CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a...

136
ANA CLÁUDIA RAMOS CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS: UM CAMINHO PARA A FORMAÇÃO DE LEITORES? ORIENTADORA: PROFª. DRª. ELSA MARIA MENDES PESSOA PULLIN 2011

Transcript of CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a...

Page 1: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

ORIENTADORA PROFordf DRordf ELSA MARIA MENDES PESSOA PULLIN

2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Orientadora Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

Londrina PR 2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Comissatildeo examinadora

______________________________________

Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Profordf Drordf Francismara Neves de Oliveira

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Prof Dr Rovilson Joseacute da Silva

Diretor das Bibliotecas do Municiacutepio de Londrina

Secretaria Municipal de Cultura ndash Londrina ndash PR

Londrina _____ de ______________ de 2011

A Deus

Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia

quando eu jaacute natildeo tinha mais por onde caminhar

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira

Aos meus pais

A quem honro pelos esforccedilos

Agrave Elsa Pullin

Pela sabedoria e dedicaccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 2: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Orientadora Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

Londrina PR 2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Comissatildeo examinadora

______________________________________

Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Profordf Drordf Francismara Neves de Oliveira

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Prof Dr Rovilson Joseacute da Silva

Diretor das Bibliotecas do Municiacutepio de Londrina

Secretaria Municipal de Cultura ndash Londrina ndash PR

Londrina _____ de ______________ de 2011

A Deus

Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia

quando eu jaacute natildeo tinha mais por onde caminhar

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira

Aos meus pais

A quem honro pelos esforccedilos

Agrave Elsa Pullin

Pela sabedoria e dedicaccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 3: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Orientadora Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

Londrina PR 2011

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Comissatildeo examinadora

______________________________________

Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Profordf Drordf Francismara Neves de Oliveira

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Prof Dr Rovilson Joseacute da Silva

Diretor das Bibliotecas do Municiacutepio de Londrina

Secretaria Municipal de Cultura ndash Londrina ndash PR

Londrina _____ de ______________ de 2011

A Deus

Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia

quando eu jaacute natildeo tinha mais por onde caminhar

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira

Aos meus pais

A quem honro pelos esforccedilos

Agrave Elsa Pullin

Pela sabedoria e dedicaccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 4: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

ANA CLAacuteUDIA RAMOS

CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS

UM CAMINHO PARA A FORMACcedilAtildeO DE LEITORES

Dissertaccedilatildeo apresentada ao Programa de Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina como requisito para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Mestre

Comissatildeo examinadora

______________________________________

Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Profordf Drordf Francismara Neves de Oliveira

UEL ndash Londrina ndash PR

______________________________________

Prof Dr Rovilson Joseacute da Silva

Diretor das Bibliotecas do Municiacutepio de Londrina

Secretaria Municipal de Cultura ndash Londrina ndash PR

Londrina _____ de ______________ de 2011

A Deus

Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia

quando eu jaacute natildeo tinha mais por onde caminhar

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira

Aos meus pais

A quem honro pelos esforccedilos

Agrave Elsa Pullin

Pela sabedoria e dedicaccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 5: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

A Deus

Pela certeza de que eras Tu quem me conduzia

quando eu jaacute natildeo tinha mais por onde caminhar

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira

Aos meus pais

A quem honro pelos esforccedilos

Agrave Elsa Pullin

Pela sabedoria e dedicaccedilatildeo

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 6: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus

Pela sauacutede feacute e perseveranccedila que tem me dado

Agrave minha filha Ana Carolina

Minha fiel companheira na hora da tribulaccedilatildeo a qual com paciecircncia

compreendeu minhas faltas e ausecircncias

Aos meus pais

A quem honro pela forccedila pelo exemplo de vida e

pelos anos de dedicaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo

Aos meus amigos

Pelo incentivo agrave busca de novos conhecimentos

e pela forccedila em relaccedilatildeo a esta jornada

Agrave Profordf Drordf Elsa Maria M Pullin

Esta que com sua sabedoria e dedicaccedilatildeo orientou-me

sendo sensiacutevel agraves diversas situaccedilotildees e percalccedilos

Aos professores e alunos

Que participaram desta pesquisa e que concederam

informaccedilotildees valiosas para a realizaccedilatildeo deste trabalho

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 7: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

O CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRO CONTADOR DE HISTOacuteRIASIASIASIAS

- Conta-me uma histoacuteria ndash pedia-lhe a moccedila

- Tenho de pensar ndash respondia-lhe

Ora acontecia que por vezes o tempo que levava em sua meditaccedilatildeo era longo demais para ela que se zangava Mas ele balanccedilava a cabeccedila e respondia impassiacutevel

- Vocecirc deve ter um pouco mais de paciecircncia Uma boa histoacuteria eacute como uma boa montaria A caccedila brava fica escondida e eacute preciso armar emboscadas e ficar de tocaia horas e horas a fio na boca dos precipiacutecios e florestas Os caccediladores mais apressados e impetuosos afugentam a caccedila e nunca obtecircm os melhores exemplares Deixa-me pois

pensar

Mas desde que tivesse meditado o tempo bastante e comeccedilasse a falar natildeo parava enquanto natildeo tivesse contado a histoacuteria completa que corria ininterrupta e fluente como um rio descendo montanha abaixo e em cujas aacuteguas tudo se reflete ndash desde a pequena

folha de grama ateacute o azul da aboacutebada celeste()

Convertia-se num ser todo-poderoso assim que iniciava mais uma demonstraccedilatildeo de sua arte pois aprendera a arte de narrar no Oriente onde essa funccedilatildeo eacute altamente

apreciada e seus praticantes satildeo considerados uma espeacutecie de magos

Jamais comeccedilava suas histoacuterias em paiacuteses estranhos para onde o espiacuterito do ouvinte natildeo podia voar com forccedila proacutepria

Principiava sempre com algo que os olhos pudessem ver depois imperceptivelmente levava a imaginaccedilatildeo dos ouvintes para onde muito bem ele queria de

modo que a narrativa transcorria com naturalidade

Quem o escutava absorto em suas palavras embora continuasse tranquumlilamente sentado o espiacuterito jaacute vagava Alegre e receoso pelas regiotildees mais fascinantes Assim era a

maneira de ele contar suas histoacuterias

Herman Hesse

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 8: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a

RAMOS Ana Claacuteudia Contaccedilatildeo de histoacuterias um caminho para a formaccedilatildeo de leitores Dissertaccedilatildeo de Mestrado em Educaccedilatildeo Universidade Estadual de Londrina 2011

RESUMO

A pesquisa intitulada CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS um caminho para a formaccedilatildeo de leitores objetivou verificar alguns efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores e descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros Situando-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por conseguinte descritivas e interpretativas A parte empiacuterica foi desenvolvida em um ambiente escolar com alunos do 2ordm ano do Ensino Fundamental visto que haacute uma ruptura na passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas salas das seacuteries iniciais Pelos resultados desta pesquisa foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e compreensatildeo de si e do mundo

Palavras-chave Contaccedilatildeo de histoacuteria Leitura Formaccedilatildeo do leitor Ensino Fundamental

RAMOS Ana Claacuteudia Storytelling a path to develop novice readers 2010 Mas-terrsquos Degree dissertation on Education Universidade Estadual de Londrina

ABSTRACT

The research named STORYTELLING a path to develop readers aimed to check some of the effects of oral narratives i e possible effects that resulted from storytel-ling for the development of novice readers It also aimed to find out if and how the teacherrsquos performance during the storytelling influences the studentrsquos interest in read-ing other books Set in the field of qualitative investigations and therefore descriptive and interpretative The empirical part of the research was developed in an educa-tional environment with students of the 2nd grade in elementary school since there is a disruption in the transition from kindergarten to elementary school not only be-cause of the power of the rough transition of the offering of learning environments typical of those teaching structures but because of other interactive possibilities in classes of early grades Through the results of this research it was possible to ex-pose storytelling as one more central strategy for the readerrsquos development assuring this way the enrichment of the educational process under a perspective that values the generation of critical and reflexive individuals Thatrsquos due to the fact that oral narratives especially those that are supported by the reading of literary work as in the case of this research concentrate multi meaning ways for the reading and under-standing of themselves and the world

Key words Storytelling Reading Readerrsquos development Elementary school

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1- Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas62

QUADRO 2- Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo93

QUADRO 3- Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo94

QUADRO 4- Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B) 95

LISTA DE ILUSTRACcedilAtildeO

FIGURA 1 - Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dados70

FIGURA 2 - Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise71

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

FNLIJ Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e Juvenil

IES Instituto de Educaccedilatildeo Superior

INEP Instituito Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Aniacutesio Teixeira

PCNrsquos Paracircmetros Curriculares Nacionais

SEFMEC Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e Embaixadas da Franccedila

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeOhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip 13

1 LEITURA UMA PRAacuteTICA CULTURALhelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphelliphellip17

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans) Formadora e (De) Formadora 22

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo 29

121 A arte de narrar o papel do contador na contemporaneidade35

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores38

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar41

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores45

2 MEacuteTODO DE PESQUISA52

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados54

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes55

221 Participantes56

23 Materiais57

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias59

232 Demais instrumentos59

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados60

241 Intervenccedilatildeo61

242 Conversas e entrevistas63

2421 Entrevistas com os alunos63

2422 Entrevistas e conversas com as professoras64

243 Observaccedilotildees65

244 Conversas com a bibliotecaacuteria65

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO68

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo71

32 Entre os entrecruzamentos das matrizes as praacuteticas de leituras e

concepccedilatildeo de leitor84

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta92

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS97

REFEREcircNCIAS109

APEcircNDICES121

APEcircNDICE A - Questionaacuterio para a seleccedilatildeo dos entrevistados (seleccedilatildeo dos

alunos)122

APENDICE B - Termo de Compromisso e Autorizaccedilatildeo123

APENDICE C - Carta de Informaccedilatildeo ao Sujeito de Pesquisa125

APEcircNDICE D - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido126

APEcircNDICE E - Roteiro de conversa toacutepico guia127

APEcircNDICE F - Sinopse das histoacuterias trabalhadas nas intervenccedilotildees129

APENDICE G - Ficha de observaccedilatildeo131

ANEXO132

ANEXO A - Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca133

13

INTRODUCcedilAtildeO

O presente trabalho ldquoContaccedilatildeo de Histoacuterias um caminho possiacutevel para a

formaccedilatildeo de leitoresrdquo tem por objetivo geral verificar alguns efeitos das narrativas

orais ou seja dos possiacuteveis decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo

de alunos-leitores e como objetivos especiacuteficos os de descobrir se e como o

desempenho do professor durante a contaccedilatildeo de histoacuterias influencia o interesse do

aluno em ler outros livros

A origem desta pesquisa partiu de observaccedilotildees feitas durante a minha

participaccedilatildeo em um projeto interdisciplinar centrado no trabalho com Contos Infantis

desenvolvido com alunos do 2deg ano (do atual ensino de 9 anos) na instituiccedilatildeo em

que atuo

Durante a execuccedilatildeo desse projeto conduzi algumas sessotildees de contaccedilatildeo de

histoacuteria nas quais observei o envolvimento das crianccedilas com o texto narrado e as

reaccedilotildees diversas que a atividade nelas instigava Risos desconfortos tristeza

indiferenccedila entre outras manifestaccedilotildees de sentimentos eram comuns durante cada

sessatildeo Ouvidos e corpos atentos para escutar e natildeo somente para ouvir como

usualmente acontece no cotidiano das demais aulas

Apoacutes as sessotildees dedicava alguns minutos para conversar com as crianccedilas

sobre o que havia sido narrado Muitas delas relatavam suas impressotildees

sentimentos apreciaccedilotildees e seus conhecimentos e por diversas vezes contavam

experiecircncias pessoais relacionadas agrave temaacutetica da histoacuteria O mais fascinante foi a

constataccedilatildeo quanto agrave sua aguccedilada curiosidade quando era apresentado o livro e o

autor da histoacuteria olhos atentos agraves imagens ilustrativas e a toda estrutura do livro

bem como a importacircncia de pegarem o texto impresso e verificarem cada uma a

seu modo se e como ali era constada aquela histoacuteria

A partir de entatildeo passei a valorizar de um modo diferente e a me interrogar

sobre a importacircncia da Literatura Infantil ou seja das produccedilotildees destinadas a

crianccedilas como as que se fazem presentes em livros de ficccedilatildeo (e outros recursos

como os CD`s) concluindo que estas podem e devem ser utilizadas natildeo somente

como pretextos para ensinar conteuacutedos que estatildeo sendo ministrados ou ateacute

14

mesmo para resolver problemas especiacuteficos de comportamento pessoal e social

mas como estrateacutegias para ampliar o imaginaacuterio das crianccedilas e deste modo

inclusive sua inserccedilatildeo social

Ao escutarem algumas dessas histoacuterias as crianccedilas podem reconhecer a

heranccedila social simboacutelica comum que configura a realidade em uma dada sociedade

ou grupo social percebendo a presenccedila das diversidades passando a suspeitaacute-las

bem como o seu lugar no mundo Aleacutem do mais uma questatildeo foi-se impondo em

meus fazeres as histoacuterias quando narradas oralmente podem contribuir e de que

modo para a formaccedilatildeo do aluno como leitor

Tendo por base essa questatildeo que emergiu das experiecircncias e reflexotildees que

fui acumulando ao longo da execuccedilatildeo daquele projeto algumas outras me foram

instigando como estimular os alunos desde as seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo para

o gosto pela leitura tendo em vista que estes se encontram envolvidos em

processos de aquisiccedilatildeo formal de algumas competecircncias linguiacutesticas relacionadas agrave

escrita e agrave leitura Os alunos das seacuteries iniciais sentem prazer na leitura de livros

Satildeo instigados para tal Por que os alunos durante o progresso escolar ficam

encantados ao assistir a uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria mostrando-se

interessados pelo que estaacute sendo narrado poreacutem resistem agrave leitura de livros Como

relatam alguns professores A leitura literaacuteria vem sendo oportunizada e legitimada

nesse niacutevel de ensino nas instituiccedilotildees

Em face dessas questotildees a identificaccedilatildeo e anaacutelise das possiacuteveis

consequecircncias da contaccedilatildeo de histoacuteria para a formaccedilatildeo de leitores que se

encontram nos anos iniciais de sua formaccedilatildeo escolar mais especificamente no 2deg

ano do Ensino Fundamental e das atitudes e desempenho dos professores frente a

essa contaccedilatildeo parecem relevantes para que se atinjam os objetivos propostos para

este trabalho conforme enunciados em seu iniacutecio

A escolha dos alunos do 2deg ano do Ensino Fundamental para a realizaccedilatildeo da

pesquisa se deu pela importacircncia de seu ingresso e conclusatildeo dessa etapa da

Educaccedilatildeo Baacutesica a qual pode deixar marcas algumas delas resistentes a

mudanccedilas futuras por exemplo relacionadas ao ldquoofiacutecio de alunordquo

(PERRENOUD1995) e a sua constituiccedilatildeo como leitor Esse aluno muito mais do

que aprender conteuacutedos valores e atitudes em relaccedilatildeo aos saberes legitimados tem

15

que enfrentar o desafio de se adaptar agraves rotinas da vida escolar especialmente

quando natildeo vivenciaram a escolarizaccedilatildeo anterior (Educaccedilatildeo Infantil) bem como

comeccedilar a adquirir competecircncias transversais (TEIXEIRA 2000) como as

relacionadas ao ato de estudar ler e de escrever

Para muitos alunos o ingresso no Ensino Fundamental oportuniza

experiecircncias expressivas e duradouras pois eacute nesta fase que a maioria deles

comeccedila a dominar as ferramentas iniciais para a leitura e para o caacutelculo letramentos

e conhecimentos indispensaacuteveis para uma vida digna e participativa na sociedade

(GIMENO-SACRISTAacuteN 2008) O processo de letramento eacute contiacutenuo poreacutem esse

periacuteodo eacute muito significativo para a crianccedila Todavia verifica-se que muitas crianccedilas

quando ingressam no 2deg ano do ensino de 9 anos ou 1 ordf seacuterie do ensino de 8 anos

demonstram ser curiosas e interessadas pelo que lhes eacute ensinado poreacutem nem

sempre concluem as seacuteries iniciais do Ensino Fundamental conforme sinopse

estatiacutestica de 2009 realizada pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira)

Em face da importacircncia e relevacircncia social deste trabalho a fim de facilitar a

sua leitura a organizaccedilatildeo do trabalho e a acadecircmica das questotildees que orientaram a

proposiccedilatildeo foi distribuiacuteda em quatro capiacutetulos

No primeiro capiacutetulo abordamos na primeira seccedilatildeo a leitura enquanto praacutetica

cultural uma atividade pela qual o leitor ao ler dialoga com os textos se apropria

da heranccedila social simboacutelica pelos conhecimentos atitudes valores e significado

culturais atribuiacutedos aos objetos dos discursos que lecirc Uma praacutetica realizada em um

espaccedilotempo portanto situada na qual autor e leitor se inter-relacionam por isso a

leitura eacute um ato individual produzido e implicado socialmente (MARCUSHI 1998) de

fato converte-se em uma accedilatildeo social Trataremos na segunda seccedilatildeo da leitura

enquanto accedilatildeo transformadora do sujeito Sabemos da importacircncia da leitura para o

processo de construccedilatildeo da realidade e do conhecimento Contudo porque a leitura

trespassa qualquer experiecircncia humana e para a sua produccedilatildeo por sua vez

demanda a curiosidade espontacircnea ou estimulada por outros do sujeito face ao

objeto a ser (re) conhecido o modo como aprendeu a ler pode instigaacute-lo ou natildeo a

accedilotildees transformadoras pessoais e em seu entorno Portanto algumas praacuteticas de

leitura podem gerar efeitos (trans) formadores (de) formadores na formaccedilatildeo do

16

sujeito como alerta Larrosa (2002 b) ainda neste capitulo na terceira seccedilatildeo

discorremos sobre a arte de contar histoacuterias situando-a como uma arte milenar que

sofre os efeitos dos recursos tecnoloacutegicos utilizados para envolver seus ouvintes

ressaltando nas seccedilotildees subsequentes alguns aspectos relevantes no ato de contar

e para a constituiccedilatildeo de leitores

No segundo capiacutetulo descrevemos a parte empiacuterica que sustenta este

trabalho o contexto com a caracterizaccedilatildeo da escola e dos participantes os materiais

e o processo para a geraccedilatildeo dos dados A pesquisa eacute sustentada pelos

pressupostos de um modo de compreender o mundo e as relaccedilotildees do sujeito no

caso do pesquisador com seu objeto de investigaccedilatildeo nos quais as consequumlecircncias

da opccedilatildeo por uma pesquisa qualitativa satildeo evidentes as interpretaccedilotildees do

pesquisador prevalecem nas descriccedilotildees que apresentamos

No terceiro capiacutetulo o de Resultados e Discussatildeo relatamos as anaacutelises

realizadas informando inicialmente os caminhos que as guiaram e orientaram sua

apresentaccedilatildeo Pretendeu-se com isso demonstrar a loacutegica que guiou a totalidade

do processo de investigaccedilatildeo agrave luz dos dados colhidos e das produccedilotildees pertinentes

realizadas por outros autores

No quarto capiacutetulo o das Consideraccedilotildees Possiacuteveis satildeo apresentadas as

nossas ponderaccedilotildees acerca das questotildees que buscamos responder com este

trabalho convidando os leitores a prosseguirem investigando-as de modo a que

ultrapassem os limites deste trabalho alguns deles identificados no presente relato

17

1 A LEITURA COMO PRAacuteTICA CULTURAL

Torna-se imprescindiacutevel criar o haacutebito da leitura uma vez que esta hoje pode ser vista como artigo de primeira necessidade []

eacute mister que cada indiviacuteduo desperte dentro de si o interesse em auto instruir-se para descobrir a forccedila da palavra

Inajaacute Martins de Almeida

Quando lemos natildeo enxergamos apenas as marcas das palavras traccedilos ou

imagens plaacutesticas mas fazemos pelo significado que aprendemos a lhes atribuir

Assim nos comportamos por uma das caracteriacutesticas da espeacutecie humana

(VYGOTSKY1 1984 2001) qual seja a capacidade de atribuir significados e a

compreender siacutembolos e signos

Os vaacuterios artefatos sociais entre eles os produzidos pela escrita possibilitam

aos que se apropriaram dos modos sociais de a utilizarem a produzirem outros

artefatos ou lerem os produzidos por outros Com isso queremos dizer que marcas

sociais definem e inscrevem quaisquer accedilotildees e produccedilotildees individuais Mais do que

isso nos posicionamos entre aqueles que definem a leitura como uma produccedilatildeo

individual independente do suporte que a oportuniza Lemos o mundo com suas

imagens esculturas e demais produccedilotildees como a noacutes mesmos e ao outro com o

qual interagimos sob o efeito das marcas que as praacuteticas sociais nos levam a

identificar interpretar sentir e valorizar cada um desses artefatos Partindo dessas

leituras realizadas nas interaccedilotildees que acontecem sempre em espaccedilos

intersubjetivos quer os percebamos ou natildeo eacute que constituiacutemos nossa subjetividade

Podemos considerar que o ambiente de sala de aula se estabelece como um

espaccedilo intersubjetivo onde acontecem interaccedilotildees entre aluno-aluno e professor-

aluno Serve portanto como um lugar do qual emergem e se constituem modos de

sociabilidade que satildeo ampliados e transformados no cotidiano de suas praacuteticas

coletivas

1 Neste trabalho satildeo utilizadas as grafias que identificam a obra consultada deste autor

18

A escola particularmente pelas praacuteticas que ocorrem nas salas de aulas

constitui modos de ler e estar no mundo (FREIRE 2001)

O leitor pode entatildeo ser ou natildeo um sujeito-ativo na construccedilatildeo de

significados bem como realizar suas leituras de forma interativa e dialoacutegica junto

com outros possiacuteveis leitores Portanto as leituras assim construiacutedas podem ser

entendidas como praacutetica cultural como a compreendem Bourdieu e Chartier (2001)

Concordamos com Rockwell (2001 p14) quando pondera acerca da leitura e

diz ldquoo conceito de praacutetica cultural eacute uma ponte entre os recursos culturais e as

evidecircncias observaacuteveis de atos de leitura em um determinado contextordquo Isso

porque as praacuteticas natildeo satildeo accedilotildees idiossincraacuteticas independentes dos efeitos

culturais acumulados mas determinadas coletivamente o que garante a

permanecircncia do passado no presente configurando-as assim como expressotildees

individualizadas das praacuteticas culturais em um dado espaccedilotempo

O ato de ler textos no caso escritos estaacute relacionado agraves condiccedilotildees

socioculturais e pessoais presentes na situaccedilatildeo decorrentes das histoacuterico-culturais

do grupo de sua pertenccedila A maneira como se lecirc e o sentido que se atribui a um

texto depende entatildeo do lugar e eacutepoca em que o leitor realiza sua leitura como

outros Mollier (2009) documenta

Ao longo de toda a histoacuteria da instituiccedilatildeo escolar o ensino da leitura comeccedilou

voltado agrave memorizaccedilatildeo atraveacutes de repeticcedilotildees de signos escritos e seus respectivos

sons e apoiado em diferentes vertentes pedagoacutegicas buscou na maioria das

vezes transformar os valores e haacutebitos dos grupos sociais O livro como aponta

