circunstncia oi muitohonroso. ...5 ltimo homem, cansado e desanimado, entrou pelas esclusas de ar doze horas

depois do in&cio da operaç%o. #' um pro)eto de pesquisa continuava um nicotelesc'pio seguia ainda o lento decl&nio de !ova "raconis , que caminhava para suae*tinç%o inal. Com guerra ou sem guerra, esse trabalho continuaria.

0ogo ap's ter sido anunciado que os dois grandes espelhos estavam emsegurança, #adler subiu para uma das cpulas de observaç%o. !%o sabia quandoteria outra oportunidade de ver as estrelas e a /erra minguante e dese)ava levar a

lembrança para seu regio subterrneo.-elo que se podia ver, o 5bservat'rio estava absolutamente intacto. 5 grande canodo reletor de mil cent&metros apontava diretamente para o zênite. Dora colocado emposiç%o vertical para que a célula do espelho pudesse ser bai*ada até o n&vel do solo.-ouca coisa menos do que um impacto direto poderia daniicar essa maciça estruturae ela tinha que correr seus riscos nas horas ou dias de perigo que se apro*imavam.

 Alguns homens ainda se movimentavam do lado de ora. 1m deles, notou #adler,era o "iretor. (ra talvez o nico homem na 0ua que podia ser reconhecido quandousava tra)e espacial. Dora eito especialmente para ele e aumentava sua altura paraum metro e meio.

1m dos caminh+es abertos usados para o transporte de equipamento até o5bservat'rio avançava velozmente em direç%o ao telesc'pio, levantando pequenasnuvens de poeira. -arou ao lado da grande pista circular, sobre a qual a estruturagirava, e as iguras vestidas em tra)es espaciais subiram ao ve&culo. "epois, ocaminh%o virou rapidamente para a direita e inalmente desapareceu no solo,descendo a rampa que levava $s esclusas de ar da garagem.

 A grande plan&cie estava deserta e o 5bservat'rio cego, a n%o ser pelo nico e ielinstrumento que apontava na direç%o norte em sublime desaio $s loucuras doshomens. "epois o locutor do onipresente sistema de altoalantes ordenou a #adlerque sa&sse da cpula e ele seguiu relutante para as proundezas. Rostaria de poderesperar um pouco mais, pois dentro de mais alguns minutos as paredes ocidentais

de -lat%o seriam tocadas pelos primeiros dedos da aurora lunar. -arecia uma penaninguém estar lá para saudála.

Y Y Y

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 Iagarosamente a 0ua se virou para o sol, como nunca podia virarse para a /erra. A linha do dia raste)ava sobre as montanhas e plan&cies, banindo o inimaginável rioda longa noite. /oda a parede ocidental dos Apeninos estava em chamas e o Mare7mbrium subia para o alvorecer. -lat%o, porém, ainda continuava na escurid%o,iluminado apenas pelo brilho da /erra minguante.

1m grupo de estrelas dispersas apareceu de repente na parte bai*a do irmamentodo lado oeste. As mais altas agulhas da grande parede circular estavam recebendo osol e, minuto a minuto, a luz descia por seus lancos, até ligálos todos em um anelde ogo. Agora o sol batia sobre todo o vasto c&rculo da cratera, enquanto oscontraortes do leste se erguiam para o alvorecer. Huem olhasse da /erra, veria-lat%o como um ininterrupto anel de luz, cercando um tanque de negras sombras. Ainda demoraria horas para que o sol nascente pudesse clarear as montanhas evencer as ltimas ortalezas da noite.

!%o havia olhos para observar quando, pela segunda vez, aquela barra azulbrancaurou rapidamente o céu do sul. 7sso era bom para a /erra. A Dederaç%o icara

sabendo muitas coisa, mas havia ainda algumas coisas que talvez s' descobrissetarde demais.

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1!

o 5bservat'rio acomodarase para um s&tio de duraç%o indeinida. !%o era, demaneira geral, e*periência t%o rustradora como se poderia ter esperado. (mbora osprogramas principais tivessem sido interrompidos, havia interminável trabalho a sere*ecutado na apuraç%o dos resultados, veriicaç%o de teorias e redaç%o de artigos,que até haviam sido dei*ados de lado por alta de tempo. Muitos dos astrBnomosreceberam quase com satisaç%o a pausa, e vários progressos undamentais emcosmologia oram resultado direto da orçada ociosidade.

5 pior aspecto de toda a situaç%o, segundo concordavam todos, era a incerteza ea alta de not&cias. Hue estaria realmente acontecendoG #eria poss&vel acreditar nos

boletins da /erra, que pareciam estar tentando tranquilizar o pblico, ao mesmotempo que o preparavam para o piorG

 Até onde se podia )ulgar, esperavase alguma espécie de ataque e erasimplesmente azar do 5bservat'rio estar t%o pr'*imo do poss&vel ponto de perigo./alvez a /erra calculasse que orma assumiria o ataque e, sem dvida, izerapreparativos para enrentálo.

Cada um dos dois grandes antagonistas dava voltas em torno do outro, nenhumdeles disposto a desechar o primeiro golpe, cada um deles esperando levar o outro$ capitulaç%o por meio de blee. Contudo, haviam ido longe demais e nenhum delespoderia recuar sem uma perda de prest&gio t%o danosa que n%o poderia ser aceita.

#adler receava que )á tivesse passado o ponto de onde n%o se podia mais voltar./eve certeza disso quando chegou pelo rádio a not&cia de que o Ministro daDederaç%o em ;aia izera um virtual ultimato ao governo da /erra. Acusara a /errade dei*ar de satisazer as quotas combinadas de metais pesados, de reterdeliberadamente suprimentos com inalidades pol&ticas e de ocultar a e*istência denovos recursos. A menos que concordasse em discutir a distribuiç%o desses novosrecursos, a /erra se veria na impossibilidade de usálos.

5 ultimato oi seguido, seis horas mais tarde, por uma transmiss%o para a /erra,dirigida de Marte por um transmissor de potência espantosa. Assegurava ao povo da/erra que nenhum mal lhe aconteceria e que todo dano que osse causado ao

planeta seria um ineliz acidente de guerra, pelo qual seu pr'prio governo deveriaassumir a culpa. A Dederaç%o evitaria todos os atos que pudessem ameaçar áreaspovoadas e coniava em que seu e*emplo osse seguido.

!o 5bservat'rio essa transmiss%o oi ouvida com sentimentos conusos. !%o haviadvida quanto $ sua signiicaç%o e n%o havia dvida de que o Mare 7mbrium era,de acordo com o sentido do Ato, uma área despovoada. 1m eeito de transmiss%o oio de aumentar a simpatia pela Dederaç%o, mesmo entre aqueles que provavelmenteseriam pre)udicados por suas aç+es. Namieson em particular começou a tornarsecada vez menos t&mido na e*press%o de suas opini+es e logo se tornou bastanteimpopular. Antes de muito tempo, uma clara cis%o apareceu nas ileiras do5bservat'rio. "e um lado estavam aqueles Kem sua maioria homens mais )ovensLque tinham sentimentos muito semelhantes aos de Namieson e consideravam a /errareacionária e intolerante. Contra eles, por outro lado, encontravamse os indiv&duosestáveis e conservadores, que sempre apoiavam automaticamente os que detinham

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autoridade, sem preocuparse muito com abstraç+es morais.#adler observava essas discuss+es com grande interesse, embora estivesse

consciente de que o ê*ito ou malogro de sua miss%o )á ora decidido e que nadapoderia azer agora para alterar a situaç%o. /odavia, e*istia sempre a possibilidadedo #r. X., provavelmente m&tico, tornarse agora descuidado ou mesmo ser tentado adei*ar o 5bservat'rio. #adler adotara certas medidas para impedir isso, com a

cooperaç%o do "iretor. !inguém podia usar tra)es espaciais ou tratores semautorizaç%o e a base estava assim eetivamente echada. Iiver no vácuo oereciacertas vantagens do ponto de vista da segurança.

5 estado de s&tio do 5bservat'rio proporcionara a #adler um pequeno triuno queele poderia muito bem ter previsto e que parecia um irBnico comentário sobre todosos seus esorços. Nenkins, seu suspeito da seç%o do Almo*ariado, ora preso naCidade Central. Huando o serviço de monotrilho oi suspenso, ele estava na cidadeem atividade muito e*traoicial e ora surpreendido pelos agentes que o observavamem resultado do palpite de #adler.

(le sentira medo de #adler e com boas raz+es.

Mas nunca tra&ra quaisquer segredos de estado, pois nunca os possu&ra. Comomuitos bons almo*aries antes dele, estivera vendendo propriedades do governo.(ra )ustiça poética. A pr'pria consciência culpada de Nenkins o tra&ra. Contudo,

embora #adler eliminasse um nome de sua lista, a vit'ria proporcionoulhe poucasatisaç%o.

 As horas arrastavamse, com os temperamentos icando cada vez mais e*altados.!o alto, o sol erguiase no céu da manh% e agora se elevava bem acima da paredeocidental de -lat%o. 5 sentimento inicial de emergência desaparecera, dei*andoapenas um sentimento de rustraç%o. ;ouve um mal orientado esorço no sentido dese organizar um concerto, mas alhou de maneira t%o completa que dei*ou todo o

mundo ainda mais deprimido do que antes.Como nada parecia estar acontecendo, as pessoas começaram a subir novamente$ super&cie, ainda que apenas para olhar o céu e certiicarse de que tudo aindaestava bem. Algumas dessas e*curs+es clandestinas causaram muita ansiedade a#adler, mas ele conseguiu se convencer de que eram absolutamente inocentes.Dinalmente o "iretor reconheceu a situaç%o, permitindo que nmero limitado depessoas subisse $s cpulas de observaç%o em certas horas do dia.

1m dos engenheiros da (nergia organizou uma loteria, cu)o prêmio seria conerido$ pessoa que adivinhasse quanto tempo ia durar aquele peculiar s&tio. /odos no5bservat'rio entraram no )ogo, e #adler agindo com palpite muito raco leu a listacuidadosamente depois de ter sido completada. #e houvesse ali alguém queconhecesse a resposta certa, tomaria o cuidado de evitar ganhar. (ssa era pelomenos a teoria. #adler nada descobriu com seu estudo e acabou admirandose damaneira como seus processos mentais estavam icando tortuosos. ;ouve ocasi+esem que receou nunca mais ser capaz de voltar a pensar de maneira direta.

 A espera terminou e*atamente cinco dias depois do Alerta. A super&cie estava seapro*imando o meiodia e a /erra minguara para um ino crescente t%o pr'*imo dosol que n%o podia ser olhado com segurança. Mas era meianoite pelos rel'gios do5bservat'rio e #adler dormia quando Qagnall entrou, sem a menor cerimBnia, emseu quarto.

AcordeU disse ele, quando #adler esregou os olhos para deles tirar o sono. 5"iretor quer alar com vocêU Qagnall parecia aborrecido por ser usado comomensageiro. (stá acontecendo alguma coisa quei*ouse, olhando desconiado

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para #adler. (le n%o quis dizer nem a mim do que se trata. . (u também n%o estou certo de saber respondeu #adler, enquanto vestia seu

chambre. "izia a verdade e, a caminho do escrit'rio do "iretor, especulava sonolentosobre todas as coisas que poderiam ter acontecido.

5 -roessor Maclaurin, pensou #adler, envelhecera muito nos ltimos dias. !%o eramais o enérgico e vigoroso homenzinho que ora, dirigindo o 5bservat'rio com m%osérreas. ;avia mesmo uma pilha desarrumada de documentos sobre sua mesa antesimaculada.

 Assim que Qagnall, com evidente relutncia, dei*ou a sala, Maclaurin perguntouabruptamente8

Hue está azendo Carl #teanson na 0uaG #adler piscou com incerteza aindan%o estava completamente acordado e depois respondeu hesitante8

(u nem sei quem é ele. /inha obrigaç%o de saberGMaclaurin pareceu surpreendido e decepcionado. -ensei que sua gente lhe tivesse dito que ele vinha. J um dos &sicos mais

brilhantes que temos em sua pr'pria especializaç%o. A Cidade Central acaba de se

comunicar conosco para dizer que ele chegou... e n's temos que leválo ao Mare7mbrium t%o logo se)a poss&vel, até aquele lugar que chamam de -ro)eto /hor.

-or que ele n%o pode voar até láG "e que maneira entramos na est'riaG (le deveria ir por meio de oguete, mas o transporte está ora de aç%o e n%o

poderá ser utilizado pelo menos durante seis horas. -or isso, v%o mandálo pormonotrilho e n's devemos transportálo na ltima etapa em trator. -ediramme quedesignasse Namieson para o serviço. /odo o. mundo sabe que ele é o melhormotorista de trator na 0ua... e é o nico que )á esteve no -ro)eto /hor, se)a isso oque or.

Continue disse #adler, quase adivinhando o que viria em seguida.

(u n%o conio em Namieson. !%o creio que se)a seguro mandá7o em uma miss%ot%o importante como essa parece ser. (*iste alguma outra pessoa que possa azer o serviçoG !%o no tempo de que dispomos. J um serviço muito especializado e você n%o az

idéia de como é ácil perderse no caminho. (nt%o parece que terá de ser Namieson. -or que acha que ele oerece riscoG (u o ouvi alando na #ala Comum. Certamente você também o ouviuU (le n%o ez

segredo de suas simpatias pela Dederaç%o.#adler observava Maclaurin atentamente enquanto o "iretor alava. A indignaç%o

quase raiva na voz do homenzinho surpreendeuo. -or um momento, levantou uma

ugidia suspeita em sua mente8 estaria Maclaurin tentando desviar atenç%o de sipr'prioG A vaga desconiança durou apenas um instante. !%o havia necessidade, percebeu

#adler, de procurar motivos mais proundos. Maclaurin estava cansado e esgotadopelo trabalho. Como #adler sempre desconiara, apesar de toda sua dureza e*terna,ele era um homenzinho em esp&rito, tanto quanto em estatura. (stava reagindo demaneira inantil $ sua rustraç%o. Iira seus planos desorganizados, todo seuprograma paralisado... até mesmo seu precioso equipamento ameaçado. /udo oiculpa da Dederaç%o e quem n%o concordasse com isso era inimigo potencial da /erra.

(ra di&cil n%o se sentir solidário com relaç%o ao "iretorE #adler suspeitava que eleestava $ beira de um esgotamento nervoso e deveria, por isso, ser tratado come*tremo cuidado.

Hue dese)a que eu açaG perguntou com o tom de voz mais indierente que

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Continue, senhor. (stou ouvindo respondeu Namieson. -ara #adler eraevidente a tens%o em sua voz.

A situaç%o é a seguinte. (ncontrase na Cidade Central um homem que precisachegar a /hor imediatamente. "everia ter ido por meio de oguete, mas n%o oiposs&vel. -or isso, v%o mandálo para cá no monotrilho e, para poupar tempo, vocêesperará no carro no passo e receberá a pessoa. "epois a levará diretamente ao

-ro)eto /hor. (ntendidoG !%o completamente. -or que /hor n%o pode mandar buscálo em um de seus

pr'prios cats.(staria Namieson tirando o corpoG perguntouse #adler. !%o, decidiu. (ra uma

pergunta pereitamente razoável. #e olhar o mapa disse Maclaurin você verá que -rospect é o nico lugar

conveniente para um trator encontrarse com o monotrilho. Além disso, parece n%ohaver motoristas realmente hábeis em /hor. I%o mandar um trator, mas vocêprovavelmente terminará o serviço antes que eles cheguem a -rospecto

;ouve uma longa pausa. Namieson evidentemente estava estudando o mapa.

(stou disposto a tentar disse Namieson. Mas gostaria de saber do que se trata. Iamos indo bem, pensou #adler. (spero que Maclaurin aça o que eu lhe disse. Muito bem respondeu Maclaurin. Iocê tem o direito de saber, suponho eu. 5

homem que vai a /hor é o "r. Carl #teanson. ( a miss%o que e*ecuta é vital $segurança. da /erra. J s' isso que eu sei, mas penso que nada mais preciso dizer.

#adler esperou, curvado sobre seu altoalante, enquanto o longo silêncio searrastava. #abia a decis%o que Namieson devia estar tomando. 5 )ovem astrBnomoestava descobrindo que uma coisa era criticar a /erra e condenar sua pol&tica quandoa quest%o n%o tinha importncia prática e coisa completamente dierente era

escolher uma linha de aç%o que pudesse contribuir para causar sua derrota. #adlerlera em algum lugar que havia muitos paciistas antes da delagraç%o da guerra, maspoucos ap's ela ter realmente começado. Namieson estava aprendendo agora ondesua lealdade, se n%o sua l'gica, residia.

(u irei disse inalmente, em voz t%o bai*a que #adler mal conseguiu ouvilo. 0embrese insistiu Maclaurin que você tem a liberdade de escolher. /enhoG alou Namieson. !%o havia sarcasmo em sua voz. (stava pensando em

voz alta, alando mais consigo mesmo do que com o "iretor.#adler ouviu Maclaurin me*er em seus papéis. ( seu a)udanteG perguntou ele. 0evarei Qheeler. (le oi comigo na ltima vez. Muito bem. Iá buscálo, enquanto eu entro em contato com /ransporte. (... boa

sorte. 5brigado, senhor.#adler esperou até ouvir a porta da sala de Maclaurin echarse ap's a sa&da de

Namieson. "epois se )untou ao "iretor. Maclaurin ergueu os olhos para ele com arcansado e disse8

(nt%oG /udo correu melhor do que eu temia. Acho que o senhor agiu muito bem.!%o era mera lison)a. #adler estava surpreendido pela maneira como Maclaurin

ocultara seus sentimentos. (mbora a entrevista n%o tivesse sido e*atamente cordial,n%o houvera hostilidade aberta.

