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  • ISAQUE DAVID RAMOS PATROCNIO

    A SEGURANA ALIMENTAR NO CONSUMO DE

    PESCADO CRU COM VALNCIA PARA A

    PRODUO DE SUSHI

    Lisboa

    2009

  • ISAQUE DAVID RAMOS PATROCNIO

    A SEGURANA ALIMENTAR NO CONSUMO DE

    PESCADO CRU COM VALNCIA PARA A

    PRODUO DE SUSHI

    Lisboa

    2009

  • UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

    FACULDADE DE CINCIAS E TECNOLOGIA

    Ecologia da Hidrosfera

    ISAQUE DAVID RAMOS PATROCNIO

    A SEGURANA ALIMENTAR NO CONSUMO DE

    PESCADO CRU COM VALNCIA PARA A

    PRODUO DE SUSHI

    Dissertao apresentada para a obteno do Grau de Mestre

    em Tecnologia e Segurana Alimentar, pela Universidade Nova

    de Lisboa, Faculdade de Cincias e Tecnologia.

    Orientador:

    Doutor PEDRO AVROUS MIRA CRESPO

    Co-orientador:

    Professor Doutor FERNANDO JOS CEBOLA LIDON

    Lisboa

    2009

  • DEDICATRIA

    Aos meus Pais por todo o apoio dado ao longo da minha vida

    Ao meu irmo pelo apoio prestado

    Ao Francisco Jos que o meu futuro

    A todos que me ensinaram e se esforaram por tudo aquilo que sou hoje

  • Tudo nesta vida questo de tempo e oportunidade.

  • I

    AGRADECIMENTOS

    Ao Doutor Pedro Crespo, na qualidade de orientador, pelos ensinamentos,

    ajuda, compreenso e, sobretudo, pela amizade demonstrada.

    Ao Professor Doutor Fernando Lidon, na qualidade de co-orientador, pelo

    acompanhamento, disponibilidade ao longo deste trabalho. Pela transmisso

    de conhecimento durante estes ltimos dois anos.

    Ribapeixe, na qualidade da Sr. Ana Paula Andrade, proprietria e

    administradora, pela disponibilidade sempre demonstrada.

    A todo o corpo docente da FCT que ministrou este mestrado, a todos o meu

    sincero agradecimento.

    A todos os funcionrios da FCT.

    Professora Doutora Virgnia Crespo pela disponibilidade e apoio

    demonstrado.

    Lisete, pelo apoio, amizade, compreenso e por tudo o que fez ao longo

    destes dois anos.

    minha famlia, pelo apoio e compreenso (sobretudo nas horas ms) que

    sempre demonstrou.

    A todos os meus colegas de curso.

    embaixada do Japo, Associao da Hotelaria, Restaurao e Similares de

    Portugal pela colaborao.

    A todos em geral, que de alguma forma contriburam para a realizao deste

    trabalho, o meu profundo obrigado.

  • II

    RESUMO

    As doenas de origem alimentar so na maioria ocasionadas por

    microrganismos ingeridos com alimentos contaminados. Considerando que o

    sushi o prato tradicional Japons mais conhecido no mundo, identificado

    como peixe cru, justifica-se a necessidade do estudo dos perigos inerentes a

    este consumo de alimentos, contribuindo para a segurana alimentar, ligada a

    estes produtos e adicionalmente colaborando deste modo, para a manuteno

    da sade pblica.

    Este trabalho tem por objectivo realizar um estudo orientado para o consumo

    de peixe cru, com valncia para o sushi, equacionando a caracterizao dos

    diferentes tipos de sushi. Neste contexto, desenvolvem-se ainda, aspectos

    relativos contaminao de produtos da pesca e a respectiva deteriorao,

    consumo e segurana alimentar. Aborda-se a origem do sushi, enunciamos

    dezasseis tipos, descrevemos o sushi e a importncia para a sade. Na

    perspectiva do pescado, disserta-se sobre o consumo de peixe em Portugal, e

    apontam-se as mudanas post mortem, sensoriais e microbiolgicas, principais

    factores que contribuem para a sua deteriorao. Deste modo, enquadrando o

    preparo do sushi, discorre-se sobre o pescado mais utilizado no nosso pas

    (salmo, atum, camaro e lula), mencionando-se a contaminao dos produtos

    da pesca, identificando perigos fsicos, qumicos e biolgicos e referenciando

    ainda interaces entre o consumo e segurana alimentar.

    Este estudo, permitiu verificar que em Portugal ainda no foram relatadas,

    doenas de origem alimentar derivadas do consumo de sushi. Note-se contudo,

    que no podemos afirmar categoricamente que elas no existam, pois em

    vrios estudos foram isolados Coliformes, Escherichia coli, Salmonella,

    Staphylococcus aureus, V. parahaemolyticus e Aeromonas spp. e em atum,

    mexilho, camaro, choco, pota, lula, ostra e na sapateira foram detectados

    teores em cdmio superiores ao limite mximo admissvel. Deste modo,

    sugere-se a introduo de alteraes especficas na legislao nacional para

    acompanhar o evoluir do consumo de peixe cru.

    Palavras-chave: Pescado cru; sushi; segurana alimentar.

  • III

    ABSTRACT

    The food-borne diseases are mostly caused by microorganisms ingested with

    contaminated food. Sushi is the traditional Japanese dish better known in the

    world, identified as raw fish, yet the study of the dangers inherent to its

    consumption is required to ensure the public health.

    This work aims to conduct a study oriented to the consumption of raw fish, with

    valence for sushi and to consider the characterization of different types of sushi.

    In this context, it also addresses issues related to the contamination of fishery

    products and their decay, consumption and food security. Thus, we addressed

    the origin of sushi, articulate sixteen types, and describe the sushi along with

    the importance to health. We further approach the consumption of fish in

    Portugal and point the post-mortem changes (i. , sensory and microbiological

    main factors contributing to their deterioration). With regard to the preparation of

    sushi, we point the fish most commonly used in our country (salmon, tuna,

    shrimp and squid), being mentioned the contamination of fishery products,

    along with the identification of physical, chemical and biological.

    According with this study in Portugal, food-borne diseases derived from the

    consumption of sushi where not reported. It should be noted however, that we

    can not say categorically that they do not exist, as several studies pointed the

    occurrence of coliforms, Escherichia coli, Salmonella, Staphylococcus aureus,

    V. parahaemolyticus and Aeromonas spp.. Additionally, it was detected that in

    tuna, mussels, shrimp, cuttlefish, squid, squid, oyster and crab, the levels of

    cadmium surpassed the maximum permissible limit. Thus, it may be necessary

    to progressively improve specific changes in national legislation to monitor

    developments in the consumption of raw fish.

    Keywords: Fish raw, sushi, food security.

  • IV

    NDICE

    1. INTRODUO .......................................................................................................... 1

    1.1 Objectivos .......................................................................................................... 3

    2. SUSHI ....................................................................................................................... 4

    2.1 Histria ................................................................................................................. 6

    2.2 Tipos de Sushi ...................................................................................................... 9

    2.2.1 Naresushi ..................................................................................................... 9

    2.2.2 Niguirisushi ................................................................................................. 10

    2.2.3 Makisushi ................................................................................................... 10

    2.2.4 Sashimi....................................................................................................... 11

    2.2.5 Temakisushi ............................................................................................... 12

    2.2.6 Oshisushi .................................................................................................... 12

    2.2.7 Chirashisushi .............................................................................................. 13

    2.2.8 Mazesushi .................................................................................................. 14

    2.2.9 Futomaki ..................................................................................................... 14

    2.2.10 Hosomaki ................................................................................................. 15

    2.2.11 Kappamaki ............................................................................................... 16

    2.2.12 Uramaki .................................................................................................... 16

    2.2.13 Gunkansushi............................................................................................. 17

    2.2.14 Inarisushi .................................................................................................. 17

    2.2.15 Edomae chirashisushi ............................................................................... 18

    2.2.16 Gomokusushi............................................................................................ 18

    2.3 O sushi original e o sushi moderno ..................................................................... 19

    2.4 O sushi e a sade ............................................................................................... 19

    3. PESCADO ............................................................................................................... 21

    3.1 O consumo de peixe em Portugal ....................................................................... 21

    3.2 Mudanas post mortem nos produtos da pesca .................................................. 23

    3.2.1 A autlise .................................................................................................... 26

    3.2.2 Mudanas ao nvel sensorial ...................................................................... 28

    3.2.3 Mudanas microbiolgicas.......................................................................... 30

    3.2.3.1 Factores intrnsecos ............................................................................ 32

    3.2.3.2 Factores extrnsecos............................................................................ 38

    3.3 Outros factores que contribuem para a deteriorao .......................................... 41

    3.3.1 Escurecimento enzimtico .......................................................................... 41

    3.3.2 Influncia das propriedades intrnsecas ao produto .................................... 42

  • V

    3.3.3 Influncia da eviscerao ........................................................................... 42

    3.3.4 Influncia da higiene na manipulao ......................................................... 43

    3.3.5 Influncia da captura e da temperatura de armazenamento ....................... 43

    3.3.6 Odores atpicos e a sua relao com a origem dos produtos da pesca ...... 44

    3.4 Peixes ................................................................................................................. 45

    3.4.1 Salmo - Salmonidae ................................................................................. 45

    3.4.1.1 Salmo em Portugal ............................................................................ 50

    3.4.2 Atum - Thunnus .......................................................................................... 51

    3.4.3 Camaro - Penaeus ................................................................................... 55

    3.4.4 Lula - Loligo ................................................................................................ 58

    4 CONTAMINAO DOS PRODUTOS DA PESCA .................................................... 60

    4.1 Perigos Fsicos ................................................................................................... 62

    4.2 Perigos Qumicos ................................................................................................ 62

    4.3 Perigos Biolgicos .............................................................................................. 71

    4.3.1 Bactrias .................................................................................................... 72

    4.3.1.1 Bactrias indgenas ............................................................................. 75

    4.3.1.2 Bactrias no indgenas ...................................................................... 81

    4.3.2 Vrus ........................................................................................................... 87

    4.3.3 Parasitas .................................................................................................... 90

    4.3.3.1 Anisakis simplex .................................................................................. 93

    4.3.3.2 Capillaria sp ......................................................................................... 96

    4.3.3.3 Angiostrongylus sp .............................................................................. 97

    4.3.3.4 Eustrongylides spp .............................................................................. 99

    4.3.3.5 Diphyllobothrium latum ........................................................................ 99

    4.3.3.6 Clonorchis sp. e Opisthorchis sp. ....................................................... 101

    4.3.3.7 Heterophyes sp. e Metagonimus yokagawai ...................................... 103

    5. CONSUMO E SEGURANA ALIMENTAR ............................................................ 106

    6. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 114

    7. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 116

    7.1 Artigos e Livros ................................................................................................. 116