Heacutebrard (2001 p35) era usado como base ldquo[] aos rituais de coesatildeo social

familiar ou mais ampla [] um grupo de leitores individualizadosrdquo As poliacuteticas

educativas daquele momento concebiam uma uacutenica modalidade de leitura aquela

que permitia ao livro o poder de fixar com toda legibilidade suas mensagens no

iacutentimo das crianccedilas pois estas eram percebidas como ldquocera molerdquo pela pedagogia

claacutessica (CHARTIER 2001 p243) Em outras palavras nessa eacutepoca tornar-se

leitor soacute era possiacutevel sobre o poder do texto do livro pois ldquoensinar a ler um grupo

social ateacute entatildeo analfabeto eacute apresentaacute-lo ao poder com direito infinito do livrordquo

(HEacuteBRARD 2001 p36) Soacute se tornaria culto o sujeito que se deixasse influenciar

pelo livro pelos conhecimentos e ciecircncias contidos nos fragmentos dos textos O

19

sujeito considerado alfabetizado nessa eacutepoca o que tinha uma boa leitura era

aquele que debruccedilado sobre os escritos dominasse apenas os signos linguiacutesticos e

se deixasse ser moldados por eles

A boa leitura sempre sujeitas agraves regulaccedilotildees de cada eacutepoca expressa o

modo de apropriaccedilatildeo e o poder do leitor sobre o texto como o leitor se apropria do

que lecirc e do seu poder sobre o poder do escrito Como aponta Bourdier (2001 p

243) ldquoo poder sobre o livro eacute o poder sobre o poder que exerce o livrordquo Ao realizar

a leitura de um texto o leitor natildeo soacute se apropria da obra como pode exercer poder

sobre ela Se por um lado o poder do texto como em um livro estaacute no

direcionamento do leitor do seu pensar e sentir sobre as informaccedilotildees expliacutecitas e

impliacutecitas contidas no texto por outro lado o poder do leitor sobre o poder do livro

depende de sua condiccedilatildeo de questionar refletir interrogar e interagir os recursos e

estrateacutegias utilizadas pelo autor para tecer seu texto O leitor pode por

conseguinte exercer ldquodomiacuteniordquo sobre a tessitura das palavras do autor de qualquer

texto e ao dialogar com este pode deformar ditos predeterminados em novas

interpretaccedilotildees ou seja em (re)significaccedilotildees Estas geram possibilidades para

novas vivecircncias e quanto mais situaccedilotildees vividas pelo leitor maior poderaacute ser seu

poder sobre os escritos

Atualmente no contexto escolar podem ser identificadas vaacuterias modalidades

de leitura ou seja vaacuterias maneiras de ler e estas soacute se tornam possiacuteveis por meio

das praacuteticas de leitura que nesse contexto satildeo legitimadas ensinadas e

compartilhadas Essas praacuteticas de leitura se revelam pelo que se lecirc agraves razotildees de

ler e ao como se lecirc Como se lecirc em parte depende das competecircncias do leitor

Essas natildeo satildeo inatas satildeo produzidas em um dado espaccedilotempo como

anteriormente argumentamos Hoje um leitor proficiente eacute aquele que aleacutem de

decifrar coacutedigos eacute capaz de compreendecirc-los ou seja a decifraccedilatildeo que em outros

tempo definia o leitor como capaz jaacute natildeo basta ele precisa voltar sua atenccedilatildeo para

os significados e produzir sentidos sobre o que lecirc

As praacuteticas de leitura foram concebidas por Chartier (2001) como uma

praacutetica cultural desempenhada em um espaccedilo intersubjetivo no qual o(s) leitor(es)

pode(m) compartilhar comportamentos atitudes e significados culturais a partir do

ato de ler Como argumentamos a sala de aula no espaccedilo escolar pode e vem

20

sendo tomada como um ambiente intersubjetivo e acreditamos que em seu

interior ocorram atividades que propiciem estas praacuteticas de leitura

Teoacutericos de diferentes origens disciplinares tecircm se preocupado em investigar

a histoacuteria e as praacuteticas de leitura Dentre eles podemos citar Pierre Bourdieu

(2001) Anne Marie Chartier (1995) Roger Chartier (2001) Elsie Rockwell (2001)

Jean Heacutebrard (2001) Lacerda (1999) Mollier (2009) que ao documentarem sobre

os suportes e as praacuteticas de leitura em diferentes contextos soacutecio-histoacutericos

analisam refletem e evidenciam as influecircncias desses suportes e dos modos de ler

em distintas eacutepocas

Vaacuterias reflexotildees podem ser realizadas acerca da leitura e como satildeo

praticadas nas escolas Primeiramente porque eacute comum identificarmos a escola

enquanto um importante espaccedilo de cultura letrada No entanto a aprendizagem da

leitura como ensinam Chartier (2001) Freire (1982) e Soares (1998) sustenta-se

muito mais nas experiecircncias extraescolares do que na aprendizagem escolar ou

seja naquelas experiecircncias vividas pela crianccedila antes mesmo de iniciar seu

processo de escolarizaccedilatildeo experiecircncias com o mundo e nele onde ela busca

compreender seu entorno e responder os questionamentos que lhe fazem

Rockwell (2001) assegura que no ambiente da sala de aula a leitura eacute uma

interaccedilatildeo social visto que ldquoos participantes frequentemente lecircem em voz alta no

meio de um intercacircmbio contiacutenuo oralrdquo (ROCKWELL 2001 p13) O professor

desempenha segundo essa autora o papel de mediador deste intercacircmbio eacute

como se fosse a conexatildeo edificadora na comunicaccedilatildeo entre as crianccedilas e os

textos Rockwell (2001) ainda complementa que ldquoprofessores e alunos constroem

interpretaccedilotildees cruzadas entre convenccedilotildees escolares e conhecimento cotidiano que

tornam o texto mais ou menos acessiacutevelrdquo (ROCKWELL 2001 p13) visto que no

diaacutelogo possiacutevel entre a crianccedila e o texto acontece um entrelaccedilamento entre os

efeitos das experiecircncias preacuteestabelecidas no seu conviacutevio social e as normas ou

praacuteticas adotadas pela escola A acessibilidade aos textos trabalhados em sala de

aula soacute se torna possiacutevel de compreensatildeo por esse diaacutelogo o qual depende das

praacuteticas de leituras exercidas na escola Como afirma Heacutebrard (2001 p37) ldquoao

aprender a ler a crianccedila contentar-se-ia em reinvestir no domiacutenio do escrito as

praacuteticas culturais mais gerais do seu meio imediatordquo

21

Poder-se-ia dizer da necessidade de leitura para algueacutem se informar no

sentido de Bourdieu (2001 p241) isto eacute como a daquele que ldquotoma o livro como

depositaacuterio de segredos segredos maacutegicos climaacuteticos (como um almanaque para

prever o tempo) bioloacutegicos e educativos etcrdquo A escola todavia tende a

desvalorizar esse tipo de leitura por entender que a leitura vai aleacutem da simples

aquisiccedilatildeo de informaccedilotildees estabelecidas pelo texto Hoje no contexto escolar

verifica-se a presenccedila de discursos reguladores como os que compotildeem os PCNrsquos

(BRASIL1997) os quais defendem as leituras como sendo plurais Isso porque

cada leitor no decorrer da sua leitura constroacutei de maneira diferenciada o sentido

do texto mesmo que este - o texto - tenda a traccedilar no seu interior o sentido que ele

desejaria ver concedido

No ambiente escolar haacute muacuteltiplas formas de leitura e os diversos elementos

do contexto condicionam e influenciam a maneira de ler Muitas satildeo as praacuteticas

documentadas em diferentes contextos escolares desde a leitura em voz alta ateacute

as da memorizaccedilatildeo de trechos envolvendo distintas atividades com a escrita As

posturas dos professores ao avaliarem a leitura tambeacutem satildeo diversas Na opiniatildeo

de Rockwell (2001 p16) ldquo[] o interessante eacute explorar as dissociaccedilotildees entre o

protocolo ideal de leitura e as muacuteltiplas formas de ler que satildeo tomadas em salardquo

A praacutetica de narrar histoacuterias eacute uma das tantas formas empregadas pelo

professor em seu trabalho com a leitura em sala de aula Eacute muito comum essa

praacutetica na Educaccedilatildeo Infantil onde os alunos ainda natildeo dominam a tecnologia da

escrita apenas satildeo capazes de ler a linguagem oral imagens gestos e o que estaacute

em seu entorno Poreacutem no decorrer da escolarizaccedilatildeo posterior essa praacutetica

raramente ocorre e deixa a desejar O que se verifica eacute o domiacutenio da leitura de

textos escritos sobre as demais praacuteticas dentre estas a de contar histoacuterias

Entendemos como importante que os professores de todos os anos

escolares (re)conheccedilam a praacutetica de narrar histoacuterias como uma praacutetica de leitura

fundamental para a formaccedilatildeo dos alunos enquanto leitores Todavia eacute

indispensaacutevel que essa importacircncia natildeo fique soacute no discurso Ela deve ser tecida

no dia a dia escolar ano apoacutes ano

22

11 Leitura Accedilatildeo Formadora (Trans)Formadora e (De)Formadora

A leitura eacute de facto em meu entender imprescindiacutevel primeiro para me natildeo dar por satisfeito soacute com as minhas obras

segundo para ao informar-me dos problemas investigados pelos outros poder ajuizar das descobertas jaacute feitas e conjecturar as que ainda haacute por fazer

Seacuteneca

No contexto educativo em especial nas seacuteries iniciais a aprendizagem da

leitura assume um peso significativo e por vezes determinante no sucesso ou

fracasso do aluno Formar alunos leitores tem se constituiacutedo em uma preocupaccedilatildeo

constante no campo educacional uma vez que a leitura eacute fundamental para a

inserccedilatildeo do ser humano nas sociedades atuais (GIMENO-SACRISTAN 2008) O ato

de ler favorece ao leitor o acesso a informaccedilotildees de distintos campos bem como

pode favorecer o desenvolvimento da criticidade levando-o a assumir posiccedilotildees

condignas ao pleno exerciacutecio da sua cidadania porque eacute capaz de aprender a

aprender continuamente bem como de aprender a viver junto (TEDESCO 2011)

Quando pensamos sobre leitura logo nos vem agrave mente o livro Pensar leitura

eacute quase sempre pensar em coacutedigos linguiacutesticos de um texto literaacuterio ou natildeo mas

sabemos entretanto que a leitura vai muito aleacutem da simples decodificaccedilatildeo dos

elementos escritos da liacutengua materna Natildeo descartamos poreacutem o grande meacuterito da

leitura de livros em sala de aula realizada com o intuito de formar ldquobons leitoresrdquo

Todavia deveriacuteamos atentar para a formaccedilatildeo que ultrapassa o domiacutenio da

linguagem oral e escrita

Classificar um sujeito como bom ou mau leitor eacute natildeo soacute arriscado como

passiacutevel de excluirmos algueacutem visto que qualquer pessoa perante um objeto realiza

uma leitura Passamos o tempo todo fazendo leituras e independentemente de

como a realizamos sempre (re)produzimos os efeitos de nossa experiecircncia no

campo simboacutelico que as praacuteticas sociais nos permitem adentrar Poreacutem como

professores somos frequentemente solicitados a qualificar os alunos respondemos

segundo nossa concepccedilatildeo de bom e mau leitor Ao fazecirc-lo demonstramos a nossa

concepccedilatildeo de leitura das competecircncias que consideramos necessaacuterias para

23

produzi-la No nosso caso considerando um bom leitor aquele que interage com

diferentes textos e contextos sendo fluente e criacutetico

Cabe entretanto analisar como vem sendo concebida a formaccedilatildeo de aluno

leitor

Iniciaremos com alguns apontamentos sobre o uso social dos termos formar

leitor e leitura Houaiss (2009) em seu dicionaacuterio epistemoloacutegico apresenta as

seguintes definiccedilotildees Formar lat foacutermoacuteasaacuteviaacutetumaacutere dar forma formar

conformar arranjar organizar regular modelar instruir dar certa disposiccedilatildeo ao

espiacuterito confeccionar (fig) criar produzir Leitor lat lectoroacuteris o que lecirc Leitura

latmedv lectura do rad do supn do v legegravere reunir accedilatildeo ou efeito de ler ato de

apreender o conteuacutedo de um texto escrito ato de ler em voz alta haacutebito de ler

maneira de compreender de interpretar um texto uma mensagem um

acontecimento

Assim sendo podemos entender que segundo a nossa tradiccedilatildeo simboacutelica

formar leitores eacute conduzir as pessoas arranjando e organizando situaccedilotildees para que

sejam capazes de ver conhecer compreender aprender o que foi articulado por

outrem por vezes pelo leitor em situaccedilotildees anteriores Esses comportamentos

incluem a participaccedilatildeo de diferentes dados sensoriais (visatildeo tato audiccedilatildeo etc)

Coelho (2000) elenca as vantagens de o sujeito realizar leituras

especialmente de textos literaacuterios porque estas ldquoestimulam o exerciacutecio da mente a

percepccedilatildeo do real em suas muacuteltiplas significaccedilotildees a consciecircncia do eu em relaccedilatildeo

ao outro []rdquo (COELHO 2000 p16)

A leitura eacute um processo em que o leitor realiza um trabalho ativo na

construccedilatildeo de sentidos para o texto assim ela eacute definida nos PCNacutes - Paracircmetros

Curriculares Nacionais de Liacutengua Portuguesa - (BRASIL 1997) Por conseguinte a

leitura natildeo se reduz a decodificaccedilotildees pontuais dos signos (letras siacutembolos

imagens etc) porque implica em compreendecirc-los visto que alguns sentidos

atribuiacutedos ao texto comeccedilam a ser constituiacutedos pelo leitor antes mesmo da sua

leitura propriamente dita

Smolka (1989) caracteriza a leitura como uma atividade humana Essa

atividade pode ser concebida no sentido psicoloacutegico como sendo um processo

24

dinacircmico que em sua realizaccedilatildeo congrega os efeitos das relaccedilotildees soacutecio-interativas e

individuais-cognitivas Portanto pode-se dizer que a leitura eacute um processo de

interlocuccedilatildeo fundada em interaccedilotildees sociais anteriores Isso porque eacute no seio das

relaccedilotildees cotidianas interindividuais que ocorre a atividade humana e eacute no acircmbito

dessas relaccedilotildees que surgem os signos sinais e siacutembolos sejam eles linguiacutesticos ou

natildeo como instrumentos ou ferramentas que possibilitam futuras interaccedilotildees

Segundo Smolka (1989) a atividade de leitura natildeo se reduz ao conjunto de

atividades das habilidades decodificadoras frente a um texto Ultrapassa-as como

expressatildeo de uma forma de uso da linguagem que sofre transformaccedilotildees no

decorrer da Histoacuteria e que marca o indiviacuteduo configurando suas relaccedilotildees sociais

Podemos ainda como nos aponta Larrosa (2002 a p133) pensar na leitura

ldquocomo algo que nos forma (ou nos trans-forma e nos de-forma) como algo que nos

constitui ou nos potildee em questatildeo naquilo que somosrdquo Olhar para a leitura e

compreendecirc-la como instrumentoprocesso formativo imprescindiacutevel para o ser

humano exige concebecirc-la como uma atividade que estaacute diretamente ligada agrave

subjetividade de quem a realiza isto eacute do leitor Poreacutem para que tal ocorra eacute

necessaacuterio que haja uma relaccedilatildeo iacutentima entre o texto e o leitor de modo que

possam acontecer nessa relaccedilatildeo mudanccedilas em sua subjetividade Portanto

reconhecer a leitura como uma atividade que vai aleacutem da decodificaccedilatildeo eacute entendecirc-la

como um meio eficaz para a aprendizagem e o desenvolvimento individual

Por essa perspectiva no momento em que eacute realizada uma leitura de um

texto literaacuterio ou natildeo e neste caso por exemplo uma ldquoleitura de mundordquo necessaacuterio

se torna que ocorram trocas algumas delas longamente negociadas entre o leitor e

o dito e o natildeo dito isto eacute tambeacutem do que foi silenciado pelo autor do texto

(LARROSA 2002 a) Trocas que implicam muitas das vezes natildeo em simples

informaccedilotildees que possam ser acumuladas mas em cotejamento de crenccedilas valores

e gostos Freire (1989) no livro A importacircncia do ato de ler ensina

[] o ato de ler que natildeo se esgota na decodificaccedilatildeo pura da palavra escrita ou da linguagem escrita mas que se antecipa e se alonga na inteligecircncia do mundo A leitura do mundo precede a leitura da palavra daiacute que a posterior leitura desta natildeo possa prescindir da continuidade da leitura daquele Linguagem e realidade se prendem dinamicamente A compreensatildeo do texto a ser

25

alcanccedilada por sua leitura criacutetica implica a percepccedilatildeo das relaccedilotildees entre o texto e o contexto (FREIRE 1989 p 9)

Os humanos estatildeo o tempo todo fazendo leituras e ao lerem leem o mundo

como este lhes ensinou a ler Leem palavras sons imagens e neste misto de textos

e leituras podem refletir sobre suas accedilotildees e sobre o mundo que estaacute em seu

entorno A leitura mais completa eacute aquela na qual se utilizam todos os sentidos e

natildeo somente a razatildeo eacute feita natildeo apenas com o olhar mas com os sentidos com o

pensamento com um olhar criacutetico para o que se vecircouvesente Como assegura

Rezende (2007)

[] haacute que se ler diferentes coacutedigos pois as vaacuterias leituras complementam-se interligam-se permitem ao leitor novas tessituras que nunca satildeo absolutamente novas Do que lemos sempre sabemos algo o que fazemos eacute complementar reolhar redescobrir acrescentar duvidar confirmar [] (REZENDE 2007 p6)

A leitura permite integrar o que se lecirc ao Eu agraves experiecircncias jaacute vividas instiga

o leitor a expressar sua visatildeo de mundo a partir do que ele concebe e de si mesmo

Sendo assim o ato de ler deve ser considerado um processo interativo no sentido

de que os diversos conhecimentos do leitor interagem a todo o momento com os

oferecidos pelo texto eou contexto Esse tipo de leitura que defendemos propicia ao

leitor que se acerque de outros modos de perceber argumentar e refletir de ser e

de agir que natildeo sejam os seus Sobre a interaccedilatildeo entre o sujeito (leitor) e o objeto

(texto) oportunizada pela realizaccedilatildeo da leitura Foucambert (1994) pondera

[] ler eacute questionar o mundo e ser por ele questionado eacute questionar-se a si mesmo Ler significa tambeacutem construir uma resposta que integra parte das novas informaccedilotildees ao que jaacute se eacute significa tambeacutem ter condiccedilotildees de questionar o texto escrito e de construir um juiacutezo sobre ele (FOUCAMBERT 1994 p5)

Ao realizar uma leitura o leitor pode mergulhar na obra e emergir a partir dela

quando esta o move e o incita a questionar e a interagir (seus conhecimentos

valores crenccedilas atitudes o que lecirc) Em assim sendo pode entatildeo construir um

novo olhar sobre o mundo A partir do momento em que o indiviacuteduo realiza esse tipo

26

de leitura de um texto ele enquanto leitor eacute levado a pensar refletir interrogar e

interpretar sobre aquilo que o texto estaacute lhe dizendo Haacute uma interpelaccedilatildeo do texto

sobre o leitor que o coloca em questatildeo tirando-o de si mesmo e ocasionalmente o

transforma Bourdieu (2001) para sublinhar a importacircncia da leitura de um livro

afirma ldquo[] pode-se transformar a visatildeo do mundo social e atraveacutes da visatildeo de

mundo transformar o proacuteprio mundo socialrdquo

O leitor por sua vez deixa e imprime suas marcas e suas experiecircncias

no texto que lecirc Como salienta Kanaan (2002) o leitor diante de um texto faz-se

interlocutor porque aleacutem de seguir as pistas fornecidas pelo autor do texto lanccedila

tantas outras contribuindo assim para um dos sentidos possiacuteveis do texto Isso

porque ldquosujeitos e textos satildeo afetados (e transformados) reciprocamente pelo ato da

leiturardquo ( KANAAN 2002 p132)

Smith (1999) assinala ainda para a importacircncia de olharmos a leitura como

algo a mais do que eacute usual inclusive em contexto escolares Neste caso ela natildeo

pode se restringir apenas ao campo visual ao simples reconhecimento dos coacutedigos

mas deveraacute conferir significaccedilatildeo a eles e relacionaacute-los com todos os conhecimentos

preacutevios soacute assim haveraacute uma compreensatildeo real da leitura Para tanto Smith (1999)

faz a seguinte afirmativa

Para compreender a leitura [] devem considerar natildeo somente os olhos mas tambeacutem os mecanismos da memoacuteria e da atenccedilatildeo a ansiedade a capacidade de correr riscos a natureza e os usos da linguagem a compreensatildeo da fala as relaccedilotildees interpessoais as diferenccedilas socioculturais aprendizagem em geral e a aprendizagem das crianccedilas pequenas em particular (SMITH 1999 p 9)

Natildeo podemos descartar em geral a importacircncia que os olhos tecircm na leitura

uma vez que eacute atraveacutes deles que a maioria dos dados chegam ao ceacuterebro isto eacute

fornecem a ldquoinformaccedilatildeo visualrdquo Esses dados poreacutem natildeo satildeo o bastante para que

haja leitura Outras informaccedilotildees satildeo necessaacuterias como o conhecimento da liacutengua

em que foi escrito o texto e da sua estrutura conhecimento sobre o assunto ou

seja o conhecimento preacutevio Enquanto o ceacuterebro vecirc isto eacute recebe as informaccedilotildees e

as vai associando e organizando com os conhecimentos preexistentes os olhos

somente recebem e por suas terminaccedilotildees nervosas transmitem as informaccedilotildees

27

Como disse Vieira (2009 p2) ldquoeacute no ceacuterebro que estaacute o mundo intrincadamente

organizado e internamente consistente construiacutedo como o resultado da experiecircncia

e da cultura vivida pelo ser humanordquo

Como vimos argumentando a formaccedilatildeo por meio da leitura soacute eacute possiacutevel

atraveacutes da experiecircncia isto eacute pelo ldquosaber da experiecircnciardquo como aponta Larrosa

(2002) Este autor define experiecircncia como sendo algo que nos passa e natildeo o que

se passa que nos acontece e natildeo o que acontece que nos toca e natildeo o que toca

Podemos concluir que no dia a dia muitas coisas se passam poreacutem poucas coisas

nos acontecem Recebemos muita informaccedilatildeo mas raramente permitimos que elas

nos modifiquem

Ao empregar o termo ldquosaber da experiecircnciardquo Larrosa (2002) refere-se ao

saber no sentido de rdquosabedoriardquo e natildeo no sentido de ldquoestar informadordquo O saber da

experiecircncia natildeo estaacute fora do sujeito como estaacute por exemplo o conhecimento

cientiacutefico O saber da experiecircncia eacute idiossincraacutetico e subjetivo ligado ao soacutecio-

individual e particular

O homem moderno estaacute cada vez mais distante de seus saberes da

experiecircncia pois poucas vezes o individuo os percebe e os conhece A falta de

tempo no mundo moderno pode justificar em parte o distanciamento entre sujeito e

a sua experiecircncia Com relaccedilatildeo ao mundo moderno Larrosa (2002) assinala

A velocidade com que nos satildeo dados os acontecimentos e a obsessatildeo pela novidade pelo novo que caracteriza o mundo moderno impedem a conexatildeo significativa entre acontecimentos Impedem tambeacutem a memoacuteria jaacute que cada acontecimento eacute imediatamente substituiacutedo por outro que igualmente nos excita por um momento mas sem deixar qualquer vestiacutegio (LARROSA 2002 p23 Grifos nossos)