#intome muito mais eliz alou Maclaurin porque Qheeler irá com ele.Qheeler merece coniança.

 Apesar de sua preocupaç%o, #adler teve diiculdade em conter um sorriso. /inha

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plena certeza de que a é do "iretor em Conrad Qheeler se baseava principalmentena descoberta de !ova "raconis  pelo )ovem, o que provara o valor do 7ntegrador deMagnitude Maclaurin. !%o precisava de outras provas para saber que cientistas eramt%o inclinados quanto todas as outras pessoas a dei*ar que suas emoç+esprevalecessem sobre sua l'gica.

5 altoalante sobre a mesa pediu atenç%o.

5 trator está saindo, senhor. As portas e*ternas est%o sendo abertas agora.Maclaurin olhou automaticamente para o rel'gio na parede. Doi rápido disse ele. "epois olhou sombriamente para #adler. 6em, #r. #adler, agora é tarde demais para azer alguma coisa. #' espero que o

senhor tenha raz%o.

Y Y Y

3aramente se percebe que guiar na 0ua de dia é muito menos agradável e mesmomenos seguro do que guiar $ noite. A impiedosa claridade e*ige o uso de ortesiltros solares e os trechos de sombra negra que sempre est%o presentes, e*ceto nas

raras ocasi+es em que o sol ica verticalmente em cima, podem ser muito perigosos.Com requência, ocultam endas que um trator em velocidade pode n%o ser capaz deevitar. Ruiar $ luz da /erra, por outro lado, n%o e*ige tanto esorço. A luz é muitomais suave e os contrastes menos e*tremos.

 As coisas tornavamse ainda piores para Namieson por estar ele guiando emdireç%o ao sul quase diretamente para o sol. ;avia ocasi+es em que as condiç+eseram t%o ruins que precisava ziguezaguear uriosamente a im de evitar a cintilaç%ode pedaços de rochas e*postas $ rente. !%o era t%o di&cil quando percorriamregi+es poeirentas, mas estas se tornavam cada vez mais raras $ medida que oterreno se elevava em direç%o aos contraortes internos da parede montanhosa.

Qheeler n%o cometeu a tolice de alar com seu amigo nessa parte da viagemE atarea de Namieson e*igia muita concentraç%o. Dinalmente subiram em direç%o aopasso, dando voltas de um lado para outro ao longo das escarpadas encostas quedominavam a plan&cie. Como rágeis brinquedos no horizonte distante, os guindastesdo grande telesc'pio marcavam a localizaç%o do 5bservat'rio. 0á, pensou Qheeleramarguradamente, estavam investidos milh+es de horashomem, de aptid%o etrabalho. Agora o 5bservat'rio nada estava azendo, e o melhor que se podiaesperar era que um dia aqueles esplêndidos instrumentos iniciassem novamente suae*ploraç%o dos lugares distantes do universo.

1ma serra cortou sua vista da plan&cie embai*o e Namieson virou para a direita

através de um estreito vale. Muito acima, nas encostas sobre eles, a linha domonotrilho era agora vis&vel, apro*imandose e descendo pela montanha em grandese largos saltos. !%o havia meio pelo qual um caterp&lar pudesse subir até ela, masdepois que atravessasse o passo eles n%o teriam diiculdade em rodar até a poucosmetros do trilho.

5 terreno era e*tremamente acidentado e traiçoeiro naquele ponto, masmotoristas que haviam percorrido esse caminho antes dei*aram marcas para orientaros que viessem depois deles. Namieson usava agora com requência os ar'is, poisguiava muitas vezes na sombra. (m geral preeria isso a guiar diretamente sob o sol,pois podia ver o terreno $ rente muito acilmente com os ei*es de luz dirig&veis dos

pro)etores no alto do carro. Qheeler logo tomou a direç%o dos pro)etores e achouascinante observar os ovais de luz que roçavam as rochas. A completa invisibilidadedos ei*es de luz propriamente ditos, ali no vácuo quase completo, dava um eeito

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mágico $ cena. A luz parecia n%o ter procedência alguma nem a menor ligaç%o como trator.

Chegaram a -rospect cinquenta minutos ap's terem sa&do do 5bservat'rio etransmitiram pelo rádio para lá sua posiç%o. Agora bastava descer alguns quilBmetrospelo monte até chegar ao local do encontro. A linha do monotrilho convergia paraseu tra)eto, depois virava para o sul, passando pelo -ico, como uma tira de prata

estendendose a perder de vista sobre a ace da 0ua. 6em disse Qheeler com satisaç%o n%o precisaram esperar por n's. Rostaria

de saber de que se trata tudo isto. !%o é 'bvioG perguntou Namieson. #teanson é o maior especialista em &sica

de radiaç%o que temos. #e vai haver uma guerra, você sem dvida percebe queespécie de armas ser%o usadas.

(u n%o pensei muito nisso... nunca pareceu coisa que merecesse ser levada asério. -ro)éteis teleguiados, suponho.

Muito provavelmente, mas n's devemos ser capazes de azer melhor do que isso.;omens vem alando em armas de radiaç%o há séculos. #e dese)assem essas armas,

poderiam azêlas agora. !%o me diga que você acredita no raio da morteU ( por que n%oG #e você se lembra de seus livros de hist'ria, raios de morte

mataram alguns milhares de pessoas em ;iroshima. ( isso oi há uns duzentos anos. #im, mas n%o é di&cil protegerse contra coisas dessa espécie. Iocê é capaz de

imaginar um raio causando verdadeiro dano &sicoG "ependeria da distncia. #e ossem apenas alguns quilBmetros, eu diria que sim.

 Ainal de contas, podemos gerar quantidades ilimitadas de energia. Atualmente,devemos ser capazes de esguichála toda na mesma direç%o se dese)armos. Até ho)en%o houve incentivo especial. Mas agora... como podemos saber o que está se

passando nos laborat'rios secretos em todo o #istema #olarG Antes que Qheeler pudesse responder, viu o ponto cintilante de luz muito longeatravés da plan&cie. Moviase em direç%o a eles com incr&vel velocidade, subindo nohorizonte como um meteoro. (m minutos, reduziuse ao cilindro do nariz achatadodo monotrilho, agachado sobre seu trilho nico.

-enso que é melhor eu ir darlhe uma a)uda alou Namieson. (leprovavelmente nunca usou tra)e espacial. ( certamente terá alguma bagagem.

Qheeler icou sentado no lugar do motorista e observou seu amigo trepar pelarocha em direç%o ao monotrilho. A porta da esclusa de ar de emergência domonotrilho abriuse e um homem desceu, um tanto inseguro, para a 0ua. -elamaneira como se movia, Qheeler pode ver imediatamente que nunca antes estiveraem bai*a gravidade.

#teanson carregava uma grossa pasta e uma grande cai*a de madeira, quetratava com o má*imo cuidado. Namieson oereceuse para livrálo desses estorvos,mas #teanson recusou separarse deles. #ua nica outra bagagem era umapequena mala de viagem, que dei*ou Namieson carregar.

 As duas iguras desceram com a)uda das m%os pela rampa rochosa e Qheeleracionou a esclusa de ar para dei*álos entrar. 5 monotrilho, tendo entregue suacarga, voltou para o sul e rapidamente desapareceu pelo caminho por onde viera.-arecia, pensou Qheeler, que o maquinista estava com muita pressa de voltar paracasa. !unca vira um dos carros correr t%o velozmente e, pela primeira vez, começoua ter vaga suspeita da tempestade que se armava sobre aquela pac&ica paisagembatida pelo sol. "esconiou que n%o eram eles os nicos que compareciam a umencontro no -ro)eto /hor.

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/inha raz%o. 6em alto no espaço, muito acima do plano em que lutuam a /erra eos planetas, o comandante das orças ederais estava reunindo sua minscula rota. Assim como um gavi%o circula sobre a presa nos momentos que precedem suarápida descida, o Comodoro 6rennan, até pouco tempo antes -roessor de(ngenharia (létrica na 1niversidade de ;esperus, mantinha suas naves pairandosobre a 0ua.

 Aguardava o sinal que ainda esperava nunca chegasse.

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1"

5 "outor Carl #teanson n%o parou para perguntar a si pr'prio se era um homemcora)oso. !unca antes em sua vida conhecera a necessidade de virtude t%o primitivaquanto a coragem &sica e estava agradavelmente surpreendido com sua calma,agora que a crise quase chegara. "entro de poucas horas, provavelmente estariamorto. A idéia causavalhe mais aborrecimento do que medoE havia tanto trabalhoque dese)ava azer, tantas teorias a serem submetidas a prova. #eria maravilhosovoltar $ pesquisa cient&ica, depois da corrida de ratos dos dois ltimos anos. Masisso era devaneioE mera sobrevivência era o má*imo que podia esperar agora.

 Abriu sua pasta e tirou as olhas de diagramas de instalaç%o e esquemas decomponentes. 1m pouco divertido, notou que Qheeler olhava com ranca curiosidadeos comple*os circuitos e as etiquetas com a inscriç%o #7R705#5 coladas neles. 6em,agora havia pouca necessidade de segurança e o pr'prio #teanson n%o poderia terencontrado muito sentido naqueles circuitos, se n%o tivessem sido inventados porele.

5lhou de novo para a cai*a a im de ter certeza de que estava bem amarrada.!ela, com toda probabilidade, residia o uturo de mais de um mundo. Huantosoutros homens )á haviam sido mandados em miss%o como essaG #teanson n%oconseguiu lembrarse sen%o de dois e*emplos, ambos nos dias da #egunda RuerraMundial. ;ouve um cientista britnico que levou através do Atlntico uma pequena

cai*a contendo o que posteriormente oi chamado de o mais valioso carregamentoaté ent%o chegado $s praias dos (stados 1nidos. (ra o primeiro magnetron decavidade, invenç%o que ez do radar a armachave da guerra e destruiu o poder de;itler. "epois, alguns anos mais tarde, houve um avi%o que voou através do Atlnticoaté a ilha de /inian, carregando quase todo o urnio T livre que e*istia ent%o.

Mas nenhuma dessas miss+es, apesar de toda sua importncia, tinha a urgênciada sua.

#teanson trocara apenas algumas palavras de cumprimento ormal com Namiesone Qheeler, e*pressando seu agradecimento pela cooperaç%o deles. !ada sabia sobreeles, e*ceto que eram astrBnomos do 5bservat'rio que se oereceram comovoluntários para realizar aquela viagem. Como eram cientistas, certamente teriamcuriosidade de. saber o que ele estava azendo ali e n%o icou surpreendido quandoNamieson entregou os controles a seu colega e desceu do lugar do motorista.

!%o será muito incomodo daqui por diante disse Namieson. Chegaremos aesse lugar chamado /hor dentro de uns vinte minutos. 7sso convém para o senhorG

#teanson respondeu airmativamente com a cabeça. J melhor do que esperávamos quando aquela maldita nave quebrou. 5 senhor

provavelmente receberá uma medalha especial por isto.  !%o estou interessado disse N Namieson riamenteE /udo quanto dese)o é azer

o que é direito. 5 senhor tem certeza absoluta de que está azendo o mesmoG#teanson olhou para ele surpreendido, mas demorou apenas um instante paracompreender a situaç%o. Ná encontrara antes o tipo de Namieson entre os homens

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mais )ovens de seu pr'prio pessoal. (sses idealistas passavam todos pelas mesmascrises de consciência. ( todos as superavam quando icavam mais velhos. Fs vezesele se perguntara se isso era uma tragédia ou uma bênç%o.

5 senhor está me pedindo que preve)a o uturo respondeu em voz bai*a. Namais um homem pBde dizer se, a longo prazo, seus atos causar%o bem ou mal.Mas eu estou trabalhando para a deesa da /erra e se houver um ataque partirá da

Dederaç%o, n%o de n's. -enso que o senhor deve ter isso em mente. Mas n's n%o o teremos provocadoG Até certo ponto, talvez... mas aqui também há muita coisa a dizer de ambos os

lados. 5 senhor pensa nos ederais como pioneiros de olhos cintilantes, construindonovas e maravilhosas civilizaç+es lá nos planetas. (squecese de que eles tambémpodem ser rudes e inescrupulosos. 0embrese de como nos orçaram a sair dosasteroides, recusando transportar suprimentos, a n%o ser por ta*as e*orbitantes. Ie)a como nos tornaram di&cil mandar naves além de Npiter... virtualmenteinterditaram três quartos do. sistema solarU #e conseguirem tudo quanto dese)am,icar%o intoleráveis. 3eceio que eles tenham pedido uma liç%o e n's esperamos dála.

J uma pena termos chegado a isso, mas eu n%o ve)o alternativa.5lhou para seu rel'gio, viu que )á estava quase na hora e acrescentou8 5 senhor

n%o ará quest%o de ligar no noticiárioG (u gostaria de ouvir as ltimas not&cias.Namieson ligou o aparelho e girou o sistema de antena na direç%o da /erra. ;avia

boa quantidade de ru&do do undo solar, pois a /erra estava agora quase em linhacom o sol, mas a pura potência da estaç%o tornava a mensagem pereitamenteintelig&vel e n%o havia o menor traço de ading.

#teanson icou surpreendido ao ver que o cron'grao do trator estava mais deum segundo adiantado. "epois percebeu que ele era acertado por aquele h&brido deestranho nome, ;ora RreenWich 0unar. 5 sinal que estava ouvindo acabara de

percorrer os VV.VVV quilBmetros que separavam a 0ua da /erra. (ra uma rialembrança de como estava distante de sua casa.

"epois houve uma demora t%o longa que Namieson aumentou o volume paraveriicar se o aparelho ainda estava uncionando. Ap's um minuto inteiro, o locutoralou, com sua voz esorçandose desesperadamente para ser t%o impessoal comosempre.

Aqui é a /erra alando. A seguinte declaraç%o oi divulgada em ;aia8A Dederaç%o /riplanetária comunicou ao Roverno da /erra que pretende apossar

se de certas porç+es da 0ua e que qualquer tentativa de resistência será enrentadapela orça.

(ste Roverno está adotando todas as medidas necessárias para preservar aintegridade da 0ua. !ovo comunicado será divulgado t%o logo quanto poss&vel. !omomento, é acentuado que n%o e*iste perigo imediato, pois n%o há naves hostis amenos de vinte horas da /erra.

Aqui é a /erra. Continuem ouvindo.Dezse repentino silêncio. #' o sibilar da onda portadora e os ocasionais estalidos

da estática solar ainda saiam do altoalante. Qheeler izera o trator parar a im depoder ouvir o comunicado. "e seu lugar de motorista, olhou para o pequeno quadrona cabina embai*o. #teanson itava os diagramas de circuitos estendidos sobre amesa do mapa, mas evidentemente n%o os estava vendo. Namieson ainda estavaparado com a m%o sobre o controle do volume. !%o se movera desde o in&cio docomunicado. "epois, sem dizer uma palavra, subiu para a cabina de direç%o esubstituiu Qheeler.

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-ara #teanson pareceu haver transcorrido séculos, antes que Qheeler ochamasse8

(stamos quase chegandoU 5lhe... bem na rente.Doi até a vigia de observaç%o na rente e olhou através do terreno rachado e

partido. Hue lugar para se combater, pensou. Mas, naturalmente, aquele deserto nude lava e poeira de meteoros era apenas um disarce. (mbai*o dele, a !atureza

escondera tesouros que homens haviam levado duzentos anos para descobrir. /alvezosse melhor se nunca os tivessem descoberto...

 Ainda dois ou três quilBmetros $ rente, a grande cpula de metal cintilava $ luzdo sol. Iista desse ngulo, tinha uma aparência espantosa, pois o segmento nasombra era t%o escuro que icava quase invis&vel. F primeira vista, parecia de atoque a cpula ora cortada em duas por alguma enorme aca. 5 lugar inteiro pareciainteiramente deserto, mas no interior, sabia #teanson, havia uma colmeia de uriosaatividade. 3ezou para que seus assistentes tivessem completado a ligaç%o doscircuitos de energia e submodular

#teanson começou a a)ustar o capacete de seu tra)e espacial, que n%o se dera ao

trabalho de tirar depois de ter entrado no trator. Dicou em pé atrás de Namieson,segurandose em uma das prateleiras de armazenagem para irmarse.

Agora que estamos aqui, o m&nimo que posso azer é dei*ar que os senhoresentendam o que aconteceu disse ele, azendo um gesto em direç%o $ cpula que seapro*imava rapidamente. (ste lugar começou como uma mina e ainda o é.Conseguimos uma coisa que nunca ora eita antes... abrir um ori&cio de cemquilBmetros de proundidade, diretamente através da crosta da 0ua até dep'sitos demetal realmente ricos.

Cem quilBmetrosU e*clamou Qheeler. 7sso é imposs&velU !enhum ori&cio poderia icar aberto sob tal press%o,

-ode icar e ica replicou #teanson. !%o tenho tempo para discutir a técnica,mesmo que eu conhecesse muita coisa a respeito. Mas lembrese de que é poss&velna 0ua abrir um ori&cio seis vezes mais undo do que na /erra, antes que ele seeche. /odavia, isso é apenas parte da hist'ria. 5 verdadeiro segredo reside no quechamam de mineraç%o de press%o. F medida que é aundado, o poço é enchido comum pesado 'leo de sil&cio, da mesma densidade que as rochas em volta. Assim, pormais undo que se vá, a press%o é a mesma dentro e ora, n%o havendo tendência deo buraco echarse. Como muitas ideias simples, e*igiu muita aptid%o para ser postaem prática. /odo o equipamento de operaç%o precisa uncionar submerso, sobenorme press%o, mas os problemas est%o sendo resolvidos e acreditamos poder

e*trair metais em quantidades que valham a pena. A Dederaç%o soube que isso estava acontecendo há mais ou menos dois anos

atrás. Acreditamos que os ederais tentaram a mesma coisa, mas sem a menor sorte.-or isso, decidiram que, se n%o podem partilhar deste tesouro, n's também n%o oteremos. #ua pol&tica parece consistir em intimidarnos para obter nossa cooperaç%oe isso n%o vai dar resultado.