    7.2 Portais da Internet ............................................................................................. 122

    7.3 Legislao ......................................................................................................... 126

  • VI

    NDICE DE FIGURAS

    Figura 2.1 Mapa Japo com regies e provncias. .................................................... 5

    Figura 2.3 Aspecto geral do Nigirisushi. .................................................................. 10

    Figura 2.4 Aspecto geral do Makisushi. ................................................................... 11

    Figura 2.5 Aspecto geral do Sashimi de atum. ........................................................ 11

    Figura 2.6 Aspecto geral do Temakisushi. ............................................................... 12

    Figura 2.7 Aspecto geral do oshibako e do prato Oshizushi . .................................. 13

    Figura 2.8 Aspecto geral do Chirashisushi. ............................................................. 13

    Figura 2.9 Aspecto geral do Inarisushi. ................................................................... 14

    Figura 2.10 Aspecto geral do Futomaki. .................................................................. 15

    Figura 2.11 Aspecto geral do Hosomaki. ................................................................. 15

    Figura 2.12 Aspecto geral do Kappamaki. ............................................................... 16

    Figura 2.13 Aspecto geral do Uramaki. ................................................................... 16

    Figura 2.14 Aspecto geral do Gunkanzushi. ............................................................ 17

    Figura 2.15 Aspecto geral do Inarizushi. ................................................................. 17

    Figura 2.16 Aspecto geral do Edomae chirashisushi. .............................................. 18

    Figura 2.17 Aspecto geral do Gomokusushi. ........................................................... 18

    Figura 3.1 Fases que ocorrem nos tecidos musculares desde a captura at a

    putrefaco. ................................................................................................................ 24

    Figura 3.2 Principais alteraes da qualidade do peixe conservado refrigerado. ..... 28

    Figura 3.3 Alteraes da qualidade do peixe conservado em refrigerado. ............... 30

    Figura 3.4 Correlao entre a taxa de alterao dos alimentos e a da actividade da

    gua. ........................................................................................................................... 35

    Figura 3.5 Salmo-do-atlntico. ............................................................................... 46

    Figura 3.6 Ciclo vida do salmo-do-atlntico. .......................................................... 47

    Figura 3.7 Distribuio do salmo-do-atlntico. ....................................................... 49

    Figura 3.8 Distribuio do salmo-do-pacfico. ........................................................ 49

    Figura 3.9 Distribuio de produo em aquacultura salmo-do-atlntico. .............. 50

    Figura 3.10 Atum-rabilho. ........................................................................................ 52

    Figura 3.11 Distribuio do atum-rabilho. ................................................................ 54

    Figura 3.12 Captura global e produo em aquacultura do atum-rabilho. ................ 54

    Figura 3.13 Distribuio do camaro-tigre em aquacultura. ..................................... 56

    Figura 3.14 Produo em aquacultura, do camaro-tigre. ....................................... 57

    Figura 4.1 Distribuio mundial de surtos de intoxicaes por toxinas paralisantes de

    bivalves e de ciguatera................................................................................................ 68

  • VII

    Figura 4.2 Teores de Hg em espcies de peixe com limite mx. de 0,5 e 1,0 ppm. . 69

    Figura 4.3 Aspecto geral do Vibrio cholerae. ........................................................... 76

    Figura 4.4 Aspecto geral da A. hydrophila. .............................................................. 78

    Figura 4.5 Aspecto geral da L. monocytogenes. ...................................................... 80

    Figura 4.6 Aspecto geral da Salmonella. ................................................................. 82

    Figura 4.7 Aspecto geral da Shigella. ...................................................................... 83

    Figura 4.8 Aspecto geral da E. coli. ......................................................................... 84

    Figura 4.9 Aspecto geral do Staphylococcus aureus ............................................... 86

    Figura 4.10 Espcies de anisakidos presentes no pescado: Pseudoterranova

    dicipiens (a), Anisakis simplex (b) e Contracaecum osculatum (c). ............................. 93

    Figura 4.11 Ciclo de vida de Anisakis simplex. ........................................................ 94

    Figura 4.12 Ciclo de vida de Capillaria philippinensis. ............................................. 96

    Figura 4.13 Ciclo de vida de Angiostrongylus cantonensis. ..................................... 98

    Figura 4.14 Ciclo de vida de Diphyllobothrium latum. ............................................ 100

    Figura 4.15 Ciclo de vida de O. Felineus e C. sinensis. ......................................... 102

    Figura 4.16 Ciclo de vida do M. yokagawai e a H. heterophie. .............................. 103

    Figura 4.17 Ciclo de vida Paragonimus sp. ........................................................... 104

    Figura 4.18 Ciclo de vida do Echinostoma sp. ....................................................... 105

  • VIII

    NDICE DE QUADROS

    Quadro 3.1 - Gama de pH de alguns grupos microbianos. ......................................... 33

    Quadro 3.2 Valor mnimo para o crescimento de microrganismos nos alimentos. ... 34

    Quadro 3.3 Eh de crescimento de microrganismos. ................................................ 36

    Quadro 3.4 Valor mnimo para o crescimento de microrganismos nos alimentos. ... 39

    Quadro 3.5 Lista das denominaes comerciais autorizadas no territrio portugus,

    segundo a Portaria n 587/2006 de 22 de Junho, para o salmo. ............................... 46

    Quadro 3.6 Composio nutricional do salmo cru por 100g, segundo INS, 2006. .. 48

    Quadro 3.7 Lista das denominaes comerciais autorizadas no territrio portugus,

    segundo a Portaria n 587/2006 de 22 de Junho, para o atum. ................................... 53

    Quadro 3.8 Composio nutricional do atum cru por 100g, segundo INS, 2006. ..... 55

    Quadro 3.9 Lista das denominaes comerciais autorizadas no territrio portugus,

    segundo a Portaria n 587/2006 de 22 de Junho, camaro. ........................................ 57

    Quadro 3.10 Composio nutricional do camaro cru por 100g, segundo INS, 2006.

    .................................................................................................................................... 58

    Quadro 3.11 Lista das denominaes comerciais autorizadas no territrio portugus,

    segundo a Portaria n 587/2006 de 22 de Junho, para a lula. ..................................... 59

    Quadro 3.12 Composio nutricional da lula crua por 100g, segundo INS, 2006. ... 59

    Quadro 4.1 Nmero e percentagem de surtos ocasionados por alimentos, onde o

    alimento implicado foi identificado como peixe ou frutos do mar em pases europeus,

    entre 1993 e 1998, segundo o pas e total de surtos. .................................................. 61

    Quadro 4.2 Biotoxinas aquticas. ............................................................................ 64

    Quadro 4.3 Bactrias patognicas presentes no pescado. ...................................... 73

    Quadro 4.4 Vrus e sintomas presentes no pescado. .............................................. 87

    Quadro 4.5 Parasitas patognicos presentes no pescado. ...................................... 91

    Quadro 5.1 Nveis de metais detectados em diversas espcies de peixes. ........... 107

    Quadro 5.2 Microrganismos isolados em sushi. .................................................... 110

  • UNL-FCT

    1

    1. INTRODUO

    A comida tradicional japonesa, porventura, um dos alimentos que em muitos

    pases do mundo mais esto na moda. Neste contexto, o sushi decerto o prato

    tradicional Japons mais conhecido no Mundo. Ao viajarmos para qualquer pas,

    certamente encontraremos um restaurante japons e este seguramente ter como

    prato principal o sushi.

    Um alimento seguro significa, ao nvel microbiolgico, que este apresenta uma

    ausncia de microrganismos em nmero suficiente capazes de ocasionar infeces

    ou intoxicaes alimentares. Casos de doenas de origem alimentar so

    frequentemente relatados; eles prevalecero sempre que surja uma populao

    susceptvel de em contacto com agentes patognicos em nmero suficiente,

    ocasionar a doena. Os factores que contribuem para o aparecimento de doenas

    de origem alimentar podem estar associados: grande variedade gentica dos

    microrganismos; s condies de humidade e temperatura do ambiente ao qual o

    alimento est exposto; ao comportamento humano na higiene pessoal;

    urbanizao e industrializao com o aumento da densidade demogrfica de

    determinadas regies; a factores socio-econmicos; falta de medidas preventivas

    de controlo e de informao ao consumidor; a tecnologias de confeco e de

    conservao e tambm a crescente comercializao de alimentos crus,

    nomeadamente o consumo de peixe cru, o sushi.

    Deste modo, existe uma importante diferena entre a segurana dos alimentos

    colectiva ou nacional e aquela individual. Um pas pode ter segurana alimentar

    colectiva ou nacional, porm, alguns de seus indivduos podem por momentos, no

    dispor desta segurana. Podem consumir usualmente um alimento especfico que

    no esteja seguro, ou preferir ocasionalmente esse alimento, podendo incorrer num

    consumo crnico (eventualmente de pescado de uma determinada zona de captura

    contaminada com metais pesados, por exemplo o caso Minamata) ou consumo

    espordico, no entanto qualquer um dos casos pode provocar doenas de origem

    alimentar tendencialmente graves, podendo mesmo levar morte. Deste modo

    torna-se necessria uma vigilncia constante dos alimentos consumidos pelas

    populaes, visando a proteco da sade pblica, individual e colectiva.

  • UNL-FCT

    2

    As doenas de origem alimentar ocorrem quando um indivduo contrai uma doena

    decorrente da ingesto de alimentos contaminados com agentes que entram no

    organismo e podem ser de origem infecciosa ou txica.

    A maior parte dos casos de doenas causadas por alimentos no so notificados s

    entidades nacionais ligadas rea da sade pblica, porque os seus sintomas so

    geralmente ligeiros e a vtima no procura auxlio mdico (aspecto que, de resto

    atinge todos os segmentos da sociedade, independente da idade, sexo, estilo de

    vida, etnia e nvel socio-econmico), no existindo um conhecimento do nmero

    detalhado de casos de doenas de origem alimentar. Note-se, contudo, que algumas

    estimativas apontam para que anualmente sejam milhes em todo mundo,

    provocando grandes prejuzos econmicos, acabando alguns desses casos mesmo

    com a morte do paciente, aspecto que se considera um problema mundial de sade

    pblica.