Sabemos que a conexatildeo entre sujeito e o ldquosaberrdquo da sua experiecircncia eacute

necessaacuteria agrave formaccedilatildeo individual por exemplo do aluno mas a velocidade dos

acontecimentos e o que ela provoca - a falta de silecircncio de memoacuteria e a insatisfaccedilatildeo

- satildeo obstaacuteculos para que ocorra essa conexatildeo

Em face disso algumas questotildees nos inquietaram quando da proposiccedilatildeo

deste trabalho quais as consequecircncias de nossos alunos serem formados apenas

28

por informaccedilotildees e natildeo pelo efeito do conjunto delas com os saberes da sua

experiecircncia Quais atividades poderiam ser desenvolvidas De que modo e como

para que os saberes da experiecircncia marcassem os saberes informacionais que

receberiam na escola A contaccedilatildeo de histoacuterias poderia ser uma dessas atividades

A contaccedilatildeo de histoacuteria no contexto escolar eacute um dos recursos que o professor

tem disponiacutevel para fazer com que seus alunos submerjam no mundo da leitura E

quando tal acontece poderatildeo experienciar novos saberes pois as experiecircncias

vividas e sentidas pelo leitor natildeo se encerram ao final da histoacuteria Elas ficam laacute

ldquovolteando pelos meandros do ser humanordquo (SISTO 2005 p70)

Ao entrar em contado com outros saberes o aluno passa a adquiri-los como

se nascessem do rejuvenescimento dos saberes anteriores Haacute um movimento

ciacuteclico no que diz respeito agrave apropriaccedilatildeo de conhecimentos visto que esses nascem

e se renovam a todo instante A leitura eacute um processo que propicia movimento

fazendo com que os velhos saberes sejam aperfeiccediloados pelo ldquosaber da

experiecircnciardquo

No caso da experiecircncia da contaccedilatildeo de histoacuteria as palavras proferidas pelo

contador satildeo como linhas desenhadas pelo ar Enquanto o contador liberta as

palavras presas no texto o ouvinte leitor indireto do texto narrado vai criando e

interpretando os desenhos adentrando-se em um mundo maacutegico e tornando-se co-

autor da histoacuteria Como salienta Sisto (2005 p20) ldquoo que vale mais eacute sentir a

liberdade de ser co-autor da histoacuteria narrada e poder receber a experiecircncia viva e

criada na imaginaccedilatildeo o cenaacuterio as roupas as caras dos personagens []rdquo

Abramovich (1997 p 17) posiciona-se em relaccedilatildeo agrave leitura que acontece por

meio da contaccedilatildeo indicando que esta permite ao aluno sentir emoccedilotildees importantes

com os personagens bem como conhecer e descobrir novos lugares e outros

tempos que natildeo satildeo os seus Isso por que a contaccedilatildeo conduz os ouvintes por

exemplo os alunos a fazerem uma leitura por meio da escuta levando-os a pensar

e a verem com os olhos da imaginaccedilatildeo

Mas por que a contaccedilatildeo de histoacuterias natildeo eacute tatildeo frequente em nossas salas de

aula

29

Como veremos na proacutexima seccedilatildeo a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma arte milenar

que evoluiu e pode ser utilizada como uma estrateacutegia eficiente para a formaccedilatildeo de

leitores

12 Contadores de Histoacuterias uma Arte Milenar Perpetuada no Tempo

O contador de histoacuterias

Eacute aquele que te leva Aos lugares mais distantes Instiga a tua curiosidade Traz agrave tona teus medos

Liberta teus sonhos

Patriacutecia Rocha

A arte de narrar histoacuterias encontra suas raiacutezes nos povos ancestrais que

contavam e encenavam histoacuterias para difundirem seus rituais os mitos os

conhecimentos acerca do mundo sobrenatural ou natildeo e sobre as experiecircncias

adquiridas pelo grupo ao longo do tempo Aleacutem da comunicaccedilatildeo oral e gestual ao

narrarem suas histoacuterias tambeacutem registravam nas paredes das cavernas com

desenhos e pinturas suas experiecircncias algumas delas vividas no cotidiano A

memoacuteria auditiva e a visual eram entatildeo essenciais para a aquisiccedilatildeo e o

armazenamento dos conhecimentos transmitidos Campbell (2005) ponderou acerca

dessas praacuteticas dizendo que elas serviam como meio de sintonizar o sistema

mental com o sistema corporal levando essas populaccedilotildees a viver e a sobreviver

aleacutem de servirem para justificar e interpretar fenocircmenos naturais que vivenciavam

Desde haacute muito a transmissatildeo oral passada de geraccedilatildeo em geraccedilatildeo foi uma

das soluccedilotildees encontradas pelas comunidades que natildeo possuiacuteam a escrita para

informar agraves geraccedilotildees mais novas os seus saberes valores e crenccedilas Por

conseguinte aqueles saberes considerados imprescindiacuteveis para a sobrevivecircncia

individual e grupal

30

Os contadores eram figuras de destaque na comunidade por serem os que

sabiam apresentar conselhos fundamentados em fatos histoacuterias e mitos mantendo

viva enfim a heranccedila cultural pela memoacuteria do grupo Os contadores retiravam de

suas vivecircncias e dos saberes delas obtidos o que contar Em assim sendo narrar

dependia de eles colherem os saberes da experiecircncia e de produzi-los em objetos

(visuais auditivos etc) para serem apresentados a outros

Para Benjamin (1994) os camponeses sedentaacuterios e os navegantes eou

comerciantes foram os principais responsaacuteveis pela preservaccedilatildeo dessas histoacuterias e

dessa arte Os camponeses fixos em suas terras conheciam intimamente as

histoacuterias do lugar onde moravam e os navegantes eou comerciantes por trazerem

conhecimentos de terras longiacutenquas Os encontros entre narrador (camponeses

navegantes eou comerciantes) e ouvintes (comunidade) criaram um espaccedilo tiacutepico

que Benjamin (1994) denominou de comunidade de ouvintes Eram momentos em

que a comunidade geralmente distribuiacuteda em semiciacuterculos sentava-se agrave volta da

fogueira para ouvir e trocar conhecimentos Um momento performaacutetico acontecia

quando os contadores narravam suas histoacuterias Histoacuterias cheias de ensinamentos e

conhecimentos que geravam nos ouvintes a curiosidade e por vezes o conforto a

reflexatildeo e a transformaccedilatildeo

Os contadores ritualizavam haacutebitos e costumes de uma comunidade muitos

deles com o intuito de constituir uma base ldquoidentitaacuteriardquo ou seja compor a

subjetividade desse grupo Esta praacutetica sustentava o equiliacutebrio do grupo evitando

assim sua desagregaccedilatildeo Portanto desde entatildeo em sua accedilatildeo o contador fazia o

que Patrini (2005) nos dias de hoje recomenda para os novos contadores ldquoconvocar

imagens e ideias de sua lembranccedila misturando-as agraves convenccedilotildees contextuais e

verbais de seu grupo para adaptaacute-las segundo o ponto de vista cultural e ideoloacutegico

de sua comunidaderdquo (PATRINI 2005 p106)

Na Europa segundo Warner (1999) a figura do contador de histoacuteria esteve

sempre ligada agraves mulheres que durante seus trabalhos domeacutesticos ldquoteciamrdquo suas

histoacuterias momentos onde podiam falar e transmitir sua sabedoria jaacute que natildeo lhes

era permitida a participaccedilatildeo na vida social e poliacutetica mais ampla

Por muito tempo o exerciacutecio de contar histoacuterias foi uma praacutetica domeacutestica

quase sempre presente no meio rural sendo abandonada paulatinamente com a

31

urbanizaccedilatildeo e o surgimento de novas tecnologias Com o desenvolvimento

tecnoloacutegico e o surgimento de novas miacutedias como a televisatildeo o cinema e a internet

essa arte foi praticamente banida dos encontros sociais Isso porque segundo

Donato (2005) com o advento da imprensa os livros e jornais tornaram-se os

grandes agentes culturais dos povos Os contadores especialmente os que

narravam oralmente passaram a ser esquecidos embora muitas das histoacuterias que

sustentavam sua praacutetica ainda permaneccedilam em cada cultura por exemplo sobre a

modalidade escrita

Essa nova forma de vida social na qual essas tecnologias comeccedilaram a se

tornar comuns influenciou fortemente a arte do contador tradicional Mas mesmo

assim em ldquouma sociedade que se organiza segundo as teacutecnicas de uma

industrializaccedilatildeo sofisticada e de um olhar social cuja solidatildeo e individualismo satildeo

seu tema principalrdquo (PATRINI 2005 p96) precisa da presenccedila de contadores e de

sua atuaccedilatildeo para suplantar os problemas advindos desse modo de organizaccedilatildeo e de

vida

Benjamin (1994) pondera que devido agrave individualizaccedilatildeo que se manifesta nas

sociedades modernas e agrave extrema importacircncia atribuiacuteda por seus membros agraves

informaccedilotildees ciberneacuteticas estas sociedades estatildeo perdendo os momentos de

familiaridade e intimidade que o universo das histoacuterias possibilita Hoje a

superficialidade das relaccedilotildees sociais faz com que as experiecircncias de compartilha

deixem de existir

Em meados do seacutec XX os contadores de histoacuterias apoacutes terem quase

submergido em consequecircncia do surgimento das novas miacutedias ressurgem como

fenocircmeno urbano dando origem ao que hoje se conhece como novos contadores

ou contadores urbanos Com o surgimento dos contadores urbanos a arte de contar

histoacuterias passou a ser reconhecida tambeacutem no campo pedagoacutegico Esses novos

contadores jaacute natildeo realizam apenas a transmissatildeo oral do que vivenciaram mas isso

sim a transmissatildeo oral de histoacuterias de outros autores e impressas Suas

performances hoje deixam de ser narrativas de experiecircncias por eles vivenciadas

e dos contadores de histoacuterias hoje eacute exigido o domiacutenio de outras teacutecnicas para que

possam (re)contar as histoacuterias narradas por outros algumas impressas outras

disponiacuteveis em espaccedilos da Web

32

No Brasil por volta dos anos 80 bibliotecaacuterios e estudantes da aacuterea de

Educaccedilatildeo desenvolveram um projeto intitulado ldquoHora do contordquo (PATRINI 2005)

tendo por objetivo aproximar o aluno do livro Entre as decorrecircncias da execuccedilatildeo

desse projeto registra-se o surgimento de professores-contadores que em sua sala

de aula ou ateacute mesmo na biblioteca da escola exerciam a contaccedilatildeo com o intuito

de desenvolverem o gosto pela leitura e os ensinamentos da leitura e da escrita

No entanto natildeo havia programas nem consciecircncia por uma grande parte dos

professores da necessidade de adquirem habilidades para contar as histoacuterias de

modo a que proporcionassem aleacutem do prazer e do lazer possibilitado pela sua

escuta o compartilhamento das emoccedilotildees e das vivecircncias Possivelmente porque

esse trabalho de contar histoacuterias estava frequentemente vinculado a preocupaccedilotildees

pedagoacutegicas como as relacionadas agrave aquisiccedilatildeo da leitura e da escrita

Nos anos 90 surgiram novas experiecircncias no campo das praacuteticas orais em

especial relacionadas agrave arte de contar Vaacuterios projetos relevantes foram e vecircm

sendo desenvolvidos oportunizando cursos de formaccedilatildeo e congressos voltados

para esta arte como no caso da FNLIJ - Fundaccedilatildeo Nacional e do Livro Infantil e

Juvenil que promove todo o ano o Salatildeo FNLIJ do Livro Um evento de caraacuteter

institucional onde todas as atenccedilotildees satildeo centradas no livro para crianccedilas e jovens

seus autores e editores e na leitura literaacuteria pois a FNLIJ acredita que a formaccedilatildeo

de leitores se constroacutei pela praacutetica da leitura literaacuteria e por ser ela que consolida a

base humanista dos profissionais de qualquer aacuterea

O Programa Proacute-Leitura de formaccedilatildeo continuada foi criado a partir de uma

iniciativa do SEFMEC - Secretaria da Educaccedilatildeo dos Estados Universidades e

Embaixadas da Franccedila em 1992 (MARINHO 2004) Ele oferece ao professor a

oportunidade de discussatildeo teoacuterica e de ampliaccedilatildeo do seu repertorio de vivecircncias de

leitura atraveacutes de cursos oficinas congressos entre outros e vaacuterios projetos de

incentivo agrave leitura

Preocupado com o deacuteficit educacional e inconformado com o slogan

Brasileiro natildeo gosta de ler o escritor Laeacute de Souza2 vem propondo desde 1998

2 Laeacute de Souza eacute cronista poeta articulista dramaturgo palestrante e produtor cultural jaacute

ministrou palestras em mais de 300 escolas de todo o Brasil cujo foco eacute o incentivo agrave leitura A

33

projetos de leitura com o objetivo de gerar alternativas que favoreccedilam e criem o

haacutebito da leitura Dentre os seus projetos temos Encontro com o Escritor Ler Eacute

Bom Experimente Lendo na Escola Minha Escola Lecirc Viajando na Leitura

Leitura no Parque Dose de Leitura Caravana da Leiturardquo ldquoLivro na Cestardquo

Minha Cidade Lecirc Dia do Livro e Leitura natildeo tem idaderdquo

Com o passar dos anos verificamos a existecircncia de diversas pesquisas

desenvolvidas nos campos das narrativas orais e da literatura Por exemplo Paz

(2007) que em sua pesquisa intitulada Oralidade na Escola e Formaccedilatildeo de Leitor

enfatiza o valor da contaccedilatildeo de histoacuteria e a necessidade do resgate da literatura oral

nas praacuteticas pedagoacutegicas Essa pesquisa de cunho quantitativo foi realizada junto a

alunos da 2ordf 5ordf e 7ordf seacuteries do Ensino Fundamental onde Paz (2007) analisou o

haacutebito e a preferecircncia para ouvir histoacuteria O autor constatou que ldquoo gosto por ouvir

histoacuterias na escola eacute constante e inversamente proporcional agrave escolaridaderdquo (PAZ

2007 p16) Verificou que aproximadamente 90 dos alunos das seacuteries iniciais ou

seja os alunos da 2ordf seacuterie gostam de ouvir histoacuteria enquanto nas outras seacuteries o

percentual sofreu um decliacutenio como identificou junto aos da 7ordf seacuterie entre os quais

esse percentual baixou para 50 Registrou ainda que cerca de 80 dos alunos

da 2ordf seacuterie entendem melhor as histoacuterias contadas pela professora do que quando

leem sozinhos 100 deles interessam-se em buscar outras histoacuterias do mesmo tipo

das contadas pela professora efetivando entatildeo a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuterias na formaccedilatildeo de novos leitores

Salienta-se contudo que as primeiras obras literaacuterias destinadas ao puacuteblico

infanto-juvenil surgiram no seacuteculo XVIII quando a crianccedila deixou de ser vista como

um adulto em miniatura e passou a ser considerada diferente do adulto com

necessidades e caracteriacutesticas proacuteprias Como nos diz Zilberman (1987 p13)

[] a concepccedilatildeo de uma faixa etaacuteria diferenciada com interesses proacuteprios e necessitando de uma formaccedilatildeo especiacutefica soacute acontece em meio agrave Idade Moderna Esta mudanccedila se deveu a outro acontecimento da eacutepoca a emergecircncia de uma nova noccedilatildeo de famiacutelia centrada natildeo mais em amplas relaccedilotildees de parentesco mas num nuacutecleo unicelular preocupado em manter sua privacidade

importacircncia da Leitura no Desenvolvimento do Ser Humano dirigida a estudantes e Como formar leitores voltada para professores satildeo alguns dos temas abordados nessas palestras

34

(impedindo a intervenccedilatildeo dos parentes em seus negoacutecios internos) e estimular o afeto entre seus membros

Inicialmente essas produccedilotildees literaacuterias foram dedicadas agrave disciplina dos

pequenos leitores ou seja fundamentalmente dotadas de caraacuteter extremamente

utilitaacuterio e pedagoacutegico Segundo Lajolo e Zilberman (1999 p 23) era uma literatura

que buscava ldquoo controle do desenvolvimento intelectual da crianccedila e a manipulaccedilatildeo

de suas emoccedilotildeesrdquo Para essas autoras tal literatura vinha ao encontro das ideologias

de uma classe burguesa que desejava atraveacutes da escola e dos livros induzir os

alunos pensarem segundo suas concepccedilotildees Assim reproduziam em seus leitores

ideacuteias como obediecircncia serviccedilo e submissatildeo

Hoje a literatura Infanto-Juvenil continua sendo um meio para um fim mas os

tempos satildeo outros Escrever obras literaacuterias para crianccedilas e jovens tornou-se praacutetica

interessante uma vez que o investimento por parte da Induacutestria Cultural tem

crescido nesta aacuterea Segundo Barretos Gonsalves Silva Morelli (2004 p176) ldquoo

texto literaacuterio que interessa para o mercado deve apresentar diversas interpretaccedilotildees

da realidade capazes de ir muito aleacutem dos limites do cotidiano e da visatildeo comum

criando simulacros do mundo naturalrdquo Por conseguinte essas obras ganham novas

dimensotildees tanto no aspecto quantitativo quanto no qualitativo Assim sendo eacute

indispensaacutevel ao profissional da aacuterea de ensino saber analisar criteriosamente as

obras que recomenda a seus alunos eou utiliza em sala de aula

A arte de contar histoacuterias passa a ser reconhecida como praacutetica oral de um

patrimocircnio cultural capaz de proporcionar prazer e lazer o Projeto Entorno

desenvolvido desde 2006 pela Editora Abril e pela Fundaccedilatildeo Victor Civita eacute um

exemplo disso Realizado em escolas estaduais e municipais o projeto eacute um

conjunto de accedilotildees de apoio agrave leitura por prazer em parceria com as secretarias

municipais e estaduais de Educaccedilatildeo promovendo accedilotildees culturais e educacionais de

estiacutemulo agrave leitura aleacutem da ampliaccedilatildeo do acervo das unidades escolares

Haacute quem ainda contemple a contaccedilatildeo de histoacuterias como um recurso para

solucionar problemas em relaccedilatildeo agrave escrita e agrave leitura Um exemplo disso eacute a

pesquisa desenvolvida por Allebrandt et al (1999) que investiga o papel da literatura

infantil enquanto recurso metodoloacutegico e o seu papel nos processos de ensino e

aprendizagem averiguando a articulaccedilatildeo entre as diversas habilidades que

35

envolvem a linguagem literatura fala leitura escrita gramaacutetica e escuta Os

resultados da pesquisa indicam que o trabalho com a literatura infantil aleacutem de

desenvolver o imaginaacuterio possibilita a ampliaccedilatildeo do conceito de texto e o

conhecimento de tipologias textuais bem como de aspectos externosformais

gramaacuteticas e relaccedilotildees de textualidade

Existem muitas estrateacutegias individuais e coletivas no trabalho com a

literatura no entanto o uso desse recurso deve possibilitar atividades que envolvam

a participaccedilatildeo o movimento a muacutesica o riso o luacutedico e a atribuiccedilatildeo de novos

sentidos evitando-se que textos literaacuterios sejam usados como instrumentos para

introduzir exerciacutecios (cansativos e mecacircnicos) ou mesmo como moralizadores

A pesquisa desenvolvida por Silva e Monteiro (2007) intitulada Contaccedilatildeo de

histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino-aprendizagem

focaliza a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma estrateacutegia para expandir o universo social

e cultural dos alunos frente agrave exposiccedilatildeo de diversos textos Esses autores

concluiacuteram que adolescentes e preacute-adolescentes quando expostos com

regularidade agrave literatura de uma forma luacutedica de modo geral melhoram inclusive

em seu desempenho escolar

121 A arte de narrar O papel do novo contador na contemporaneidade

Os contadores de histoacuteria os cantadores de histoacuteria soacute podem contar enquanto a neve cai

A tradiccedilatildeo manda que seja assim Os iacutendios do norte da Ameacuterica tecircm muito cuidado

com essa questatildeo dos contos Dizem que quando os contos soam

as plantas natildeo se preocupam em crescer e os paacutessaros esquecem a comida de seus filhotes

E Galeano

Em meados do seacuteculo XX poacutes Revoluccedilatildeo Industrial surge nos paiacuteses

industrializados da Ameacuterica e tambeacutem na Franccedila uma nova figura de contadores

36

que podemos chamaacute-los de contadores urbanos ou ateacute mesmo contemporacircneos os

quais fizeram ressurgir a praacutetica do (re)conto Com um novo perfil do contador que

difere dos contadores tradicionais porque segundo Ong (1998) lidam com uma

mateacuteria oral secundaacuteria ou seja com a escrita enquanto os tradicionais usavam a

linguagem oral primaacuteria

Proferem frequentemente palavras a partir das registradas nas produccedilotildees da

literatura arquivadas nas bibliotecas por deacutecadas Esses contadores raramente

utilizam em seu repertoacuterio narrativas orais primaacuterias ou seja aquelas utilizadas

pelos contadores tradicionais Portanto parece correto afirmar que o surgimento

desses novos contadores e o ressurgimento do reconto ocorreram no interior de

espaccedilos quase que sagrados da escrita isto eacute nas bibliotecas A possibilidade

decorreu da cultura escrita que passou a resgatar a riqueza das culturas orais

Produccedilotildees de escritores3 que se mantiveram atentos agraves narrativas das geraccedilotildees

precedentes

Coentro (2008) destaca algumas das diferenccedilas entre os contadores

tradicionais e esses novos contadores Menciona entre outras as relativas ao grau

de escolaridade agrave forma como entram em contato com a histoacuteria aos locais onde

realizam sua performance4 e ao puacuteblico alvo de cada tipo de contadores Apesar de

estes novos contadores terem buscado uma aproximaccedilatildeo eou um resgate dos

contadores tradicionais este resgate estaacute estritamente relacionado agrave memoacuteria e

performance (ZUMTHOR 1993)

Patrini (2005) em seu livro A Renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma

praacutetica oral apresenta a concepccedilatildeo de alguns contadores franceses e de outros

paiacuteses quanto ao perfil dos novos contadores de histoacuterias Dentre eles cita Bernard

Fabre Bruno de La Salle Fiona Macheod Catherine Zarcate Annie Kiss Michel

Hindeacutenoch Pepito Mateacuteo

3 Por volta do seacutec XV e XVI surgiram vaacuterios escritores preocupados em recuperar as culturas orais ou seja em registrar as faacutebulas e os contos que ateacute entatildeo eram transmitidos oralmente Destacam-se dentre eles Perrault e os Irmatildeos Grimm 4 Termo utilizado por Zumthor (1993) especialista na literatura oral medieval para caracterizar a atuaccedilatildeo dos trovadores e menestreacuteis

37

Hindeacutenoch (apud PATRINI 2005) caracteriza a contaccedilatildeo como uma arte

testemunhal O contador pode ser uma testemunha de algo que estaacute por acontecer

relatando os fatos de maneira proacutepria e pessoal

O contador eacute uma testemunha para mim de algo que vai acontecer Eacute um jogo que eacute preciso aceitar Aceitar nos deixar levar pela mentira A arte do contador consiste antes de tudo em produzir uma versatildeo pessoal dos fatos que ele conta eacute uma arte testemunhal (HINDEacuteNOCH apud PATRINI 2005 p 75)