(sses s%o os antecedentes, mas agora representam apenas a parte menosimportante da hist'ria. (*istem armas aqui também. Algumas oram conclu&das ee*perimentadas, outras est%o $ espera do a)ustamento inal. (stou levando oscomponenteschave para a arma que talvez se)a decisiva. J por isso que a /erra

talvez contraia com os senhores uma d&vida maior do que poderá pagar. !%o meinterrompa... estamos quase chegando e isto é o que realmente dese)o dizerlhes. 5rádio n%o estava dizendo a verdade a respeito daquelas vinte horas de segurança.

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7sso é o que a Dederaç%o quer que n's acreditemos e esperamos que pense queestamos sendo enganados. Mas n's localizamos suas naves, que se apro*imam comuma velocidade maior do que aquela em que qualquer coisa )á se movimentou noespaço. 3eceio que eles tenham um novo e undamental método de propuls%o... s'espero que isso n%o lhes tenha dado também novas armas. !'s n%o dispomos demuito mais de três horas, antes que eles cheguem aqui... presumindose que n%o

tenham aumentado ainda mais sua velocidade. 5s senhores poderiam icar, mas parasua pr'pria segurança aconselhoos a virar e voltar o mais depressa poss&vel para o5bservat'rio. #e alguma coisa começar a acontecer enquanto ainda estiverem emterreno aberto, procurem proteç%o o mais depressa poss&vel. (ntrem em umaenda... em qualquer lugar onde possam encontrar abrigo... e iquem lá até tudoestar terminado. Agora adeus e boasorte. (spero ainda ter uma oportunidade de meencontrar com os senhores quando este neg'cio estiver liquidado.

 Ainda segurando irmemente sua misteriosa cai*a, #teanson desapareceu naesclusa de ar, antes que qualquer dos dois homens pudesse alar. (stavam agorainteiramente $ sombra da grande cpula e Namieson circundoua procurando uma

abertura. Dinalmente reconheceu o lugar por onde ele e Qheeler haviam entrado eparou Derdinand. A porta e*terna do trator abriuse e o indicador de (sclusa livre acendeu. Iiram

#teanson correr em direç%o $ cpula e, em pereita sincronizaç%o, uma portinholacircular abriuse para dei*álo entrar, depois se echou com uma batida em seguida $sua passagem.

5 trator icou sozinho na enorme sombra do edi&cio. (m nenhum outro lugar haviasinal de vida, mas de repente a estrutura de metal da máquina começou a vibrarcom requência irmemente crescente. 5s medidores no painel de controle oscilaramloucamente, as luzes escureceram e depois tudo passou. /udo voltou $ normalidade,

mas um tremendo campo de orça sa&ra da cpula e ainda agora se e*pandia noespaço. "ei*ou os dois homens com uma esmagadora impress%o de energiasesperando o sinal para sua descarga. Começaram a compreender a urgência daadvertência de #teanson. /oda a paisagem deserta parecia tensa de e*pectativa.

 Através da plan&cie escarpadamente curva, o trator, como um minsculo besouro,correu para a segurança dos montes distantes. Mas poderiam eles ter certeza deencontrar segurança mesmo láG Namieson duvidava. 0embrouse das armas que aciência produzira mais de dois séculos antes. #eriam meramente os alicerces sobreos quais poderiam ser constru&das as artes de guerra do presente. 5 solo silencioso $sua volta, agora ardendo sob o sol do meiodia, talvez logo osse queimado porradiaç+es ainda mais violentas.

Dez o trator avançar em direç%o aos contraortes de -lat%o, que se erguiam nohorizonte como uma ortaleza de gigantes. Mas a verdadeira ortaleza estava atrás,preparando suas armas desconhecidas para a prova que deveria vir.

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1#

 Aquilo nunca teria acontecido se Namieson estivesse pensando mais na direç%o emenos em pol&tica embora, naquelas circunstncias, diicilmente pudesse serculpado. 5 terreno $ rente parecia plano e irme e*atamente igual aos quilBmetrosque )á haviam percorrido em segurança.

(ra plano, mas n%o era mais irme do que água. Namieson soube o que haviaacontecido no momento em o motor de Derdinand começou a disparar e a rente dotrator desapareceu em uma grande nuvem de poeira. /odo o ve&culo inclinouse paraa rente, começou a balançarse loucamente de um lado para outro e depois perdeuvelocidade, apesar de tudo quanto Namieson pBde azer. Como um navionauragando em mar bravio, começou a aundar. Aos olhos horrorizados de Qheeler,pareciam estar entrando em bai*o de rodopiantes nuvens de espuma. (m segundos,a luz do sol $ sua volta desapareceu. Namieson parara o motor. !o silêncio rompido

apenas pelo murmurio dos circuladores de ar, estavam aundando abai*o dasuper&cie da 0ua.

 As luzes da cabina acenderamse quando Namieson encontrou a chave. -or ummomento os dois homens permaneceram muito aturdidos para azer alguma coisa, an%o ser icarem sentados e entreolharemse impotentemente. "epois Qheelercaminhou, n%o com muita irmeza, até a mais pr'*ima )anela de observaç%o. Absolutamente nada conseguiu ver. !%o havia noite mais escura do que essa. -areciaque uma lisa cortina de veludo estava estendida sobre o outro lado do grossoquartzo da )anela.

"e repente, com uma delicada, mas clara batida, Derdinand chegou ao undo.

Rraças a "eus disse Namieson, respirando. !%o é muito undo. "e que nos adianta issoG perguntou Qheeler, mal ousando acreditar que havia

alguma esperança. 5uvira muitas hist'rias horr&veis sobre esses traiçoeiros tanquesde poeira e sobre homens e tratores engolidos por eles.

5s tanques de poeira lunares s%o, elizmente, menos comuns do que se poderiaimaginar pelas hist'rias de alguns via)antes, pois s' podem ocorrer em condiç+esbastante especiais, que mesmo ho)e n%o s%o pereitamente compreendidas. -ara queum deles se)a eito é necessário começar com uma cratera rasa na espécie certa derocha e depois esperar algumas centenas de milh+es de anos, enquanto asmudanças de temperatura entre noite e dia pulverizem vagarosamente as camadas

da super&cie. F medida que continua esse processo milenar, é produzida um espéciede poeira cada vez mais ina, até inalmente começar a escorrer como l&quido eacumularse no undo da cratera. (m quase todos os sentidos é, de ato, um l&quido.J t%o incrivelmente ina que se or recolhida em um balde escorrerá em volta comoum 'leo bastante ino. F noite podem ser observadas correntes de convecç%ocirculando nela, quando as camadas superiores esriam e descem, enquanto a areiamais quente do undo sobe $ super&cie. (ste eeito torna ácil localizar os tanques depoeira, pois detectores de raios inravermelhos podem ver sua radiaç%o anormal decalor $ distncia de vários quilBmetros. "e dia, porém, este método é intil, devidoao eeito dissimulador do sol.

!%o há necessidade de icar alarmado disse Namieson, embora ele pr'prio n%oparecesse nada eliz. -enso que poderemos sair daqui. "eve ser um tanque muitopequeno, sen%o teria sido localizado antes. #up+ese que esta área tenha sido

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inteiramente marcada. J suicientemente grande para engolirnos. #im, mas n%o se esqueça de como é esse material. (nquanto pudermos

conservar os motores em uncionamento teremos probabilidade de sair... como umtanque submarino subindo para a praia. 5 que me preocupa é saber se devemos irem rente ou tentar voltar.

#e avançarmos, poderemos aundar mais. !%o necessariamente. Como eu disse, deve ser um tanque muito pequeno e

nosso impulso talvez nos tenha levado a mais de metade de sua e*tens%o. "e quelado você acha que o undo está agora inclinadoG

A rente parece ser um pouco mais alta do que a parte de trás. J o que eu pensava. Iou para a rente... assim podemos ter também mais orça.Com muita delicadeza Namieson engatou a embreagem na marcha mais raca

poss&vel. 5 trator sacudiuse e protestou, saltou para a rente alguns cent&metros,depois parou de novo.

(u receava isso disse Namieson. !%o podemos manter um avanço constante.

/eremos que ir aos saltos. 3eze pelo motor... para n%o alar na transmiss%o. Abriram caminho para rente em arrancos angustiosamente lentos, depoisNamieson desligou completamente os motores.

-or que ez issoG perguntou Qheeler ansioso. -arec&amos estar avançado. #im, mas estávamos também icando muito quentes. (sta poeira é um isolador

de calor quase pereito. /eremos que esperar um minuto até esriarmos.!enhum deles sentia vontade de conversar, quando se sentaram na cabina

brilhantemente iluminada que bem poderia, reletiu Qheeler, transormarse em seutmulo. (ra irBnico que tivessem encontrado esse contratempo quando estavamcorrendo $ procura de segurança.

5uviu esse barulhoG perguntou Namieson de repente. "esligou o circulador dear de modo que o interior da cabina caiu em completo silêncio.1m som raqu&ssimo chegava através das paredes. (ra uma espécie de rugido

sussurrante e Qheeler n%o conseguiu imaginar o que seria. A poeira está começando a subir. J muito instável... sabeG .. e mesmo uma

pequena quantidade de calor é suiciente para iniciar correntes de convecç%o. Acredito que estamos provocando um pequeno gêiser no alto... a)udará alguém adescobrirnos se vierem procurar.

-elo menos, era um pequeno consolo. /inham ar e alimentos para muitos dias todos os tratores levavam uma grande reserva de emergência e o 5bservat'rioconhecia sua posiç%o apro*imada. Contudo, antes de muito tempo o 5bservat'riotalvez tivesse suas pr'prias complicaç+es e osse incapaz de preocuparse com eles...

Namieson ligou de novo o motor e o resistente ve&culo começou a abrir caminhopara a rente através da seca areia movediça que os envolvia. (ra imposs&vel saberquanto progresso estavam azendo, e Qheeler n%o ousava imaginar o queaconteceria se os motores alhassem. As lagartas do caterp&lar trituravam a rochaembai*o deles e todo o trator se sacudia e gemia sob o intolerável peso.

/ranscorreu quase uma hora, antes que tivessem certeza de estar indo a algumlugar. 5 undo do trator estava se inclinando decididamente para cima, mas n%ohavia meio de saber quanto estavam abai*o da super&cie quase l&quida em que seencontravam ainda submersos. -oderiam emergir a qualquer momento para a

abençoada luz do dia... ou poderiam ter ainda uma centena de metros a atravessarnaquele passo de lesma.

Namieson estava parando para intervalos cada vez mais demorados, o que talvez

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reduzisse a tens%o sobre o motor, mas em nada contribu&a para reduzir a dospassageiros. (m uma dessas pausas, Qheeler perguntoulhe rancamente o queariam se n%o avançasse mais.

/emos apenas duas possibilidades respondeu Namieson. -odemos permaneceraqui e esperar sermos socorridos... o que n%o é t%o ruim como parece, pois nossorastro tornará evidente o lugar onde estamos. A outra alternativa é sair.

HueGU 7sso é imposs&velU Absolutamente n%o é. Conheço um caso em que oi eito. #eria como escapar de

um submarino aundado. J uma idéia horr&vel... tentar nadar através dessa substncia. (u ui uma vez apanhado por uma avalancha de neve quando era menino, por

isso calculo como seria. 5 grande perigo seria perder a direç%o e debaterse emc&rculos até icar e*austo. (speremos que n%o se)a preciso tentar a e*periência.

Dazia muito tempo, concluiu Qheeler, que n%o ouvira alguém diminuir tanto agravidade dos atos.

 A cabina de direç%o emergiu acima do n&vel da poeira cerca de uma hora maistarde e nenhum outro homem poderia ter saudado com tanta alegria o sol. Masainda n%o haviam chegado $ segurança. (mbora Derdinand pudesse desenvolvermaior velocidade $ medida que diminu&a a resistência, poderia ainda haverproundezas insuspeitas $ sua rente.

Qheeler observou com ascinada repulsa enquanto aquela horr&vel substnciaredemoinhava em volta do trator. Fs vezes era imposs&vel acreditar que n%oestivessem abrindo caminho $ orça através de um l&quido e s' a lentid%o com quese moviam pre)udicava a ilus%o. -erguntou a si pr'prio se valeria a pena sugerir queos uturos tratores tivessem linhas mais aerodinmicas para melhorar suas

possibilidades em emergências como aquela. Huem poderia ter sonhado, na /erra,que viesse a ser necessária uma coisa dessa espécieGDinalmente Derdinand raste)ou para a segurança da terra seca que, ainal de

contas, n%o era mais seca do que o lago mortal de onde haviam escapado. Namieson,quase esgotado pela tens%o, debruçouse sobre o painel de controle. A reaç%odei*ara Qheeler abalado e raco, mas sentiase t%o agradecido por estar ora deperigo que n%o se dei*ou aborrecer por isso.

(squecerase, no al&vio de ver novamente luz do sol, de que haviam dei*ado o-ro)eto /hor três horas antes e percorrido menos de vinte quilBmetros.

 Ainda assim, talvez tivessem conseguido salvarse. Mas mal haviam começado aavançar de novo e estavam raste)ando sobre o topo de uma serra bastante suave,quando houve um rangido de metal rasgandose e Derdinand tentou girar. Namiesondesligou o motor instantaneamente e o trator parou com o lado voltado para adireç%o de onde vinham.

( isso disse N Namieson bai*inho é sem a menor dvida o im. Mas acho quen%o estamos em condiç+es de nos quei*ar. #e a transmiss%o de estibordo tivessepartido quando ainda estávamos naquele tanque de poeira...

!%o concluiu a rase, mas virouse para a vigia de observaç%o que dava para atrilha que haviam dei*ado atrás. Qheeler seguiu seu olhar.

 A cpula do -ro)eto /hor ainda era vis&vel no horizonte. /alvez )á tivessemaproveitado demais sua sorte... mas seria bom se pudessem ter posto a protetora

curva da 0ua entre eles e as tempestades desconhecidas que lá se armavam.

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 Até ho)e, pouca coisa oi revelada sobre as armas usadas na 6atalha do -ico.#abese que m&sseis desempenharam apenas pequeno papel no encontro. !a guerraespacial qualquer coisa que n%o se)a um impacto direto é quase intil, pois nadae*iste para transmitir a energia de uma onda de choque. 1ma bomba atBmica,e*plodindo a algumas centenas de metros de distncia, n%o pode causar o menordano de e*plos%o e mesmo sua radiaç%o pode causar pouco dano a estruturas bemprotegidas. Além disso, tanto a /erra como a Dederaç%o tinham meios eicazes paradesviar pro)éteis comuns.

 Armas puramente imateriais desempenharam os papéis mais eicientes. A mais

simples delas eram os ei*es de &ons, desenvolvidos diretamente das unidades depropuls%o das espaçonaves. "esde a invenç%o das primeiras válvulas de rádio, quasetrês séculos antes, os homens haviam aprendido a produzir e ocalizar correntes cadavez mais concentradas de part&culas carregadas. 5 cl&ma* ora atingido na propuls%ode nave espacial com o chamado oguete de &ons, que gerava seu impulso pelaemiss%o de intensos ei*es de part&culas eletricamente carregadas. A natureza mortaldesses ei*es causara muitos acidentes no espaço, embora eles ossemdeliberadamente desocalizados para limitar seu alcance eetivo.

;avia, naturalmente, uma resposta 'bvia para tais armas. 5s campos elétricos emagnéticos que as produziam podiam também ser usados para sua dispers%o,

transormandoas de ei*es aniquiladores em borrios dispersos e inoensivos.Mais eicientes, porém mais di&ceis de produzir, eram as armas que usavamradiaç%o pura. /odavia, mesmo nisso, tanto a /erra como a Dederaç%o haviam obtidoê*ito. 3estava ver qual delas realizara trabalho melhor a superior ciência daDederaç%o ou a maior capacidade produtiva da /erra.

5 Comodoro 6rennan tinha pereita noç%o de todos esses atores quando suapequena rota convergiu para a 0ua. Como todos os comandantes, ia entrar em aç%ocom menos recursos do que dese)aria ter. "e ato, preeria n%o entrar em aç%o demaneira alguma.

 A nave de passageiros adaptada, (ridanus, e o cargueiro 0ete, em grande partereconstru&do anteriormente registrados no 0lo9d como (strela Matutina e 3igel estariam agora avançando entre a /erra e a 0ua em seus cursos cuidadosamenteplane)ados. !%o sabia se ainda contavam com o elemento de surpresa. Mesmo quetivessem sido percebidos, a /erra talvez n%o soubesse da e*istência dessa terceira emaior nave, a Aqueronte. 6rennan gostaria de saber que romntico com gosto pormitologia era responsável por esses nomes provavelmente o Comissário Churchill,que azia quest%o de emular seu amoso ancestral de todas as maneiras que podia.Contudo, n%o eram inapropriados. 5s rios da Morte e do (squecimento... #im, essaseram coisas que aquelas naves poderiam levar a muitos homens, antes que se

passasse outro dia...5 /enente Curtis, um dos poucos homens da tripulaç%o que passara realmente a

maior parte de sua vida de trabalho no espaço, ergueu os olhos da mesa de

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comunicaç+es. Mensagem que acaba de ser captada da 0ua, senhor. "irigida a n's.6rennan sentiuse muito abalado. #e haviam sido localizados, certamente seus

adversários n%o os desprezavam tanto a ponto de admitir claramente o atoU 5lhourapidamente para a mensagem, depois soltou um suspiro de al&vio.