    O peixe possui um elevado nvel proteico, fcil digestibilidade, baixa taxa de gordura

    e ainda uma presena benfica de cidos gordos polinsaturados mega-3,

    (conhecido como protector cardiovascular, pois mantm os nveis de colesterol

    dentro de valores considerados adequados). Alm desses factores, o consumo de

    peixe tem vindo a aumentar nos ltimos anos devido busca de uma melhor

    qualidade de vida, envolvendo prticas alimentares mais saudveis. No entanto, a

    carne de peixe, que possui benefcios nutricionais reconhecidos, como qualquer

    alimento de origem animal, pode, tornar-se num risco para o consumidor se no

    forem respeitados alguns cuidados com a manipulao, conservao e confeco.

    Alm do sabor, a preocupao do ser humano moderno com uma alimentao

    saudvel fez do sushi um sucesso mundial, com origem no Japo onde o consumo

    de peixe cru considerado um prato corriqueiro, aumentando o risco e fazendo com

    que esses cuidados sejam ainda mais relevantes. s condies inerentes ao

    alimento, podem juntar-se outros factores, nomeadamente uma refrigerao

    inadequada, uma conservao em gelo de origem duvidosa, a falta de higiene do

    manipulador. De facto, todos estes factores podem contribuir para o aumento e

    proliferao de agentes potencialmente patognicos. Note-se contudo que, apesar

    das suas inmeras qualidades, o peixe bastante susceptvel deteriorao

    microbiana devido sua elevada actividade de gua, ao teor de gorduras facilmente

    oxidveis e ao pH prximo da neutralidade (pH 6,6 - 6,8), factores que favorecem o

  • UNL-FCT

    3

    desenvolvimento bacteriano. Deste modo, os produtos da pesca podem sofrer

    diversos tipos de contaminaes agrupadas em perigos fsicos, qumicos e

    biolgicos.

    Assim, face a este contexto, justifica-se a necessidade do estudo dos perigos

    inerentes ao consumo deste tipo de alimentos (peixe cru), contribuindo deste forma,

    para um incremento da segurana alimentar, ligada a estes produtos.

    1.1 Objectivos

    Este trabalho, que apresenta um caris terico-prtico, e tem por objectivo

    caracterizar o sushi e equacionar os padres ligados segurana alimentar

    envolvendo o consumo do prato tpico da comida tradicional japonesa, que utiliza

    como ingrediente o pescado cru.

  • UNL-FCT

    4

    2. SUSHI

    Segundo a Comisso Europeia, pela Direco-Geral da Pesca (2002) O peixe faz

    bem sade. Mais do que uma afirmao popular, este corolrio constitui uma

    verdade cientfica. Os benefcios nutricionais do peixe esto amplamente

    comprovados, alm de constituir uma excelente fonte de protena animal, o peixe

    contm nveis acentuados de vitaminas A e D, magnsio, fsforo e sais minerais,

    que so reconhecidamente complementos indispensveis alimentao do ser

    humano. Estudos recentes vieram mesmo comprovar que o peixe gordo contm um

    tipo de cido gordo fundamental para o desenvolvimento do crebro dos fetos e

    bebs humanos, o mega-3.

    Contudo, ainda que no subsistam dvidas sobre os benefcios nutricionais do

    peixe, a ocorrncia de vrias crises alimentares acabou por afectar a confiana de

    muitos consumidores. De facto, a maior ateno atribuda qualidade dos alimentos

    pelo consumidor conduziu a uma exigncia acrescida de garantias e respostas s

    respectivas preocupaes.

    Segundo FAO (2009), o pescado uma importante parte da dieta diria de muitos

    pases, contribuindo com um quarto da oferta mundial de protena de origem animal.

    Num grande nmero de pases o pescado uma fonte relevante de emprego, lucro

    e trocas externa. O consumo per capita de pescado aumentou de 11,6 kg para 15,7

    kg entre 1971 e 1997, ou seja 35,3%, principalmente devido aos pases com

    economias emergentes, citando (Delgado et al., 2003),

    Segundo Barber e Takemura (2003), a definio de sushi arroz avinagrado com

    uma cobertura ou recheio de peixe, marisco, vegetais ou ovos crus, cozinhados ou

    marinados. servido como refeio ligeira, entrada ou prato principal, e assume

    formas muito diferentes. O sushi um prato japons muito tpico e cuja origens

    remontam aos tempos pr-histricos. Atravs dos sculos, ele tem sido apreciado

    num grande nmero de variedades; desde o mais simples e quotidiano, como o

    atum enrolado com arroz avinagrado e alga nori, ao elegante sushi criado para

    ocasies festivas.

    O Japo (Figura 2.1) uma nao constituda por ilhas com uma variedade enorme

    de peixes e mariscos. O arquiplago consiste em quatro ilhas principais: Honshu;

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    Hokkaido; Kyushu e Shikoku (da maior para a menor), uma srie de cadeias de ilhas

    e cerca de 3900 ilhas menores. Honshu representa mais de 60% da rea total,

    dividido em oito regies e quarenta e sete provncias. As ilhas so montanhosas,

    com uma pequena rea cultivvel. A densa populao alimenta-se do que extrai do

    mar e dos seus campos de arroz, e isso faz com que a sua cozinha seja focada

    naquilo que a natureza local oferece. O que pode parecer extico ao olhar de um

    estrangeiro, como a combinao de peixe cru com arroz, torna-se extremamente

    lgico num lugar com estas caractersticas (Barber e Takemura, 2008).

    Fonte: http://i2.photobucket.com (2009)

    Figura 2.1 Mapa Japo com regies e provncias.

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    2.1 Histria

    Ningum sabe ao certo quando surgiu o sushi (em japons ou), se bem que

    no sculo V, a.C. j se fizessem conservas de peixe com arroz no Sudoeste da sia

    (Barber e Takemura, 2008). O sushi apareceu h sculos como um modo de

    conservao do peixe. Era um mtodo proveniente dos pases do sudoeste da sia

    que consistia na prensagem de peixe com sal. O peixe fermentava durante alguns

    meses antes de ser consumido. Alguns restaurantes em Tquio ainda servem esse

    sushi original, chamado Naresushi, feito com carpa de gua-doce. O seu sabor to

    forte que acaba por encobrir totalmente o sabor do peixe

    (www.acasadoyakisoba.com.br., 2009).

    A histria do sushi remonta necessidade de conservao de peixe cru, atravs de

    tcnicas desenvolvidas no Sudeste Asitico e China. A cabea e as vsceras eram

    retiradas, os filetes do peixe cru eram salgados e acondicionados num barril de

    madeira com camadas de arroz cozido entre eles. Com a fermentao natural do

    arroz, ocorria a libertao de cido lctico, o que provocava um pH cido ao peixe e

    garantia a sua conservao. O longo processo de armazenamento (entre um e trs

    anos) do arroz tornava-o imprprio para consumo e apenas o peixe era aproveitado.

    Ao ser introduzido no Japo, no inicio sculo VIII d.C. (Barber e Takemura, 2008),

    essa tcnica sofreu uma pequena modificao, teve inicio a utilizao de pedras

    para prensar o peixe cru e o arroz. Deste modo, foi assim criado um tipo de sushi, o

    naresushi, que tinha o odor e sabor fortes como caractersticas dominantes. Um

    exemplo actual desse tipo de sushi o funasushi, feito com a carpa (Yoshino, 1997).

    No sculo XV, um tipo de sushi chamado namanaresushi foi ento desenvolvido.

    Basicamente, tratava-se do naresushi com um perodo de fermentao menor (cerca

    de um ms), o que j permitia o consumo do arroz e do peixe juntos. considerada

    a primeira forma do sushi moderno (Yoshino, 1997).

    A introduo do vinagre na preparao do arroz para sushi ocorreu no sculo XVII,

    em Edo (actual Tquio), pelo mdico Matsumoto Yoshiichi. Isto possibilitou a

    reduo do tempo de preparao do sushi para um dia. Com a abundncia de

    pescados e frutos-do-mar na baa de Tquio, o peixe passou a ser consumido cru e

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    fresco. Alm do ganho em tempo de preparao do sushi, o vinagre adicionou um

    sabor especial ao prato. Este tipo de sushi chamado de hayasushi.

    Ainda no final do sculo XVII, um novo tipo de sushi viria a ser criado na regio de

    Osaka: o oshisushi. Numa caixa de madeira, o arroz de sushi e o peixe cru so

    colocados com um peso por cima para induzir a respectiva compresso. O sushi

    cortado em pedaos rectangulares. O estilo de sushi de Osaka ficou conhecido

    como estilo Kansai.

    No entanto, no inicio do sculo XIX surge aquele que considerado o primeiro

    sushiman da histria um hbil chefe chamado Hanaya Yohei (1799-1858) resolveu

    confeccionar um sushi que deixasse de ser apenas um mtodo de preservao, e

    acabou por desenvolver um sushi parecido com que actualmente se consome. Ele

    criou o tipo de sushi mais popular, o Niguirisushi. Um bolinho de arroz de sushi com

    uma fatia de peixe cru por cima, para consumo imediato, que podia ser manuseado

    com as mos, dispensando os hashis1. Como no havia refrigeradores, os peixes

    eram marinados em molho de soja ou vinagre e o tamanho era aproximadamente o

    dobro dos actuais (Barber e Takemura, 2008). Era servido em yattai (barracas) nas

    ruas de Tquio. Ele trazia o peixe para a sua yattai em caixas com gelo e os clientes

    podiam escolher o prato do dia (www.disksushi.kit.net, 2009).

    Na verdade esta barraca era um tipo de carroa com um balco e uma cortina. At

    ao comeo deste sculo, os yattais mais populares eram aqueles que tinham as

    cortinas mais sujas. A cortina suja significava que a barraca tinha bastante

    movimento e portanto era boa. Os clientes comiam o sushi, mergulhavam os seus

    dedos em chs e enxugavam as mos na cortina (www.disksushi.kit.net, 2009).

    O prato, rapidamente se tornou muito popular no Japo em duas modalidades: o

    Kansai, da cidade de Osaka, na regio de Kansai; e o Edo, de Tquio. Osaka

    sempre foi a capital comercial do Japo, e os seus comerciantes de arroz

    desenvolveram um sushi que consistia em arroz temperado misturado com outros

    ingredientes, servido numa embalagem comestvel decorada. Tquio, localizada

    1 Hashis so pauzinhos ou palitinhos, tambm conhecidos como hashi ou fachi, so as varetas utilizadas como talheres em boa parte dos pases do Extremo Oriente, como a China, o Japo, o Vietname e a Coreia.