Podemos entretanto ampliar a definiccedilatildeo proposta por Hindeacutenoch

apropriando-nos do pensamento das contadoras Macleod e Zarcate (apud PATRINI

2005 p74) Estas proferem que o contador aleacutem de ser testemunha de fatos precisa

testemunhar o seu tempo entrando em contato com sua eacutepoca e o mundo em que

vive buscando refletir experimentar e testemunhar construindo assim sua

subjetividade e ampliando sua visatildeo de mundo

Hoje em dia os contadores de histoacuteria devem estar prontos para enfrentar

diversas situaccedilotildees adaptando-se agraves mudanccedilas radicais que o mundo apresenta

Mudanccedilas natildeo soacute na maneira de pensar mas nos modos pelos quais o mundo eacute

percebido Presente numa modernidade radicalizada a arte de narrar sofre os

efeitos dessa radicalidade e o novo contador reconhece a instabilidade Para

complementar a caracterizaccedilatildeo desse novo contador apresentamos a palavra de

Mateacuteo

Eacute algueacutem que atua na praacutetica da narraccedilatildeo o que natildeo significa atuar especialmente em uma praacutetica artiacutestica que supotildee forccedilosamente a representaccedilatildeo O contador pode se adaptar a diferentes espaccedilos diferentes atividades diferentes experiecircncias para recontar uma histoacuteria (MATEacuteO apud PATRINI 2005 p76)

As palavras desse autor permitem definir o perfil do novo contador como

daquele que aleacutem de adaptar-se a diferentes experiecircncias e espaccedilos para transpor

de forma oral o texto escrito necessita de algumas outras habilidades Entre elas as

de poder analisar os mecanismos que entram em jogo na hora de compartilhar a

histoacuteria com a sua audiecircncia de modo a que apresente uma performance adequada

38

A performance do contador entendida enquanto fator constitutivo da sua praacutetica eacute

crucial para a eficaacutecia da transmissatildeo do conto portanto eacute um aspecto importante a

ser levado em conta quando de sua narrativa

122 Contar e encantar a performance dos novos contadores

Como um colecionador que conhece a fundo cada peccedila de sua coleccedilatildeo o contador de histoacuterias haacute de reconhecer cada parte da

estrutura de uma histoacuteria que ele conta

Celso Sisto

Sabe-se que atualmente as fontes do contador satildeo na maioria das vezes

escritas fazendo-se necessaacuterio por parte desse contador uma leitura solitaacuteria antes

da transmissatildeo oral Uma das caracteriacutesticas principais de que o contador de histoacuteria

natildeo pode abrir matildeo eacute a da qualidade literaacuteria dos textos que escolhe para narrar Ele

precisa conhecer e investigar o que eacute produzido na aacuterea de literatura5 e possui uma

boa bagagem pessoal de leitura

Ao escolher a histoacuteria o contador deve levar em consideraccedilatildeo o seu puacuteblico

alvo para quem conta onde conta e o que conta A preparaccedilatildeo da histoacuteria comeccedila

com a escolha criteriosa e cuidadosa do texto pela leitura do dito e natildeo dito do

texto Uma leitura mais aprofundada do texto durante a preparaccedilatildeo do contador

permite-lhes uma visatildeo mais detalhada das entrelinhas e um envolvimento maior

com a escritura podendo assim realizar de maneira mais produtiva sua narraccedilatildeo

Sisto (2005) indica que a leitura das entrelinhas eacute indispensaacutevel para que o leitor no

caso o contador possa ultrapassar a superfiacutecie do texto e implicar-se na realizaccedilatildeo

de uma leitura de profundidade Eacute preciso entatildeo que ele natildeo esqueccedila que a leitura

eacute o exerciacutecio de um diaacutelogo Aleacutem disso o contador precisa apreciar a histoacuteria como

algueacutem aprecia uma obra de arte de modo a que essa apreciaccedilatildeo o desperte para a

sensibilidade e emoccedilotildees

5 A literatura no caso a infanto-juvenil visto que a pesquisa estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo de

leitor do Ensino Fundamental I

39

Quando nos referimos agrave performance do novo contador ou do contador

contemporacircneo fazemos alusatildeo agrave maneira pela qual o texto eacute transmitido a seus

destinataacuterios Zumthor (1993 p 222) define a performance como sendo ldquoa accedilatildeo

vocal pela qual o texto poeacutetico eacute transmitido aos seus destinataacuterios Sua transmissatildeo

de boca a boca opera literalmente no texto ela o efetuardquo

O discurso dos novos contadores ou seja a forma com que narram suas

histoacuterias deve ser sempre performaacutetico Por isso os contadores passam a ser

atores de uma teatralidade viva Segundo Zumthor (1997) na performance aleacutem de

um saber-dizer e um saber-fazer o contador tem que saber-ser no tempo e no

espaccedilo e isso soacute lhe eacute possiacutevel atraveacutes da corporeidade O contador deve estar

inteiramente integrado ao texto que narra e por meio da sua performance fazer dizer

e ser a histoacuteria para seus ouvintes Nas palavras de Sisto (2005 p22) ldquoO contador

de histoacuteria natildeo pode ser nunca um repetidor mecacircnico do texto que ele escolhe

contarrdquo

Alguns aspectos essenciais precisam compor a performance do contador

como emoccedilatildeo texto adequaccedilatildeo corpo voz clima e memoacuteria (SISTO 2005) Aleacutem

de o contador ter que pesquisar estudar e treinar para a sua contaccedilatildeo ele precisa

apresentaacute-la com naturalidade A naturalidade implica em seguranccedila e simplicidade

no desempenho As artificialidades durante as falas e a atuaccedilatildeo implicam na

instabilidade do contador perante seu puacuteblico Sisto (2005 p22) garante que ldquoquem

conta tem que estar disposto a criar uma cumplicidade entre a histoacuteria e o ouvinte

oferecendo espaccedilo para o ouvinte se envolver e recriar

Os principais instrumentos do narrador satildeo sua voz e seu corpo para

transmitir as emoccedilotildees do enredo do texto A voz eacute um elemento natural desde

sempre separado da linguagem ela midiatiza a liacutengua (ZUMTHOR 2005) Diversos

sons satildeo possiacuteveis por meio da voz mesmo quando incompreensiacuteveis em uma

linguagem humana Para que houvesse uma comunicaccedilatildeo acessiacutevel entre os seres

humanos o homem se apropriou da voz para criar sua proacutepria linguagem por

exemplo para cada signo relacionou arbitrariamente um som diferente Tambeacutem

natildeo podemos pensar em uma linguagem que fosse somente escrita pois como

afirma Zumthor (2005 p63) ldquoa escrita se constitui numa liacutengua segunda os signos

graacuteficos remetem mais ou menos indiretamente agraves palavras vivasrdquo

40

A voz tem uma funccedilatildeo elocutoacuteria e durante uma contaccedilatildeo deve ser

modulada de acordo com o que estaacute se narrando Coelho (1986) assinala que

devemos levar em consideraccedilatildeo os seguintes aspectos intensidade clareza e

conhecimento A intensidade estaacute ligada ao timbre de voz Entonaccedilatildeo e ritmo

devem-se adequar agraves emoccedilotildees que o contador quer compartilhar e instigar em seus

ouvintes A clareza por seu lados diz respeito a uma boa dicccedilatildeo correccedilatildeo da

linguagem O conhecimento enfim depende do aprofundamento do contador no

campo da literatura que pretende trabalhar

Atentar para o ritmo da fala projetar a voz pronunciar as palavras com

clareza possiacutevel tornar expressivo o que se diz descobrir a musicalidade das

frases postar-se de forma correta fazer contato visual com o puacuteblico e confiar na

sua contaccedilatildeo satildeo elementos chaves que o contador de histoacuterias deve levar em

conta para produzir uma boa narraccedilatildeo (SISTO 2005)

O corpo tambeacutem assume um papel importante na transposiccedilatildeo do texto

impresso para a narraccedilatildeo oral O corpo fala por si soacute Os gestos devem ser

verdadeiros ou seja resultar de emoccedilotildees de fato vivenciadas Gestos comedidos

controlados geram cansaccedilo e incredibilidade no ouvinte perante aquilo que estaacute

sendo narrado

A integraccedilatildeo entre o texto narrado e a expressatildeo corporal permite ao

contador um resultado satisfatoacuterio em sua atuaccedilatildeo Cada gesto cada palavra

carrega em si e em seu conjunto a narrativa que o contador pretende transmitir

imprimindo assim ao ato de contar sentido e direccedilatildeo Segundo Zumthor (1993) a

performance desempenhada pelo contador deve ser o resultado da sua leitura e

estudo em profundidade da sua accedilatildeo possibilitando dessa forma que a histoacuteria que

conta seja a mais expressiva e plurissignificativa possiacutevel para seus ouvintes

Outro aspecto fundamental durante a performance do contador eacute o do seu

olhar Eacute ele que pode convidar o ouvinte a adentrar na histoacuteria O contador deve ter

um olhar triplicado pois ao mesmo tempo em que olha para a histoacuteria que estaacute

contando tem que voltar seu olhar para si e para seus ouvintes A sensibilidade do

olhar do contador mediaraacute o envolvimento de seus ouvintes com o texto que narra

Como demonstramos a interaccedilatildeo entre contador e puacuteblico difere um pouco

entre os contadores tradicionais e os contemporacircneos Enquanto as participaccedilotildees

41

do puacuteblico dos contadores tradicionais eram contingenciadas muitas vezes pela

hierarquia social o puacuteblico dos contadores contemporacircneos participa de um jogo

relacional no qual o contador manteacutem diaacutelogo aberto independente da origem social

do seu espectador

Nesta seccedilatildeo destacamos o papel da performance dos contadores

contemporacircneos apoacutes termos documentado a contaccedilatildeo de histoacuteria como uma arte

milenar (12) o papel do contador na contemporaneidade (121) poreacutem o

comportamento da audiecircncia tambeacutem eacute importante para a performance do contador

A proacutexima seccedilatildeo apresenta a escuta como traccedilo essencial desses ouvintes

13 Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escutar

O homem natildeo escuta porque tem ouvidos mas tem ouvidos porque ele eacute um ser cujo modo de realizaccedilatildeo

se daacute na escuta

Nancy Unger

Natildeo se encontra em nossos curriacuteculos escolares uma disciplina que trabalhe

e ensine o aprendizado da escuta pois eacute possiacutevel aprender de ouvido como profere

Larrosa (2004)

Mas afinal qual a aprendizagem eacute importante A auditiva que se daacute pelo

ouvir ou pelo escutar

Ao recorrermos agraves acepccedilotildees das palavras ouvir e escutar depararemos com

as seguintes definiccedilotildees proposta por Houaiss (2009)

Ouvir perceber (som palavra) pelo sentido da audiccedilatildeo

Escutar estar consciente do que estaacute ouvindo

Assim o escutar vai aleacutem do ouvir pois ao ouvirmos apenas respondemos

aos sons e quando escutamos aleacutem disso demonstramos ser capazes de

42

compreender o que estamos ouvindo Pode-se dizer que ouvimos quando captamos

por meio do aparelho auditivo sons de fontes externas ou por noacutes produzidos e

escutamos quando atribuiacutemos sentido a esses sons Por conseguinte eacute possiacutevel

ouvir sem escutar mas eacute impossiacutevel escutar sem ouvir

Ler com os ouvidos possibilita a quem o faz ser um leitor pelo exerciacutecio da

escuta Quando escuta pode produzir suas tessituras com os sentidos que constroacutei

a partir do texto que lhe eacute narrado por exemplo A diferenccedila entre ler vendo e ler

ouvindo ou melhor escutando se deve ao fato de que existem elementos da

linguagem oral que natildeo podem ser articulados pela liacutengua escrita como aqueles

relacionados agrave intensidade e frequecircncia que geram o ritmo a melodia o sussuro o

gemido dimensotildees imprescindiacuteveis para uma boa leitura oral As emoccedilotildees mais

intensas como as possibilitadas por um texto escrito ou oral estimulam o uso de

sons vocais mesmo que em intensidade imperceptiacutevel aos outros Reyzaacutebal (1999)

nos faz lembrar que eacute por meio da voz que identificamos uma pessoa seu sexo sua

idade e ateacute mesmo seu estado de humor ldquoA voz envolve o corpo por isso se fala

de beber as palavras engolir as palavrasrdquo (REYZAacuteBAL 1999 p 22) A voz de outro

estimula e pode seduzir e levar o ouvinte a se esquivar de alguma situaccedilatildeo

conforme o timbre e a ocasiatildeo em que ouccedila

Kanaan (2002) tece comentaacuterios sobre a origem etimoloacutegica do vocaacutebulo

ldquopalavrardquo que por sua pertinecircncia apresentamos a seguir Logos em grego λόγος

significava inicialmente palavra na modalidade escrita ou falada Mas a partir de

filoacutesofos gregos como Heraacuteclito6 a palavra passa a ter um conceito filosoacutefico

traduzido como razatildeo Para Heidegger esse mesmo logos sempre significou na

liacutengua grega o dito o pronunciado ndash como nome derivado do verbo leacutegein ldquodizer

falar contarrdquo que tambeacutem pode ser entendido como ldquopousar estender diante

recolherrdquo Portanto somos conduzidos a entender que o ldquologos eacute aquilo que

aparece se estende diante de noacutes e ao mesmo tempo recolherdquo(KANAAN 2002 p

141) Deste modo para se escutar o logos eacute preciso que nele estejam presentes

tanto o ldquopousarrdquo quanto o ldquorecolherrdquo (KANAAN 2002 p 141)

6 Heraacuteclito de Eacutefeso foi um filoacutesofo preacute-socraacutetico considerado o pai da dialeacutetica Inserido no

contexto preacute-socraacutetico parte do princiacutepio de que tudo eacute movimento e que nada pode permanecer estaacutetico - Panta rei ou tudo flui tudo se move exceto o proacuteprio movimento

43

Conforme relata Pereira e Ribeiro (2010) Heidegger em 1951 pronunciou no

clube de Bremen uma conferecircncia intitulada Logos Nela Heidegger focalizou em

sua anaacutelise alguns dos 126 fragmentos de Heraacuteclito presentes na coletacircnea Diels-

Kranz7 em que comentou acerca do sentido da palavra logos No fragmento 34 o

discurso discorre acerca da escuta Heraacuteclito profere ldquoOuvindo descompassados

assemelham-se a surdos o ditado lhes concerne presentes estatildeo ausentesrdquo

Partindo do pensamento heideggeriano entendemos que o ldquoouvir descompassadordquo

seja o ldquoouvir sem compreensatildeo ouvir sem que o compreender seja exercidordquo

Podemos entatildeo dizer que escutar eacute ouvir compassadamente porque natildeo haacute escuta

sem compreensatildeo

A palavra dita nos atinge conforme a situaccedilatildeo e a sua intensidade e nos afeta

porque vem ao nosso encontro Natildeo eacute necessaacuterio que nos movimentemos ateacute ela

como acontece quando tomamos um texto impresso para ler

Larrosa (2004 p 38) define a palavra dita como ldquouma palavra natildeo fixa mas

fluida uma palavra que natildeo eacute lsquoem si e por sirsquo uma palavra que natildeo aparece na

forma lsquodo que foi ditorsquo mas na forma do [] ainda por dizer []rdquo Por isso

diferentemente da palavra escrita que se mostra soacutelida a palavra dita discorre com

fluidez eacute palavra viva animada que concede ao leitor ou ao ouvinte de uma

narrativa por exemplo navegar pelos interstiacutecios do devir ou do que se estaacute por

dizer

No caso da contaccedilatildeo de histoacuterias Kanaan (2002 p16) salienta que ldquopara

escutar o texto [] eacute necessaacuterio se colocar numa posiccedilatildeo particular a de uma

lsquodisposiccedilatildeorsquo em que afetado pela narrativa do outro pelo lsquotexto do outrorsquo eu

pudesse me colocar receptivo ao que este me comunicardquo E colocar se agrave

ldquodisposiccedilatildeordquo eacute situar-se em uma posiccedilatildeo intersubjetiva pois a escuta permite

(re)editar as marcas da subjetividade do contador e de si proacuteprio enquanto ouve Por

meio da escuta eacute possiacutevel ldquoreeditar experiecircncia criar novos sentidos reconstruir

histoacuterias com base na intersubjetividade que se estabelece entre leitor e textordquo

(KANAAN 2002 p 133)

7 Hermann Diels comeccedilou no final do seacuteculo XIX uma compilaccedilatildeo de testemunhos e

fragmentos dos preacute-socraacuteticos espalhados por diversas obras antigas publicando esse material Posteriormente Walther Kranz organizou novas ediccedilotildees dessa obra que passou a ser conhecida como Diels-Kranz

44

Por sua vez Bajard (1994) quando analisa a importacircncia da escuta de um

texto afirma que o foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do texto ele passa a se

situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre uma pessoa que daacute voz

a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxerga (BAJARD 1994 p53)

Garcia Roza 1990 (apud KANAAN 2002 p 141) com relaccedilatildeo agrave escuta e ao

ouvir assegura que ldquoescutamos mais quando natildeo ouvimos tanto quando natildeo nos

colocamos como pura exterioridade em relaccedilatildeo ao que queremos escutarrdquo Portanto

natildeo basta estar de ouvidos atentos para escutar Impedimos a escuta se

mantivermos uma relaccedilatildeo de exterioridade diante do que eacute dito Esse autor ainda

ressalta que ldquoa atitude de escuta soacute se constitui se fizermos parte desse repousar e

recolher o Logosrdquo

Rubem Alves (2009) em seu texto intitulado Escutatoacuterio descreve que para

escutarmos eacute necessaacuterio tempo para apreender o que o outro falou porque soacute

assim podemos ponderar a fala do outro e ficamos cientes do que ouvimos Torna-

se imprescindiacutevel fazermos silecircncio dentro de noacutes para que passemos a escutar De

que adianta ouvir se os pensamentos vagam em direccedilatildeo ao que se iraacute dizer logo

apoacutes sem estar por completo no que se estaacute ouvindo A escuta cria fissuras

silenciosas entre uma palavra e outra Por conseguinte podemos afirmar que

escutar eacute ouvir por inteiro eacute calar a proacutepria voz e concentrar-se nas palavras que

satildeo proferidas por outrem

Ao escutar uma histoacuteria o aluno deve ldquodeixar-se colher e afetar pela fala do

outrordquo (FIGUEIREDO 1994 apud KANAAN 2002 p 145) E ao mesmo tempo em

que eacute colhido e afetado permitir-se acolher analisar avaliar o que lhe foi oferecido

por essas palavras A escuta de uma contaccedilatildeo de histoacuteria possibilita ao aluno entrar

em um mundo de seduccedilatildeo onde sua voz interior pode momentaneamente ser

silenciada para dar lugar a uma nova voz que adentra o seu iacutentimo pelo simples ato

de escutar

Apoacutes essas consideraccedilotildees sobre a importacircncia da escuta para a leitura da

palavra cabe destacar que a posiccedilatildeo de escuta natildeo se restringe agrave palavra oral Ela

eacute necessaacuteria independente do suporte do texto Na uacuteltima seccedilatildeo que compotildee este

capiacutetulo seratildeo analisados aspectos relativos agrave contaccedilatildeo de histoacuterias agrave formaccedilatildeo de

45

leitores e agrave mediaccedilatildeo da leitura de textos escritos por parte dos contadores de

histoacuterias

131 O ato de contar e a constituiccedilatildeo de leitores

Ouvir eacute ver aquilo de que se fala falar eacute desenhar imagens visuais

C Stanislavski

O ato de contar histoacuteria pode ser dimensionado como exemplo de uma

atividade realizada a partir de outra produccedilatildeo pois todo o texto narrado tem algum

autor por mais que ele seja desconhecido O contador ao estar ciente disso faz com

que o texto inicial adquira uma forma peculiar de narraccedilatildeo A memorizaccedilatildeo pelo

menos de parte do texto eacute necessaacuteria e natildeo pode ser desconsiderada pelo contador

A reminiscecircncia musa da narrativa era e continua sendo a base da tradiccedilatildeo nessa

forma de transmissatildeo Como adverte Sisto (2005 p60) ldquodecorar muitas vezes

compromete a naturalidade da fala [] necessaacuteria sobretudo nos textos mais

poeacuteticosrdquo Com o tempo percebeu-se que ensaios seriam necessaacuterios para melhorar

a atuaccedilatildeo e a naturalidade na hora de transmitir o texto decorado E por mais que o

contador natildeo reproduza o texto exatamente como estaacute no papel eou como o autor o

produziu ele realiza uma atividade de memorizaccedilatildeo no momento em que relecirc o

texto e assinala palavras que serviratildeo de guia no decorrer do seu discurso para que

possa apresentar seu texto de modo ldquoimprovisadordquo O estudo do texto ldquoimprovisadordquo

gera um exerciacutecio mnemocircnico (PATRINI 2005)

Contador eacute aquele que produz o discurso narrativo ou seja eacute a voz que

propotildee inventa e instiga quem o ouve O termo contador na sua forma vernaacutecula

quer dizer narrador (HOUAISS 2009) aquele que administra a palavra pois se trata

de algueacutem que tem como funccedilatildeo em uma determinada ocasiatildeo contar a outros

46

alguma coisa Para fazecirc-lo precisa atuar conduzindo detalhadamente a narrativa

dos fatos Eacute algueacutem que narra pelas palavras gestos e pelo contexto que cria

exercendo assim o poder de seduccedilatildeo Transportar o ouvinte a um mundo por vezes

dele desconhecido e a fatos alguns deles por ele percebidos como enigmas Um

bom contador de histoacuterias deve instigar em seus ouvintes a atenccedilatildeo a curiosidade

a que cotejem seus sentimentos e valores com os narrados pela histoacuteria bem como

a que compartilhem com os demais ouvintes suas reaccedilotildees e vivecircncias relacionadas

agrave histoacuteria aleacutem de instigaacute-los a imaginar criativamente a partir do narrado (SISTO

2005)

A arte de contar histoacuterias depende frequentemente do poder de seduccedilatildeo do

contador poder resultante das relaccedilotildees que ele ao contar faz com a vida dos seus

ouvintes e do modo como trabalha o objeto o texto narrado nem sempre de sua

autoria que deu suporte para a sua accedilatildeo Como ensina Patrini (2005 p105) ldquoo ato

de narrar significa tambeacutem o encontro com os misteacuterios que envolvem o homem e a

vida nos diversos momentos de sua existecircnciardquo

Benjamin (1994) assim define o narrador

[] figura entre os mestres e os saacutebios Ele sabe dar conselhos natildeo em alguns casos como o proveacuterbio mas para muitos casos como o saacutebio Pode recorrer ao acervo de toda uma vida [] Seu dom eacute poder contar sua vida sua dignidade eacute contaacute-la inteira O narrador eacute o homem que poderia deixar a luz tecircnue de sua narraccedilatildeo consumir a mecha de sua vida (BENJAMIN 1994 p221 Grifos nossos)

A figura do narrador pode ser percebida como a de um conselheiro que com

sua sabedoria orienta seus ouvintes Sabedoria esta adquirida natildeo apenas a partir

da proacutepria experiecircncia mas em grande parte pela empatia que sentiu quando

observou as experiecircncias alheias e as assimilou no seu iacutentimo

Benjamin (1994) explica que ldquo[] a arte de contar histoacuterias se perdeu porque

as pessoas perderam o dom de ouvir []rdquo Sabemos que o visual estaacute muito

presente na sociedade moderna e a intensidade e variedade das imagens nos

cativam fazem-nos esquecer da escuta Falamos e ouvimos muito poreacutem estamos

pouco propensos a escutar Entretanto vivemos num mundo onde as relaccedilotildees

interpessoais mais intensas se baseiam na escuta Pela velocidade e rapidez com

47

que vivemos o dia a dia deixamos de nos perceber enquanto seres ldquoderdquo e ldquoemrdquo

relaccedilatildeo Por isso acreditamos que os indiviacuteduos precisam aprender a escutar