"5 56#(3IA/P375 -A3A D("(3AO@5. "(#(N5 0(M63A30;(# (X7#/\!C7A "(7!#/31M(!/5# 7!#16#/7/1_I(7# (M -0A/@5. /AM6JM /5"5 5 -(##5A0 "556#(3IA/P375 A7!"A AH17. MAC0A137!, "73(/53.

!%o me assuste assim novamente, Curtis ,disse o Comodoro. -ensei que vocêquisesse dizer que era transmitida para mim. 5deio pensar que possam ternospercebido a esta distncia.

"esculpe, senhor. \ apenas uma transmiss%o geral. Ainda a est%o transmitindono comprimento de onda do 5bservat'rio.

6rennan entregou a mensagem a seu controlador de operaç+es, Capit%o Merton. Hue pensa distoG Iocê trabalhou lá, n%o trabalhouGMerton sorriu ao ler a mensagem.

Muito pr'prio de Maclaurin. (m primeiro lugar os instrumentos, em segundo opessoal. (u n%o estou muito preocupado. Darei o poss&vel para n%o acertar nele.-ensando bem, cem quilBmetros n%o é uma margem ruim de segurança. A menosque ha)a um impacto direto com uma arma e*traviada, eles n%o tem o menor motivopara preocupaç%o. (st%o muito bem enterrados, como o senhor sabe.

5 ponteiro implacável do cronBmetro estava ceiando os ltimos minutos. Aindaconiante em que sua nave, encerrada em seu casulo de noite, ainda n%o orapercebida, o Comodoro 6rennan observou as três centelhas de sua rota avançar aolongo de suas rotas determinadas na esera de acompanhamento. Namais haviaimaginado que esse seria o seu destino ter a sorte dos mundos em suas m%os.

Mas n%o estava pensando nas orças que dormiam nos bancos do reator,aguardando suas ordens. !%o se preocupava com o lugar que teria na hist'riaquando homens recordassem esse dia. Apenas perguntava a si pr'prio, como sempreizeram todos os que entram em batalha pela primeira vez, onde estaria no diaseguinte $ mesma hora.

 A menos de um milh%o de quilBmetros de distncia, Carl #teanson estavasentado a uma mesa de controle e observava a imagem do sol, captada por uma dasnumerosas cmaras que eram os olhos do -ro)eto /hor. 5 grupo de cansadostécnicos, em pé ao seu redor, havia quase completado o equipamento antes de suachegada. Agora as unidades discriminadoras que trou*era da /erra com t%o

desesperada pressa estavam ligadas ao circuito.#teanson girou um bot%o e o sol desapareceu. -assou da posiç%o de uma cmarapara outra, mas todos os olhos da ortaleza estavam igualmente cegos. A coberturaera completa.

Cansado demais para sentir qualquer satisaç%o, recostouse em sua poltrona e ezum gesto em direç%o aos controles.

Agora, cabe aos senhores. A)ustem de modo que passe luz suiciente para vis%o,mas que proporcione total re)eiç%o do ultravioleta para cima. /emos certeza de quenenhum de seus ei*es tem potência eetiva muito além de mil Angstrons. (lesicar%o muito surpreendidos quando todo seu material or repelido. "ese)aria apenasque pudéssemos mandálo de volta para o lugar de onde vieram.

Rostaria de saber que aparência temos, vistos de ora quando a tela está ligada disse um dos engenheiros.

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(*atamente igual a um espelho reletor pereito. (nquanto continuar reletindo,estaremos seguros contra radiaç%o pura. 7sso é tudo quanto posso prometer7lhes.

#teanson olhou para seu rel'gio. #e o #erviço #ecreto está certo, temos ainda uns vinte minutos. Mas n%o

devemos contar com isso.

-elo menos Maclaurin sabe onde estamos agora disse Namieson, depois dedesligar o rádio. Mas n%o podemos culpálo se n%o mandar alguém tirarnos daqui.

(nt%o que vamos azer agoraG Comer alguma coisa respondeu Namieson, voltando para a minscula cozinha.

-enso que temos esse direito e talvez ha)a uma longa caminhada $ nossa rente.Qheeler olhou nervosamente através da plan&cie, para a distante, mas ainda

claramente vis&vel cpula do -ro)eto /hor. "epois seu quei*o caiu e demorou algunssegundos para acreditar que seus olhos n%o estavam pregandolhe uma peça.

#idU chamou ele. Ienha ver istoU Namieson apro*imouse dele rapidamente e )untos os dois olharam i*amente para o horizonte. 5 hemisério da cpula, que

estava em parte $ sombra, mudara completamente de aparência. (m lugar de umino crescente de luz, mostrava agora uma nica estrela ouscante, como se aimagem do sol estivesse sendo reletida em uma super&cie espelhada pereitamenteesérica.

5 telesc'pio conirmou essa impress%o. A cpula propriamente dita n%o era maisvis&vel. #eu lugar parecia ter sido tomado por essa antástica apariç%o prateada. -araQheeler, parecia e*atamente uma grande gota de mercrio assentada sobre ohorizonte.

(u gostaria de saber como izeram aquilo oi o calmo comentário de Namieson.  Alguma espécie de eeito de intererência, suponho eu. "eve ser parte de seu

sistema de deesa. J melhor irmos andando alou Qheeler ansiosamente. !%o gosto do )eito

disto. #intome horrivelmente e*posto aqui.Namieson começou a abrir armários e tirar suprimentos. Nogou algumas barras de

chocolate e pacotes de carne comprimida para Qheeler. Comece a mastigar um pouco disso alou ele. ` !%o teremos tempo agora para

uma reeiç%o apropriada. J melhor beber também, se estiver com sede. Mas n%obeba muito... você vai icar dentro desse tra)e durante horas e estes n%o s%omodelos de lu*o.

Qheeler estava azendo alguns cálculos mentais. "eviam estar a uns oitenta

quilBmetros da base, com todo o contraorte de -lat%o entre eles e o 5bservat'rio.#im, seria uma longa caminhada... e, ainal de contas, talvez pudessem ,estar emsegurança ali mesmo. 5 trator, que )á lhes servira t%o bem, poderia protegêlos demuitas encrencas.

Namieson pensou na idéia, mas depois re)eitoua. 0embrese do que #teanson disse observou a Qheeler. (le alou para nos

enterrarmos assim que pudéssemos. ( devia saber o que estava alando.(ncontraram uma enda a cinquenta metros do trator, na encosta da serra do lado

oposto $ ortaleza. /inha proundidade suiciente apenas para que icassem com acabeça de ora quando em pé é o undo era suicientemente plano para que se

deitassem. Como trincheira, parecia ter sido eita sob medida e Namieson sentiusemuito eliz quando a localizou. A nica coisa que me preocupa agora disse ele é saber quanto tempo

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precisaremos esperar. J poss&vel que nada aconteça. -or outro lado, se nos pusermosa andar poderemos ser apanhados em terreno aberto longe de um abrigo.

"epois de alguma discuss%o decidiram por um meiotermo. Dicariam com os tra)esespaciais, mas voltariam a sentar dentro de Derdinand onde pelo menos teriamconorto. 0evariam apenas alguns segundos para chegar $ trincheira.

!%o houve aviso de espécie alguma. "e repente as rochas cinzentas eempoeiradas do Mar das Chuvas oram crestadas por uma luz que nunca haviamconhecido em toda sua hist'ria. A primeira impress%o de Qheeler oi de que alguémocalizara um gigantesco holoote sobre o trator. "epois percebeu que a e*plos%o,que eclipsara o sol, ocorrera a muitos quilBmetros de distncia. 6em no alto, acimado horizonte, havia uma bola de brilho violeta, pereitamente esérica, que perdiarapidamente seu ulgor $ medida que se e*pandia. (m segundos reduziuse a umagrande nuvem de gás luminoso. Caiu em direç%o $ beirada da 0ua e quaseimediatamente se aundou abai*o do horizonte como um antástico sol.

!'s omos tolos disse Namieson gravemente. Aquilo era uma ogiva atBmica...talvez )á este)amos mortos.

6obagem replicou Qheeler, embora sem muita coniança. Aquilo oi acinquenta quilBmetros de distncia. 5s raios gama estariam muito racos quandochegassem até n's... e estas paredes n%o s%o mau anteparo.

Namieson n%o respondeuE )á estava a caminho da esclusa de ar. Qheeler começoua seguila, depois se lembrou que havia um detectar de radiaç%o a bordo e voltoupara buscálo. ;averia mais alguma coisa que pudesse ser tilG (m repentinoimpulso, tirou a barra da cortina sobre a pequena alcova que escondia o lavat'rio edepois arrancou o espelho de parede de cima da pia.

Huando se )untou a Namieson, que o esperava impacientemente na esclusa de ar,

entregoulhe o detector, mas n%o se deu ao trabalho de e*plicar o resto de seuequipamento. #' quando )á estavam instalados em sua trincheira, $ qual chegaramsem outros incidentes, é que tornou claro seu prop'sito.

#e há uma coisa que odeio alou petulantemente é n%o ser capaz de ver o queestá acontecendo.

Começou a i*ar o espelho na barra da cortina, usando um arame que tirou de umdos bolsos de seu tra)e. "epois de alguns minutos de trabalho, conseguiu erguerpara ora do buraco um tosco perisc'pio.

(stou conseguindo ver a cpula disse ele com certa satisaç%o. (stáabsolutamente intacta, pelo que posso ver.

"eve estar mesmo `. respondeu Namieson. (les devem ter conseguido e*plodir a bomba de alguma maneira, quando aindase encontrava a quilBmetros de distncia.

/alvez osse apenas um disparo de advertência. !%o é provávelU !inguém desperdiça plutBnio em e*ibiç+es de ogos de arti&cio.

 Aquilo era sério. Rostaria de saber quando será o pr'*imo lance.!%o ocorreu antes de mais cinco minutos. "epois, quase simultaneamente, três

outros deslumbrantes s'is atBmicos e*plodiram no céu. /odos se moviam emtra)et'rias que os levariam diretamente $ cpula, mas muito antes de atingila,dispersaramse em tênues nuvens de vapor.

-rimeiro e segundo assalto em avor da /erra murmurou Qheeler. Rostaria desaber de onde est%o vindo aqueles pro)éteis. #e qualquer deles e*plodir diretamente em cima de n's disse Namieson

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estaremos eitos. !%o se esqueça de que n%o e*iste aqui atmosera para absorver osraios gama.

Hue diz o medidor de radiaç%oG !%o muita coisa ainda, mas eu estou preocupado com aquela primeira e*plos%o,

quando ainda estávamos no trator.Qheeler estava muito ocupado observando o céu para responder. (m algum lugar

lá em cima entre as estrelas, que ele podia ver agora que estava ora do clar%o diretodo sol, deviam encontrarse as naves da Dederaç%o, preparandose para o ataqueseguinte. !%o era provável que as pr'prias naves ossem vis&veis, mas ele talvezpudesse ver suas armas em aç%o.

"e algum lugar além do -ico, seis ei*es de chama ergueramse para o céu comenorme aceleraç%o. A cpula estava lançando seus primeiros pro)éteis, diretamentepara a ace do sol. A 0ete e a (ridanus usavam um truque t%o velho quanto a pr'priaguerra8 apro*imavamse de uma direç%o na qual seu adversário estaria parcialmentecego. Até mesmo o radar poderia ser perturbado pelo undo de intererência solar, eo Comodoro 6rennan arregimentara duas grandes manchas solares como aliadas.

(m segundos os oguetes se perderam no clar%o. -areceram passar minutos."epois a luz do sol abruptamente se multiplicou cem vezes. 5 pessoal na /erra,pensou Qheeler, enquanto rea)ustava os iltros de seu visor, assistirá esta noite a umgrande espetáculo. ( a atmosera, que tanto aborrece os astrBnomos, protegêloáde tudo quanto essas ogivas possam irradiar.

!%o havia meio de se saber se os pro)éteis tinham causado algum dano. A enormee silenciosa e*plos%o poderia terse dissipado inoensivamente no espaço. -ercebeuque aquela ia ser uma estranha batalha. /alvez nunca chegasse sequer a ver asnaves da Dederaç%o, que quase certamente estariam pintadas de cor t%o negraquanto a noite para que n%o pudessem ser detectadas.

"epois ele viu que algo estava acontecendo $ cpula. !%o era mais um cintilanteespelho esérico reletindo apenas a imagem do sol. "ela luz )orrava em todas asdireç+es e sua luminosidade aumentava de segundo em segundo. "e algum lugar noespaço, energia estava sendo lançada sobre a ortaleza. 7sso s' podia signiicar queas naves da Dederaç%o lutuavam diante das estrelas, despe)ando incontáveismilh+es de quilouotes sobre a 0ua. Mas ainda n%o havia sinal delas, pois nadarevelava o curso do rio de energia que corria invis&vel pelo espaço.

 A cpula estava agora t%o brilhante que n%o podia ser olhada diretamente, eQheeler rea)ustou seus iltros. -erguntou a si pr'prio quando ela iria responder aoataque ou se, de ato, poderia azê7o enquanto estivesse sob aquele bombardeio.

"epois viu que o hemisério estava cercado por uma tremulante corona, como umaespécie de descarga por elvios. Huase no mesmo momento a voz de Namiesonecoou em seus ouvidos.

5lhe, Con... bem no altoU"esviou o olhar do espelho e olhou diretamente para o céu. -ela primeira vez,

avistou uma das naves da Dederaç%o. (mbora n%o o soubesse, estava vendo a Aqueronte, a nica espaçonave até ent%o constru&da especiicamente para a guerra.(ra claramente vis&vel e parecia notavelmente pr'*ima. (ntre ela e a ortaleza, comoum escudo impalpável, lutuava um disco que ele viu tornarse vermelhocere)a, emseguida azulbranco e depois da mortalmente cauterizante cor violeta, s' vista na

mais quente das estrelas. 5 escudo oscilava para rente e para trás, dando aimpress%o de estar sendo equilibrado por energias tremendas e opostas. (nquantoitava, esquecido do perigo que corria, Qheeler viu que a nave inteira estava cercada

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por uma raca aura de luz, s' levada $ incandescência nos lugares onde as armas daortaleza a atingiam.

"emorou algum tempo para perceber que havia no céu duas outras naves, cadauma delas protegida por seu pr'prio nimbus lame)ante. A batalha estava começandoa tomar orma8 cada lado testara cautelosamente suas deesas e suas armas, e s'agora se iniciava a verdadeira prova de orça.

5s dois astrBnomos itavam maravilhados as naves semelhantes a bolas de ogom'veis. Ali havia algo totalmente novo algo muito mais importante do que merasarmas. Aquelas naves possu&am um meio de propuls%o que devia tornar o ogueteobsoleto. -odiam pairar im'veis $ vontade, depois moverse em qualquer ngulo emalta aceleraç%o. -recisavam dessa mobilidade. A ortaleza, com todo seuequipamento i*o, tinha muito mais potência do que elas e grande parte de suadeesa. dependia de sua rapidez.

(m absoluto silêncio, a batalha chegava ao seu cl&ma*. Milh+es de anos antes, arocha undida congelarase para ormar o Mar das Chuvas e agora as armas dasnaves transormavamna novamente em lava. "os lados da ortaleza, nuvens de

vapor incandescente eram lançadas para o céu, quando os ei*es dos atacantesgastavam sua ria contra as rochas desprotegidas. (ra imposs&vel dizer que ladoestava causando maior dano. "e vez em quando um anteparo se arrebentava emchamas, quando um raio de calor passava por aço aquecido ao branco. Huando issoacontecia a uma das belonaves, esta se aastava com incr&vel velocidade etranscorriam vários segundos antes que os aparelhos de ocalizaç%o da ortaleza alocalizassem de novo.

/anto Qheeler como Namieson estavam surpreendidos pelo ato de a batalha sertravada a t%o curta distncia. -rovavelmente nunca havia mais de cem quilBmetrosentre os antagonistas e, em geral, muito menos do que isso. Huando se combate

com armas que se deslocam $ velocidade da luz de ato, quando se combate com oemprego da pr'pria luz tais distncias s%o triviais. A e*plicaç%o n%o lhe ocorreu sen%o ao inal do encontro. /odas as armas de

radiaç%o tem uma limitaç%o8 precisam obedecer $ lei do inverso do quadrado dadistncia. #' pro)éteis e*plosivos s%o igualmente eicazes a qualquer distncia deque tenham sido pro)eta dosE se alguém é atingido por uma bomba atBmica, n%o azdierença que ela tenha percorrido dez ou mil quilBmetros.

Mas, duplicandose a distncia de qualquer espécie de arma de radiaç%o, suapotência é dividida por quatro, devido $ dispers%o do ei*e. !%o era de admirar,portanto, que o comandante ederal se apro*imasse de seu ob)etivo até o má*imo a

que se atrevia. A ortaleza, n%o tendo mobilidade, precisava aceitar todo castigo que as naves

pudessem aplicarlhe. Ap's a batalha terse desenvolvido por alguns minutos, eraimposs&vel voltar os olhos desprotegidos para qualquer lugar na direç%o sul. Iezes evezes, as nuvens de vapor da rocha erguiamse para o céu, caindo depois sobre osolo como luminosa umaça. (nquanto espiava através de seus 'culos escuros emanobrava seu tosco perisc'pio, Qheeler viu ent%o uma coisa em que mal pBdeacreditar. (m volta da base da ortaleza, havia um c&rculo de lava que se estendiavagarosamente, derretendo barrancos e pequenas colinas como pedaços de cera.