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    numa baa rica em peixe e frutos-do-mar, produzia o Nigirisushi, que consistia numa

    pequena poro de peixe ou frutos-do-mar sobre um bolinho de arroz temperado.

    Desde a dcada de 50 os sushi-bares mudaram para um estilo mais ocidental, com

    instalaes fixas e lugares para sentar, no entanto nalguns lugares do Japo, ainda

    se pode encontrar antigos sushi-bares, servindo refeies baratas, principalmente na

    cidade de Kyushu (www.disksushi.kit.net, 2009).

    Outros tipos de sushi tambm acabaram por se tornar populares, destacando-se o

    inarisushi, o makisushi (nome genrico para o sushi enrolado) e o chirashisushi. A

    grande inovao destes tipos de sushi era a utilizao apenas da fora das mos

    para realizar a prensagem.

    O niguirisushi tambm conhecido por edomaesushi, em funo de sua origem era

    utilizado pescado, frutos do mar e algas retiradas da baa de Tquio. Alm disso, a

    vida agitada que tomava forma nas grandes cidades favorecia o estabelecimento

    de uma espcie de fast-food, as pessoas petiscavam na entrada dos

    estabelecimentos, nas ruas ou beira de estradas. O estilo do sushi de Tquio ficou

    conhecido como estilo Edo. Segundo a histria da origem do sushi, o quiosque de

    Yohei, no bairro de Ryogoku, foi o primeiro a vender o niguirisushi. Em 1923, aps a

    cidade de Tquio ser atingida por um terramoto, muitos proprietrios de quiosques

    alimentcios voltaram para as suas regies de origem e disseminaram a receita do

    sushi por todo o Japo (Barber e Takemura, 2008).

    Finalmente, no sculo XX, com a globalizao, o sushi espalhou-se por todo o

    mundo. A partir de 1980, nos Estados Unidos, difunde-se a ideia de que a cozinha

    japonesa, especialmente o sushi, saudvel, o que causou o chamado sushi boom

    por todo o mundo, nomeadamente com a abertura de sushi-bares, rodzios de sushi,

    entre outros. O sushi contemporneo caracteriza-se pela oferta de novos tipos de

    sushi com a adopo de elementos culinrios prprios de cada pas, aliados

    tcnica e inspirao dos sushimen.

    Globalmente pode dizer-se que, alm do sabor, a preocupao do ser humano

    moderno com uma alimentao saudvel fez do sushi um sucesso mundial e criou

    um novo tipo de sushi: o kawarisushi. O seu representante mais famoso o

    california roll, originado nos Estados Unidos.

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    2.2 Tipos de Sushi

    Actualmente o sushi o nome genrico para todos os pratos advindos do sushi-bar,

    e dentro deste sector temos: Naresushi, Niguirisushi, Makisushi, Sashimi,

    Temakisushi, Oshisushi, Chirashisushi, Mazesushi, Futomaki, Hosomaki,

    Kappamaki, Gunkansushi, Inarisushi, Edomae chirashisushi e Gomokusushi.

    2.2.1 Naresushi

    O naresushi (Figura 2.2) a forma mais antiga de sushi. caracterizado por um

    peixe recheado com sal aps os seus rgos e escamas serem removidos. Estes

    peixes so colocados num taa de madeira, so mergulhados em sal e comprimidos

    com um tsukemonoishi pesado ou uma pedra especfica. Eles so fermentados dez

    dias a um ms. Depois esses peixes so demolhados entre quinze minutos a uma

    hora. Os peixes so ento colocados em camadas com arroz cozido no vapor.

    Fonte: www.miyakesushi.com.br, (2009)

    Figura 2.2 Aspecto geral do Naresushi.

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    2.2.2 Niguirisushi

    O niguirisushi composto por peixes e outros frutos do mar, fatiados ou inteiros,

    sobre bolinhos de arroz (Figura 2.3). o tipo de sushi mais comum, moldado mo.

    Representa o estilo de Tquio e muitas das suas verses utilizam marisco ou peixe,

    isto porque a antiga regio de Edo era rica em produtos marinhos (Ferreira, 2009).

    Fonte: http://www.bento.com.sg, (2009)

    Figura 2.3 Aspecto geral do Nigiri sushi.

    2.2.3 Makisushi

    O makisushi formado por recheios variados (peixes, crustceos, frutas, legumes)

    com arroz enrolados na folha de alga nori (a alga nori assemelha-se a uma folha de

    papel de tom escuro e estaladia, Ferreira, 2009), que feita pelo mesmo processo

    do papel ou seja, folhas de alga maceradas e depois reagregadas em forma de folha

    de papel. A produo e consumo da alga nori seca ou tostada remonta 300 a.C.,

    mas s no ano de 700 d.C. que se tornou oficial quando foi registado como um

    produto agrcola no Taisho Ritsuryo, o primeiro livro das leis japonesas (Barber e

    Takemura, 2008).

    Nori o termo japons usado para referir-se s variedades comestveis de algas

    marinhas das diversas espcies de alga vermelha Porphyra. Normalmente o nori

    usado na confeco de dois dos pratos mais tradicionais e conhecidos no Japo, o

    sushi e o onigiri, Dentro desta diviso existem ainda o uramaki, no qual o arroz fica

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    do lado externo do sushi e no do lado interno, como acontece no makisushi

    tradicional (Figura 2.4) (Ferreira, 2009).

    Fonte: http://www.bento.com.sg, (2009)

    Figura 2.4 Aspecto geral do Makisushi.

    2.2.4 Sashimi

    O sashimi um prato constitudo por peixes fatiados sempre acompanhados de

    legumes (Figura 2.5).

    Fonte: http://www.littlesushiontheprairie.com, (2009)

    Figura 2.5 Aspecto geral do Sashimi de atum.

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    2.2.5 Temakisushi

    O temakisushi um prato que contem peas individuais com o nori enrolado em

    forma de cone (igual ao cone do gelado) com recheio de arroz e vrios tipos de

    peixes, frutos do mar, natto (sopa fermentada), uni (miolo de ourio do mar) (Figura

    2.6).

    Existem ainda, pratos como o tirashi, que so preparados, numa forma prpria, o

    arroz no fundo e o peixe cobrindo todo o arroz.

    So acompanhamentos quase obrigatrios, o gari (conserva de gengibre) e o

    sudako ou sunomono (picles de pepino agridoce com polvo ou kani) (Barber e

    Takemura, 2008).

    Fonte: http://www.justhungry.com, (2009)

    Figura 2.6 Aspecto geral do Temakisushi.

    2.2.6 Oshisushi

    Os comerciantes de arroz de Osaka, a capital financeira do Japo, desenvolveram o

    oshisushi, ou sushi prensado. Para o sushi prensado, o arroz avinagrado colocado

    num molde e coberto com peixe marinado ou outros ingredientes. Quando extrado

    do molde, a massa de sushi resultante cortado em pequenos pedaos (Figura

    2.7). O chefe alinha o fundo do oshibako (molde de madeira) com a cobertura,

    cobre-o com arroz de sushi, e pressiona a tampa do molde para baixo, para criar um

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    bloco compacto e rectilneo. O bloco removido do molde e cortado em pedaos

    que cabem na boca.

    Fonte: http://japas.files.wordpress.com, (2009)

    Figura 2.7 Aspecto geral do oshibako e do prato Oshizushi respectivamente.

    2.2.7 Chirashisushi

    O sushi mais fcil de confeccionar, e mais presente nas cozinhas japonesas, o

    chirashisushi, ou scattaredsushi, apenas arroz sushi com outros ingredientes

    misturados ou colocados em cima dele. Chirashisushi sem marisco aparece

    frequentemente nos cestos de piquenique (Figura 2.8).

    Fonte: http://www.unkaizan.com, (2009)

    Figura 2.8 Aspecto geral do Chirashisushi.

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    2.2.8 Mazesushi

    O mazesushi considerado o sushi misturado, existem vrios subtipos de

    mazesushi, como o inarisushi e o fukusasushi. inarisushi consiste em bolsas de

    coalho de feijo frito, recheadas com arroz sushi. kukusasushi utiliza quadrados

    compostos de finas omeletas para embrulhar o arroz sushi. A palavra fukusa

    significa quadrado de seda e uma analogia aos embrulhos de seda utilizados para

    oferecer presentes valiosos no Japo (Figura 2.9).

    Fonte: http://www.unkaizan.com (2009)

    Figura 2.9 Aspecto geral do Inari sushi.

    2.2.9 Futomaki

    O futomaki constitudo por pedaos cilndricos grandes (rolinhos grandes), com o

    nori na parte externa. O futomaki tpico tem dois ou trs centmetros de espessura e

    quatro ou cinco centmetros de largura. Eles so geralmente feitos com dois ou trs

    recheios, escolhidos pela combinao de cores e sabores (Figura 2.10).

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    Fonte: http://d0.biggestmenu.com (2009)

    Figura 2.10 Aspecto geral do Futomaki.

    2.2.10 Hosomaki

    O hosomaki caracterizado por se apresentar num pedao cilndrico fino (rolinhos

    finos), com o nori na parte externa. O hosomaki tpico tem cerca de dois centmetros

    de espessura e de largura. Eles so geralmente feitos apenas com um recheio,

    simplesmente porque no h espao suficiente para mais de um (Figura 2.11).

    Fonte: http://www.marions-kochbuch.com (2009)

    Figura 2.11 Aspecto geral do Hosomaki.

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    2.2.11 Kappamaki

    O kappamaki um sushi recheado apenas com pepino em tiras, um dos mais

    tradicionais sushis. Foi baptizado dessa forma em homenagem ao Kappa, figura

    folclrica japonesa, que tinha o pepino como seu alimento preferido. (Figura 2.12).

    Fonte: http://foodphotoblog.com (2009)

    Figura 2.12 Aspecto geral do Kappamaki.

    2.2.12 Uramaki

    O uramaki caracteriza-se por um cilndrico mdio, com dois ou mais recheios

    (rolinhos de dentro para fora). Uramaki diferencia-se dos outros maki porque o arroz

    est na parte externa e o nori na parte interna. O recheio fica no centro, rodeado por

    uma camada de nori, uma camada de arroz e uma cobertura de outro ingrediente

    como ova de peixe ou sementes de gergelim torradas (Figura 2.13).

    Fonte: http://www.missoshiru.com.br (2009)

    Figura 2.13 Aspecto geral do Uramaki.