O trabalho com as narrativas orais isto eacute com a contaccedilatildeo de histoacuteria dentro

das instituiccedilotildees escolares seja em um momento de roda ou na Hora do Conto

frequentemente desenvolvido nas bibliotecas pode propiciar o (re)aprender a

escutar No momento em que o contador narra a histoacuteria ele cria uma conexatildeo entre

texto e ouvinte e este precisa se colocar com a disposiccedilatildeo de escuta Esta condiccedilatildeo

potencializadora de instigar o ouvinte para a escuta do narrado e de si mesmo

criada pelo contador pode ser propiacutecia para a constituiccedilatildeo de futuros leitores

apreciadores e criacuteticos Portanto resgatar a arte de contar histoacuterias aleacutem de

incentivar a escuta imprescindiacutevel para a boa convivecircncia social e para uma boa

leitura propicia a quem as escuta o (re) encontro como o novo Nesta situaccedilatildeo o

imaginaacuterio e a criatividade satildeo potencializados em um mesclar de realidade e magia

pois o ouvinte poderaacute ler como imagens a performance da fala do narrador Sob

essa perspectiva o modo como o contador conduz sua narrativa pode levar o

ouvinte a perceber que muitas dessas histoacuterias contadas estatildeo disponiacuteveis em

outros suportes de leitura que podem ser acessados independentemente por

exemplo em bibliotecas escolares e puacuteblicas

A mediaccedilatildeo entre o texto a ser lido e o sujeito leitor eacute um aspecto pouco

investigado no campo da Educaccedilatildeo Apesar de o professor ser o agente educativo

mais pesquisado (BRZEZINSKI 2009) porque eacute o mediador mais importante para o

educando e o responsaacutevel pela sua formaccedilatildeo pessoal e social dentro da escola

poucos tecircm sido os trabalhos de investigaccedilatildeo que tomam por foco o professor como

mediador da leitura (PULLIN PUumlSCHEL 2004)

Concordamos com Mellouki e Gauthier (2004) que por entenderem o

professor como o principal mediador e interprete criacutetico da cultura escolheram para

tiacutetulo de um de seus trabalhos ldquoO professor e seu mandato de mediador herdeiro

inteacuterprete e criacuteticordquo Nele analisam o papel do professor na escola concebida no

sentido amplo do termo como uma instituiccedilatildeo cultural No contexto escolar contudo

devemos levar em conta a presenccedila e o papel de outros mediadores da leitura

Dentre eles a famiacutelia os livros didaacuteticos as editoras os criacuteticos da literatura as

obras literaacuterias disponiacuteveis a contaccedilatildeo de histoacuterias Witter (1996) por exemplo em

48

sua revisatildeo da literatura sobre a influecircncia de agentes e suportes socioculturais para

a leitura destaca a famiacutelia como um dos agentes principais

Segundo Paim e Prigol (2009) a importacircncia da figura do mediador como

basilar para a formaccedilatildeo do leitor comeccedilou a ser destacada em meados dos anos de

1990 Uma das produccedilotildees realizadas sobre mediaccedilatildeo da leitura com destaque para

os mediadores institucionais e natildeo institucionais eacute o livro Leitura mediaccedilatildeo e

mediador de Maria Helena T C de Barros Sueli Bortolin e Rovilson Joseacute da Silva

no qual os autores apresentam uma reflexatildeo sobre o papel dos mediadores

Partindo dessa anaacutelise realizada por esses autores apresentamos a seguir alguns

aspectos e dimensotildees a respeito da mediaccedilatildeo de leitura que pode ser exercidos

pelos educadores nos contextos escolares

Mediar eacute interceder e o mediador da leitura eacute aquele capaz de fazer fluir o

proacuteprio objeto de leitura ateacute o leitor preferencialmente de forma eficaz ou seja

mediador eacute aquele que intermedeia o encontro entre sujeito (leitor) e objeto (objeto a

ser lido) independente do suporte e do texto

Como apontado por Paim e Prigol (2009) nos uacuteltimos anos a mediaccedilatildeo entre

os objetos e os sujeitos tornou-se fulcral para a anaacutelise da formaccedilatildeo do aluno leitor

pois ela determina muitas das dimensotildees do encontro entre o futuro leitor e o objeto

a ser lido seja um texto literaacuterio ou outro objeto qualquer No caso faz-se

necessaacuterio um olhar cuidadoso ao educador que pelo espaccedilo e poder que ocupa no

ambiente escolar eacute um dos responsaacuteveis mais importantes na formaccedilatildeo do

educando especialmente como leitor Vejamos entatildeo uma das ponderaccedilotildees de

Silva (2006a) a respeito

Eacute preciso que se volte a atenccedilatildeo para esse profissional que sua praacutetica seja perscrutada a ponto de se compreender o acircmbito de sua accedilatildeo e ao mesmo tempo possa subsidiar teoricamente o contar histoacuterias o promover a leitura e a literatura no ensino fundamental principalmente nas quatro seacuteries iniciais (SILVA 2006 a p89)

O que com frequecircncia se tem verificado em instituiccedilotildees escolares eacute uma

mediaccedilatildeo da leitura restrita ao seu uso utilitaacuterio com o intuito principal de aquisiccedilatildeo

e ampliaccedilatildeo de informaccedilotildees importantes para os conteuacutedos curriculares utilizada

49

muitas vezes como fonte que alicerccedila as boas maneiras e a transmissatildeo de valores

(SILVA 2006 a)

Entretanto os textos ou qualquer objeto quando escolhido para leitura

proporcionam a quem os lecirc a possibilidade de formular sentidos diversos dos

apresentados pelo autor de cotejar seus conhecimentos e valores com os que lhe

parecem expressos pelo texto O leitor pode ler imagens sons gestos como

tambeacutem textos instrutivos informativos de entretenimentos e educativos Cabe

poreacutem ao mediador apresentar e incentivar a leitura de diversos tipos de texto eou

objetos para leitura

Em se tratando da recomendaccedilatildeo da leitura de textos literaacuterios o gosto pela

leitura e os encaminhamentos metodoloacutegicos satildeo essenciais ndash por parte dos

educadores - para que a mediaccedilatildeo seja eficiente (SILVA 2006 a)

Necessaacuterio se torna entatildeo que educadores pedagogos pais enfim todos

aqueles que exerccedilam a funccedilatildeo de mediadores da leitura estejam cientes de que o

grande problema da natildeo-leitura natildeo estaacute na ausecircncia do prazer e sim na ausecircncia

de instrumentos e da interposiccedilatildeo destes instrumentos Haacute muitas pessoas que natildeo

tecircm acesso aos livros por condiccedilotildees financeiras precaacuterias eou ateacute mesmo pela

ausecircncia de bibliotecas puacuteblicas nas cidades Eacute fator determinante tambeacutem que

como mediadores disponham de conhecimentos teoacutericos sobre Leitura e Literatura

sobre os acervos disponiacuteveis sobre os efeitos dos julgamentos da miacutedia para que

possam exercer de maneira efetiva o papel que lhes compete na formaccedilatildeo de

leitores

Para finalizar adentraremos agora na questatildeo da mediaccedilatildeo exercida pela

contaccedilatildeo de histoacuteria realizadas em contextos escolares Morais (1996) salienta que

a primeira etapa para a leitura eacute a audiccedilatildeo de textos de livros

Essa modalidade de encontro com textos escritos provocada por um

mediador da leitura gera efeitos nos planos afetivo cognitivo e linguiacutestico

importantes para a formaccedilatildeo dos leitores Cognitivamente abre portas para o

conhecimento e para os saberes do ouvinte pois como analisamos anteriormente

as histoacuterias permitem que ele estabeleccedila relaccedilotildees entre as proacuteprias experiecircncias e

as vividas pelos personagens algumas delas difiacuteceis de serem experienciadas no

cotidiano Aleacutem disso como pondera Morais (1996)

50

Mais importante ainda talvez pela proacutepria estrutura da histoacuteria contada pelas questotildees e comentaacuterios que ela sugere pelos resumos que provoca ela ensina a compreender melhor os fatos e os atos a melhor organizar e reter a informaccedilatildeo a melhor elaborar os roteiros e os esquemas mentais (MORAIS 1996 p171 Grifos nossos)

No plano linguiacutestico a audiccedilatildeo dos textos por exemplo de livros permite ao

leitor aprender e desenvolver estruturas de frases e textos bem como ampliar seu

repertoacuterio vocabular e linguiacutestico Essa audiccedilatildeo possibilita ainda que o ouvinte

esclareccedila uma seacuterie de relaccedilotildees entre a liacutengua falada e a escrita como por exemplo

sobre o uso e os efeitos de sinais de pontuaccedilatildeo os sentidos que podem ser dados a

um texto entre tantos mais

No plano afetivo o ouvinte dessas histoacuterias no caso a crianccedila descobre o

universo da leitura pela voz de um leitor ou seja pela voz - do mediador ndash

preferivelmente daquele por quem nutre confianccedila sejam seus familiares ou

professor Esta relaccedilatildeo afetiva entre o ouvinte futuro leitor de textos escritos e o

mediador afeta a intensidade das mudanccedilas especialmente das relacionadas aos

aspectos cognitivos e linguiacutesticos

Eacute no ato de narrar uma histoacuteria em voz alta que o mediador pode permitir que

o ouvinte estabeleccedila interaccedilotildees com os colegas Mesmo sabendo que incentivos

para o aspecto intelectual estatildeo correlacionados ao sucesso da aprendizagem no

caso da leitura natildeo devemos voltar nossos olhos apenas para esses resultados

cognitivos Como recomenda Morais (1996 p172) ldquoAo ler para a crianccedila natildeo nos

tornemos seu instrutor quer sejamos pais ou professor Nada melhor do que ter

como meta seu prazer []rdquo

Para tanto eacute papel das escolas oferecerem espaccedilos adequados para que

ocorra o encontro entre o leitor e os livros Silva (2006 a) nos diz

[] cumpre agrave escola proporcionar espaccedilos que favoreccedilam a crianccedila a encontrar-se com o livro sem cobranccedilas desnecessaacuterias de modo que a leitura seja incorporada na vida da crianccedila como tantas outras convivecircncias importantes para o seu desenvolvimento (SILVA 2006 a p95)

51

Considerando todos os aspectos passiacuteveis de serem alcanccedilados pela

atividade da contaccedilatildeo de histoacuteria cabe ao mediador e a escola proporcionar

situaccedilotildees agradaacuteveis de leitura para que futuramente estes pequenos leitores

busquem por si soacute seus caminhos literaacuterios usufruindo daquilo que veio ao

encontro de suas buscas e sentindo prazer em apenas ler

No proacuteximo capitulo apresentaremos a parte empiacuterica deste trabalho a qual

foi desenhada tendo por inspiraccedilatildeo as recomendaccedilotildees da literatura ateacute agora

expostas

52

2 MEacuteTODO DE PESQUISA

O presente trabalho situa-se no campo das investigaccedilotildees qualitativas por

conseguinte descritivas e interpretativas Uma definiccedilatildeo precisa acerca desse tipo de

investigaccedilatildeo eacute quase sempre posta em questatildeo visto que como atesta Vilela (2003

p 458) haacute a ldquoimpossibilidade de se apresentar uma definiccedilatildeo fechada [da] pesquisa

qualitativardquo

Vilela (2003) apresenta uma retrospectiva explicitando os contornos que

favoreceram a mudanccedila do paradigma investigativo hegemocircnico nas ciecircncias

sociais especificamente no campo da pesquisa educacional Demonstra a

hegemonia atual da pesquisa qualitativa neste campo bem como as dimensotildees que

sustentam sua praacutetica salientando as mudanccedilas relativas agraves abordagens

metodoloacutegicas

Segundo Alves-Mazzotti (1991) eacute a loacutegica que orienta o processo de

investigaccedilatildeo e natildeo apenas a utilizaccedilatildeo de recursos metodoloacutegicos relacionados a

uma ou a outra abordagem de pesquisa que definem se um trabalho de pesquisa

pode ser qualificado como exemplo de uma abordagem qualitativa ou natildeo

A loacutegica que sustenta o estudo empiacuterico que desenvolvemos teve por pilar

principal os pressupostos da epistemologia qualitativa conforme apresentados por

Gonzaacutelez Rey (2002) Entre eles o do entendimento de que o conhecimento eacute uma

produccedilatildeo construtivo-interpretativa Em outras palavras natildeo soacute o pesquisador

precisa dar sentido e interpretar continuamente os objetos de seu estudo tambeacutem a

interaccedilatildeo com o sujeito relacionado eacute essencial para o processo de estudo dos

fenocircmenos humanos

A parte empiacuterica deste trabalho foi desenvolvida em um ambiente escolar

porque dentre tantos outros eacute nele que deve ocorrer parte da formaccedilatildeo dos leitores

Aleacutem da situaccedilatildeo da coleta se situar em um ambiente natural conforme sugerido por

Vilela (2003) para a conduccedilatildeo de uma pesquisa qualitativa e ciente quanto ao fato

de que o pesquisador eacute o ldquoelemento mais importante da coletardquo (VILELA 2003

p459) deve utilizar recursos e teacutecnicas que lhe possibilitem condiccedilotildees efetivas de

53

interaccedilatildeo para que possa estudar o fenocircmeno que tenciona investigar (GONZAacuteLEZ

REY 2002) cuidados quanto agrave seleccedilatildeo dos participantes aos materiais e aos

procedimentos que foram tomados conforme expostos nas seccedilotildees que compotildeem

este capiacutetulo ( 21222324)

Sabemos que a ldquoContaccedilatildeo de Histoacuteriasrdquo ocupa alguns lugares no cotidiano

escolar poreacutem nem sempre conhecidos As questotildees que se busca responder com

este trabalho em parte surgiram da vivecircncia da autora deste trabalho como

contadora de histoacuterias No ambiente natural no qual agora procuramos respondecirc-las

outros cuidados se fizeram necessaacuterios como os decorrentes da posiccedilatildeo e funccedilatildeo

de contadora-pesquisadora Assim foi feito pois almejamos elucidar algumas das

questotildees educativas como pesquisadora que (re)adentra observando e intervindo

em situaccedilotildees e contextos que lhes eram familiares poreacutem que precisavam ficar sob

suspeiccedilatildeo para que pudesse conduzir a contento a pesquisa empiacuterica

Desconfianccedila necessaacuteria ainda mais porque sua condiccedilatildeo de contadora-

pesquisadora precisaria transfigurar a sua experiecircncia como contadora na da

pesquisadora responsaacutevel pela coleta e anaacutelise das informaccedilotildees recolhidas

Este capiacutetulo prossegue com as informaccedilotildees da instituiccedilatildeo escolar na qual a

pesquisa foi desenvolvida (21) Logo apoacutes satildeo caracterizados os participantes (22)

os instrumentos (23) e os procedimentos (24) utilizados para a coleta dos dados

Ao final deste capiacutetulo satildeo enunciados e justificados os caminhos que seguimos

para a anaacutelise dos dados

O conjunto de informaccedilotildees deste capiacutetulo pretende demonstrar a loacutegica que

orientou a totalidade do processo empiacuterico desta investigaccedilatildeo Acreditamos que pela

loacutegica induzida desta parte do relato os leitores deste trabalho poderatildeo categorizaacute-la

como uma pesquisa desenvolvida sob a abordagem qualitativa conforme foi nosso

intuito ao seguir as recomendaccedilotildees de especialistas como Alves-Mazzotti (1991)

54

21 O Contexto e o Processo de Geraccedilatildeo dos Dados

A instituiccedilatildeo escolhida para a realizaccedilatildeo da pesquisa localiza-se no municiacutepio

de Londrina proacuteximo ao centro da cidade Eacute uma instituiccedilatildeo religiosa e filantroacutepica

que atendia em 2009 um total de 1208 alunos sendo 318 alunos no Ensino Meacutedio

425 alunos no Ensino Fundamental II 324 alunos no Ensino Fundamental I e 141

alunos na Educaccedilatildeo Infantil As famiacutelias dos alunos dessa instituiccedilatildeo satildeo em sua

maioria de classe meacutedia e alta

O que nos levou agrave escolha desta instituiccedilatildeo Aleacutem da acessibilidade da

pesquisadora agrave mesma visto que trabalha nesta instituiccedilatildeo haacute nove anos outro fator

foi relevante na escolha o fato de a pesquisadora manter uma relaccedilatildeo empaacutetica

com os alunos participantes mantendo contato com os mesmos natildeo soacute durante a

coleta dos dados Isso possibilitou a observaccedilatildeo de situaccedilotildees e accedilotildees de leitura

decorrentes ou natildeo dos efeitos das intervenccedilotildees

A instituiccedilatildeo ocupa um espaccedilo fiacutesico de aproximadamente 26500msup2

ofertando agrave Educaccedilatildeo Infantil um espaccedilo independente poreacutem integrado aos demais

espaccedilos escolares Aleacutem das salas de aula a instituiccedilatildeo dispotildee de uma biblioteca

com um acervo diversificado cerca de 16000 exemplares distribuiacutedos entre livros

CDs revistas e perioacutedicos duas salas de audiovisual com projetor lousa digital e

equipamentos para DVD e VHS trecircs laboratoacuterios de informaacutetica com 20

computadores em cada um um auditoacuterio com 280 lugares um teatro com

capacidade para mais de 900 pessoas trecircs laboratoacuterios - um de fiacutesica outro de

quiacutemica e outro de biologia um ginaacutesio poliesportivo com duas quadras para a

realizaccedilatildeo da praacutetica de Educaccedilatildeo fiacutesica e desportiva Por ser uma instituiccedilatildeo

religiosa haacute uma capela aberta todo o dia para a comunidade em geral aleacutem de

programaccedilotildees fixas de oraccedilotildees e reflexotildees durante a semana para pais

funcionaacuterios e toda a comunidade londrinense

55

22 Razotildees que Guiaram a Seleccedilatildeo dos Participantes

A crianccedila no seu percurso escolar geralmente experiencia uma ruptura na

passagem da Educaccedilatildeo Infantil para o Ensino Fundamental natildeo soacute pela forccedila da

transiccedilatildeo brusca da oferta dos ambientes de aprendizagem comuns a essas

estruturas de ensino como tambeacutem pelas demais possibilidades interativas nas

salas das seacuteries iniciais Uma crianccedila com experiecircncia na Educaccedilatildeo Infantil onde

lhe satildeo favorecidas interaccedilotildees mais pessoais e plurais com espaccedilos ampliados para

a ldquoludicidaderdquo quando ingressa no Ensino Fundamental passa a enfrentar grandes

mudanccedilas que a obrigam a conviver em uma estrutura organizacional cuja tradiccedilatildeo

pedagoacutegica natildeo privilegia praacuteticas educativas mais individualizadas e o luacutedico Sem

contar que estaacute de modo geral entrando em um processo formal de alfabetizaccedilatildeo

para o qual raramente havia sido instigada antes no ambiente escolar

O espaccedilo e o tempo nos quais passam a transcorrer suas atividades na

escola satildeo mais regulados pois haacute uma preocupaccedilatildeo por parte dos professores e

demais agentes educativos nomeadamente dos orientadores e supervisores

escolares soacute para indicar os que lhes satildeo mais proacuteximos para que as atividades

sejam especialmente dirigidas para o ensino da leitura da escrita e dos

fundamentos de um pensar e produzir a matemaacutetica elementar Portanto reguladas

para os letramentos baacutesicos previstos oficialmente para esse niacutevel de escolarizaccedilatildeo

conforme preconizados pelas Diretrizes Curriculares da Educaccedilatildeo Baacutesica para o

Estado do Paranaacute (PARANAacute 2009) e pelos PCNrsquos (BRASIL 1997)

A evidecircncia quanto a essas mudanccedilas enfrentadas pelas crianccedilas na

transiccedilatildeo entre a fase dita preacute-escolar e a escolar se constituiu em uma das razotildees

que levou a definir o criteacuterio para a seleccedilatildeo inicial dos participantes da pesquisa

56

221 Participantes

Foram selecionados para participar da pesquisa alunos (n=49 alunos) e duas

professoras do 2deg ano do Ensino Fundamental

A instituiccedilatildeo em 2009 ofertava duas turmas do 2ordm ano8 doravante

denominadas de turma A e turma B Os alunos distribuiacuteam-se na faixa etaacuteria de seis

a sete anos A turma A contava com 27 alunos matriculados sendo 12 meninas e 15

meninos A turma B contava com 22 alunos matriculados sendo 13 meninos e nove

meninas Do total de alunos das turmas A e B (49) nove foram selecionados para

as entrevistas sendo quatro meninos e cinco meninas

Para a identificaccedilatildeo dos alunos que participaram desses encontros foram

utilizados os seguintes coacutedigos A1 A2 A3 (sexo feminino) A4 A5 (sexo masculino)

e B1 B2 (sexo feminino) B3 B4 (sexo masculino) As letras A e B referem-se agraves

turmas nas quais os participantes estavam matriculados

As professoras-participantes (PA9 e PB) eram as responsaacuteveis pela conduccedilatildeo

das atividades escolares em 2009 respectivamente na Turma A e na Turma B

Informaccedilotildees pessoais e acerca da formaccedilatildeo acadecircmica e experiecircncia profissional

permitiram desenhar os seguintes perfis PA - com idade de 51 anos formada em

Psicologia haacute 25 anos atuava como docente haacute 26 anos PB ndash com idade de 24

anos formada em Pedagogia haacute trecircs anos contava com cinco anos de experiecircncia

docente no Ensino Fundamental

Contamos ainda com a participaccedilatildeo indireta da bibliotecaacuteria jaacute que a mesma

ficou responsaacutevel por fornecer os registros da assiduidade dos alunos agrave biblioteca

8 A instituiccedilatildeo jaacute adotou no Ensino Fundamental o sistema de ensino de nove anos A

nomenclatura que antes era SEacuteRIE passa a ser ANO 9 Para referenciar as professoras-participantes satildeo empregadas as siglas PA para a

professora da Turma A e PB para a professora da turma B

57

23 Materiais

Por terem sido diferentes as fontes utilizadas para a recolha dos dados

optamos por organizar esta parte do relato indicando inicialmente as fontes

secundaacuterias e os instrumentos respectivamente utilizados

A bibliotecaacuteria da instituiccedilatildeo ficou responsaacutevel por ceder agrave pesquisadora

registro quanto agrave assiduidade dos alunos das Turmas A e B agrave biblioteca O registro

ficou limitado ao acompanhamento da retirada e devoluccedilatildeo dos materiais da

biblioteca ao longo do periacuteodo compreendido entre o mecircs anterior ao iniacutecio da

intervenccedilatildeo e o posterior isto eacute de setembro a dezembro de 2009 A biblioteca

conta com um software que viabiliza normalmente o registro diaacuterio da retirada e

devoluccedilatildeo das obras de seu acervo

O formulaacuterio gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca

(Anexo A) informa o histoacuterico das retiradas quando quantas vezes e quem realiza o

empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo Por ele os interessados ndash pais professores

etc- podem averiguar quantos e quais os livros retirados pelo aluno em cada mecircs

As professoras-participantes contribuiacuteram informalmente com subsiacutedios no

iniacutecio e no final da coleta de dados

Com vistas agrave conduccedilatildeo das entrevistas com os alunos foi solicitado agraves

professoras responsaacuteveis pela turma na qual os alunos participantes se

encontravam matriculados que identificassem quatro alunos que consideravam

segundo suas concepccedilotildees ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo leitores