 Aquela vis%o aterradora êlo compreender, como nenhuma outra coisa izera, a

tremenda potência das armas que estavam sendo empregadas a apenas algunsquilBmetros de distncia. #e mesmo o mais insigniicante rele*o e*traviado daquelasenergias chegasse até onde se encontravam, eles seriam apagados da e*istência t%o

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rapidamente como mariposas em uma chama de o*igênio. As três naves pareciam estar se movendo em um comple*o padr%o tático, de

modo a poderem manter a ortaleza sob o má*imo bombardeio, ao mesmo tempoque reduziam sua oportunidade de revidar. Iárias vezes as naves passaramverticalmente sobre eles e Qheeler retiravase o mais que podia para o undo daenda, temendo que radiaç%o emitida pelos anteparos ca&sse sobre eles. Namieson,que desistira de tentar convencer seu colega a arriscarse menos, raste)ara poralguma distncia ao longo da enda, procurando uma parte mais unda,preerivelmente com boa cobertura. !%o estava t%o distante, porém, a ponto de arocha interceptar as ondas dos rádios dos tra)es espaciais e Qheeler lhe aziacont&nuo comentário sobre a batalha.

(ra di&cil acreditar que todo o encontro ainda n%o durara dez minutos. Huandoe*aminava cautelosamente o inerno no sul, Qheeler notou que o hemisério pareciater perdido um pouco de sua simetria. A princ&pio pensou que um dos geradorespudesse ter alhado, de modo a n%o permitir mais a manutenç%o do campo protetor."epois viu que o lago de lava estava com pelo menos um quilBmetro de e*tens%o e

calculou que toda a ortaleza sa&ra lutuando de suas undaç+es. -rovavelmente osdeensores nem sequer tinham conhecimento desse ato. #eu isolamento, que deviacuidar de calores solares, mal perceberia o modesto calor da rocha undida.

( ent%o começou a acontecer uma coisa estranha8 os raios com que estava sendotravada a batalha n%o eram mais completamente invis&veis, pois a ortaleza n%o seencontrava mais no vácuo. Ao seu redor, a rocha ervente descarregava enormesvolumes de gás, através dos quais o curso dos raios era claramente vis&vel como aluz de holootes em uma noite nebulosa na /erra. Ao mesmo tempo, Qheelercomeçou a notar uma cont&nua chuva de minsculas part&culas $ sua volta. -or ummomento icou perple*o. "epois percebeu que o vapor da rocha estava se

condensando ap's ter sido lançado para o céu. -arecia leve demais para ser perigosoe por isso n%o o mencionou a Namieson somente lhe daria com isso mais ummotivo para preocupaç%o. (nquanto a poeira que ca&a n%o osse muito pesada, oisolamento normal dos tra)es cuidaria dela. (m qualquer caso, provavelmente estavabem ria quando voltava $ super&cie.

 A tênue e temporária atmosera em volta da cpula produzia outro eeitoinesperado. 5casionais relmpagos darde)avam entre o solo e o céu, e*aurindo asenormes cargas estáticas que deviam estar se acumulando em volta da ortaleza. Alguns desses relmpagos teriam sido espetaculares por si s's mas mal eramvis&veis contra as nuvens incandescentes que os geravam.

(mbora acostumado aos eternos silêncios da 0ua, Qheeler ainda assim sentia umaimpress%o de irrealidade $ vista dessas tremendas orças que se enrentavam sem omais ligeiro som. Fs vezes uma delicada vibraç%o chegava até ele, talvez o choqueda lava caindo transmitido pelas rochas. Mas grande parte do tempo, tinha aimpress%o de estar assistindo a um programa de televis%o, com o som desligado.

-osteriormente, mal poderia acreditar que ora tolo a ponto de e*porse aos riscosque estava ent%o correndo. !o momento, n%o sentia o menor medo apenas umaimensa curiosidade e e*citaç%o. Dora cativado, embora n%o o soubesse, pelo mortalencanto da guerra. (*iste nos homens uma tendência atal que, apesar de tudoquando possa dizer a raz%o, az com que seus coraç+es batam mais depressa quando

vêem a bandeira tremulando e ouvem a antiga msica dos tambores.Curiosamente, Qheeler n%o e*perimentava qualquer sentimento de identiicaç%o

como qualquer dos lados. -arecialhe, em sua atual disposiç%o anormalmente

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atigada, que tudo aquilo era uma vasta e impessoal e*ibiç%o preparada para seuespecial bene&cio. #entia algo que se apro*imava de desprezo por Namieson, queestava perdendo tudo para procurar segurança.

/alvez a verdade osse que, tendo acabado de escapar de um perigo, Qheeler seencontrava em um estado de e*altaç%o, semelhante a embriaguez, no qual a idéia derisco pessoal lhe parecia absurda. Conseguira sair do tanque de poeira... nada maispoderia azerlhe mal agora.

Namieson n%o tinha tal consolo. -ouco vira da batalha, mas sentia seu terror egrandeza muito mais proundamente do que seu amigo. (ra tarde demais pararemorso, mas cada vez mais lutava com sua consciência. #entiase urioso com odestino, por havêlo colocado em uma posiç%o na qual sua aç%o talvez tivessedecidido o destino de mundos. (stava urioso, em igual medida, com a /erra e com aDederaç%o por terem dei*ado as coisas chegar a esse ponto. ( sentia seu coraç%odoer quando pensava no uturo para o qual a raça humana talvez estivesse agoracaminhando.

Qheeler nunca icou sabendo por que a ortaleza esperou tanto tempo para usarsua arma principal. /alvez #teanson ou quem se encontrasse no comando estivesse esperando que o ataque abrandasse para poder arriscarse a bai*ar asdeesas da cpula pelo milionésimo de segundo necessário para lançar seu estilete.

Qheeler viuo disparar para cima, como uma s'lida barra de luz apunhalando asestrelas. 0embrouse dos rumores que haviam circulado no 5bservat'rio8 ent%o eraisso que ora visto, darde)ando acima das montanhas. !%o teve tempo para reletirna desconcertante violaç%o das leis de 'tica que esse enBmeno implicava, poisestava itando a nave arruinada sobre sua cabeça. 5 ei*e passara através da 0etecomo se ela n%o e*istisse. A ortaleza peruraraa como um entomologista perurauma borboleta com um alinete.

Dossem quais ossem suas lealdades, era uma coisa terr&vel ver como os anteparosda grande nave desapareceram repentinamente quando seus geradores morreram,dei*andoa indeesa e desprotegida no céu.

 As armas secundárias da ortaleza ca&ram instantaneamente sobre ela, abrindograndes rasgos no metal e queimando sua couraça camada por camada. "epois,muito devagar, ela começou a rumar para a 0ua, ainda bem equilibrada. !inguémsaberá )amais o que a deteve8 provavelmente algum curto circuito em seuscontroles, pois nenhum de seus tripulantes podia ainda estar vivo. "e repente, ela sedesviou para leste em uma longa e lisa tra)et'ria. A essa altura, a maior parte de seucasco ora arrancada e o esqueleto de sua estrutura estava quase completamentee*posto. 5 choque ocorreu, minutos depois, quando ela mergulhou a perderse devista além das Montanhas /enerie. 1ma aurora azulbranca bru*uleou por ummomento abai*o do horizonte e Qheeler esperou que o choque chegasse até ele.

"epois, enquanto olhava para leste, viu uma linha de poeira erguendose daplan&cie, avançando rapidamente em sua direç%o, como que impulsionada por ortevento. A concuss%o estava correndo através da rocha, lançando bem para o alto apoeira da super&cie $ medida que passava. A rápida e ine*orável apro*imaç%odaquela parede que se movia silenciosa, avançando $ velocidade de váriosquilBmetros por segundo, teria sido suiciente para encher de terror qualquer pessoaque n%o conhecesse sua causa. Mas era completamente inoensiva. Huando a rente

da onda o alcançou, oi como se um pequeno tremor de terra tivesse passado. 5 véude poeira reduziu a visibilidade a zero por alguns segundos, depois desapareceu t%odepressa quanto havia chegado.

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Huando Qheeler voltou a olhar para as naves restantes, elas estavam t%odistantes que seus anteparos se haviam reduzido a pequenas bolas de ogo tendocomo undo o zênite. A princ&pio, pensou que estivessem se retirando, depois,abruptamente, os anteparos começaram a e*pandirse quando elas voltaram aoataque sob tremenda aceleraç%o vertical. (m volta da ortaleza, a lava, como umacriatura viva torturada, lançavase loucamente para o céu quando os ei*es de

energia nela penetravam. A Aqueronte e a (ridanus interromperam seu mergulho cerca de um quilBmetro

acima da ortaleza. -or um instante, permaneceram im'veis, depois voltaram )untaspara o céu. Mas a (ridanus ora mortalmente erida, embora Qheeler s' soubesseque um dos anteparos estava diminuindo muito mais devagar do que o outro. Comum sentimento de impotente ascinaç%o, observou a nave atingida cair de novo emdireç%o $ 0ua. -erguntou a si pr'prio se a ortaleza usaria mais uma vez suaenigmática arma ou se os deensores percebiam que era desnecessário.

 A mais ou menos dez quilBmetros de altura, os anteparos da (ridanus parecerame*plodir e ela icou desprotegida, como um torpedo rombudo de metal preto, quase

invis&vel contra o céu. 7nstantaneamente sua tinta absorvedora de luz e a couraçapor bai*o dela oram arrancadas pelo ei*es da ortaleza. A grande nave tornousevermelhocere)a, depois branca. Iirouse de modo que sua proa icou voltada para a0ua e iniciou seu ltimo mergulho. A princ&pio parecia a Qheeler que ela avançavadiretamente para onde ele estava. "epois viu que ela mirava a ortaleza. 5bedecia aoltimo comando de seu capit%o.

Doi quase um impacto direto. A nave agonizante esborrachouse no lago de lava ee*plodiu instantaneamente, engolando a ortaleza em um crescente hemisério dechamas. 7sso, pensou Qheeler, devia certamente ser o im. (sperou que a onda dechoque o alcançasse e novamente observou a parede de poeira correr desta vez

para o norte. 5 choque oi t%o violento que o derrubou e ele n%o via como alguémno ortaleza pudesse ter sobrevivido. Cautelosamente, descansou o espelho que lhedera quase toda sua vis%o da batalha e espiou por cima da beirada de sua trincheira.!%o sabia que o paro*ismo inal ainda estava por vir.

7ncrivelmente a cpula ainda estava lá, embora agora parecesse que parte delaora arrancada. (stava inerte e sem vidaE seus iltros de proteç%o estavam bai*ados,suas energias esgotadas sua guarniç%o, certamente, )á morta. #e assim osse, teriae*ecutado seu trabalho. "a nave ederal restante n%o havia sinal. Ná se retirara emdireç%o a Marte, com seu armamento principal completamente intil e suas unidadesde propuls%o a ponto de alhar. !unca mais combateria mas, nas poucas horas devida que lhe restavam, tinha mais um papel a desempenhar.

(stá tudo acabado, #id alou Qheeler através do rádio de seu tra)e. Agora éseguro sair e olhar.

Namieson subiu para ora de uma enda a cinquenta metros de distncia,segurando o detector de radiaç%o $ sua rente.

Ainda está quente por aqui Qheeler ouviuo resmungar, quase para si pr'prio. Huanto mais cedo nos pusermos a andar, melhor.

#erá seguro voltar ao Derdinand e transmitir uma mensagem pelo rádioG começou Qheeler. "epois parou. Alguma coisa estava acontecendo na cpula.

(m uma e*plos%o semelhante a um vulc%o em erupç%o, o solo abriuse. 1menorme gêiser começou a subir para o céu, lançando grandes pedras a milhares demetros em direç%o $s estrelas .. (rgueuse rapidamente acima da plan&cie, levandouma massa trove)ante de umaça e espuma $ sua rente. -or um momento se elevoucontra o irmamento do sul, como alguma incr&vel árvore que, aspirando chegar ao

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céu, tivesse brotado do solo estéril da 0ua. "epois, quase t%o rapidamente comocrescera, declinou em silenciosa ru&na e seus uriosos vapores dispersaramse noespaço.

 As milhares de toneladas de liquido pesado que mantinham aberto o maisproundo poço )á perurado pelo homem atingiram inalmente o ponto de ebuliç%o,quando as energias da batalha se iltraram na rocha. A mina e*plodira sua tampa t%o

espetacularmente quanto qualquer poço de petr'leo na /erra e provara que umae*celente e*plos%o ainda podia ser provocada sem au*&lio de energia atBmica.

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-ara o 5bservat'rio a batalha n%o oi mais do que um ocasional e distanteterremoto, uma raca vibraç%o do solo que perturbou alguns dos instrumentos maisdelicados, mas n%o causou dano material. 5 dano psicol'gico, porém, oi coisadierente. !ada é t%o desmoralizador quanto saber que grandes e abaladoresacontecimentos est%o ocorrendo, mas icar totalmente ignorante de seu resultado. 55bservat'rio estava cheio de rumores antásticos e o (scrit'rio de #inalizaç%o eraassediado por perguntas. Mas nem mesmo ali havia inormaç+es. /odas astransmiss+es da /erra haviam cessado. /oda a humanidade estava esperando, comoque com a respiraç%o presa, que a ria da batalha cessasse, para que se pudesse

conhecer o vencedor. Hue n%o havia vencedor era coisa que n%o ora prevista.#omente depois que as ltimas vibraç+es cessaram e o rádio anunciou que as

orças da Dederaç%o estavam em plena retirada, Maclaurin permitiu que alguémsubisse $ super&cie. A inormaç%o que desceu, depois da tens%o e e*citaç%o dasltimas horas, oi n%o apenas um al&vio, mas também um considerável anticl&ma*.;avia pequena quantidade de radiatividade intensiicada, mas nem o mais ligeirotraço de perigo. 5 que haveria do outro lado das montanhas era, naturalmente, coisadierente.

 A not&cia de que Qheeler e Namieson estavam em segurança deu tremendoimpulso ao moral do pessoal. "evido a uma interrupç%o parcial das comunicaç+es, os

dois haviam levado quase uma hora para estabelecer contato com o 5bservat'rio. Ademora enureceraos e preocuparaos, pois os dei*ara em dvida se o 5bservat'rioora destru&do. !%o ousaram partir a pé sen%o quando tiveram certeza de haver umlugar para onde ir e Derdinand estava agora e*cessivamente radiativo para servircomo regio seguro.

#adler encontravase nas Comunicaç+es, tentando descobrir o que acontecia,quando a mensagem chegou. Namieson, parecendo muito cansado, ez um breverelato da batalha e pediu instruç+es.

Hual é a leitura de radiaç%o dentro do carroG perguntou Maclaurin. Namiesontransmitiu as ciras. Ainda parecia estranho a #adler que a mensagem precisasse ir

até a /erra apenas para atravessar uma centena de quilBmetros na 0ua e nunca oracapaz de acostumarse com a demora de três segundos que isso causava. Iou mandar a seç%o de sade calcular a tolerncia respondeu Maclaurin. Iocê

diz que a leitura ora é apenas um quarto daquelaG #im... icamos ora do trator o má*imo poss&vel e entramos de dez em dez

minutos para tentar estabelecer contato com vocês. 5 melhor plano é este... mandaremos um trator imediatamente e vocês

começar%o a andar em nossa direç%o. Algum lugar em particular de encontro quevocês queiram atingirG

Namieson pensou por um momento. "iga a seu motorista para dirigirse ao marco do quilBmetro cinco deste lado do

-rospecto Chegaremos lá quase ao mesmo tempo que ele. Conservaremos nossosrádios de modo que n%o haverá probabilidade de n%o nos encontrar.

Huando Maclaurin estava dando suas ordens, #adler perguntou se havia lugar para

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sobreviventes, com e*ceç%o da tripulaç%o da nave ederal. (u receava isso disse Namieson. (nt%o o -ro)eto /hor oi arrasadoG #im, mas penso que e*ecutou seu trabalho. Hue desperd&cio, porém... #teanson e todos aqueles outrosU #e n%o osse eu,

ele provavelmente ainda estaria vivo. (le sabia o que estava azendo... e ez sua pr'pria escolha respondeu #adler,

rispidamente. #im, Namieson ia ser um her'i muito recalcitrante."urante os trinta minutos seguintes, enquanto voltavam a subir pela parede de

-lat%o na viagem para o 5bservat'rio, ele interrogou Qheeler sobre o curso dabatalha. (mbora o astrBnomo s' pudesse ter visto. pequena parte do encontro,devido a seu limitado ngulo de vis%o, sua inormaç%o seria inestimável quanto ostáticos na /erra eetuassem a aut'psia dos acontecimentos.

5 que mais me intriga concluiu Qheeler é a arma que a ortaleza usou paradestruir a belonave. -arecia alguma espécie de ei*e, mas naturalmente isso éimposs&vel. !enhum ei*e de energia pode ser vis&vel no vácuo. ( eu me perguntopor que a usaram s' uma vez. Iocê sabe alguma coisa a respeitoG

3eceio que n%o respondeu #adler, o que n%o era verdade. Ainda sabia poucacoisa sobre as armas da ortaleza, mas aquela era a nica que agora compreendiapereitamente. 6em podia avaliar por que um )ato de metal undido, lançado atravésdo espaço, a uma velocidade de várias centenas de quilBmetros por segundo, pelosmais potentes eletromagnetos )á constru&dos, poderia ter parecido um ei*e de luzrelampe)ando por um instante. ( sabia que era uma arma de curto alcance,destinada a penetrar em campos capazes de desviar pro)éteis comuns. #' poderiaser usada em condiç+es ideais e seriam necessários muitos minutos para recarregaros gigantescos condensadores que orneciam energia aos magnetos.