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    2.2.13 Gunkansushi

    O gunkansushi caracterizado por um pedao pequeno, ovalado (rolinho de navio

    de guerra), similar em tamanho e aparncia ao hosomaki. O arroz embrulhado

    mo numa tira de nori, mas ao invs do recheio ficar no centro, tem alguns

    ingredientes, como ovas de peixe empilhados no topo (Figura 2.14).

    Fonte: http://www.travellerkit.com (2009)

    Figura 2.14 Aspecto geral do Gunkanzushi.

    2.2.14 Inarisushi

    O irarisushi ou sushi recheado caracteriza-se por um pequeno embrulho ou bolsa

    cheia de arroz de sushi e outros ingredientes. O embrulho confeccionado com tofu

    bem frito, uma omeleta fina (fukusasushi), ou folhas de repolho (kanpyo) (Figura

    2.15).

    Fonte: http://z.about.com (2009)

    Figura 2.15 Aspecto geral do Inarizushi.

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    2.2.15 Edomae chirashisushi

    O Edomae chirashisushi um tipo de sushi conhecido como o sushi espalhado no

    estilo Edo, onde os ingredientes crus so arranjados de forma artstica em cima do

    arroz na tigela (Figura 2.16).

    Fonte: http://leit.ru (2009)

    Figura 2.16 Aspecto geral do Edomae chirashisushi.

    2.2.16 Gomokusushi

    O sushi Gomokusushi conhecido como sushi no estilo Kansai, sendo os

    ingredientes, cozidos ou crus, misturados no meio do arroz (Figura 2.17).

    Fonte: http://pds.exblog.jp (2009)

    Figura 2.17 Aspecto geral do Gomokusushi.

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    2.3 O sushi original e o sushi moderno

    O sushi moderno feito base de peixe cru que no tenha muita fibra, o que facilita

    a mastigao e a digesto. H diversos tipos, que dependem dos ingredientes, da

    sua disposio e do seu adorno, mas o arroz comum a todos. Os peixes que

    podem ser utilizados nesta especialidade gastronmica so variados, contudo em

    Portugal os mais correntes so o salmo e o atum. Porm o sucesso da preparao

    do sushi depende muito da habilidade do mestre para cortar o peixe.

    2.4 O sushi e a sade

    Rico em nutrientes, pobre em calorias, fcil e rpido de fazer e muito saboroso, o

    sushi conquista cada vez mais adeptos. A dieta japonesa tpica baseia-se nos

    produtos oferecidos pela natureza daquela regio, onde abundam o peixe e os

    elementos vegetais. O sushi representativo da sabedoria popular, pois aproveita o

    que melhor os alimentos oferecem: as algas, ervas e razes, os derivados de soja,

    os legumes, verduras e o peixe fresco. Tem recebido elogios pelos benefcios para a

    sade. Neste contexto, a esperana mdia de vida dos japoneses, tanto em homens

    como em mulheres, uma das mais altas do mundo. Tudo isto conjugado com um

    forte sentido esttico que desperta o paladar.

    Alguns relatrios da Organizao Mundial de Sade referem que as mulheres

    japonesas tm a maior esperana mdia de vida do mundo, ou seja, oitenta e seis

    anos, enquanto que as mulheres portuguesas tm uma esperana mdia de vida de

    oitenta e um anos. Quanto aos homens, os que tm possibilidades de viver mais so

    os de San Marino, com uma mdia de oitenta anos. Apesar de terem conseguido

    superar os japoneses, a sociedade japonesa continua a possui maior longevidade.

    Depois de San Marino lideram a lista o Japo, a Austrlia, a Sucia, todos eles com

    uma mdia de setenta e nove anos. J os homens portugueses ficam-se pelos

    setenta e quatro anos.

    O sushi considerado um alimento saudvel por diversas razes. O sushi tem um

    baixo valor calrico pois um prato de sushi tpico ronda as trezentas e cinquenta,

    quatrocentas calorias. Os peixes de carne branca, como a perca e o vermelho, tm

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    menos de cem calorias por cem gramas. Mesmo os peixes mais ricos como a

    cavala, a enguia e a parte gorda do atum tm menos de duzentas calorias por cem

    gramas. O sushi tambm rico em cido gordo mega-3 que provm do peixe

    utilizado, nomeadamente o atum, salmo, cavala, sardinha, pargo e peixe-espada e

    eventualmente o polvo, lula e choco, bem como ao camaro, ourio-do-mar e outros

    mariscos, ajuda a prevenir doenas cardiovasculares e a artrite (Barber e Takemura,

    2008).

    No arroz, os glcidos permitem uma libertao lenta da energia (e no contem

    glten), e as fibras que proporcionam uma digesto agradvel. Colateralmente, o

    arroz tambm uma fonte de niacina (ou vitamina B3, que desempenha um

    importante papel no metabolismo energtico celular e na reparao do DNA),

    protenas, tiamina (ou vitamina B1, importante para o bom funcionamento do sistema

    nervoso, dos msculos e do corao, auxilia as clulas na produo de energia para

    que o corpo possa viver, melhor a atitude mental e o raciocnio). Adicionalmente o

    sushi tambm rico em iodo proveniente das algas marinhas, nomeadamente a alga

    nori. Muito nutritivas, as algas fornecem vitamina A, B1, B2, B3, B6, C que ajudam a

    prevenir a deposio de colesterol nos vasos sanguneos. Quanto mais escura for a

    nori, maior a sua qualidade (Barber e Takemura, 2008).

    Um prato de sushi tambm anti-bacteriano e anti-sptico, pois as propriedades

    anti-bacterianas do vinagre ajudam a digesto e contribuem para a diminuio do

    risco de hipertenso. Por outro lado, o gengibre um forte anti-sptico natural,

    auxiliando a digesto, fortalecendo o sistema imunitrio e ajudando o organismo a

    combater gripes e constipaes. A Wasabi (pasta de rbano-bastardo) tambm

    estimula a secreo de saliva e ajuda digesto, anti-bacteriana (Barber e

    Takemura, 2008).

    O sushi tambm rico em minerais, o peixe uma boa fonte de protenas e de

    minerais como o zinco, potssio e fsforo e em vitaminas do complexo B. o molho

    de soja, feito a partir de feijes de soja fermentados, rico em amido, fibras,

    protenas e minerais, entre os quais magnsio, potssio e ferro. Enquanto fonte de

    vitaminas, para alm das vitaminas presentes no peixe, o sushi recorre ainda a

    diversas plantas e vegetais para dar cor, sabor e teores vitamnicos adicionais a

    cada prato. Neste contexto o abacate, o pepino e o rbano so alguns dos vegetais

    mais utilizados (Barber e Takemura, 2008).

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    3. PESCADO

    Segundo a Portaria n. 559/76, de sete de Setembro, entende-se por pescado, os

    animais subaquticos (crustceos, moluscos, ciclstomos, equinodermos,

    batrquios, rpteis e mamferos), e as suas partes ou produtos, destinados a fins

    alimentares. A mesma portaria refere ainda que peixe vivo o que reage ou

    manifesta reflexos musculares percusso ou palpao das suas superfcies

    externas, e pescado fresco o que no tenha sofrido, desde a sua captura, qualquer

    operao de conservao, excepto a refrigerao com ou sem a adio de gelo

    fragmentado simples ou misturado com sal, ou que tenha sido conservado a bordo

    em gua do mar em salmoura refrigerada. O Decreto-Lei 375/98 de vinte e quatro de

    Novembro, define refrigerao como processo que consiste na descida da

    temperatura dos produtos da pesca para que esta esteja prxima da do gelo

    fundente; e produto fresco, todo o produto da pesca, inteiro ou preparado, incluindo

    os produtos acondicionados sob vcuo ou atmosfera modificada que no tenham

    sofrido qualquer tratamento destinado sua conservao, excepto a refrigerao.

    No entanto, e segundo actual contexto europeu, o cdigo de prticas para peixe e

    produtos da pesca (2004) entende peixe como qualquer vertebrado aqutico de

    sangue frio (ectotrmico). No se incluem anfbios nem rpteis aquticos; e peixe

    fresco como sendo o peixe ou produtos da pesca que no tenham sido sujeitos a

    tratamentos de conservao, alm da refrigerao.

    3.1 O consumo de peixe em Portugal

    A pesca uma importante actividade econmica que, em Portugal, ao contrrio de

    alguns pases (Islndia e Noruega) tem um peso reduzido no Produto Interno Bruto

    (PIB) e no Valor Acrescentado Bruto (VAB) do pas. Em Portugal, os valores destes

    indicadores econmicos situam-se abaixo de 1%. O Valor Acrescentado Bruto do

    sector (VAB Pescas) representou, em 2005, cerca de 0,29% do VAB Nacional. A

    quebra de importncia do sector na economia nacional deve-se, em grande parte,

    tendncia decrescente dos preos de venda registados desde o ano de 2002. Assim,

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    22

    no atravs destes indicadores econmicos que se poder medir a importncia

    efectiva desta actividade.

    No Plano Estratgico Nacional para a pesca 2007-2013, feito o retrato da pesca

    nacional, refere que a preparao das grandes linhas de governao para o perodo

    2007-2013 aconselha a uma reflexo profunda e fundamentada sobre a forma como

    se pretende enfrentar os constrangimentos e desafios que o futuro coloca ao sector

    da pesca em Portugal.

    As novas tendncias do sector evidenciam a reduo das oportunidades da pesca e,

    consequentemente, das capturas. Deste modo os governantes e os profissionais do

    sector, discutem a necessidade de uma gesto dos recursos e do meio marinho

    mais eficaz, equilibrada e sustentada. Assim sendo, estamos perante um enorme

    desafio, de forma, a garantir a sustentabilidade dos recursos, fomentar a

    competitividade do sector e assegurar a sustentabilidade econmica e social das

    comunidades piscatrias so os desafios que a classe poltica tem para o sector da

    pesca nos prximos anos.

    O emprego directo no sector (pesca/captura, aquicultura e indstria transformadora

    dos produtos da pesca) representa 0,6 % numa populao activa de cerca de cinco

    milhes e meio de pessoas. Portugal destaca-se, no quadro da Unio Europeia a

    vinte e cinco, pela sua localizao perifrica e pela sua vasta Zona Econmica

    Exclusiva, que resulta de uma extensa linha de costa continental e da natureza

    arquipelgica das Regies Autnomas dos Aores e da Madeira. Num pas como

    Portugal, com uma Zona Econmica Exclusiva (ZEE) de 1 656 mil km2 e uma costa

    continental com cerca de 942 km, a pesca constitui uma importante fonte de

    subsistncia das populaes ribeirinhas.