Sendo assim foi entregue em matildeos a cada professora um folha com trecircs

questotildees para serem respondidas por escrito (Apecircndice A) Os alunos identificados

pelas professoras foram submetidos agraves entrevistas A professora da Turma A

selecionou cinco alunos10 sendo dois meninos e trecircs meninas e a professora da

Turma B selecionou quatro alunos sendo dois meninos e duas meninas

10 A PA selecionou uma aluna a mais do que o previsto porque acreditava que ela poderia

contribuir muito para a pesquisa

58

O protocolo que serviu para a seleccedilatildeo dos alunos a serem entrevistados

consistiu em um questionaacuterio preenchido individualmente pelas professoras

participantes (PA PB) Nesse questionaacuterio as professoras foram instigadas a

responder trecircs questotildees que as interpelavam a exporem sua concepccedilatildeo de ldquobomrdquo e

ldquomaurdquo leitor e a indicar o nome dos alunos que consideravam ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores

Eacute comum considerar o ldquobomrdquo leitor como aquele que lecirc com objetivo

determinado avalia o que lecirc possui bom vocabulaacuterio tem habilidades para

conhecer o valor do livro adquire livros com frequumlecircncia lecirc vaacuterios assuntos e lecirc por

prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo e o ldquomaurdquo leitor como sendo aquele que lecirc pouco natildeo

gosta de ler lecirc palavra por palavra soacute tem um ritmo de leitura natildeo avalia o que lecirc

acreditando em tudo o que leu possui vocabulaacuterio limitado e raramente discute com

colegas o que lecirc Sabemos poreacutem que se torna inconveniente classificarmos o

leitor em ldquobomrdquo ou ldquomaurdquo visto que a leitura acontece a todo o momento passamos o

tempo todo fazendo leituras Portanto ldquosomos leitoresrdquo independentemente da

maneira com que as realizamos Entretanto esses qualificativos em relaccedilatildeo aos

alunos satildeo utilizados frequentemente por professores

Os demais materiais utilizados para a coleta de dados foram livros de

Literatura Infantil diaacuterio de campo gravador e um toacutepico guia

Foram utilizados 10 livros de Literatura Infantil seis (selecionados pela

pesquisadora) para uso nas sessotildees de intervenccedilatildeo e quatro (selecionados pelas

professoras) utilizados nas sessotildees de observaccedilatildeo

Os livros escolhidos satildeo de autores contemporacircneos e entre as razotildees para

essa seleccedilatildeo destacam-se autores reconhecidos e legitimados no campo da

Literatura Infantil livros com textos adequados agrave faixa etaacuteria dos alunos-

participantes e ao seu niacutevel de letramento nuacutemero de livros11 disponiacuteveis na

biblioteca da instituiccedilatildeo

As obras literaacuterias trabalhadas pelas professoras regentes da Turma A e B

foram selecionadas no iniacutecio do ano tendo sido solicitadas na lista de materiais dos

11 A instituiccedilatildeo possui 244 livros dos autores escolhidos para o trabalho com as intervenccedilotildees Sendo 177 da Ana Maria Machado 61 do Rubem Alves 5 da Letiacutecia Dansa e 1 da Maria Monteiro Cardoso

59

alunos como livros paradidaacuteticos para serem trabalhados durante o ano todo Aleacutem

da leitura dos livros os professores planejam outras praacuteticas acerca das obras

Portanto uma obra eacute trabalhada de acordo com o planejamento da professora

durante mais ou menos um mecircs As obras utilizadas na fase de intervenccedilatildeo foram

selecionadas pela pesquisadora

231 Relaccedilatildeo das obras literaacuterias

Relaccedilatildeo das obras usadas como suporte em cada situaccedilatildeo

Intervenccedilatildeo Menina bonita do laccedilo de fita de Ana Maria Machado O

segredo da lagartixa de Letiacutecia Dansa e Selmo Dansa Ah cambaxirra se eu

soubesse de Ana Maria Machado Beto o carneiro de Ana Maria Machado A

bruxa que roubou o sol de Mariana Monteiro Cardoso A menina e o paacutessaro

encantado de Rubens Alves

Observaccedilatildeo O leatildeo e o ratinho faacutebula de Esopo adaptada por Selma

Braido A casa sonolenta de Audrey Wood traduzido por Gisela Maria Padovan A

aacutervore do Beto de Ruth Rocha Ningueacutem eacute igual a ningueacutem de Regina Otero e

Regina Rennoacute

232 Demais instrumentos

Um diaacuterio de campo foi utilizado pela pesquisadora durante todo o periacuteodo da

coleta de dados para o registro de observaccedilotildees de impressotildees e do que

considerava relevante Nele foi registrada a transcriccedilatildeo parcial de conversas

60

informais que aconteceram pelos corredores da instituiccedilatildeo com professores alunos

bibliotecaacuteria e que contribuiacuteram para a pesquisa

Um gravador da marca FP ndash Fast Playback 2SPEED ndash Panasonic foi utilizado

para a gravaccedilatildeo das entrevistas realizadas com os alunos-participantes

24 Procedimentos para a Coleta Propriamente Dita dos Dados

Inicialmente conversamos com o diretor geral da instituiccedilatildeo ocasiatildeo em que

apresentamos o Projeto com vistas agrave autorizaccedilatildeo de sua execuccedilatildeo junto aos alunos

e professores do 2ordm ano Apoacutes os esclarecimentos foi entregue e assinado um Termo

de Compromisso e Autorizaccedilatildeo (Apecircndice B) Posteriormente foi encaminhada aos

pais dos alunos da Turma A e B uma Carta (Apecircndice C) caracterizando de modo

geral a pesquisa e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apecircndice D)

solicitando autorizaccedilatildeo para a realizaccedilatildeo da mesma Apoacutes a obtenccedilatildeo do aceite e

assinatura dos respectivos Termos que acompanharam essas cartas a

pesquisadora estabeleceu contato individual com as professoras das turmas para

apresentar o projeto e solicitou a permissatildeo para a execuccedilatildeo da intervenccedilatildeo a ser

conduzida junto a seus alunos em horaacuterio de aula

O periacuteodo da coleta compreendeu trecircs momentos preacute-intervenccedilatildeo

intervenccedilatildeo e poacutes-intervenccedilatildeo O momento compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo possibilitou

momentos de conversas com professores e com a bibliotecaacuteria bem como para o

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes Entre 26 de outubro a

31 de novembro de 2009 foram realizadas as intervenccedilotildees No periacuteodo

compreendido entre 31 de novembro a 15 de dezembro de 2009 foram realizadas

novas conversas com as professores e com a bibliotecaacuteria bem como um novo

levantamento dos livros retirados pelos alunos participantes entre o periacuteodo de 26 de

novembro a 20 de dezembro de 2009

61

Trecircs situaccedilotildees configuraram as relaccedilotildees diretas da pesquisadora com os

participantes (alunos e professores) a da intervenccedilatildeo a das conversas e entrevistas

e a das observaccedilotildees Passaremos entatildeo a descrever os procedimentos usados em

cada uma

241 Intervenccedilatildeo

As intervenccedilotildees desenvolvidas junto aos alunos-participantes das Turmas A e

B tiveram como objetivos incentivaacute-los a assumir posiccedilotildees dialoacutegicas frente aos

textos pelo entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo aos textos

trabalhados em cada sessatildeo

Para tanto a pesquisadora realizou doze sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias

seis em cada turma As sessotildees foram conduzidas pela pesquisadora identificada

como ldquocontadora-pesquisadorardquo Essas sessotildees aconteceram independentes por

turma poreacutem no mesmo periacuteodo e dias conforme sumarizado no Quadro 1

As sessotildees de intervenccedilatildeo na Turma A aconteciam antes do intervalo e as da

Turma B apoacutes o intervalo

62

SESSAtildeO DIA TIacuteTULO DO LIVRO AUTOR(A)

ILUSTRADOR(A)

1 2610 Menina bonita do laccedilo de fita Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Claudius

2 0511 O segredo da largatixa Autores Letiacutecia Dansa e Salmo Dansa

Ilustrador Salmo Dansa

3 0911 Ah cambaxirra se eu soubesse

Autora Ana Maria Machado

Ilustradora Graccedila Lima

4 1611 Beto o carneiro Autora Ana Maria Machado

Ilustrador Fernando Nunes

5 2311 A bruxa que roubou o sol Autor Mariana Monteiro Cardoso

Ilustrador Paulo Tenente

6 3011 A menina e o paacutessaro encantado

Autor Rubens Alves

Ilustradora Bianca

Quadro 1 Distribuiccedilatildeo das sessotildees e das obras trabalhadas

Cada sessatildeo foi dividida em trecircs momentos recepccedilatildeo contaccedilatildeo e conversa

informal sobre a histoacuteria

No primeiro momento o da recepccedilatildeo a professora da turma conduzia os

alunos ateacute o espaccedilo acordado com a pesquisadora e esta apoacutes recepcionaacute-los

apresentava a histoacuteria que seria contada naquele dia No segundo momento o de

contaccedilatildeo a contadora-pesquisadora narrava a histoacuteria definida para aquele

encontrosessatildeo e observava as reaccedilotildees e o envolvimento dos alunos durante a

atividade No terceiro momento o da conversa informal sobre a histoacuteria a

contadora-pesquisadora conversava com todos os alunos sobre o enredo das

histoacuterias observando suas reaccedilotildees e argumentos perante as accedilotildees dos

personagens

Apoacutes cada sessatildeo as informaccedilotildees obtidas pelas observaccedilotildees da contadora-

pesquisadora foram registradas no diaacuterio de campo

63

242 Conversas e entrevistas

Em uma pesquisa qualitativa a entrevista eacute uma das opccedilotildees para a coleta dos

dados sendo amplamente empregada Por ela podem ser obtidos dados baacutesicos

para o desenvolvimento e a compreensatildeo das relaccedilotildees entre os sujeitos

pesquisados e o objeto de pesquisa (BAUER GASKELL 2002)

Utilizamos para a coleta de dados dois tipos de entrevista a entrevista em

profundidade com um uacutenico respondente no caso com cada professora e a

entrevista com um grupo focal isto eacute um grupo de inquiridos no caso com os

alunos de cada turma que participaram das sessotildees de intervenccedilatildeo

As entrevistas realizadas com o grupo focal foram semi-estruturadas e para

isso nos apoiamos em um toacutepico guia (Apecircndice E) para que os diaacutelogos natildeo

fugissem dos objetivos da pesquisa As entrevistas com os professores em alguns

momentos foram semi-estruturadas e em outros sob a modalidade de conversaccedilatildeo

continuada portanto menos estruturada pela pesquisadora Assim o fizemos com o

intuito de como dizem Bauer Gaskell (2002 p64) ldquo[] absorver o conhecimento

local e a cultura por um periacuteodo de tempo mais longo do que em fazer perguntas

dentro de um periacuteodo relativamente limitadordquo

2421 Entrevistas com os alunos

Por turma apoacutes cada sessatildeo da intervenccedilatildeo a contadora-pesquisadora

instigava-os a uma conversa Essas conversas aconteciam em situaccedilotildees grupais por

turma com os cinco alunos da Turma A e os quatros da Turma B sendo gravadas

64

para posterior transcriccedilatildeo Essas sessotildees ocorreram em uma das salas da

instituiccedilatildeo nos horaacuterios destinados agrave Hora do Conto12

Essas situaccedilotildees de coleta foram grupais poreacutem conduzidas por roteiros sob a

modalidade de toacutepicos (Apecircndices E) os quais guiavam as proposiccedilotildees que a

contadora-pesquisadora enunciava para os alunos-participantes servindo de

lembrete para que ela natildeo se esquecesse de abordar algum aspecto relevante aleacutem

de se constituir em um recurso para monitorar o tempo de duraccedilatildeo do encontro com

cada grupo A duraccedilatildeo dessas situaccedilotildees foi de aproximadamente quinze minutos

por grupo e sessatildeo

2422 Entrevista e conversas com as professoras

As entrevistas com as professoras (PA PB) aconteceram individualmente e

em duas ocasiotildees No iniacutecio da pesquisa informalmente para expor o projeto para

esclarececirc-las acerca do mesmo bem como para levantar a opiniatildeo de cada uma

acerca do interesse dos alunos em realizarem leitura e a frequecircncia com que a

fazem Nessa oportunidade foi solicitado a cada uma que respondesse ao

questionaacuterio (Apecircndice A) informando quais alunos considerava ldquobonsrdquo e ldquomausrdquo

leitores e indicassem dois alunos que poderiam exemplificar cada uma dessas

categorias de leitor

Durante o tempo em que a pesquisa foi desenvolvida ou seja desde a fase

preacute-intervenccedilatildeo ateacute a da poacutes-intervenccedilatildeo aconteceram conversas informais em

momentos distintos da coleta nas quais as professoras relatavam situaccedilotildees que

exemplificavam a mudanccedila ou natildeo de comportamento dos alunos perante a leitura

Depois de concluiacutedas as etapas de intervenccedilatildeo e de observaccedilatildeo foi realizada

uma nova entrevista com cada professora para levantar a opiniatildeo de cada uma

12 A Hora do Conto tem como objetivo aproximar mais a crianccedila do livro ou seja da Literatura Infantil a fim de desenvolver o prazer pela leitura A professora escolhe um livro da Literatura Infantil e atraveacutes da leitura ou contaccedilatildeo trabalha a seu modo o texto

65

quanto a possiacuteveis mudanccedilas que tivessem percebido no comportamento dos

alunos e informassem as mais significativas

243 Observaccedilotildees

Em cada turma foram realizadas duas sessotildees de observaccedilatildeo em sala de

aula tendo por foco a atuaccedilatildeo da professora regente nos horaacuterios destinados agrave Hora

do Conto

As observaccedilotildees realizadas tiveram como meta verificar a performance adotada

pela professora durante a situaccedilatildeo de contaccedilatildeo com o intuito de identificar ldquoserdquo e

ldquocomordquo ela incentivava os alunos agrave expressatildeo oral para o compartilhamento do

entendimento de seus sentimentos e vivecircncias em relaccedilatildeo ao texto narrado

(Apecircndice G)

As observaccedilotildees na Turma A aconteceram nos dias 03 e 09 de dezembro de

2009 e as histoacuterias narradas pela PA foram estas na sequecircncia O leatildeo e o ratinho

e A casa sonolenta Na turma B essa situaccedilatildeo de coleta ocorreu nos dias 02 e 10

dezembro de 2009 e as histoacuterias narradas pela PB foram respectivamente A aacutervore

do Beto e Ningueacutem eacute igual a ningueacutem

244 Conversas com a bibliotecaacuteria

Foram realizadas informalmente conversas com a bibliotecaacuteria para saber

acerca da assiduidade dos alunos agrave biblioteca do formulaacuterio ndash jaacute mencionado

anteriormente - gerado pelo programa de controle informatizado da biblioteca no

qual foi possiacutevel fazer um levantamento das retiradas quando quantas vezes

66

realizaram o empreacutestimo e a data da devoluccedilatildeo dos livros por cada um dos alunos

Por meio das conversas foi possiacutevel coletar algumas informaccedilotildees expressivas para

a anaacutelise

Uma vez descrito o meacutetodo que orientou a execuccedilatildeo da pesquisa que integra

este trabalho cabe indicar os fios que orientaram a tessitura da anaacutelise das

informaccedilotildees recolhidas

O fio principal tem sua origem na adoccedilatildeo de uma perspectiva de pesquisa

qualitativa e interpretativa com vistas agrave construccedilatildeo de ldquoum conhecimento prudente

para uma vida decenterdquo (SANTOS 2000 p 74)

As induccedilotildees propostas para a interpretaccedilatildeo das informaccedilotildees coletadas foram

produto dos diaacutelogos constantes entre os dados recolhidos ao longo da coleta com o

que a pesquisadora sabia a partir da sua experiecircncia enquanto contadora de

histoacuterias e da leitura de textos da literatura pertinente

Cuidados esses porque estamos cientes quanto aos possiacuteveis efeitos das

construccedilotildees explicativas que foram emergindo ao longo da coleta que de algum

modo afetaram os processos de inter-relaccedilatildeo que identificamos conforme o relato

no proacuteximo capiacutetulo

Necessaacuterio se torna ainda advertir o leitor que natildeo foi pretensatildeo da autora

deste trabalho propor uma regra ou lei explicativa para o objeto selecionado ndash efeitos

da contaccedilatildeo de histoacuterias Estamos mais interessadas em ser o mais fiel possiacutevel ao

que foi observado e colhido nas situaccedilotildees com os participantes Daiacute a profusatildeo de

reproduccedilatildeo de trechos das suas falas situando detalhadamente os locais e

contextos em que foram enunciadas Em assim sendo tentamos natildeo tratar como

trivial visto que quaisquer das informaccedilotildees recolhidas devem ser ldquo[encaradas] como

portadoras potenciais de significados que precisam ser desveladosrdquo (VILELA 2003

p 459)

Por isso selecionamos um trecho desse autor porque em nossa opiniatildeo

expressa claramente a trama vivenciada na experiecircncia de contadora-pesquisadora

Os processos de investigaccedilatildeo satildeo mais importantes que os resultados da pesquisa As atitudes os medos as expectativas e os sentimentos se revelam e permanecem presentes nos processos

67

desenvolvidos durante a investigaccedilatildeo e muitas vezes natildeo satildeo traduziacuteveis nos produtos finais das pesquisas Os pesquisadores devem estar atentos a essas manifestaccedilotildees e devem procurar o significado dessas no contexto da pesquisa Especialmente nas pesquisas educacionais as estrateacutegias qualitativas de pesquisa permitem deslindar como as expectativas estatildeo presentes no desempenho de atividades curriculares nos procedimentos pedagoacutegicos e nas interaccedilotildees diaacuterias em sala de aula (VILELA 2003 459 Grifos nossos)

Para finalizar este capiacutetulo reafirmamos que a opccedilatildeo metodoloacutegica que

fundamentou este trabalho a nosso ver pode gerar a possibilidade e criaccedilatildeo de um

espaccedilo de reflexatildeo e anaacutelise de uma das praacuteticas escolares comuns como eacute a da

contaccedilatildeo de histoacuteria sociais efetuada pela pesquisadora em parceria com os

sujeitos participantes Acima de tudo a nossa proposta eacute de um trabalho coletivo e

reflexivo que possibilita um olhar cuidadoso completo e pormenorizado sobre o

objeto de investigaccedilatildeo Mesmo levando em consideraccedilatildeo que a complexidade do

trabalho da pesquisadora aumenta consideravelmente a proposiccedilatildeo da pesquisa

qualitativa com vistas ao trabalho coletivo e agrave interdisciplinaridade revela dados

informaccedilotildees caracteriacutesticas e peculiaridades das representaccedilotildees dos sujeitos

analisados

68

3 RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Por ser uma pesquisa situada no campo das investigaccedilotildees qualitativas

tomaremos por base a anaacutelise descritiva e interpretativa para produzir uma das

leituras possiacuteveis para descrever e interpretar os dados coletados De acordo com

Luumldle e Andreacute (1986) o(a) pesquisador(a) deve assumir dois papeacuteis ao mesmo

tempo um subjetivo de participante e outro objetivo de investigador(a) para se

aproximar do fenocircmeno pesquisado como um todo Contudo eacute necessaacuterio que

eleela se atenha a uma descriccedilatildeo precisa do objeto pesquisado e na anaacutelise do

processo dinacircmico para a sua apreensatildeo leve em conta as suas principais

dimensotildees Dessa forma pode evitar induccedilotildees e conclusotildees idiossincraacuteticas

Sendo assim procuramos nas produccedilotildees dos participantes estar atentas agrave

escuta dos seus dizeres com o intuito de natildeo deixarmos passar despercebidas as

particularidades de cada fala Ao assim procedermos entendemos que se possam

ler as entrelinhas e natildeo somente as linhas (ECO 1986) ou seja os ditos e os natildeo

ditos que ocorreram nos diaacutelogos (LARROSA 2002 a) Para que natildeo nos

deixaacutessemos influenciar apenas pela subjetividade durante a anaacutelise interpretativa

dos dados procuramos evitar deduccedilotildees imprecisas relacionar criticamente as

leituras pessoais que haviam sido produzidas com as dos demais autores

apresentados neste relato Enfim buscamos problematizar e compreender as

dimensotildees do objeto pesquisado

A princiacutepio as descriccedilotildees e interpretaccedilotildees isto eacute a escrita final da leitura que

apresentamos dos dados foi possibilitada pelo uso de teacutecnicas comuns agrave anaacutelise de

conteuacutedo a qual por ser uma ldquoconstruccedilatildeo socialrdquo (BAUER GASKELL 2002 p 203)

precisa ser avaliada

Como qualquer construccedilatildeo viaacutevel ela leva em consideraccedilatildeo alguma realidade neste caso o corpus de texto e ela deve ser julgada pelo seu resultado Este resultado contudo natildeo eacute o uacutenico fundamento para se fazer uma avaliaccedilatildeo Na pesquisa o resultado vai dizer se a anaacutelise apresenta produccedilotildees de interesse e que resistam a um minucioso exame mas bom gosto pode tambeacutem fazer parte da avaliaccedilatildeo (BAUER GASKELL 2002 p 203 Grifos nossos)

69

Para que a anaacutelise da leitura do discurso dos participantes seja realizada a

contento Freitas e Janissek (2000) recomendam a eleiccedilatildeo de categorias como

procedimentos essenciais para fazer a ligaccedilatildeo entre os objetivos da pesquisa e os

resultados Cientes de que ldquoAs categorias quando natildeo se tem uma ideacuteia precisa

devem surgir com base no proacuteprio conteuacutedordquo (FREITAS JANISSEK 2000 p 44) ao

inveacutes de categorias levantadas a partir apenas do corpus linguiacutestico ousamos eleger

algumas matrizes pautadas nos objetivos da pesquisa que orientaram o relato da

anaacutelise

Para que o leitor possa penetrar com clareza na anaacutelise e discussotildees

realizadas reportamo-nos aos objetivos que fundamentam este trabalho

Oslash Verificar alguns dos efeitos das narrativas orais ou seja dos possiacuteveis

decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias para a formaccedilatildeo de alunos-leitores

Oslash Descobrir se e como o desempenho do professor durante a contaccedilatildeo

de histoacuterias influencia o interesse do aluno em ler outros livros

As duas matrizes que orientaram a anaacutelise dos dados foram

v Leitura como ato formativo e possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo - espaccedilo no

qual eacute ressaltada a leitura como praacutetica cultural a formaccedilatildeo da subjetividade e a

constituiccedilatildeo do sujeito

v Concepccedilatildeo de leitor e praacuteticas de leitura - espaccedilo no qual foi focalizada

a influecircncia do trabalho com a literatura literaacuteria realizada na instituiccedilatildeo de ensino

bem como as concepccedilotildees e praacuteticas pertinentes por parte do professor

Poreacutem na tessitura dessa parte do relato fomos sentindo que apresentar a

anaacutelise e os resultados divididos em matrizes natildeo compreendia em sua extensatildeo as

praacuteticas e processos de subjetivaccedilatildeo que tiacutenhamos observado e registrado A nosso

ver natildeo seria possiacutevel por exemplo falar de leitura como ato formativo sem

adentrar nas praacuteticas de leitura nem tampouco falar da concepccedilatildeo de leitor sem

abordar as praacuteticas culturais e a questatildeo da subjetividade Por que segmentar e

delimitar saberes e fazeres que satildeo entrecruzados na praacutetica cotidiana Seria como

criar e cair na armadilha descrita por Garcia (2007)