(sse era um mistério que os pr'prios astrBnomos teriam que resolver. 7maginavaque n%o demorariam muito quando voltassem realmente sua mente para 5 assunto.

5 trator desceu raste)ando cautelosamente pelas &ngremes encostas internas dagrande plan&cie murada e as armaç+es dos telesc'pios apareceram no horizonte. Assemelhavamse, pensou #adler, e*atamente a um par de chaminésU de ábricacercadas por andaimes. Mesmo em sua curta estada ali, icara gostando muito delese passara a pensar neles como personalidades, tal como aziam os homens que osusavam. (ra capaz de partilhar da preocupaç%o dos astrBnomos pela possibilidade deocorrer algum dano $queles soberbos instrumentos, que haviam trazido para a /erraconhecimento de uma centena de milh+es de anosluz no espaço.

1m imponente penhasco escondeu o sol e a escurid%o caiu abruptamente quandoentraram na sombra. !o alto as estrelas começaram a reaparecer, enquanto os olhosde #adler se a)ustavam automaticamente $ mudança na luz. (rgueu os olhos para océu do norte e viu que Qheeler estava azendo a mesma coisa.

!ova "raconis   inclu&ase ainda entre as mais brilhantes estrelas no céu, masestava se apagando depressa. "entro de alguns dias n%o seria mais brilhante do que#&rioE dentro de alguns meses, icaria ora do alcance do olho nu. ;avia alicertamente alguma mensagem, algum s&mbolo meio vislumbrado nas ronteiras daimaginaç%o. A ciência aprenderia muita coisa com !ova "raconis , mas que ensinariaela aos mundos comuns dos homensG

#' isto, pensou #adler. 5s céus podiam resplandecer com portentos, a galá*ia

podia abrasarse com as luzes de estrelas em e*plos%o, mas o homem continuaria acuidar de seus pr'prios neg'cios com sublime indierença. (stava agora ocupadocom os planetas e as estrelas teriam que esperar. !%o se intimidaria com coisa

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alguma que elas pudessem azerE e quando chegasse seu tempo, lidaria com elascomo achasse mais conveniente.

!em os que socorreram nem os que oram socorridos tiveram muita coisa a dizerna ltima etapa da viagem para o 5bservat'rio. Qheeler evidentemente começava asorer o choque retardado e suas m%os adquiriram um tremor nervoso. Namiesonlimitouse a icar sentado e olhar o 5bservat'rio que se apro*imava, como se nuncaantes o tivesse visto. Huando passaram pela longa sombra do telesc'pio de milcent&metros, ele se virou para #adler e perguntou8 Conseguiram pBr tudo emsegurança a tempoG

Creio que sim respondeu #adler. !%o ouvi alar em dano algum.Namieson inclinou a cabeça com ar distra&do. !%o demonstrou o menor sinal de

prazer ou al&vio. Atingira saturaç%o emocional e nada poderia realmente aetáloagora, até que passasse o impacto das ltimas poucas horas.

#adler dei*ouos assim que o trator entrou na garagem subterrnea e dirigiuse $spressas para seu quarto, a im de escrever seu relat'rio. 7sso estava ora de seustermos de reerência, mas sentiase satiseito em poder inalmente azer algumacoisa construtiva.

;avia agora um sentimento de anticl&ma*, uma impress%o de que a tempestadegastara sua ria e n%o voltaria mais. "epois da batalha, #adler sentiase muitomenos deprimido do que se sentira durante dias. -arecialhe que tanto a /erra comoa Dederaç%o deviam estar igualmente intimidadas pelas orças que haviamdesencadeado e que ambas estavam igualmente ansiosas pela paz.

-ela primeira vez desde que dei*ara a /erra, ousava pensar novamente em seuuturo. (mbora n%o pudesse ainda ser inteiramente ignorado, o perigo de um ataque$ pr'pria /erra parecia agora remoto. Neanette estava em segurança e logo elepoderia voltar a vêla. -elo menos poderia contarlhe onde estivera, pois os

acontecimentos haviam tornado absurdo mais segredo.;avia, entretanto, uma insistente rustraç%o na mente de #adler. 5diava dei*ar um

trabalho por azer, mas, pela natureza das coisas, essa sua miss%o poderiapermanecer para sempre incompleta. "aria quase tudo para saber se houvera ou n%oum espi%o no 5bservat'rio...

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 A nave -égaso, com trezentos passageiros e sessenta tripulantes a bordo, estavaapenas a quatro dias da /erra quando a guerra começou e acabou. "urante algumashoras houve grande conus%o e alarma a bordo, quando as mensagens radioBnicasda /erra e da Dederaç%o oram interceptadas. 5 Capit%o ;alstead oi obrigado aadotar medidas irmes com alguns dos passageiros, que dese)avam voltar em lugarde continuar a viagem para Marte e enrentar um uturo incerto como prisioneiros deguerra. !%o era ácil culpálos. A /erra ainda estava t%o pr'*ima que era um belocrescente prateado. tendo a 0ua como um eco mais raco e menor a seu lado.Mesmo dali, a mais de um milh%o de quilBmetros de distncia, as energias que

acabavam de lame)ar sobre a ace da 0ua eram claramente vis&veis e contribu&rammuito pouco para restaurar o moral dos passageiros.

(les n%o eram capazes de compreender que as leis da mecnica celeste n%oadmitem apelo. A -égaso mal se aastara da /erra e estava ainda a semanas de seuob)etivo pretendido. Contudo, atingira sua velocidade orbitante e se lançara comoum gigantesco pro)étil em uma rota que a levaria inevitavelmente a Marte, sob aorientaç%o da gravidade do sol que invadia tudo. !%o podia haver retornoE essa erauma manobra que e*igiria quantidade imposs&vel de combust&vel. A -égaso levavaem seus tanques poeira suiciente para igualar a velocidade de Marte no inal de sua'rbita e permitir razoáveis correç+es do curso na rota. #eus reatores nucleares

podiam ornecer energia para uma dzia de viagens mas pura energia era intil sen%o houvesse massa propulsora para e)etar. Huisesse ou n%o, a -égaso estavadirigida para Marte com a inevitabilidade de um trem descontrolado. 5 Capit%o;alstead n%o previa viagem agradável.

 As palavras MA4"A4, MA4"A4  sa&ram ruidosamente do rádio e baniram todas asoutras preocupaç+es da -égaso e de sua tripulaç%o. "urante trezentos anos, no ar,no mar e no espaço, essas palavras haviam alertado organizaç+es de salvamento,haviam levado capit%es a mudar seu curso e correr em socorro de camaradas emperigo. Mas havia t%o pouca coisa que o comandante de uma espaçonave pudesseazerU (m toda a hist'ria da astronáutica, s' havia três casos de operaç+es de

salvamento bem sucedidas no espaço.(*istem duas raz+es para isso, das quais s' uma é amplamente noticiada pelascompanhias de navegaç%o. J e*tremamente raro um desastre grave no espaçoEquase todos os acidentes ocorrem no pouso ou decolagem. "epois de haver chegadoao espaço e entrado na 'rbita que a levará sem esorço até seu destino, a nave estásegura contra todos os riscos, e*ceto complicaç+es mecnicas internas. /aiscomplicaç+es ocorrem com mais requência do que os passageiros até ho)esouberam, mas em geral s%o triviais e rapidamente resolvidas pela tripulaç%o. /odasas espaçonaves s%o, por lei, constru&das em várias seç+es independentes, qualquerdas quais pode servir como regio em caso de emergência. Assim, o pior que pode

acontecer é passarem todos algumas horas sem conorto, enquanto um irado capit%orespira orte sobre o pescoço de seu oicial de engenharia. A segunda raz%o pela qual salvamentos no espaço s%o t%o raros reside no ato de

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serem quase imposs&veis, pela pr'pria natureza das coisas. (spaçonaves via)am avelocidades enormes em tra)et'rias calculadas com precis%o, que n%o permitemgrandes alteraç+es como os passageiros da -égaso estavam agora começando acompreender. A 'rbita que uma nave segue de um planeta para outro é nicaEnenhuma outra nave seguirá )amais a mesma tra)et'ria, entre os mutáveis padr+esdos planetas. !%o há rotas de navegaç%o no espaço e é de ato raro uma nave

passar a um milh%o de quilBmetros de outra. Mesmo quando isso acontece, adierença de velocidade é quase sempre t%o grande que todo contato se tornaimposs&vel.

/odos esses pensamentos correram pela mente do Capit%o ;alstead quandorecebeu a mensagem da #inalizaç%o. 0eu a posiç%o e a rota do navio em perigo acira da velocidade devia ter sido adulterada na transmiss%o, t%o ridiculamente altaera ela. Huase certamente nada havia que ele pudesse azer estavam muito longe elevariam dias para chegar até eles.

"epois notou o nome no im da mensagem.-ensava estar amiliarizado com todas as naves no espaço, mas essa era nova para

ele. Ditou perple*o a mensagem por um momento, antes de perceber de repentequem estava pedindo sua a)uda...

7nimizade desaparece quando homens est%o em perigo, no mar ou no espaço. 5capit%o ;alstead debruçouse sobre sua mesa de controle e disse8 #inalizaç%oU-onhame em contato com seu capit%o.

(le está no circuito, senhor. -ode continuar.5 Capit%o ;alstead pigarreou. (ra uma e*periência nova e nada agradável. !%o

lhe dava a menor satisaç%o dizer mesmo a um inimigo que nada poderia azer parasalválo.

Capit%o ;alstead, da -égaso, alando começou. Iocês est%o longe demais

para entrar em contato. !ossa reserva operacional é de menos de dez quilBmetrospor segundo. !em preciso computar... posso ver que é imposs&vel. /em algumasugest%oG -or avor, conirme sua velocidade... recebemos uma cira incorreta.

 A resposta, depois de uma demora de quatro segundos, que parecia duplamenteenlouquecedora naquelas circunstncias, oi inesperada e espantosa.

Aqui é o Comodoro 6rennan, do cruzador ederal Aqueronte. Conirmo nossa cirade velocidade. -odemos entrar em contato com vocês dentro de duas horas earemos n's mesmos todas as correç+es de rota. Ainda temos potência, masprecisamos abandonar a nave dentro de menos de três horas. !osso anteparo contraradiaç%o desapareceu e o reator principal está se tornando instável. /emos controle

manual sobre ele e será seguro pelo menos durante uma hora depois de nosencontrarmos. Mas n%o podemos garantir depois disso.

5 Capit%o ;alstead sentiu a carne ormigar em sua nuca. !%o sabia como umreator podia tornarse instável mas sabia o que aconteceria se ele se tornasseinstável. ;avia muitas coisas a respeito da Aqueronte que ele n%o compreendia suavelocidade, principalmente mas um ponto se destacava claramente e sobre ele oComodoro 6rennan n%o devia ser dei*ado na menor dvida.

-égaso para Aqueronte . respondeu ele. /enho trezentos passageiros a bordo.!%o posso arriscar minha nave, se houver perigo de e*plos%o.

!%o e*iste o menor perigo... posso garantir isso. /eremos pelo menos cinco

minutos depois da advertência, o que nos dará muito tempo para nos aastar devocês.

Muito bem... "ei*arei minhas esclusas de ar prontas e minha tripulaç%o

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preparada para passarlhes um cabo.

;ouve uma pausa mais longa do que aquela ditada pelo preguiçoso progresso dasondas de rádio. "epois 6rennan respondeu8

(ssa é a nossa diiculdade. (stamos isolados na seç%o dianteira. !%o há esclusase*ternas aqui e s' temos cinco tra)es para cento e vinte homens.

;alstead assoviou e virouse para seu navegador antes de responder. !ada poderemos azer por eles disse. -recisar%o rachar o casco para sair e

isso será o im de todos, e*ceto dos cinco homens com os tra)es. !em sequerpodemos emprestarlhes nossos tra)es... n%o haverá meio de leválos a bordo semdei*ar escapar a press%o.

0igou a chave do microone. -égaso para Aqueronte. Como sugere que podemos a)událosG(ra antástico alar com um homem que )á estava praticamente morto. As

tradiç+es do espaço eram t%o r&gidas quanto as do mar. Cinco homens poderiamdei*ar a Aqueronte vivos... mas seu capit%o n%o estaria entre eles.

;alstead n%o sabia que o Comodoro 6rennan tinha outras 7deias e de maneiranenhuma abandonara a esperança, por mais desesperada que parecesse a situaç%o.#eu Médicochee, que propusera o plano, )á o estava e*plicando $ tripulaç%o.

7sto é o que vamos azer disse o homenzinho moreno que até alguns mesesantes era um dos melhores cirurgi+es de Iênus, !%o podemos chegar $s esclusasde ar, porque estamos cercados de vácuo e s' temos cinco tra)es espaciais. (stanave oi constru&da para combater, n%o para transportar passageiros, e receio queseus plane)adores tinham outras coisas em que pensar além das 3egras de -adr%ode Hualidade (spacial. !'s aqui estamos e precisamos aproveitar ao má*imo osrecursos que temos.

(staremos ao lado da -égaso dentro de umas duas horas. Delizmente para n's,ela tem grandes esclusas para embarque de carga e passageiros. ;averá espaçopara trinta ou quarenta homens se acomodarem dentro delas, se se apertarembem... e n%o estiverem usando tra)es. #im, sei que isso parece ruim, mas n%o ésuic&dio. Iocês v%o respirar espaço e darse bem com eleU !%o digo que vai seragradável, mas será uma coisa de que poder%o vangloriarse pelo resto da vida.

Agora escutem cuidadosamente. A primeira coisa que preciso provar é que vocêspodem viver durante cinco minutos sem respirar... de ato, sem dese)ar respirar. Jum truque simples. 7ogues e mágicos conhecemno há séculos, mas nada e*iste nelede oculto e se baseia em psicologia de bom senso. -ara darlhes coniança, quero

que vocês açam esta prova.5 Médicochee tirou um cronBmetro do bolso e continuou8 Huando eu disser AgoraU quero que vocês e*alem completamente... esvaziem

seus pulm+es de toda gota de ar... e depois ve)am quanto tempo s%o capazes deicar assim antes de precisar respirar. !%o se esorcem demais... simplesmenteprendam a respiraç%o até sentir alta de conorto, depois comecem a respirar denovo normalmente. Começarei a contar os segundos depois de quinze, para quevocês possam dizer o que conseguiram azer. #e alguém n%o conseguir chegar aosquinze segundos, recomendarei sua e*clus%o imediata das orças armadas.

 A onda de risos rompeu a tens%o, como era seu prop'sito. "epois o Médicochee

ergueu a m%o e bai*oua gritando AgoraU. ;ouve um grande suspiro quando todo ogrupo esvaziou os pulm+esE depois, absoluto silêncio.Huando o MédicoChee começou a contar depois de quinze, houve alguns

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arque)os daqueles que mal tinham conseguido chegar a esse ponto. Continuoucontando até sessenta, acompanhado por ocasionais e e*plosivas inalaç+es, $medida que homem ap's homem capitulava. Alguns ainda estavam obstinadamentecontendo a respiraç%o, depois de um minuto.

6asta disse o pequeno cirurgi%o. Iocês, dur+es, podem parar de e*ibirse...est%o estragando a e*periência.

;ouve novamente um murmrio divertidoE os homens estavam readquirindorapidamente seu moral. Ainda n%o compreendiam o que estava acontecendo, maspelo menos estava em andamento algum plano que lhes oerecia uma esperança desalvaç%o.

Ie)amos agora o que conseguimos disse o Médicochee. (rgam a m%oaqueles que resistiram de quinze a vinte segundos... Agora, de vinte a vinte e cinco... Agora de vinte e cinco a trinta... Nones, você é um mentiroso dos diabos... você seentregou aos quinze segundos... Agora de trinta a trinta e cinco...

Huando terminou o censo, era claro que mais de metade do grupo conseguiraprender a respiraç%o por trinta segundos e nenhum dei*ara de chegar aos quinze

segundos. J mais ou menos o que eu esperava disse o Médicochee. -odem consideraristo como uma e*periência de controle e agora vamos passar para a coisaverdadeira. "evo dizerlhes que estamos agora respirando aqui quase o*igênio puro,a cerca de trezentos mil&metros. Assim, embora a press%o na nave tenha menos demetade de seu valor ao n&vel do mar na /erra, seus pulm+es est%o recebendo duasvezes mais o*igênio do que receberiam na /erra... e ainda mais do que receberiamem Marte ou Iênus. #e algum de vocês saiu urtivamente para umar escondido nolavat'rio, )á notou como o ar era rico, pois seu cigarro terá durado apenas algunssegundos.

(stou lhes dizendo tudo isso porque sua coniança aumentará se souberem o queestá acontecendo. 5 que vocês v%o azer agora é inundar seus pulm+es e encher seuorganismo de o*igênio. 7sso se chama hiperventilaç%o, que é simplesmente umapalavra di&cil para dizer respiraç%o prounda. Huando der o sinal, dese)o que todosvocês respirem o mais undo poss&vel, depois e*alem completamente e continuem arespirar da mesma maneira até eu mandar parar. Iou dei*ar que o açam durante umminuto... alguns de vocês talvez se sintam um pouco tontos ao im desse tempo,mas isso passará. Absorvam todo o ar que puderem em cada inalaç%o abram osbraços para obter o má*imo de e*pans%o dos pulm+es.