    De salientar que o consumo per capita dos produtos da pesca em Portugal no ano

    de 2003 era de 33,5 kg/pessoa/ano, dividindo-se em, peixe (fresco, refrigerado,

    congelado ou em conserva) 22,5 kg/pessoa/ano, bacalhau e outros peixes secos,

    salgados, fumados ou em salmoura 5,5 kg/pessoa/ano e crustceos e moluscos

    (frescos, refrigerados, congelados ou em salmoura) 5,9 kg/pessoa/ano (Veiga et al.,

    2009). Os portugueses so, assim, os maiores consumidores de pescado no seio da

    Unio Europeia.

  • UNL-FCT

    23

    3.2 Mudanas post mortem nos produtos da pesca

    O rigor mortis define-se pela rigidez do tecido muscular de um animal, resultante de

    uma srie de modificaes complexas, que surgem nos tecidos aps a morte e

    aparece apenas aps o esgotamento dos nveis de glicognio. Assim, quanto mais

    elevados forem os nveis de glicognio, mais tarde o rigor mortis se ir instalar,

    persistindo o peixe com boa qualidade por mais tempo, pois nesta fase o meio cido

    desfavorvel ao desenvolvimento de microrganismos (Lidon e Silvestre, 2008). O

    rigor mortis um sinal reconhecvel de morte que causado por uma mudana

    qumica nos msculos, provocando um endurecimento ("rigor") dos msculos do

    cadver a impossibilidade de os movimentar ou manipul-los (Huss, 1995).

    Tipicamente o rigor acontece vrias horas aps a morte clnica e desaparece

    espontaneamente dois dias mais tarde, apesar do tempo de incio e durao

    depender da temperatura ambiente. Em mdia, presumindo-se a existncia de uma

    temperatura amena, comea entre s trs a quatro horas post-mortem,

    (endurecendo a carne e aumentando a acidez, nesta fase no ocorre deteriorao,

    Lidon e Silvestre, 2008) e o efeito mximo do rigor surge nas doze horas

    subsequentes, finalmente o relaxamento ocorre aproximadamente trinta e seis horas

    aps a morte (wikipdia, 2009). O desenvolvimento do rigor mortis influenciado

    principalmente pela reserva de glicognio, pH do msculo e temperatura. Quanto

    mais se prolongar o rigor mortis, mais tempo se mantm o pescado com boa

    qualidade (Lidon e Silvestre, 2008).

    A especificidade da sua constituio qumica, em conjunto com os possveis efeitos

    provenientes das diferentes formas de captura, levam a que os produtos da pesca

    se deteriorem mais rapidamente que outros alimentos. Diversos factores influenciam

    o incio e a intensidade do rigor mortis nos peixes, destacando-se a espcie,

    temperatura, mtodo de manipulao e morte (i , stresse) (Sorensen et al., 2009)

    Desta forma, torna-se tambm necessrio recorrer a um conjunto de prticas de

    manuseamento e conservao apropriadas.

    costume dividir as alteraes que o pescado sofre aps a morte em quatro tipos

    diferentes: sensoriais, qumicas, fsicas, microbiolgicas (considera-se ainda, muitas

    vezes separadamente, a oxidao lipdica, embora possa ser includa, por exemplo,

  • UNL-FCT

    24

    nas alteraes qumicas e sensoriais) (Vaz-Pires, 2006). Logo aps a captura/morte

    dos animais, ocorrem alteraes a nvel autoltico, qumico, microbiolgico e

    sensorial (Huss, 1995).

    Aps a morte, os produtos da pesca ficam sujeitos a vrias alteraes de origem

    enzimtica e bacteriana que posteriormente podero conduzir a um deficiente

    estado de frescura, caso as condies de higiene e conservao no sejam

    respeitas (Figura 3.1).

    Fonte: Guzmn, 1988.

    Figura 3.1 Fases que ocorrem nos tecidos musculares desde a captura at a putrefaco.

    O pescado um produto com elevada perecibilidade, devido ao elevado carcter

    coloidal da respectiva protena muscular, com grande quantidade de substancias

    extractivas nitrogenadas livres (as principais responsveis pelo aroma e sabor

    especficos do peixe fresco), produtos intermedirios de metabolismo, aminocidos

    livres e xido de trimetilanina ((CH3)3NO) (Lidon e Silvestre, 2008).

  • UNL-FCT

    25

    Segundo Vaz-Pires (2006) alteraes que o pescado sofre aps a morte so de

    diferentes tipos, destacando-se:

    Alteraes sensoriais so as que podem ser detectadas pelos rgos dos

    sentidos humanos; representam a soma de todas as outras e so as que o

    consumidor comum, sem auxlio de instrumentos e mesmo sem tocar no

    produto, pode usar no quotidiano. A ttulo de exemplo destaca-se o

    aparecimento de cheiros desagradveis ou a perda de transparncia dos

    olhos dos peixes;

    Alteraes qumicas so as verificadas por anlises qumicas a compostos

    que sofrem modificaes, na sua quantidade, ao longo da degradao. H

    compostos que so degradados, outros que se formam; desde que haja

    alteraes relacionveis com o desenrolar da degradao, podero servir de

    mtodo indicador da qualidade (ou, pelo menos, de algumas qualidades) do

    pescado. Por exemplo, o pescado, no momento da morte, tem normalmente

    um elevado teor de ATP, que consumido rapidamente em minutos ou horas.

    Alteraes fsicas so as que se verificam em parmetros fsicos,

    mensurveis com instrumentos apropriados. A resistncia elctrica dos

    tecidos e a rigidez do msculo porque diminuem gradualmente at

    degradao avanada do pescado, so alguns exemplos neste caso;

    Alteraes microbiolgicas so as induzidas por microrganismos existentes

    no pescado, quer naturalmente, quer atravs de contaminaes posteriores

    sua captura. Por exemplo, o nmero total de bactrias geralmente aumenta

    durante a degradao do pescado;

    Alteraes lipdicas por oxidao, embora tambm sejam alteraes

    qumicas, eventualmente com implicaes sensoriais, so frequentemente

    consideradas separadamente, j que acorrem principalmente em peixes

    gordos, sendo neste caso (ao contrrio dos peixes magros) as principais

    causadoras de degradao.

    Todas estas formas de degradao esto interligadas e no so facilmente

    distinguveis entre si. De facto, note-se que o crescimento bacteriano (alterao

    microbiolgica) provoca cheiros desagradveis (alterao sensorial), amolecimento

  • UNL-FCT

    26

    do msculo (alterao fsica) e degradao proteica (alterao qumica) (Guzmn,

    1988).

    3.2.1 A autlise

    Existe nos animais aquticos, antes da morte, mecanismos de controlo da respectiva

    actividade enzimtica. As enzimas que o pescado segrega, e tambm as que os

    microrganismos nele presentes produzem, degradam os alimentos ingeridos, mas os

    tecidos das paredes do tubo digestivo mantm-se ntegros. Envolvidos neste

    processo de defesa esto a prpria constituio das mucosas de revestimento, bem

    como outros sistemas, nomeadamente o sistema imunitrio, que actuam em caso de

    invaso microbiana (Vaz-Pires, 2006).

    A autlise caracterizada pela aco de enzimas nos constituintes do pescado

    aps a sua morte. Elas esto presentes tanto nas vsceras como na carne. A sua

    aco tambm resulta na produo de substncias com odor desagradvel,

    conjuntamente produzem outras substncias que servem de substrato aos

    microrganismos. A autlise tambm causa o amolecimento da carne do pescado,

    provoca como exemplo, o fenmeno da barriga dilacerada em sardinhas e das

    manchas negras em camares e lagostas (Huss, 1997).

    A estrutura das paredes do tubo digestivo vai alterar-se, perdendo gradualmente as

    suas capacidades associadas permeabilizao celular. O sistema imunitrio pra

    de funcionar e as enzimas presentes vo adquirindo uma maior capacidade de

    digesto e invaso dos tecidos circundantes. A este processo de auto-digesto do

    pescado chama-se autlise; provocada por enzimas, das quais uma grande parte

    constituda por enzimas do prprio pescado e outra parte, normalmente menor, por

    enzimas produzidas por microrganismos nele presentes no momento da morte (Vaz-

    Pires, 2006).

    Se a maior parte dos crustceos capaz de respirar fora do seu ambiente mediante

    absoro do oxignio atmosfrico por perodos de tempo limitados, com a maior

    parte dos peixes sseos tal no ocorre, constituindo a via glicolitica o processo de

    obteno de energia.

  • UNL-FCT

    27

    Aps, a morte, o glicognio ou os lpidos armazenados so oxidados pelas enzimas,

    e dessa gliclise post mortem resulta a acumulao de cido lctico, o que faz

    baixar o pH do msculo (por vezes abaixo de seis). A esta fase, aps a captura dos

    produtos da pesca, chamamos de Pr-rigor.

    Por norma, um animal sem stress e bem alimentado antes da morte, ter maior

    quantidade de glicognio face aquela que tenha sido submetido ao stress e ao

    jejum.

    As modificaes qumicas que ocorrem durante a deteriorao processam-se de

    forma mais pronunciada na fraco lipdica do pescado. Esta fraco pode sofrer

    reaces de oxidao e hidrlise, as quais resultam na produo de substncias

    responsveis pela rancificao e por sabores desagradveis (Gram et al., 2004).

    Em muitos dos processos de autlise esto envolvidas substncias que derivam da

    metabolizao do azoto. Uma destas substncias a salientar o xido de

    trimetilanina [(CH3)3NO] ou, um agente osmoregulador em peixes. O (CH3)3NO pode

    ser transformado em trimetilamina ((CH3)3N), atravs da aco bacteriana, em peixe

    refrigerado, ou em dimetilamina (CH3)2NH e formaldedo (HCHO), por influncia

    enzimtica, em peixe congelado (Guzmn, 1988). Outra amina biognica produzida

    durante os processos de deteriorao a histamina, a qual acima de certa

    concentrao sistmica se torna txica, podendo provocar vmitos, diarreias, dores

    abdominais, dores de cabea e reaces alrgicas cutneas (Gram et al., 2004).

    A dissoluo do estado de rigor mortis um processo complexo e em parte

    incompreendido, no entanto, os processos que levam a esta fase parecem ter uma

    provenincia autoltica em que o relaxamento do msculo (maturao) est

    relacionado com a digesto de alguns componentes por parte de enzimas. Esta

    dissoluo, e o eventual processo de deteriorao, coincide ento com as mudanas

    autolticas, uma das quais, sendo a degradao do ATP. A esta fase atribui-se o

    nome de maturao. Estes processos degradativos e a aco de algumas enzimas

    microbianas induzem novamente o relaxamento do msculo, tornando a sua textura

    mole (Gram et al., 2004).