70

No rastro do cientificismo moderno seguido pelas ciecircncias sociais resignamo-nos e naturalizamos a praacutetica de conhecer satisfazendo-nos e crendo em roacutetulos embalagens que se criam por noacutes ou por outros para pretensamente explicar o viver humano ordinaacuterio (GARCIA 2007 p131)

Resta-nos entatildeo pedir licenccedila para desconstruir paradoxalmente as ldquoloacutegicasrdquo

dessa costumeira produccedilatildeo de conhecimento e retirar as demarcaccedilotildees previstas

inicialmente para narrar as realidades estudadas natildeo pelo que supomos serem mas

pelo que elas nos acontecimentos vivenciados foram e pareceram para noacutes estar

relacionadas Isso porque ao longo das tessituras da anaacutelise percebemos que os

entrecruzamentos das duas matrizes anteriormente propostas eram imprescindiacuteveis

para chegarmos a resultados significativos

A figura que apresentamos a seguir sintetiza os entrecruzamentos e parte da

dinacircmica utilizada para a anaacutelise dos dados

ANAacuteLISE DOS DADOS

M A T R I Z E S

leiturfo

praacuteticas de leitura

conc

possda

ENTRECRUZAMENTOS DE

MATRIZES

M A T R I Z E S

iacuteveis efeitos contaccedilatildeo

Figura 1 Matrizes e entrecruzamentos utilizados para a anaacutelise dos dad

epccedilatildeo de leitor

a como ato rmativo

os

71

Na sequecircncia apresentamos o relato das anaacutelises seguindo o quadro das

matrizes selecionadas e de seus entrecruzamentos

Para a demonstraccedilatildeo de nossas interpretaccedilotildees a seguir apresentadas

utilizaremos recortes (R1 a R28) das transcriccedilotildees das sessotildees e dos registros do

diaacuterio de campo estes identificados nos proacuteprios recortes

A figura a seguir nos apresenta as caixas de textos utilizadas para cada tipo

de recorte

FIGURA 2 Identificaccedilatildeo dos recortes para a anaacutelise

31 Entre os entrecruzamentos de matrizes a leitura como ato formativo e

possiacuteveis efeitos da contaccedilatildeo

Sob a perspectiva construcionista que adotamos ressaltaremos que ao longo

da vida associamos as diferentes experiecircncias que temos com e no mundo e assim

construiacutemos um tipo de conhecimento que nos permite (re)conhecer a noacutes mesmos

os outros e o que nos rodeiam e que dirige nossas interaccedilotildees no mundo agrave nossa

volta Conhecimento este natildeo restrito a dimensotildees cognitivas porque trespassado

pelas emoccedilotildees e sentimentos que nos foram dadas a sentir tambeacutem pelos efeitos

das praacuteticas dos que nos socializaram (BERGER LUCKMAN 1999)

Posto isso entendemos que ao construir nosso conhecimento do mundo

vamos tambeacutem cifrando e decifrando-o e assim produzimos e somos produzidos

por nossas leituras de materiais linguiacutesticos ou natildeo

RECORTES

Caixa de texto utilizada para os recortes das transcriccedilotildees das sessotildees com os alunos participantes

Caixa de texto utilizada para os recortes do diaacuterio de campo

Caixa de texto utilizada para os recortes das entrevistas com as professoras

72

Ler um texto escrito eacute dialogar eacute escutar e responder para entender o outro

e a noacutes mesmos Entender enfim o sentido que foi dado pelo autor e por noacutes agraves

coisas Eacute se (trans)formar ou se (de)formar (LARROSA 2002) por meio dos

recursos palavras imagens e espaccedilos usados pelos autores e em alguns casos

administrados pelos editores O leitor ao dialogar com um ou com o conjunto de

textos assim produzidos propicia a ocorrecircncia de mudanccedilas pois quando a leitura

termina no papel continua na vida (SISTO 2005)

Em assim sendo o leitor permite que sua formaccedilatildeo seja (de)formada pelos

efeitos de sua accedilatildeo e consequentemente seja (trans)formado Portanto

compreender a leitura enquanto processo formativo eacute compreender que esta vai

aleacutem da pura decodificaccedilatildeo de coacutedigos linguiacutesticos apresentados sob a modalidade

oral ou escrita

O que os dados recolhidos e interpretados a partir dos entrecruzamentos

de matrizes construiacutedas para a sua anaacutelise nos dizem Como os alunos e os

professores participantes deste trabalho entendem leitura

Os dados colhidos permitem que se constate que a leitura eacute entendida por

crianccedilas como uma accedilatildeo que leva a aquisiccedilatildeo de conhecimento (R1) Elas jaacute

percebem que uma funccedilatildeo significativa da leitura eacute a da aprendizagem para a

aquisiccedilatildeo de novos saberes

R1

A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute Quando eu tava jogando jogo da forccedila laacute na biblioteca neacute era substantivo (pausa para pensar) alguma coisa assim que eu natildeo sabia o que era daiacute quando eu vi quando eu fui escrever a palavra eu consegui daiacute eu vi que girassol era(pensa) alguma coisa que eu natildeo me lem bro(risos)

Pesq mas vocecirc sabia na hora A2 eacute daiacute eu nunca sabia antes Pesq vocecirc descobriu que girassol eacute uma flor A2 Eacute um substantivo(pensa) com(pensa novamente) Pesq Composto A2 Eacute composto

73

Podemos verificar no recorte acima que A2 reconhece a leitura como sendo

um meio de aquisiccedilatildeo de conhecimento ao relatar que aprendera que a palavra

girassol eacute um substantivo composto O modo como a leitura eacute conduzida pelo

professor pode entretanto levar as crianccedilas a entendecirc-las como algo obrigatoacuterio e

sujeito a cobranccedilas (R2R3) Evidenciamos no R3 um utilitarismo subjacente na fala

do B1 e B3 quando afirmam que eacute importante ler para saber dar respostas a algum

questionamento realizado pela professora apoacutes a leitura

Sabemos que uma caracteriacutestica especiacutefica do ser humano eacute a da sua

capacidade de construir significados novos ou natildeo a partir do conjunto de signos

construiacutedos legitimados e utilizados em sua comunidade e que os modos gestos e

praacuteticas da leitura no decorrer da histoacuteria permitem que a consideremos uma praacutetica

cultural necessaacuteria para a participaccedilatildeo ativa e autocircnoma do sujeito (FREIRE 1989)

bem como o exerciacutecio pleno de sua cidadania (GIMENO-SAacuteCRISTAN 2008) Como

essas competecircncias em leitura natildeo satildeo inatas ao ser humano mas decorrem dos

muacuteltiplos efeitos das praacuteticas sociais inclusive das praacuteticas educativas dos

professores em sala de aula a posiccedilatildeo que ocupam e assumem esses

socializadores quando lidas com textos escritos ou natildeo afetam o comportamento

R3

Pesq B1 vocecirc acha importante lermos histoacuterias B1 Ahratilde (Balanccedila a cabeccedila dizendo sim) Pesq Por quecirc B1 Assim por exemplo eu li uma histoacuteria aiacute a pessoa tambeacutem leu e pergunta alguma coisa para mim vai que eu natildeo sei neacute Pesq E vocecirc B3 acha importante lermos histoacuterias B3 Ahratilde ( afirmaccedilatildeo) Pesq Por quecirc B3 porque se a professora perguntar alguma sobre a histoacuteria vo cecirc natildeo vai saber

R2 Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009Diaacuterio de Campo 02122009

Durante a hora do conto a professora da TB reforccedila por vaacuterias vezes a importacircncia de presta rem atenccedilatildeo pois apoacutes a contaccedilatildeo faraacute alguns questionamentos sobre a histoacuteria E se natildeo prestarem atenccedilatildeo natildeo saberatildeo responder

74

em relaccedilatildeo agrave leitura das novas geraccedilotildees Construiacuteda pelo processo contiacutenuo de

letramentos diversos a leitura enquanto accedilatildeo individual de uma praacutetica social

(MARCUSHI 1998) permite transformaccedilotildees no modo de sujeito-leitor perceber e

utilizar os coacutedigos escritos

Eacute comum que uma crianccedila na fase do seu letramento inicial na escola isto

eacute no inicio da apropriaccedilatildeo dos coacutedigos da escrita prefira ler textos escritos agrave

narraccedilatildeo oralleitura dos mesmos produzida por outros Apropriar-se dessa

tecnologia parece garantir preferecircncia e motivaccedilatildeo Isso natildeo quer dizer que natildeo

goste de ouvir as leituras produzidas por outros Os dois recortes a seguir que

contemplam falas dos alunos participantes satildeo indiacutecios que fundamentam essas

hipoacuteteses explicativas Vejamos nos recortes (R4 e R5) a seguir

Afinal pode-se concluir que natildeo haacute quem natildeo goste de ouvir uma boa

histoacuteria Eacute ouvindo histoacuterias que se pode sentir emoccedilotildees importantes [] e viver

profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as ouverdquo

(ABRAMOVICH 2004 p164) e na medida em que as histoacuterias nos fazem redefinir

R5 Pesq B1 vocecirc gosta mais de ouvir a professora contando a histoacuteria ou vocecirc gosta mais de ler sozinha a histoacuteria B1 Ah eu gosto de ler Pesq e vocecirc B3 B3 mais de ler Pesq e vocecirc B4 B4 ler B2 ler

R4

Pesq Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou vocecirc ler a histoacuteria A5 eu ler A4 eu ler Pesq e vocecirc A1 eu tambeacutem A2 eacute os dois os dois A3 lecirc

75

nossa imagem social diante daquilo que somos vamos resgatando nossas crenccedilas

refazendo nossa trajetoacuteria afetiva revisitando nossos sentimentos recordando

nossa infacircncia e remexendo a nossa imaginaccedilatildeo (SISTO 2005 p 24)

A escuta das histoacuterias permite obter resposta(s) a questotildees que nos intrigam

e possibilita que nos identifiquemos com os personagens e com eles podermos

sorrir gargalhar chorar e assim perceber que outros em circunstacircncias diversas

sentem e lidam com dificuldades que entenderiacuteamos ser soacute nossas

As praacuteticas de algumas comunidades letradas datildeo conta da importacircncia da

contaccedilatildeo de histoacuterias para os membros que a compotildeem (ABREU 1999) porque

ouvir histoacuteria eacute conhecer outros lugares etnias ficar a par de saberes alguns

escolarizados em disciplinas como Portuguecircs Histoacuteria Geografia Filosofia Poliacutetica

permite enfim conhecer um pouco de tudo como ensina Abramovich (2004)

A literatura enquanto uma das produccedilotildees que a linguagem possibilita

oportuniza que os autores interajam com o leitor Isso porque seus textos tratam de

temas relacionados agrave vida que ultrapassam o espaccedilo-tempo em que foram

produzidos

O interesse pela leitura se consolida pelas praacuteticas cotidianas desde a

infacircncia seja pelas accedilotildees da escola eou da famiacutelia A escola enquanto instituiccedilatildeo

social e os professores enquanto seus agentes principais de leitura satildeo

responsaacuteveis pela constituiccedilatildeo do aluno como leitor Poreacutem a famiacutelia desempenha

um papel muito importante nessa formaccedilatildeo (FREIRE 2010)

A formaccedilatildeo do leitor inicia-se no ambiente familiar atraveacutes de encontros

Encontros com as palavras com o livro com os demais artefatos culturais mas

sabemos que os afazeres do dia-a-dia comprometem e limitam o espaccedilo-tempo para

os encontros Se devem comeccedilar no ambiente familiar precisam sem duacutevidas ter

continuidade na escola

A praacutetica da leitura e a demonstraccedilatildeo do interesse pela mesma por parte dos

pais ou ateacute mesmo dos cuidadores das crianccedilas servem como estiacutemulo para o

desenvolvimento do gosto pela leitura dos filhos Eacute necessaacuterio que em casa o

acesso a livros de assuntos os mais diversos seja oportunizado A prova disso estaacute

76

nos relatos das crianccedilas que desenvoltas nas conversas durante as entrevistas

afirmam receber estiacutemulo por parte da famiacutelia

Podemos verificar tanto no R6 quanto no R7 que as crianccedilas A1 e A3 relatam

essa participaccedilatildeo da famiacutelia No R7 A1 informa que o pai tem o haacutebito de contar

histoacuterias para ela Jaacute A3 no R6 relata ter uma minibiblioteca em casa Em uma

conversa informal pelos corredores da escola essa crianccedila contou que a biblioteca eacute

dela e do irmatildeo mais velho e que a matildee sempre compra livro para os dois

Freire (2010 p 192) afirma que ldquoa escola eacute a principal instacircncia responsaacutevel

pela formaccedilatildeo de leitores mas natildeo a uacutenica jaacute que o ambiente favoraacutevel e

estimulante deveria comeccedilar na famiacutelia []rdquo A forma pela qual a famiacutelia e

posteriormente a escola conduzem a leitura pode contribuir para o desenvolvimento

de um olhar mais apurado propiciando a reflexatildeo acerca do que eacute lido ou escutado

Isto porque Bajard (1994) garante que ldquoo foco natildeo reside mais na apropriaccedilatildeo do

texto ele passa a se situar na singularidade de uma comunicaccedilatildeo espacial entre

R7

A1 Meu pai conta uma histoacuteria laacute do meu livro que tem um monte de historinha daiacute eu sempre quero que ele lecirc de novo Tinha uma laacute de coraccedilatildeo que um menino era mau soacute por causa de uma aranha no coraccedilatildeo que teve que um dar o coraccedilatildeo A2 Ah Era um elefante (questiona A1) A1 Natildeo era um garotinho que eacute mau Pesq mas ai ele (pai) sempre conta para vocecirc A1 Natildeo mas a gente conta outras por que a que eu jaacute es- cutei ele fala que natildeo pode ler mais Que natildeo tem mais graccedila

R6

A2 A A3 natildeo pegava haacute muito tempo porque ela perdeu um li- vro soacute por issomas ela adora livro Ela tem uma mini bi- blioteca na casa dela

A3 Eacute verdade a gente tem um quarto vazio e a gente tirou uns armaacuterios que tinha e a gente colocou um monte de ar- maacuterios cheio de livrosNenhum armaacuterio sem livros alguns tem que ficar em cima da mesa ateacute

77

pessoa que daacute voz a um texto e outra que ao escutaacute-lo o enxergardquo (BAJARD 1994

p53)

Em sendo assim as famiacutelias por exemplo poderiam incluir nos programas de

finais de semana aleacutem da rotina de passear ou ir a um shopping uma parada

obrigatoacuteria na livraria nem que seja soacute para conferirem os novos lanccedilamentos e

lerem as informaccedilotildees da contracapa Agrave noite antes de dormir os mais velhos avoacutes

pais ou irmatildeos deveriam contar histoacuterias de ficccedilatildeo ou ateacute mesmo da vida real para

as crianccedilas e estes ao som da histoacuteria contada poderiam imergir em outros

mundos mundos maacutegicos ou reais e adormecer entre sonhos fantasias e fatos

reais

Na medida em que esses comportamentos de incentivo agrave leitura por parte de

pais e professores ocorrerem os mais jovens desde crianccedila poderatildeo perceber que

a leitura torna-os mais criacuteticos e capazes de interagir melhor uns com os outros e

com o mundo No R8 estatildeo transcritas as impressotildees e observaccedilotildees registradas no

diaacuterio de campo

R8 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 16161616111111112009200920092009

Tenho percebido que alguns alunos especificamente (A1 ndashA2 ndash A3 ndash B4) satildeo mais desenvoltos durante as entrevistas Natildeo apenas respondem as perguntas feitas por mim mas tambeacutem discutem colocam suas opiniotildees intervecircm contradizem argumentam imaginam inventam Demonstram uma destreza e pertinecircncia na hora de dialogar surpreendentes No decorrer das intervenccedilotildees e nas conversas informais que fui tendo com estas crianccedilas pude perceber que aleacutem de instigados pela professora recebem de seus pais incentivo para lerem

Durante minha passagem pela Instituiccedilatildeo fora dos momentos de intervenccedilotildees presenciei a matildee de A2 na biblioteca da Instituiccedilatildeo lendo diversos livros enquanto aguardavam a saiacuteda dos filhos Acredito ser um haacutebito desta matildee fazer leituras diaacuterias Sem contar que durante a minha visita a um Sebo no centro da cidade encontrei a matildee da A2 juntamente com ela e o irmatildeo comprando e trocando alguns livros

Jaacute A3 que tem uma mini biblioteca em sua casa confessou compartilhar com o irmatildeo a leitura de livros O irmatildeo mais velho a ajuda na leitura ora ele lecirc uma paacutegina ora ela lecirc outra A matildee de A3 eacute coordenadora de um Museu na cidade e busca colocar os filhos sempre em contado com os livros A3 e seu irmatildeo sempre trazem livros de diversos assuntos para a escola

Natildeo posso esquecer-me de A1 que aleacutem de demonstrar bastante apreciaccedilatildeo pela leitura afirmou durante uma das entrevistas levar livros todos os dias porque assim sua matildee pode ler para ela quando fosse dormir

78

A escuta das leituras realizadas por outros e a leitura individual natildeo soacute

contribuem para o desenvolvimento cognitivo da crianccedila como interveacutem nas

dimensotildees de subjetividade Instiga-a ainda agrave reflexatildeo ao desenvolvimento da

sensibilidade e do senso criacutetico aleacutem de incitar o imaginaacuterio o luacutedico e o prazer

(COELHO 1986)

Perceber a leitura enquanto processo formativo exige pensaacute-la como uma

atividade que estaacute diretamente ligada agrave subjetividade do leitor natildeo soacute com o que o

leitor sabe mas tambeacutem com aquilo que ele eacute (LARROSA 2002 b)

Quando a pesquisadora produziu a leitura do texto Ah Cambaxirra se eu

pudesse(MACHADO 2003) propocircs aos alunos que refletissem acerca do

problema que o paacutessaro estava enfrentando com a perda de sua aacutervore por causa

do lenhador A partir dessa reflexatildeo registramos que alunos da turma A desvendam

e compartilham com o grupo as estrateacutegias pessoais que utilizariam para solucionar

essa situaccedilatildeo (R9) Estrateacutegias decorrentes das formas de pensar agir e dos

valores sociais apropriados pelas experiecircncias anteriores

79

Como ensina (SILVA 2009 p106) ldquoSeus desejos [] preferecircncias

sentimentos e emoccedilotildees juntamente com sua histoacuteria de vida eacute o que determina

como se relacionaraacute com seu mundo exteriorrdquo Pela escuta e leitura a crianccedila e

qualquer leitor desvenda natildeo soacute os sentidos do texto mas com frequecircncia eacute levado

a refletir e a fundamentar decisotildees Portanto a leitura permite ao indiviacuteduo

(re)significar seus saberes pelo efeito do tipo de interaccedilatildeo que manteacutem com o texto

em uma dada situaccedilatildeo ou seja pela relaccedilatildeo que jaacute viveu e sabe com aquilo que eacute

proposto pelo texto

As histoacuterias estruturam o imaginaacuterio iacutentimo das crianccedilas impelindo-as a

interpretar e relacionar os acontecimentos de sua realidade com os da ficccedilatildeo por

vezes presentes nos textos que escutam ou que leem Deste modo a subjetividade

R9

Pesq Mas natildeo era mais faacutecil ela ir para a aacutervore que estava do la do do que ir de casa em casa para resolver o seu problema A2 Eacute que o galho era muito bonito e ela queria fazer naquela aacutervore daiacute ela teve que ir ateacute resolver o problema dela Pesq A4 se vocecirc fosse a Cambaxirra o que vc faria na hora que o lenhador fosse cortar a aacutervore A4 Eu ia bater nele ( risos) A1 era soacute bicar Pesq vocecirc acha que resolveria o problema bicando A4 Sim Pesq E vocecirc A3 o que vocecirc faria A3 Eu ao inveacutes de ir na casa do outro e ir passando de casa em casa que cansa muitoentatildeo eu ia para outra aacutervore A2 mas o galho era muito bonito e ela queria ficar Pesq mas a A3 iria para outra aacutervore fazer seu ninho natildeo eacute A3 A3 Ahratilde A2 Eu natildeo Pesq o que vocecirc faria A2 Eu teria feacute e ia de casa em casa ateacute resolver o meu pro- blema Porque se eu mudar de arvore natildeo vai resolver nada Tipo a minha matildee taacute comprando um Caderno e eu quero muito o outro caderno e ela natildeo compra o que eu quero soacute porque ela natildeo gosta e daiacute eu vou falar -Taacute bom e deixar que ela compra o que eu natildeo quero Natildeo Tem que comprar o que eu gostei Se vocecirc quer uma coisa vocecirc tem que resol- ver

80

de quem escuta ou lecirc sofre modificaccedilotildees algumas significativas a partir dessas

ligaccedilotildees realizadas

Eacute possiacutevel verificar no recorte R10 a incitaccedilatildeo que as histoacuterias causam nas

crianccedilas e as ligaccedilotildees que fazem ao relacionar realidade com ficccedilatildeo Apoacutes a

apresentaccedilatildeo da histoacuteria Menina bonita do laccedilo de fita (MACHADO 1999) as

crianccedilas dialogaram sobre a mesma e compararam o desejo e accedilotildees do

personagem com os fenocircmenos da realidade vivida por elas

Quando ressaltamos que as leituras possibilitadas por situaccedilotildees de contaccedilatildeo

de histoacuterias incitam aleacutem do cognitivo e do experimental o imaginaacuterio o luacutedico e o

prazer eacute porque os contextos gerados por essas situaccedilotildees congregam o real com a

fantasia de modo maacutegico e atraente Entendemos essas leituras natildeo soacute como

passatempo um mecanismo de evasatildeo do mundo real mas formativas Porque

como ensina Bajard (1994) a leitura em voz alta contraacuteria agrave silenciosa eacute uma

atividade que envolve convivecircncia e por isso formativa (BAJARD 1994) ldquoA leitura

que envolve convivecircncia funciona como conhecimento socialrdquo (BAJARD 1994

p51) Contudo a evoluccedilatildeo das representaccedilotildees da ldquoleitura em voz altardquo permite que

algumas de suas funccedilotildees ldquomesmo natildeo inerentes ao ato de lerrdquo (BAJARD 1994

p53) permaneccedilam importantes Uma delas decorre da convivecircncia que a leitura em

voz alta pressupotildee para a sua realizaccedilatildeo

Essa funccedilatildeo de convivecircncia se estabelece a partir de um texto escrito preexistente que natildeo eacute o uacutenico canal de comunicaccedilatildeo uma vez que se articula com outras linguagens Essa situaccedilatildeo de

R10

A1 Eacute assimtipo eu gosto de vocecirc mas soacute que daiacute o coelho ele gostava tanto da menina ela era tatildeo bonita que ele queria saber como mas eu aprendi que vocecirc natildeo pode ser como o outro A5 Soacute se for um irmatildeo gecircmeo Pesq Seraacute que um irmatildeo gecircmeo eacute igual A4 eacute A5 eacute A3 agraves vezes natildeo (pensa) natildeo O meu irmatildeo teve um amigo que era gecircmeo mas um era maior do que o outro um deles tinha olho verde e o outro azul

81

comunicaccedilatildeo pluricodificada a partir de um texto jaacute existente se identifica no plano da semioacutetica agrave comunicaccedilatildeo teatral (BAJARD 1994 p 53)

Se salientamos que as histoacuterias contadas incitam o imaginaacuterio eacute porque a arte

narrativa conta o sonho como se fosse realidade e a realidade como se fosse sonho