"epois, quando terminar o minuto, eu pedirei que e*alem, em seguida parem de

respirar. (nt%o começarei a contar novamente os segundos. -enso poder prometerlhes uma grande surpresa. Muito bem... agora vamosU!os minutos seguintes, os compartimentos superlotados da Aqueronte

apresentaram um espetáculo antástico. Mais de uma centena de homens sacudia osbraços e respirava estertorosamente, como se cada arque)o osse o ltimo de suae*istência. Alguns estavam t%o )untos que n%o podiam res. pirar t%o undo quantodese)ariam e todos tiveram que se segurar de alguma maneira para que seusesorços n%o os izessem deslocarse pelas cabinas.

AgoraU gritou o Médicochee. -arem de respirar... soprem para ora todo ar...e ve)am quanto tempo conseguem icar com a respiraç%o presa antes de começar de

novo. Iou contar os segundos... mas desta vez n%o começarei antes de haverpassado meio minuto.5 resultado, é 'bvio, dei*ou todo o mundo estupeato. 1m homem n%o conseguiu

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chegar ao minuto, mas aora isso transcorreram quase dois minutos antes que amaioria dos homens sentisse necessidade de respirar de novo. "e ato, respirar antesdisso teria e*igido esorço deliberado. Alguns homens ainda se sentiampereitamente bem depois de três ou quatro minutos. 1m deles ainda estavaprendendo a respiraç%o aos cinco minutos quando o médico mandou que parasse.

-enso que todos vocês viram o que eu tentava provar. Huando seus pulm+es

est%o inundados de o*igênio, vocês simplesmente n%o dese)am respirar durantevários minutos, assim corpo n%o dese)ariam comer depois uma reeiç%o pesada. !%oe*ige esorço e n%o representa sacri&cio... n%o se trata de prender a respiraç%o. ( sesua vida dependesse disso, vocês se sairiam ainda muito melhor, é o que possoprometerlhes,

Agora, n's vamos nos colocar ao lado do -égaso. "emoraremos menos de trintasegundos para chegar até lá. #eus homens estar%o ora com tra)es espaciais parapu*ar os que se e*traviarem e as portas da esclusa de ar ser%o echadas assim quetodos vocês estiverem dentro. "epois a esclusa será inundada de ar e vocês nadasentir%o de mal, a n%o ser alguns que sangrar%o pelo nariz.

(le esperava que isso osse verdade. #' havia um meio de descobrir. (ra um )ogoperigoso e sem precedentes, mas n%o havia alternativa. -elo menos, daria a cadahomem uma oportunidade de lutar pela pr'pria vida.

Agora continuou ele vocês provavelmente est%o pensando na queda dapress%o. (ssa é a nica parte nada agradável, mas vocês n%o icar%o no vácuotempo suiciente para sorer danos graves. Abriremos as portas em dois estágios8primeiro bai*aremos a press%o vagarosamente até um décimo de atmosera, emseguida abriremos de uma vez e daremos o salto. "escompress%o total é dolorosa,mas n%o perigosa. (squeçam todas as tolices que ouviram no sentido de que o corpohumano e*plode no vácuo. !'s somos muito mais resistentes do que isso e a queda

inal que vamos azer de um décimo de atmosera para zero é consideravelmentemenor do que homens )á suportaram em provas de laborat'rio. Conservem a bocabem aberta e dei*em escapar os gases intestinais. Iocês sentir%o a pele todaardendo, mas provavelmente estar%o t%o ocupados que nem reparar%o nisso.

5 Médicochee ez uma pausa e e*aminou sua silenciosa e atenta audiência./odos estavam recebendo muito bem a coisa, mas isso era de se esperar. Cada umdeles era um homem treinado eram a nata dos engenheiros e técnicos dosplanetas.

!a verdade continuou o médico )ovialmente vocês provavelmente v%o rirquando eu lhes disser qual é o maior perigo. !ada é sen%o a queimadura do sol. 0á

ora vocês estar%o sob raios ultravioletas puros, sem a proteç%o da atmosera. 7ssopoderá causar bolhas sérias em trinta segundos, de modo que aremos a travessia $sombra da -égaso. #e por acaso vocês icarem ora da sombra, prote)am o rostocom o braço. Aqueles que têm luvas ar%o bem em usálas.

6em, essa é a situaç%o. (u vou azer a travessia com o primeiro grupo s' paramostrar como é ácil. Agora dese)o que vocês se dividam em quatro grupos e eutreinarei cada um deles separadamente.

0ado a lado a -égaso e a Aqueronte corriam em direç%o ao planeta distante ondes' uma delas chegaria. As eclusas de ar da nave de passageiros estavam abertas,escancaradas a n%o mais de alguns metros do casco da belonave inutilizada. !o

espaço entre as duas naves havia cordas de guia e entre elas lutuavam os homensda tripulaç%o da nave de passageiros, prontos para prestar assistência se algum doshomens que escapavam baqueassem durante a rápida, mas perigosa travessia.

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Doi sorte para a tripulaç%o da Aqueronte os quatro anteparos de press%o estaremainda intactos. #ua nave podia ainda ser dividida em quatro compartimentosseparados, de modo que um quarto da tripulaç%o poderia dei*ála de cada vez.

 As esclusas de ar da -égaso n%o poderiam receber todos de uma vez, se ossenecessária uma sa&da em massa.

5 Capit%o ;alstead observava da ponte quando o sinal oi dado. 1ma repentinanuvem de umaça saiu do casco da belonave, depois a porta de emergência certamente nunca plane)ada para uma emergência como essa saltou para oespaço. 1ma nuvem de poeira e vapor condensado estourou para ora, obscurecendoa vis%o por um segundo. (le sabia que os homens $ espera sentiriam seus corpossugados pelo ar que escapava, tentando arrancálos de onde estavam se segurando.

Huando a nuvem se dissipou, os primeiros homens )á haviam sa&do. 5 l&der usavaum tra)e espacial e todos os outros estavam ligados aos três cabos presos a ele.7nstantaneamente, homens da -égaso agarraram dois dos cabos e precipitaramsepara suas respectivas esclusas de ar. /odos os homens da Aqueronte, como ;alsteadviu com al&vio, pareciam estar conscientes e azendo tudo quanto podiam para

a)udar.-areceu transcorrer séculos, antes que a ltima igura na ponta do cabo oscilante

osse pu*ada ou empurrada para dentro de uma eclusa de ar. "epois a voz de umadaquelas iguras em tra)e espacial gritou8 Dechar !mero /rêsU A !mero 1mseguiuse quase imediatamente, mas houve uma angustiante demora antes queosse dado o sinal para a !mero "ois. ;alstead n%o podia ver o que estavaacontecendoE presumivelmente alguém ainda estava ora e atrasando os restantes.Dinalmente, todas as esclusas oram echadas. !%o havia tempo para enchêlas damaneira normal as válvulas oram abertas por orça bruta e as cmaras inundadascom ar da nave.

 A bordo da Aqueronte, o Comodoro 6rennan esperava, com seus noventa homensrestantes nos três compartimentos que ainda estavam echados. Dormaram seusgrupos e oram ligados em ileiras de dez atrás de seus l&deres. /udo ora plane)ado eensaiadoE os poucos segundos seguintes provariam se ora ou n%o em v%o.

"epois os altoalantes da nave anunciaram, quase em tom de conversa8-égaso para Aqueronte. /odos os seus homens )á sa&ram das esclusas. !enhuma

v&tima. Algumas hemorragias. "êemnos cinco minutos para prepararnos para opr'*imo grupo.

1m homem oi perdido na ltima travessia. (ntrou em pnico e oi preciso echar aesclusa sem ele, em vez de pBr em risco a vida de todos os demais. Doi pena os

homens n%o se salvarem em sua totalidade, mas no momento todo o mundo estavat%o agradecido que n%o se preocupou com isso.3estava uma nica coisa a azer. 5 Comodoro 6rennan, ltimo homem a bordo da

 Aqueronte, a)ustou o circuito de tempo que ligaria a propuls%o em trinta segundos.7sso lhe daria tempo suiciente. Mesmo em seu desa)eitado tra)e espacial, poderiasair pela porta aberta em metade daquele tempo. 5 tempo era suiciente, mas s' elee seu oicial de engenharia sabiam como era estreita a margem.

0igou a chave e precipitouse para a porta. Ná havia chegado $ -égaso quando anave que comandara, ainda carregada com milh+es de quilouotesséculo de energia,voltou $ vida pela ltima vez e partiu silenciosamente em direç%o $s estrelas da Iia

0áctea. A e*plos%o oi acilmente vis&vel em todos os planetas interiores. 3eduziu a nada asltimas ambiç+es da Dederaç%o e os ltimos temores da /erra.

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%

/oda noite, quando o sol se p+e além da solitária pirmide do -ico, as sombras dagrande montanha se estendem para cobrir a coluna de metal que se erguerá no Mardas Chuvas, enquanto perdurar o pr'prio Mar. #%o quinhentos e vinte e sete osnomes escritos naquela coluna, por ordem alabética. !enhuma marca distingue oshomens que morreram pela Dederaç%o daqueles que morreram pela /erra. /alvezesse simples ato se)a a melhor prova de que eles n%o morreram em v%o.

 A 6atalha do -ico pBs im ao dom&nio da /erra e assinalou a maioridade dosplanetas. A /erra estava cansada depois de sua longa saga e dos esorços que izerapara conquistar os mundos mais pr'*imos aqueles mundos que t%o

ine*plicavelmente se voltaram contra ela, como há muito tempo as colBniasamericanas haviamse voltado contra a terra materna. (m ambos os casos, as raz+eseram semelhantes e em ambos o resultado inal oi igualmente vanta)oso para ahumanidade.

#e qualquer dos lados tivesse obtido vit'ria completa, poderia ter havido umdesastre. A Dederaç%o talvez osse tentada a impor $ /erra um acordo que nuncapoderia azer cumprir. A /erra, por outro lado, poderia manietar seus ilhos errantes,negandolhes todos os suprimentos, atrasando assim a colonizaç%o dos planetas, porséculos.

 Ao invés disso, ocorreu um empate. Cada um dos antagonistas recebeu dura e

salutar liç%oE acima de tudo, cada um deles aprendeu a respeitar o outro. ( cada umdeles esorçavase agora por e*plicar aos seus cidad%os e*atamente o que estavasendo eito em seu nome...

 A ltima e*plos%o da guerra oi seguida, poucas horas depois, por e*plos+espol&ticas na /erra, em Marte e em Iênus. Huando a umaça se dissipou, muitaspersonalidades ambiciosas haviam desaparecido, pelo menos temporariamente, eaqueles que detinham o poder tinham um ob)etivo principal restabelecer relaç+esamistosas e apagar a lembrança de um epis'dio que n%o honrava ninguém.

5 incidente da -égaso, interrompendo as divis+es da guerra e lembrando aoshomens sua unidade essencial, tornou a tarea dos estadistas muito mais ácil do que

seria em outras circunstncias. 5 /ratado de -hobos oi assinado no que umhistoriador chamou de atmosera de envergonhada conciliaç%o. 5 acordo oi rápido,pois tanto a /erra como a Dederaç%o possu&am alguma coisa de que a outraprecisava muito.

 A superior ciência da Dederaç%o deralhe o segredo da propuls%o sem aceleraç%o,como era agora universalmente, mas erroneamente chamada. -or sua parte, a /erraestava agora disposta a partilhar a riqueza que descobrira no undo da 0ua. A crostaestéril ora penetrada e inalmente o ncleo pesado estava entregando seus tesourosobstinadamente guardados. ;avia ali riqueza suiciente para satisazer todas asnecessidades do homem durante séculos uturos.

7sso estava destinado, nos anos uturos, a transormar o #istema #olar e alterarcompletamente a distribuiç%o da raça humana. #eu eeito imediato oi azer da 0ua,durante muito tempo, a parenta pobre da velha e rica /erra, o mais rico e mais

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importante de todos os mundos. "ez anos depois a 3epblica 0unar 7ndependenteestaria ditando termos D56 para a /erra e para a Dederaç%o com igualimparcialidade.

Mas o uturo saberia cuidar de si. /udo quanto importava agora era que a guerraestava terminada.

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 A Cidade Central, pensou #adler, crescera desde que ali estivera há trinta anos.Hualquer daquelas cpulas poderia cobrir todas as sete que e*istiam antigamente.Huanto tempo demoraria, nesse ritmo, para que toda a 0ua estivesse cobertaG(sperava que n%o osse em seu tempo.

 A estaç%o propriamente dita era quase t%o grande quanto uma das cpulasantigas. 5nde antes havia cinco linhas, havia agora trinta. Mas o desenho dos monocarros n%o se alterara muito e sua velocidade parecia ser quase a mesma. 5 ve&culoque o trou*era do espaçoporto poderia ter sido o mesmo que o levara através do Mardas Chuvas um quarto de vida antes.

7sto é, um quarto de vida se você osse cidad%o da 0ua e pudesse esperar ver seucentésimo vigésimo aniversário. Mas s' um terço da vida, se você passasse todas assuas horas de vig&lia e de sono, lutando contra a gravidade da /erra.

;avia muito mais ve&culos nas ruas. A Cidade Central era agora grande demaispara uncionar em base pedestre. Mas uma coisa n%o mudara. !o alto havia o céu da/erra, azul e salpicado de nuvens, e #adler n%o duvidava de que a chuva ainda ca&sseno horário certo.

#altou para um autota*i e discou o endereço, rela*andose enquanto era levadoatravés das ruas movimentadas. #ua bagagem )á ora para o hotel e ele n%o tinhapressa em seguila. Assim que lá chegasse seria novamente envolvido pelos neg'ciose talvez n%o tivesse outra oportunidade de e*ecutar essa miss%o.

5s homens de neg'cios e turistas da /erra pareciam ser ali quase t%o numerososquanto os moradores. (ra ácil distinguilos , n%o apenas por suas roupas e seucomportamento, mas também pela maneira como andavam nessa bai*a gravidade.#adler icou surpreendido ao descobrir que, embora izesse apenas algumas horasque estava na 0ua, o a)ustamento muscular automático que aprendera tanto tempoantes entrara de novo acilmente em aç%o. (ra como aprender a andar de bicicletaEdepois de ter aprendido, nunca mais se esquece.

 Agora havia ali um lago, com ilhas e cisnes.0era a respeito dos cisnes. #uas asas precisavam ser cuidadosamente aparadas

para impedir que voassem e se chocassem contra o céu. ;ouve uma repentinaagitaç%o e um grande pei*e surgiu $ super&cie. #adler se perguntou se ele estariasurpreendido ao descobrir como podia saltar alto acima da água.

5 tá*i, abrindo caminho sobre os trilhosguia enterrados, aundouse em um tnelque devia passar por bai*o da beirada da cpula. -or ser a ilus%o do céu muito bemplane)ada, n%o era ácil saber quando se ia dei*ar uma cpula e entrar em outra,mas #adler percebeu onde estava quando o ve&culo passou pelas grandes portas demetal na parte mais bai*a do tubo. (ssas portas, conorme lhe haviam dito, podiamecharse em menos de dois segundos e o ariam automaticamente se houvesseuma queda de press%o de qualquer dos lados. -ensamentos como esse, perguntouele a si pr'prio, ariam os habitantes da Cidade Central passar noites insonesG"uvidava muito. Considerável raç%o da raça humana passara sua vida $ sombra devulc+es, barragens e diques, sem demonstrar sinais de tens%o nervosa. #' uma vez

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uma das cpulas da Cidade Central ora evacuada e isso devido a um vazamentolento que demorara horas para causar eeito.

5 tá*i saiu do tnel para a área residencial e #adler viuse diante de uma completamudança de cenário. Ali n%o havia cpula contendo uma pequena cidade .. (ra em sipr'prio um nico e gigantesco edi&cio, com corredores m'veis em lugar de ruas. 5tá*i parou e lembroulhe em tom polido que esperaria trinta minutos por uma ta*aadicional de um e cinquenta. #adler, pensando que talvez demorasse todo essetempo s' para encontrar o lugar que procurava, re)eitou a oerta e o tá*i aastouse$ procura de novos regueses.

;avia um grande quadro de avisos a alguns metros de distncia, e*ibindo ummapa tridimensional do edi&cio. 5 lugar todo lembrava a #adler um tipo de colmeiausado muitos séculos antes, que vira certa vez ilustrado em uma velha enciclopédia.#em dvida era absurdamente ácil encontrar o caminho quando se estavaacostumado, mas no momento ele. se via inteiramente desorientado pelos Andares,Corredores, 2onas e #etores.

Iai a algum lugar, cavalheiroG disse uma vozinha a suas costas.#adler virouse e viu um menino de seis ou sete anos, que olhava para ele com

olhos alertas e inteligentes. /inha mais ou menos a mesma idade que seu neto,Nonathan -eter 77. #anto "eus, quanto tempo azia desde a ltima vez que visitara a0ua.

!%o se vê com requência gente da /erra aqui disse o menino. 5 senhor estáperdidoG  Ainda n%o respondeu #adler. Mas desconio que logo estarei.

5nde vaiG(ra realmente espantoso, pensou #adler, que, apesar das redes interplanetárias de

rádio, claras dierenças de l&ngua estivessem aparecendo nos vários mundos. Aquele

menino, sem dvida, sabia alar com pereiç%o inglês da /erra, quando queria, masessa n%o era sua linguagem para comunicaç%o cotidiana.