  • UNL-FCT

    28

    3.2.2 Mudanas ao nvel sensorial

    Os fenmenos complexos que ocorrem durante a degradao, principalmente

    qumicos, fsicos e microbiolgicos, do origem a efeitos no pescado, detectveis

    por simples utilizao dos rgos dos sentidos humanos, as alteraes sensoriais

    (Vaz-Pires, 2006).

    As primeiras alteraes durante o armazenamento e conservao do pescado

    ocorrem (Figura 3.2) no mbito do aspecto e da textura, surgindo posteriormente

    alteraes no sabor (Huss, 1995).

    Fonte: Huss, 1995

    Figura 3.2 Principais alteraes da qualidade do peixe conservado refrigerado.

    Pela anlise da Figura 3.2 podem observar-se quatro fases: na primeira fase

    verifica-se que o pescado muito fresco, sabor e cheiro a maresia ou neutro e sabor

    adocicado; na segunda fase prevalece uma perda do cheiro e sabor caracterstico; e

    na terceira fase d-se o aparecimento dos primeiros indcios de deteriorao e de

    compostos volteis depende da espcie e do processo de deteriorao (aerbia ou

    anaerbia); e durante o estado mais avanado desenvolvem-se cheiros ligeiramente

    adocicado, amoniacal, sulfdrico e a rano. A textura do msculo torna-se

    progressivamente mais mole e aquosa, ou muito seca; na quarta fase, o peixe pode

    ser considerado como degradado e ptrido (Huss, 1995).

    A primeira e segunda fase coincidem com as rpidas alteraes autolticas que

    ocorrem na primeira fase de post mortem. Na ltima fase ocorre uma actividade

  • UNL-FCT

    29

    bacteriana bastante intensa e as alteraes no msculo tornam-se notrias (Nunes e

    Batista, 2004).

    A avaliao da frescura do pescado recorre inspeco sensorial (desde a dcada

    de setenta). Porm, a natureza subjectiva dos mtodos sensoriais exige a adopo

    de critrios de avaliao harmonizados e a participao de provadores treinados e

    familiarizados com os produtos da pesca e com os critrios de avaliao usados, e

    actualmente, est regulamentado a nvel europeu. O Regulamento (CE) n 2406/96

    do Conselho, de vinte e seis de Dezembro, que inclui esquemas de avaliao do

    grau de frescura para alguns grupos de peixes (brancos, azuis e elasmobrnquios),

    cefalpodes e crustceos e que se destinam a ser usados, tanto pela indstria como

    pelos servios de inspeco (Nunes e Batista, 2004).

    Embora naquele regulamento se encontrem fixadas normas de comercializao para

    mais de quarenta espcies, h ainda muitas outras comercializadas nas lotas

    portuguesas que no se encontram abrangidas. Alm disso, as descries indicadas

    nas tabelas nem sempre so as mais adequadas por no permitirem descrever,

    convenientemente, as alteraes que tm lugar. As deficincias de tabelas tm sido

    apontadas em vrios pases, o que levou ao desenvolvimento de esquemas

    alternativos, que tenham em conta as caractersticas de cada espcie, sejam de

    aplicao mais expedita e permitam que as classificaes do grau de frescura

    evoluam proporcionalmente com o tempo de conservao em refrigerado.

    Um dos recentes esquemas de avaliao sensorial do grau de frescura, o mtodo do

    ndice de qualidade, cuja sigla QIM (Quality Index Method), procura ultrapassar as

    dificuldades surgidas na aplicao das tabelas da Unio Europeia. Este mtodo

    baseia-se na avaliao dos atributos que melhor traduzem as alteraes que

    ocorrem no pescado, por exemplo, aspecto da pele, forma dos olhos e cor das

    guelras. Para cada um dos atributos seleccionado um conjunto de dois a quatro

    descries que melhor reflectem as alteraes ocorridas. A cada um dos descritores

    atribuda uma pontuao, pontos de demrito, que varia entre zero e trs. O facto

    de cada atributo poder ter dois a quatro descritores marca uma das diferenas do

    QIM em relao aos esquemas tradicionais. Outra diferena reside no facto de se

    utilizarem vrios descritores especficos de cada produto. Alm disso, o grau de

    frescura do produto em causa no se baseia numa mdia, mas no nmero total de

    pontos de demrito o qual designado por ndice de qualidade. Os descritores

  • UNL-FCT

    30

    utilizados para identificar as alteraes so inequvocos, claros e breves, envolvendo

    normalmente apenas uma ou duas palavras. Deste modo, procura-se minimizar

    qualquer confuso por parte dos provadores, tornando assim a avaliao fcil,

    rpida e objectiva (Nunes e Batista, 2004).

    3.2.3 Mudanas microbiolgicas

    Muitos autores consideram os microrganismos entre os principais responsveis pela

    degradao do pescado, embora a sua aco s se torne evidente

    aproximadamente a partir do sexto dia em gelo. Isto porque as alteraes

    enzimticas da autlise tm incio principalmente a partir do tubo digestivo, que

    muitas vezes retirado durante a eviscerao, e tambm porque, no mbito das

    propriedades organolpticas, a autlise no to evidente como a degradao

    microbiana (Figura 3.3). No entanto, o principal motivo talvez seja o facto de ser

    muito mais difcil controlar os efeitos das enzimas do que os efeitos dos

    microrganismos (embora, paradoxalmente, eles tambm actuem muitas vezes

    produzindo enzimas) (Huss, 1997).

    Fonte: Nunes e Batista, (2004)

    Figura 3.3 Alteraes da qualidade do peixe conservado em refrigerado.

    a) Curva de crescimento microbiolgico tpica; b) Degradao enzimtica e microbiolgica do

    pescado.

  • UNL-FCT

    31

    At ao quinto e sexto dia em gelo aps a morte, os microrganismos no revelaram

    uma grande capacidade para crescer nem para causar a degradao do pescado

    (pelo menos, quando comparada com a aco enzimtica), estando, nesta primeira

    fase da degradao, em fase lag, de atraso ou de latncia. Encontrando-se,

    portanto, em fase de adaptao ao novo meio (pescado morto), pelo que h que

    adaptar os mecanismos de sobrevivncia e crescimento falta de oxignio, e

    carncia da chegada regular de nutrientes, menor abundncia de gua disponvel,

    e ausncia de remoo de produtos de excreo. Passada esta primeira fase lag,

    os microrganismos entram na chamada fase log ou logartmica, ou seja, crescem de

    forma exponencial e passam a constituir o principal motivo da degradao. Daqui em

    diante (aproximadamente no sexto dia em gelo) os microrganismos vo ser sempre

    o principal factor da degradao.

    Imediatamente aps a captura, a microflora dos produtos da pesca est presente

    apenas no muco superficial, guelras e tracto intestinal, sendo normalmente

    inexistente no msculo.

    Aps a morte, os produtos da pesca perdem a proteco natural contra as bactrias,

    apesar da diminuio do pH, pois esta muito leve, no chegando, por si s, a

    constituir uma barreira. Os sucos digestivos, por sua vez, de natureza cida,

    perfuram a parede intestinal, causando a decomposio dos tecidos e facilitando

    desta forma a aco de microrganismos inicialmente restritos ao tracto intestinal

    (Huss, 1995).

    Os microrganismos so, independentemente do motivo, o factor mais estudado na

    investigao da degradao do pescado nos ltimos anos. H, portanto, que

    equacionar as necessidades que os microrganismos apresentam, pois nelas que

    se baseiam os mtodos que possibilitam a conservao dos alimentos. Se o

    desenvolvimento dos microrganismos for evitado, o pescado perdurar mais tempo

    sem se degradar. Estas necessidades so basicamente as mesmas de qualquer ser

    vivo: gua, nutrientes e temperatura adequada so as principais, seguindo-se-lhes

    outras condies fsicas e qumicas do meio, que tm obviamente de ser

    compatveis com a vida (Nunes e Batista, 2004).

    As anlises microbiolgicas no fornecem informaes acerca da frescura do

    pescado, mas permitem detectar a presena de bactrias patognicas, de

  • UNL-FCT

    32

    microrganismos indicadores de contaminao fecal ou at de eventuais prticas de

    manuseio deficientes (Huss, 1997).

    Segundo Adam e Moss (1995), a contaminao dos produtos da pesca por

    microrganismos pode depender de vrios factores, podem ser intrnsecos e

    extrnsecos.

    No mbito dos factores intrnsecos (limitaes do substrato), aponta-se o/a pH;

    Actividade de gua (aw); Potencial de xido-reduo (Eh); Nutrientes ou composio

    qumica; Factores anti-microbianos e Estrutura biolgica.

    Os factores extrnsecos (limitaes ambientais), integram a Humidade relativa;

    Temperatura; Atmosfera gasosa e Taxa de crescimento especfica.

    Adicionalmente devem ainda equacionar-se os factores implcitos, o sinergismo

    (agentes potenciam-se mutuamente), o antagonismo (agentes prejudicam-se

    mutuamente) e o comensalismo (um agente beneficia doutro, sem o prejudicar).

    3.2.3.1 Factores intrnsecos

    1) pH

    O pH influencia as reaces qumicas e bioqumicas e consequentemente os

    microrganismos.

    O desenvolvimento de um microrganismo s pode ocorrer dentro de uma

    determinada faixa de pH. O pH ptimo para uma espcie aquele em que o

    microrganismo apresenta o crescimento mais rpido. A zona e tolerncia de pH na

    qual o crescimento de uma determinada espcie possvel de um lado e do outro do

    pH ptimo, varia no entanto consoante os outros factores do meio (Bourgeois et al.,

    1996).

    A maioria das bactrias tem um pH ptimo prximo da neutralidade (6,5 a 7,5). Em

    geral, as leveduras e principalmente os bolores podem crescer numa gama muito

    larga de pH. Este no s afecta a taxa de crescimento dos microrganismos, mas

    igualmente a sua taxa de sobrevivncia durante o armazenamento. O Quadro 3.1

    apresenta a gama de pH de alguns grupos microbianos.

  • UNL-FCT

    33

    Quadro 3.1 - Gama de pH de alguns grupos microbianos.

    Adaptado de: Bourgeois et al., (1996)

    2) Actividade de gua (aw)

    A frase de que Todos os seres vivos necessitam de gua obviamente verdade; a

    gua tem que estar presente, mas tambm numa forma disponvel, que possa ser

    utilizada pelas clulas (Vaz-Pires, 2006). A gua pode encontrar-se na forma ligada

    e livre, resultando num contedo total de gua (humidade). Por exemplo, num

    produto congelado existe gua, mas est no estado slido, na forma de cristais, pelo

    que, embora presente, no est disponvel para ser utilizada pelas clulas vivas

    (Bourgeois et al., 1996).

    A melhor medida de concentrao de gua, em termos de propriedades fsico-

    qumicas, nos produtos, refere-se medio de sua actividade (aw), ou seja,

    medio do teor de gua livre no produto. A actividade da gua (aw), no mais do

    que o quociente entre a presso parcial da gua na atmosfera em equilbrio com o

    alimento (P) e a presso parcial da gua na atmosfera em equilbrio com a gua

    pura mesma temperatura (P0) (Vaz-Pires, 2006).

    aw = P/P0

    Quando no existe gua livre, a medida de actividade de gua (aw) ser igual a 0,

    porm, se a amostra constituda na sua totalidade por gua pura, ento a aw

    igual a 1. Portanto, as medidas da aw dos produtos esto compreendidas entre 0 e 1

    (sem unidades por ser um quociente entre presses) (Guzmn, 1988). Podendo

    apresentar-se intimamente ligada s molculas constituintes do produto no

    Microrganismos Mnimo ptimo Mximo

    Bolores 1,5-3,5 4,5-6,8 8-11

    Leveduras 1,5-3,5 1-6,5 8-8,5

    Bactrias 4,5 6,5-7,5 11

    Bactrias Acticas 2,0 5,4-6,3 9,2

    Bactrias Lcticas 3,2 5,4-6,5 10,5

  • UNL-FCT

    34

    podendo ser removida ou utilizada para qualquer tipo de reaco, onde o

    metabolismo dos microrganismos paralisado, no havendo desenvolvimento ou

    reproduo, ou livre (estando disponvel para as reaces fsicas, evaporao,

    qumicas, escurecimento, e microbiolgicas, tornando-se a principal responsvel

    pela deteriorao do produto). A velocidade das reaces qumicas, desejveis ou

    no, depende da mobilidade e concentrao dos compostos e enzimas envolvidos,

    que so conferidas pela quantidade de gua livre. A determinao da actividade de

    gua permite a inibio da reproduo microbiana, reaces enzimticas, oxidativas

    e hidrolticas do produto (Bourgeois et al., 1996).

    O comportamento microbiano frente aw extremamente varivel, sendo que as

    bactrias so mais exigentes quanto disponibilidade de gua livre, em relao aos

    fungos e leveduras. Os substratos com aw inferior a 0,60 esto assegurados quanto

    ao desenvolvimento microbiano. Alimentos com alto teor de lpidos, que apresentam

    actividade de gua na faixa de 0,30 a 0,40 so mais estveis oxidao qumica e

    microbiana (Vaz-Pires, 2006).

    O Quadro 3.2 a seguir apresentado, ilustra o valor mnimo de aw at onde muitos

    grupos microbianos e microrganismo especficos tm capacidade de se desenvolver.

    Quadro 3.2 Valor mnimo para o crescimento de microrganismos nos alimentos.

    Organismos aw Organismos aw

    Maioria das bactrias de alterao 0,90 Bactrias halfilas 0,75

    Maioria das leveduras de alterao 0,88 Bolores xerfilos 0,61

    Maioria dos bolores de alterao 0,90 Leveduras osmfilas 0,61

    Organismos especficos Organismos especficos

    Clostridium botulinum, tipo E 0,97 Mucor spinosus 0,93

    Pseudomonas spp. 0,97 Candida scotti 0,92

    Acinectobacter spp. 0,96 Trichosporon pullulans 0,91

    Escherichia coli 0,96 Candida zeylanoides 0,90

    Enterobacter aerogenes 0,95 Staphylococcus aureus 0,86

    Bacillus subtilis 0,95 Alternaria citri 0,84

    Clostridium botulinum tipo A e B 0,94 Penicillium patulum 0,81

    Candida utilis 0,94 Aspergillus glaucus 0,70

    Vibrio parahaemolyticus 0,94 Aspergillus conicus 0,70

    Botrytis cinerea 0,93 Zygosaccharomyces rouxii 0,62

    Adaptado de: Jay, (1996)

  • UNL-FCT

    35

    Actividades da gua inferiores a 0,6 impedem o crescimento de bactrias, da que

    seja possvel conservar alimentos mediante desidratao, salga, congelao, etc.

    Deste modo, qualquer processo que vise diminuir a quantidade e/ou a

    disponibilidade de gua de um alimento permite inibir parcial ou totalmente a

    actividade das enzimas e o desenvolvimento de microrganismos e,

    consequentemente, aumentar o tempo de conservao desse alimento (Vaz-Pires,

    2006). Esta gua, fortemente ligada ao alimento, forma uma espcie de

    monocamada com apenas alguns angstrom de espessura e que envolve o alimento.

    Trata-se de uma gua que no utilizada para dissolver os constituintes dos

    alimentos e, como tal, a velocidade das reaces tende para zero (excepto o caso

    da oxidao dos lpidos) (Figura 3.4), no se constatando qualquer desenvolvimento

    microbiano (Castro, 2004).

    Adaptado de: Castro, (2003)

    Figura 3.4 Correlao entre a taxa de alterao dos alimentos e a da actividade da gua.

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    3) Potencial de oxido-reduo (Eh)

    O potencial de oxido-reduo uma medida da tendncia de um sistema reversvel

    de doar e receber electres. Mede a facilidade com que o substrato pode captar ou

    receber electres. Entende-se por estado de oxidao quando existe a libertao ou

    perda de electres, e estado de reduo quando o composto recebe electres

    (Castro, 2004). Deste modo, utiliza-se a equao de Nernst para clculo do potencial

    de oxido-reduo ou redox (Eh). A determinao do Eh feita com potencimetros.

    Eh = E0 + 0,06/n log (ox)/(red)

    E0 = padro redox (pH=0)

    N = nmero de electres envolvidos no processo

    (ox) (red) = concentrao no estado oxidativo e reduzido

    Assim, quanto menor for Eh maior ser a capacidade para ceder electres (Quadro

    3.3).

    Quadro 3.3 Eh de crescimento de microrganismos.

    Adaptado de: Valsechi (2006).

    Os microrganismos aerbios so favorecidos com valores elevados para o potencial

    redox. Por oposio, os microrganismos anaerbios so favorecidos com nveis

    baixos. Note-se que o potencial redox cai com a converso de msculo em carne

    (Valsechi, 2006).

    Microrganismos Eh de crescimento (em mV)

    Aerbios + 350 a 500

    Anaerbios

    + 30 a 250

    Na ausncia de O2 toleram substrato com Eh elevado (+370)

    Na presena de O2 este limite baixa para + 100

    Anaerbios facultativos +100 a + 350

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    4) Nutrientes ou composio qumica

    Os microrganismos usam os alimentos como fontes de nutrientes e energia. A partir

    do meio envolvente, usam elementos qumicos para construir a sua biomassa,

    extraem molculas que no sintetizam (e que so essenciais para o crescimento) e

    utilizam a parte do substrato que pode ser usada como fonte de energia (Vaz-Pires,

    2006). Deste modo, a falta de algum nutriente essencial, ou um dfice num nutriente

    no essencial mas necessrio, provocara atraso ou impossibilidade de crescimento

    (Huss, 1997). No entanto, normalmente no h falta de nenhum nutriente no

    pescado, ao contrrio do que acontece em alguns outros alimentos (por exemplo, na

    clara do ovo, no existem determinados nutrientes, o que constitui uma forma de

    defesa contra os microrganismos). O pescado assim um excelente alimento,

    equilibrado e rico em vrios nutrientes essenciais, pelo que os microrganismos no

    tm qualquer dificuldade de crescimento neste meio. Trata-se at de um dos motivos

    que justificam a elevada perecibilidade do pescado (Vaz-Pires, 2006).

    De uma forma geral, entre os microrganismos encontrados nos alimentos, os bolores

    formam o grupo de organismos que tem as mais fracas exigncias nutricionais,

    seguido pelo grupo das leveduras, as bactrias gram-negativas e finalmente as

    gram-positivas (Guzmn, 1988).

    5) Factores anti-microbianos

    Os factores anti-microbianos so substncias que apresentam a capacidade de

    retardar ou impedir a multiplicao microbiana. Estas substncias inibem o

    funcionamento enzimtico, interferem na gentica celular ou ligam-se aos nutrientes

    essenciais, impedindo a sua utilizao (Huss, 1995).

    Estas substncias inibem o crescimento de certos microrganismos, principalmente

    das bactrias gram-positivas. Podem, portanto, ter um certo efeito selectivo sobre a

    flora e alteraes a curto prazo. O seu papel protector no entanto limitado porque

    numerosas espcies microbianas so resistentes. Alm disso vrios destes

    compostos so facilmente neutralizados pelo aquecimento, oxidao ou digesto

    microbiana.

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    6) Estrutura biolgica

    A estrutura biolgica constitui tambm uma barreira ou obstculo para o acesso dos

    microrganismos s partes perecveis de alguns alimentos, ou seja, aquela que

    apresenta nutrientes, e portanto, que permite a multiplicao dos microrganismos

    so teoricamente estreis. Tais estruturas podem ser representadas por plos e

    peles de animais (pele e escamas de peixes).

    3.2.3.2 Factores extrnsecos

    1) Humidade relativa

    A humidade relativa interfere directamente com a actividade de gua (aw) do

    alimento. Se armazenarmos um alimento com baixa aw num ambiente com

    humidade relativa elevada, a actividade de gua do alimento aumentar, podendo

    sofrer deteriorao por microrganismos. O binmio humidade relativa/temperatura

    no pode ser desprezado, sendo que, no geral, quanto mais elevada a temperatura

    de armazenamento, menor dever ser a humidade relativa. Note-se que o inverso

    tambm se verifica.

    2) Temperatura

    A temperatura de armazenamento o factor ambiental mais importante que afecta a

    durao da conservao e o tipo de alteraes microbianas doa produtos

    alimentares (Vaz-Pires, 2006; Huss, 1995).

    O ritmo de desenvolvimento de um microrganismo varia com a temperatura e para

    alm de certos limites, todo o crescimento impossvel. Teoricamente existe a

    possibilidade de alterao