#adler olhou para o endereço bastante comple*o anotado em sua caderneta e leuo em voz alta.

Iamos disse seu guia autonomeado.#adler obedeceu de bom grado. A rampa $ rente terminava abruptamente em larga pista rolante, que se movia

devagar. (la os levou durante alguns metros, depois os colocou em uma seç%o dealta velocidade. Ap's correr pelo menos um quilBmetro, passando pelas entradas deinmeros corredores, oram transeridos novamente para uma seç%o de bai*a

velocidade e levados para uma enorme praça he*agonal. (stava cheia de gente, quevinha e ia entre uma rua e outra, parando $s vezes para azer compras em pequenosquiosques. (rguendose no centro da movimentada cena, havia duas rampas emespiral, uma para o tráego ascendente e outra para o descendente. (ntraram naespiral que levava para cima e dei*aram que a super&cie m'vel os levasse até meiadzia de andares acima. (m pé na beirada da rampa, #adler pBde ver que o edi&ciose estendia para bai*o por uma imensa distncia. Muito abai*o havia algo queparecia ser uma grande rede. Dez alguns cálculos mentais, depois concluiu que,ainal de contas, seria conveniente para aparar a queda de alguém suicientementetolo para cair pela beirada. 5s arquitetos dos edi&cios lunares tinham pela gravidade

uma atitude despreocupada que causaria instantneo desastre na /erra. A praça superior era e*atamente igual $quela por onde haviam entrado, mas nelase via menos gente e podersela dizer que, por mais democrática que osse a

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3epblica 0unar AutBnoma, e*istiam sutis distinç+es de classe ali, tanto quanto emqualquer outra cultura criada pelo homem. !%o havia mais aristocracia de berço oude dinheiro, mas a de responsabilidade sempre e*istiria. Ali, sem dvida, viviam aspessoas que realmente dirigiam a 0ua. /inham mais posses e muito maispreocupaç+es do que seus concidad%os dos andares ineriores e havia cont&nuointercmbio de um n&vel para outro.

5 pequeno guia de #adler levouo dessa praça central para outra passagem m'vel,depois inalmente para um quieto corredor com uma estreita ai*a de )ardim nocentro e uma onte brincando em cada e*tremidade. Avançou até uma das portas eanunciou8 J aqui.

 A brusquid%o de sua declaraç%o oi pereitamente neutralizada pelo orgulhososorriso com que parecia dizer a #adler8 !%o ui muito espertoG #adler estavapensando qual seria a recompensa apropriada para sua iniciativa. 5u o menino seoenderia se lhe desse alguma coisaG

(ste dilema social oi resolvido pelo seu observador guia. Mais de dez andares, s%o quinze.

(nt%o havia uma taria padr%o, pensou #adler.(ntregou ao menino um quarto de crédito e, para sua surpresa, oi obrigado a

aceitar o troco. !%o havia percebido que as conhecidas virtudes lunares dehonestidade, iniciativa e lealdade começavam em t%o tenra idade.

!%o vá embora ainda disse a seu guia, enquanto tocava a campainha. #eninguém atender, quero que me leve de volta.

5 senhor n%o teleonou antesG disse a prática pessoa, olhando incredulamentepara ele.

#adler achou que era intil e*plicar. As ineiciências e e*travagncias da antiquadagente da /erra n%o eram apreciadas por esses enérgicos colonos embora que "eus

o a)udasse se empregasse ali aquela palavra./odavia, n%o houve necessidade da precauç%o.5 homem com quem esperava encontrarse estava em casa e o guia de #adler

despediuse com um alegre adeus enquanto descia pelo corredor, assoviando umamsica que acabara de chegar de Marte.

!%o se lembra de mimG perguntou #adler. (u estava no 5bservat'rio de-lat%o durante a 6atalha do -ico. Meu nome é 6ertram #adler.

#adlerG #adlerG #into muito, mas n%o me lembro do senhor no momento. Masentre... #empre me agrada receber velhos amigos.

#adler seguiu até o interior da casa, olhando em volta curiosamente. (ra a

primeira vez que entrava em uma residência particular na 0ua e, como se poderiaesperar, n%o era poss&vel distinguila de uma residência semelhante na /erra. 5 atode ser uma célula em uma vasta colmeia n%o azia com que osse menos casaE )áhaviam transcorrido dois séculos desde quando mais do que uma minscula raç%oda raça humana vivia em prédios separados e isolados, e a palavra casa mudara designiicaç%o com o tempo.

;avia, porém, na principal sala de estar um toque que era antiquado demais paraqualquer am&lia terrestre. (stendendose por metade de uma parede, havia umgrande mural animado de uma espécie que #adler n%o via desde muitos anos antes.Mostrava uma encosta de montanha coberta de neve, descendo para uma minscula

aldeia apenina um quilBmetro ou mais abai*o. Apesar da aparente distncia, todos ospormenores eram cristalinamente claros. As pequenas casas e a igre)a de brinquedotinha a clara e vivida nitidez de algo visto pelo lado errado de um telesc'pio. Além da

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descobri o espi%o. (u n%o poderia sequer provar que ele e*istisse, embora tenhainvestigado todas as possibilidades em que pude pensar. 5 neg'cio todo deu emnada no im, naturalmente, e alguns meses depois eu estava de volta ao meutrabalho normal e também muito mais eliz. Mas. isso sempre me preocupou... erauma ponta solta que eu n%o gostava de ver... uma discrepncia no balanço. Abandonei toda esperança de acertála, até há umas duas semanas. (nt%o eu li o

livro do Comodoro 6rennan. 5 senhor ainda n%o o viuG . Ainda n%o, embora evidentemente tenha ouvido alar a respeito.#adler eniou a m%o dentro de sua pasta e tirou um gordo volume, que entregou

a Molton. (u trou*e um e*emplar para o senhor... #abia que lhe interessaria muito. J um

livro sensacional, como pode )ulgar pelo barulho que está causando em todo o#istema. 5 Comodoro n%o esconde coisa alguma e posso compreender por quemuita gente na Dederaç%o está uriosa com ele. Contudo, n%o é esse o ponto que meinteressa. 5 que achei ascinante oi seu relato sobre os acontecimentos que levaram$ 6atalha do -ico. 7magine minha surpresa quando ele conirmou deinidamente que

a inormaç%o vital sa&ra do 5bservat'rio. -ara citar a rase dele8 1m dos maioresastrBnomos da /erra, por meio de brilhante subtergio técnico, conservounosinormados dos desenvolvimentos durante o progresso do -ro)eto /hor. !%o seriaapropriado mencionar seu nome, mas ele vive atualmente em honroso retiro na0ua.

;ouve um longa pausa. A isionomia enrugada de Molton i*arase agora emdobras gran&ticas e n%o dava o menor sinal de suas emoç+es.

-roessor Molton prosseguiu #adler gravemente espero que me acreditequando digo que estou aqui e*clusivamente por curiosidade particular. (m qualquercaso, o senhor é um cidad%o da 3epblica... nada há que eu pudesse azer mesmoque dese)asseE Mas eu sei que aquele agente era o senhor. A descriç%o se a)usta eeu eliminei todas as outras possibilidades. Além disso, alguns amigos meus naDederaç%o estiveram olhando os registros, também e*traoicialmente. !%o terá amenor utilidade o senhor ingir que nada sabe a respeito. #e n%o quiser alar, eu ireiembora. Mas se quiser contarme... e n%o ve)o que importncia possa ter issoagora... eu daria muita coisa para saber como o senhor conseguiu azer aquilo.

Molton abrira o livro do -roessor, e*Comodoro, 6rennan e estava olheando o&ndice. "epois sacudiu a cabeça com certo aborrecimento.

(le n%o deveria ter dito isso observou irritado. sem se dirigir particularmente aninguém.  #adler soltou um suspiro de satiseita e*pectativa. Abruptamente, o velho cientistavoltouse para ele.

#e eu lhe contar, que uso ará o senhor da inormaç%oG !enhum, posso )urarlhe. Alguns de meus colegas poderiam icar aborrecidos, mesmo depois de tanto

tempo. !%o oi ácil, sabeG !%o me deu prazer também. Mas a /erra precisava sercontida e eu penso que iz a coisa certa.

5 -roessor Namieson... ele é "iretor agora, n%o éG... tinha ideias semelhantes.Mas n%o as pBs em prática.

#ei disso. ;ouve uma ocasi%o em que quase conidenciei a ele, mas talvez se)abom n%o têlo eito.Molton parou pensativo e seu rosto enrugouse um pouco.

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Agora estou lembrando disse ele. (u lhe mostrei meu laborat'rio. Diquei umpouco desconiado ent%o... achei estranho o senhor ter chegado naquela ocasi%o.-or isso mostreilhe absolutamente tudo, até ver que o senhor estava aborrecido enada mais queria observar.

7sso aconteceu com muita requência alou #adler secamente. ;avia muitoequipamento no 5bservat'rio.

Alguns dos meus aparelhos, porém, eram nicos. !em mesmo um homem deminha pr'pria especialidade teria adivinhado o que esses aparelhos aziam. #uponhoque sua gente estava procurando transmissores de rádio escondidos e coisas dessaespécie.

#im. !'s t&nhamos monitores na escuta, mas nunca localizaram coisa alguma.Molton estava obviamente começando a se divertir. /alvez, pensou #adler, ele

também se sentira rustrado durante os ltimos trinta anos, pelo ato de estarincapacitado de revelar como havia conseguido lograr o e*ército de segurança da/erra.

A beleza daquilo prosseguiu Molton estava no ato de meu transmissor

permanecer o tempo todo $ vista de todo o mundo. "e ato, era a coisa mais 'bviado 5bservat'rio. (ra o telesc'pio de mil cent&metros, sabeG

#adler itouo incrédulo. !%o compreendo. Considere disse Molton, voltando a ser o proessor de colégio em que se

tornara ao dei*ar o 5bservat'rio e*atamente o que az um telesc'pio. 3ecolhe luzde uma minscula porç%o do céu e a leva com precis%o para um oco em uma chapaotográica ou para a enda de um espectrosc'pio. Mas o senhor n%o está vendoG ..1m telesc'pio pode uncionar nos dois sentidos.

(stou começando a compreender. Meu programa de observaç%o envolvia o emprego do telesc'pio de mil

cent&metros para estudo de estrelas racas. (u trabalhava com o ultravioleta em altograu... que naturalmente é invis&vel ao olho humano. 6astava eu substituir meusinstrumentos habituais por uma lmpada ultravioleta e o telesc'pio imediatamente setornava um pro)etor de imensa potência e precis%o, lançando um ei*e t%o estreitoque s' poderia ser captado na e*ata porç%o do céu para onde eu o dirigisse.7nterromper o ei*e, para inalidades de sinalizaç%o, era naturalmente um problematrivial. (u n%o sou capaz de transmitir em Morse, mas constru& um moduladorautomático que azia isso por mim.

#adler absorveu vagarosamente essa revelaç%o. "epois de e*plicada, a idéia eraridiculamente simples. #im, pensando bem, qualquer telesc'pio deve  ser capaz de

uncionar em ambos os sentidos recolher luz das estrelas ou emitir em direç%o aelas um ei*e quase pereitamente paralelo, desde que se acendesse uma luz diantede seu ocular. Molton transormara o reletor de mil cent&metros na maior lanternaelétrica )á constru&da.

-ara onde o senhor dirigia seus sinaisG perguntou. A Dederaç%o tinha uma pequena nave a uns dez milh+es de quilBmetros de

distncia. Mesmo a essa distncia, meu ei*e continuava bastante estreito e eranecessária boa navegaç%o para manterse em seu curso. A combinaç%o era que anave permaneceria sempre e*atamente em linha entre mim e uma raca estrela donorte que era sempre vis&vel acima de meu horizonte. Huando dese)ava mandar um

sinal... eles sabiam quando eu estaria operando, naturalmente... eu precisava apenasintroduzir as coordenadas no telesc'pio e podia ter certeza de que captavam minhamensagem. (les tinham a bordo um pequeno telesc'pio com um detector

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ultravioleta. Mantinham contacto com Marte através de serviços de rádio normal.Muitas vezes pensei como deveria ser mon'tono icar lá longe, simplesmente meouvindo. As vezes eu nada transmitia durante dias.

Mais uma coisa observou #adler. Como o senhor recebia as inormaç+esG 5h, havia dois métodos. !'s receb&amos, naturalmente, e*emplares de todas as

publicaç+es astronBmicas. ;avia certas páginas combinadas em determinadaspublicaç+es... lembrome que /he 5bservator9 era uma delas... a que eu dedicavaatenç%o. Algumas das letras eram luorescentes sob ultravioleta em alto grau.!inguém poderia têlas localizado. 1ltravioleta comum n%o adiantava.

( o outro métodoG – (u costumava ir ao ginásio na Cidade Central todo im de semana."ei*ávamos as roupas em armários echados quando nos trocávamos, mas havia porcima das portas espaço suiciente para ser eniada qualquer coisa. As vezes euencontrava em cima de minhas coisas um cart%o comum de máquina de calcular,com uma série de peruraç+es. Absolutamente comum e inocente, é evidente...cart+es como aqueles eram encontrados em todo o 5bservat'rio e n%o apenas na

seç%o de Computaç%o. (u sempre azia quest%o de ter alguns genu&nos nos bolsos.Huando voltava, eu decirava o cart%o e enviava a mensagem em minha transmiss%oseguinte. !unca iquei sabendo o que transmitia... era sempre em c'digo. ( nuncadescobri quem )ogava os cart+es em meu armário.  Molton ez uma pausa e olhou ironicamente para #adler.

"e maneira geral concluiu ele realmente penso que o senhor n%o tinha muitaprobabilidade. 5 nico perigo que eu corria era o senhor prender meus contatos edescobrir que eles me passavam inormaç+es. Mesmo que isso acontecesse, eupensava poder escapar. /oda peça de aparelhamento que eu usava tinha algumaunç%o astronBmica pereitamente genu&na. Mesmo o modulador era parte de um

mal sucedido analisador de espectro que nunca me dei ao trabalho de desmontar. (minhas transmiss+es duravam apenas alguns minutos... eu podia mandar muita coisanesse tempo... e depois eu prosseguia com meu programa regular.

#adler olhou para o velho astrBnomo com indisarçável admiraç%o. Começava asentirse muito melhor8 um velho comple*o de inerioridade ora e*orcizado. !%ohavia a menor necessidade de censurarse. "uvidava que alguém pudesse terdescoberto as atividades de Molton, limitandose ao lado do 5bservat'rio. Aspessoas que mereciam ser culpadas eram os contraagentes na Cidade Central e no-ro)eto /hor, que deveriam ter detido a sa&da de inormaç+es mais atrás.

;avia ainda uma pergunta que #adler dese)ava azer, mas n%o se decidia a azer8

ainal, n%o era realmente de sua conta. Como n%o era mais um mistérioE por quecontinuava sendo.

-Bde pensar em muitas respostas. #eus estudos do passado mostravamlhe queum homem como Molton n%o se tornaria espi%o por dinheiro, poder ou qualqueroutra raz%o assim trivial. Algum impulso emocional deveria têlo levado ao caminhoque seguiu e ele teria agido com prounda convicç%o interior de que estava certo oque azia. A l'gica talvez lhe dissesse que a Dederaç%o devia ser apoiada contra a/erra, mas, em um caso assim, l'gica nunca era suiciente.

(sse era um segredo que permaneceria com Molton. /alvez ele percebesse ospensamentos de #adler, pois abruptamente caminhou para uma larga estante e ez

correr um de seus painéis. (ncontrei certa vez uma rase disse ele que me proporcionou considerável

conorto. !%o tenho certeza se sua intenç%o era c&nica ou n%o, mas havia muita

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verdade nela. Creio que oi dita por um estadista rancês chamado /alle9rand, há unsquatrocentos anos. 5 que ele disse oi isto8

Hue é traiç%oG Meramente uma quest%o de datas. /alvez o senhor queira pensarnisso, senhor #adler.

 Ioltou da estante, carregando dois copos e uma grande garraa. 1m passatempo meu inormou ele a #adler. A ltima sara de ;esperus. 5s

ranceses talvez achassem graça, mas eu o comparo $ melhor coisa que possa vir da/erra.

/ocaram os copos. F paz entre os planetas disse o -roessor Molton e que )amais um homem

precise desempenhar os papéis que n's desempenhamos./endo como undo uma paisagem a quatrocentos mil quilBmetros de distncia no

espaço e dois séculos no tempo, espi%o e contraespi%o beberam )untos no brinde.Cada um deles estava cheio de recordaç+es, mas essas recordaç+es agora n%ocontinham amargura. !ada mais havia a dizerE para ambos a hist'ria estavaencerrada.

Molton levou #adler pelo corredor, passando pelas silenciosas ontes eacompanhouo até estar em segurança sobre o piso rolante que levava $ praçaprincipal. Huando voltava para sua casa, passando vagarosamente pelo pequeno eragrante )ardim, quase oi derrubado por um bando de crianças que, rindo, corriamem direç%o ao parque inantil da !ona #eç%o. !o corredor ecoaram brevemente suasvozes estridentesE depois desapareceram como uma repentina luada de vento.

5 -roessor Molton sorriu enquanto as observava correndo para seu brilhante etranquilo uturo uturo que ele a)udara a construir. /inha muitos consolos e esse erao maior deles. !unca mais, até t%o longe quanto a imaginaç%o podia alcançar, a raçahumana se dividiria contra si pr'pria. Muito acima dele, além dos tetos da Cidade

Central, a inesgotável riqueza da 0ua estava luindo para ora através do espaço,para todos os planetas que o ;omem agora dizia serem seus.

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