(BONTEMPELLI apud HELD 1980) Independentemente dos gecircneros das

literaturas sejam elas realiacutesticas ou fantaacutesticas todas carregam com si poder do

imaginaacuterio E como ressalta Bernard (apud HELD 1980 p 28) ldquotodos os gecircneros

satildeo portadores de imaginaacuterio para quem souber fazecirc-lo aflorarrdquo

Held (1980) defende o imaginaacuterio como a principal caracteriacutestica da literatura

infantil Ao ouvir uma histoacuteria a crianccedila ou quem a escuta relaciona o mundo real

com o ficcional como podemos observar no recorte R11 De maneira luacutedica quem a

escuta apropria-se de saberes cognitivos e de experiecircncias Cada um projeta e

introjeta pela escuta ou leitura do texto seus anseios anguacutestias e desejos Da

dinacircmica desses processos resultam mudanccedilas iacutentimas algumas das quais

instrumentais para a soluccedilatildeo de problemaacuteticas presentes ou mesmo futuras A

histoacuteria dentro do mundo imaginaacuterio da crianccedila trata de relaccedilotildees e situaccedilotildees reais

que ela natildeo pode entender sozinha (ABRAMOVICH 2004) No Recorte R11 apoacutes a

leitura da histoacuteria Beto o carneiro (MACHADO 1993) podemos observar a relaccedilatildeo

que as crianccedilas fazem do mundo real com o ficcional quando a pesquisadora os

questiona quanto agrave soluccedilatildeo que dariam se estivesse no lugar do carneiro B2 diz

tentar ser uma pessoa pois segundo suas experiecircncias e seu conhecimento os

animais morrem raacutepido e as pessoas somente quando envelhecem Jaacute B3 desejaria

ser um tigre

R11

Pesq B3 se vocecirc fosse carneiro e natildeo tivesse feliz em ser carneiro o que ia fazer B3 eu ia tentar ser um tigre pra conhecere depois ia voltar ser ovelha B2 eu ia tentar ser pessoa porque animal morre muito raacutepido Pesq e pessoa natildeo morre raacutepido B1 Pessoa natildeo Precisa taacute bem velho para morrer B2 tipo a minha voacute

82

Held (1980) ainda nos assegura

[] a ficccedilatildeo responde a uma necessidade muito profunda da crianccedila natildeo se contentar com sua proacutepria vida Assim a narraccedilatildeo fantaacutestica reuacutene materializa e traduz todo o mundo de desejos compartilhar da vida animal tornar-se invisiacutevel mudar seu tamanho e resumindo tudo isso- transformar agrave sua vontade o universo (HELD 1980 p 52)

Poreacutem ldquoeacute evidente que as aquisiccedilotildees feitas sem verdadeiro emprego de

interesses de uma crianccedila sem que se sinta interessada e apaixonada natildeo deixam

traccedilos duraacuteveisrdquo (HELD1980 p226)

O contato que a leitura possibilita ou a contaccedilatildeo de histoacuterias que tenha por

suporte obras literaacuterias auxiliam na compreensatildeo do real Porque as histoacuterias

narrada vatildeo se entrelaccedilando com a histoacuteria de vida do proacuteprio sujeito que constroacutei

pela possibilidade do simboacutelico um mundo de identidades e relaccedilotildees de significados

essenciai referentes agrave dimensatildeo humana da vida Isto eacute possiacutevel ser observado nos

diaacutelogos apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria O segredo da lagartixa (DANSA 2000) que

compotildeem o recorte R12 A conversa gira em torno da accedilatildeo egoiacutesta da personagem

e as crianccedilas passam a fazer comparaccedilotildees entre as experiecircncias vividas com a

histoacuteria ficcional da obra

83

Contar histoacuteria eacute como entrar no imaginaacuterio iacutentimo da crianccedila O contador de

histoacuteria eacute como uma ponte para fazer o ouvinte chegar ao livro O contador liberta as

palavras Eacute como se as palavras estivessem presas nos textos e fossem libertadas

pela boca do contador Contar e ouvir histoacuterias tem tudo a ver com a nossa cultura

oral O ato de contar histoacuterias eacute praacutetica que remete a mecanismos tradicionais de

transmissatildeo de conhecimentos aleacutem de oferecer a possibilidade da troca de

vivecircncias e saberes de forma luacutedica transformando num jogo o que na verdade

constitui o aprendizado

O contador torna o livro vivo o livro ganha corpo e voz A literatura por meio

da contaccedilatildeo e dos encontros entre sujeitos e objeto permite unir geraccedilotildees consente

tambeacutem em mostrar para a crianccedila o reflexo da proacutepria alma o lado sombrio e natildeo

sombrio fazendo com que sonhe tenha medo se alegre e assim ela possa

compreender que a vida natildeo eacute faacutecil e que assim como os personagens passamos

por muitos obstaacuteculos

Eacute com perseveranccedila e fazendo do encanto de ler uma realidade palpaacutevel que

se transforma uma crianccedila num amante fiel da leitura

R 12 Pesq Vocecircs satildeo egoiacutestas que nem a lagartixa ou vocecircs divi- dem o amor B4 Dividi B3 eu natildeo divido Eu sou um pouco egoiacutesta B1 com a minha irmatilde eu to brigada entatildeo eu natildeo divido mas aqui eu divido Pesq o B3 falou que eacute um pouco egoiacutesta Por quecirc B3 B1 Porque eu natildeo dou um pouquinho da Traquinas (bolacha) pro Guilherme ou pro Enrico B4 eu soacute sou egoiacutesta com o meu irmatildeo Ele eacute muito chato Ele natildeo divide nem o Playstation (viacutedeo-game) B2 eu tambeacutem sou egoiacutesta com minha irmatilde com minhas duas irmatildes Com a primeira eu sou egoiacutesta que eacute a pe- quenininha porque ela me bate ela me arranha e natildeo deixa pegar os brinquedos dela Com a grandona eacute a mesma coisa B1 eu sou egoiacutesta sabe por quecirc As minhas irmatildes quando pegam alguma coisa para comer elas datildeo uma mordida antes que eu veja

84

32 Entre os entrecruzamentos de matrizes as praacuteticas de leituras e a

concepccedilatildeo de leitor

Mesmo sem saber o poder que pode exercer sobre o texto e o livro as

crianccedilas jaacute satildeo capazes de perceber o poder que o livro exerce sobre elas

Entendem que as obras literaacuterias estatildeo ali para informar algo mas natildeo deixam de se

envolver questionar interrogar refletir sobre accedilotildees de personagens e decisotildees

tomadas pelo autor Podemos verificar este envolvimento no R13 quando as

crianccedilas satildeo questionadas sobre a accedilatildeo do personagem protagonista da histoacuteria e

acabam por buscar alternativas para o final

O leitor eacute capaz de ler aleacutem do texto capa as imagens as cores refletindo

sobre o objeto com o qual dialogam (SISTO 2005) Dentro do ambiente escolar o

mediador tem a possibilidade de ampliar a leitura de seus alunos oportunizando o

degustar natildeo soacute o texto impresso mas as cores as imagens enfim todos os

elementos que compotildeem a obra literaacuteria No decorrer da pesquisa durante as

observaccedilotildees das performances dos professores em situaccedilatildeo de contaccedilatildeo pudemos

presenciar uma das professoras realizando a leitura das imagens das cores do livro

com o qual estava trabalhando e fazendo interpelaccedilotildees durante a apreciaccedilatildeo das

mesmas Eacute o que podemos ver no R14

R 13

A2 eu ia eu ia mudar Pesq vocecirc ia mudar A2 Como iria ser o seu final A2 Eu ia colocar assim ele viram (o segredo da caixinha) e daiacute ela teve um monte de amigos e todos os dias quase os amigos dele ia na casa dela

85

As praacuteticas de leitura desencadeadas pelo professor e a sua concepccedilatildeo de

leitura influenciam o modo como as crianccedilas percebem e sentem a leitura As

crianccedilas vatildeo construindo seu conceito de leitura a partir das praacuteticas exercidas no

seu conviacutevio social A praacutetica exercida pela PA expostas no R15 e a sua concepccedilatildeo

de leitura retratada no recorte R16 parecem se refletir no entendimento de leitura de

seus alunos como consta no recorte R17

R15 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a apresentaccedilatildeo da histoacuteria O leatildeo e o Ratinho a professora ia questionando os alunos sobre a atitude do leatildeo e do ratinho Estas interpelaccedilotildees permitiu que os alunos fossem refletindo e colocando seus pensamentos sobre as accedilotildees dos personagens

R14 Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009Diaacuterio de Campo 09122009

A professora da TA iniciou sua leitura do Livro ldquoA casa sonolentardquo questionando os alunos sobre a ilustraccedilatildeo sobre as cores e as formas (das letras) utilizadas na capa do livro ldquoQual a cor que predomina na capa Por que seraacute que a ilustradora escolheu esta corO que mais podemos observar nesta capaldquo (questionamentos feito pela professora)

R 16

PA O bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire lO bom leitor lecirc com prazer e natildeo por obrigaccedilatildeo Adquire liiiivvvvros ros ros ros

comcomcomcom freqfreqfreqfrequuuuecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com ecircncia na biblioteca possui bom vocabulaacuterio discute com osososos colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo colegas e professores o que lecirc Ele lecirc muito e gosta de ler Natildeo aaaacredito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de credito que exista ldquomaurdquo leitor o que existe eacute a falta de estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila estimulaccedilatildeo adequada para favorecer a leitura na crianccedila Para que Para que Para que Para que isso ocorraisso ocorraisso ocorraisso ocorra a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo a influecircncia do meio eacute muito significativa A estimulaccedilatildeo dos paisdos paisdos paisdos pais prprprproooofessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para fessores e do meio em que convive eacute fundamental para desenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devemdesenvolver a leitura de forma prazerosa na crianccedila Devem----se se se se favorecerfavorecerfavorecerfavorecer agraves criaagraves criaagraves criaagraves criannnnccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leituccedilas as diversidades de leitura para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu ra para ampliar o seu

conhecimento e fconhecimento e fconhecimento e fconhecimento e faaaacilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizadocilitar o seu aprendizado

86

Com isso concordamos com Chartier (2001) ao afirmar que as praacuteticas de

leituras desempenhadas em um espaccedilo intersubjetivo propiciam o compartilhamento

de significados atitudes e comportamentos e a escola sendo este espaccedilo

intersubjetivo deve assegurar estas praacuteticas de leitura A concepccedilatildeo que cada

professor tem de leitura eacute o que iraacute conduzir a sua praacutetica dentro de sala de aula ou

seja dentro deste espaccedilo intersubjetivo

As praacuteticas de leituras satildeo consideradas um desencadeador de debates

sobre diversos assuntos do mundo tanto do mundo simboacutelico quanto do mundo real

da crianccedila Promovem confronto e contraposiccedilatildeo de saberes pelo compartilhamento

de significados construiacutedos no pensamento da crianccedila atraveacutes de diferentes

vivecircncias No recorte R18 podemos certificar a afirmaccedilatildeo feita anteriormente no

relato da pesquisadora A PA faz interferecircncias permitindo o diaacutelogo entre ouvinte e

texto

A aprendizagem pela leitura comeccedila muito antes do processo escolarizaccedilatildeo

(CHARTIER 2001) Inicia-se com as experiecircncias vividas pela crianccedila na busca de

R18 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 03030303121212122009200920092009 Durante a leitura do livro ldquoO leatildeo e o Ratinhordquo a professora PA foi questionando os alunos quanto a atitudes e accedilotildees dos personagens e assim criando um diaacutelogo entre a leitura e as posiccedilotildees e contraposiccedilotildees dos alunos O interessante eacute que estas pausas para questionar natildeo interferiram na dinacircmica da leitura mesmo porque os alunos estavam envolvidos nos diaacutelogos quando natildeo estavam atentos ao julgamento dos colegas

R17 Pesq Por que eacute importante lermos histoacuterias A1 Porque eacute importante para a nossa inteligecircncia Pesq Noacutes ficamos mais inteligentes quando lemos A3 fica A2 fica sim A1 por que a gente aprende mais A2 Vai que a gente natildeo sabe alguma coisa ai quando a gente lecirc a histoacuteria a gente sabe o que que eacute

87

responder questionamentos sobre o mundo Este compartilhamento este contato

com outros saberes com outras formas de pensar proporcionaraacute na crianccedila a

construccedilatildeo de forma mais elaborada e complexa do seu pensamento Podemos

observar a partir das conversas realizadas apoacutes a narraccedilatildeo da histoacuteria Menina

bonitas do laccedilo de fita (MACHADO 1999) a relaccedilatildeo que a crianccedila faz das

experiecircncias vividas com as leituras realizadas B3 segundo suas vivecircncias justifica

como a menina deveria ter agido com o coelho branco jaacute que o mesmo desejava ser

negro como a menina (R 19) A insistecircncia do coelho para que ela lhe dissesse

como havia conseguido ficar negra fez com que a menina inventasse uma mentira

jaacute que desconhecia o motivo pelo qual tinha aquela caracteriacutestica fiacutesica

Muitas vezes vemos que a praacutetica de leitura instituiacuteda nas escolas cai em um

ldquomodismordquo no qual a leitura deixa de ser uma praacutetica social para se tornar um

exerciacutecio em que prevalece apenas uma voz a do autor do texto ou seja para se

tornar em leitura parafraacutestica Como ressalta Geraldi (1985 p78) ldquo[] na escola natildeo

se leem textos fazem-se exerciacutecios de interpretaccedilatildeo e anaacutelise de textos e isto natildeo eacute

mais que simular leiturardquo

Mas natildeo podemos culpabilizar somente o professor Devemos voltar os

nossos olhos para todo o processo educativo e para as condiccedilotildees de formaccedilatildeo e

trabalho do professor Geraldi (1985) alega que este ldquomodismordquo adveacutem da falta de

investimento maior na formaccedilatildeo continuada e na ausecircncia de conhecimento de um

referencial teoacuterico consistente que baseie a sua praacutetica

Podemos perceber a prevalecircncia da voz do autor a anaacutelise e interpretaccedilatildeo

sem que haja a possibilidade de reflexatildeo sobre o olhar do autor do outro e de si

mesmo no recorte R20

R 19

Pesq Que natildeo podemos mentir para os outros B3 eacute para os outros Pesq O que aconteceu na histoacuteria para vocecirc aprender isso B3 porque a menina tinha mentido para o coelho ela tinha que ter dito a verdade para ele ter ficado no sol ele ia ficar preto bem raacutepido

88

Quando o professor enquanto mediador por meio das praacuteticas de leitura

possibilita o diaacutelogo entre as experiecircncias preacute-estabelecidas vivenciadas

socialmente pelo aluno e o texto este potencializaraacute em seus alunos uma leitura

polissecircmica As praacuteticas de leitura devem ter perspectivas mais amplas que vatildeo

aleacutem da mera decodificaccedilatildeo Para isso eacute preciso propor atividades desafiadoras que

induzam o aluno a comentar sobre o que leu e descobriu a relacionar a registrar a

estabelecer relaccedilotildees podendo assim construir novas siacutenteses usando e explorando

sua subjetividade

Nem sempre o que o aluno lecirc eacute compreendido pelo mesmo Segundo

Kleiman (2004) a compreensatildeo natildeo estaacute garantida no ato de ler Por isso eacute

necessaacuterio que o professor provoque seus alunos-leitores incite a reflexatildeo a

respeito do que leu Isso fica claro nas palavras proferidas pela PA no recorte R 21

R 20 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 10101010121212122009200920092009 A professora sentou com a turma em roda para ler o livro rdquoNingueacutem eacute igual a ningueacutemrdquo Ela foi lendo e mostrando as figuras por vaacuterias vezes eacute interrompida pelas brincadeiras dos alunos a mesma paacutera a histoacuteria para chamar-lhes a atenccedilatildeo Ao final da histoacuteria lanccedila perguntas diretas perguntas que natildeo sugerem reflexatildeo e consequentemente as respostas satildeo diretas PB Eacute legal chamarmos o amigo por apelido Aluno Natildeo PB Noacutes devemos respeitar o amigo natildeo eacute verdade Aluno Eacute PB Noacutes somos todos iguais ou um eacute diferente do outro Aluno Um eacute diferente do outro PB Entatildeo noacutes natildeo somos iguais ao outro se o amigo eacute mais baixo ou mais magro ou usa oacuteculos noacutes natildeo podemos ficar tirando sarro ou dando apelidos A professora explicou todo o sentido da histoacuteria segundo a visatildeo da autora As perguntas natildeo motivaram para uma maior reflexatildeo e discussatildeo acerca do assunto (diferenccedilas) e logo apoacutes explicar a histoacuteria a professora solicitou que todos fossem para seus lugares fechando o livro e guardando-o no armaacuterio

89

As praacuteticas de leitura vivenciadas pela e na escola devem possibilitar a

formaccedilatildeo do aluno-leitor um aluno capaz de fazer uma leitura criacutetica da realidade

capaz de fazer um exerciacutecio de articulaccedilatildeo entre diferentes textos e assim perceber

os muacuteltiplos sentidos que podem ser estabelecidos a partir de uma leitura mais

polissecircmica do texto

Entre as praacuteticas de leitura o trabalho com a literatura infantil atraveacutes da

contaccedilatildeo de histoacuteria tem sido um recurso metodoloacutegico de papel bastante

significativo no processo ensino-aprendizagem Mas assim como pode ser uma

praacutetica desencadeadora de atividades que constituiratildeo o sujeito pode tambeacutem ser

utilizada de forma negativa como instrumentos moralizadores com o ensejo de

introduzir exerciacutecios mecacircnicos e esteacutereis criando barreiras em face da leitura

desvalorizando sua verdadeira funccedilatildeo de gerar reflexatildeo desejo imaginaccedilatildeo e

prazer (ALLEBRANDT FEIL FRANTZ 1999)

Considerando que o ser humano eacute por natureza um contador de histoacuterias

algumas teacutecnicas e vivecircncias podem ajudaacute-lo a utilizar bem essa caracteriacutestica que

lhe eacute proacutepria Dessa forma a atividade de contar histoacuterias se transforma num

importantiacutessimo recurso de formaccedilatildeo do leitor

Sabemos que os alunos quanto mais se afastam da infacircncia ou seja das

primeiras leituras mais precisam ser estimulados motivados para que seus desejos

natildeo se percam no desalento Para se contar uma histoacuteria eacute necessaacuteria uma

preparaccedilatildeo longa desde a escolha ateacute a performance para a apresentaccedilatildeo da

mesma Esta preparaccedilatildeo eacute que faraacute o professor-contador transformar-se em um

exiacutemio contador Todo professor deve ser um contador de histoacuteria pois eacute atraveacutes

das histoacuterias que encantamos e envolvemos nossos alunos Como podemos ver no

comentaacuterio feito pela professora PB no recorte R22

R 21 PA Natildeo haacute idade para incentivar na crianccedila a leitura Eacute fundamental que a palavra escrita esteja ao seu alcance desde cedo E o que fazer quando a crianccedila natildeo demonstra nenhum interesse pela leitura O primeiro passo eacute descobrir se ela realmente entende o que anda lendo O ideal eacute partir de leitura de texto curto ou pequenos trechos de histoacuteria mais longa Tambeacutem colocar a crianccedila em contato com diferentes tipos de texto

90

R 22 PB Eacute sempre assim Eles nunca se concentram na hora da histoacuteria Quando vocecirc (referindo-se agrave pesquisadora-contadora) conta eacute diferente eles prestam mais atenccedilatildeo porque vocecirc conta sem o livro muda sua voz faz gestos

Como afirma Sisto (2009 p71) ao contar uma histoacuteria o professor precisa

estar atento ldquo[] ao fluxo da emoccedilatildeo na hora de contar agrave linguagem empregada []

ao ritmo da fala agraves imagens que cria com a voz o corpo e a emoccedilatildeo para fazer o

outro criar tambeacutem []rdquo Eacute preciso estar atento ao efeito que a histoacuteria causa em

nossos alunos (R23)

Atraveacutes das intervenccedilotildees realizadas pela pesquisadora-contadora foi

possiacutevel averiguar que aleacutem do cuidado em selecionar histoacuterias adequadas para

seus alunos o professor deve estar atento agrave preparaccedilatildeo da histoacuteria a ser narrada

Estar atento natildeo soacute agrave palavra mas aos gestos aos movimentos corporais e faciais

agraves pausas e aos silecircncios na hora de proferir a histoacuteria O comentaacuterio feito pela PA

recorte R24 nos mostra o quanto eacute importante estar atento aos recursos como voz

gestos entre outros na hora de contar uma histoacuteria

R 23 Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo Diaacuterio de Campo 09090909121212122009200920092009

Foi interessante ver como a professora PA se apropriou da entonaccedilatildeo da voz para narrar a histoacuteria rdquoA casa sonolentardquo No iniacutecio da histoacuteria todos os personagens dormem (neste momento a professora foi sussurrando em sua narrativa) Depois quando todos satildeo acordados pela picada de uma pulga sua narraccedilatildeo se tornou raacutepida e com um tom mais elevado

R 24

PA

Todas as intervenccedilotildees foram oacutetimas para contar as histoacuterias escolhidas a pesquisadora utilizou diferentes recursos como entonaccedilatildeo de voz e expressatildeo corporal o que prendeu a atenccedilatildeo da turma Os alunos esperavam ansiosos pelas intervenccedilotildees e durante as mesmas permaneciam compenetrados As histoacuterias escolhidas tambeacutem foram muito boas

91

Como alega Sisto (2005) exige-se do contador contemporacircneo antes de

tudo uma praacutetica de leitor e por conseguinte um apuro criacutetico e um aprimoramento

teacutecnico Seriacuteamos ingecircnuos se acreditaacutessemos que basta escolher um livro de

nosso apreccedilo para garantir o sucesso da contaccedilatildeo

Quando ousamos contar uma histoacuteria para nossos alunos natildeo podemos

desperdiccedilar esta oportunidade de se contar sem que a histoacuteria esteja pronta para

seduzir o aluno (R25) O professor precisa dominar o texto preparar previamente a

contaccedilatildeo utilizar conscientemente seja os recursos do proacuteprio corpo (emoccedilatildeo

memoacuteria gestos voz) seja os recursos teacutecnicos (naturalidade ritmo entonaccedilatildeo

pausas)

Apoacutes o teacutermino da contaccedilatildeo de histoacuteria o aluno sente a necessidade de

prolongar seu prazer de escutar Eacute neste momento que o professor deve promover o

encontro entre o aluno e o livro onde estaacute a histoacuteria contada eacute o momento de

apresentar o registro escrito as ilustraccedilotildees de confirmarnegar as hipoacuteteses

levantadas enquanto a histoacuteria era ouvida Circunstancialmente o aluno percebe que

pode reler os trechos de que mais gostou pular paacuteginas ler uma frase aqui outra

ali enfim pode escolher o rumo de sua leitura e ir em busca de outras histoacuterias

trilhando os caminhos para a sua formaccedilatildeo de leitor criacutetico

O que temos comprovado na praacutetica eacute que depois de ouvir uma histoacuteria bem

contada a reaccedilatildeo imediata do aluno eacute pedir o livro para vecirc-lo O professor que se

preocupa com a promoccedilatildeo da leitura deve disponibilizar para os alunos livros dos

mais variados gecircneros e autores gibis jornais e revistas de forma a possibilitar-lhes

a ampliaccedilatildeo do repertoacuterio enquanto leitores

R 25

PA Pude perceber que eles ficaram mais pacientes durante nossas sessotildees de leitura e houve maior interesse em ouvir a histoacuteria contada Alguns alunos se interessaram tanto pelas histoacuterias contadas pela pesquisadora que retiraram o(s) livro(s) em questatildeo na biblioteca para realizarem a leitura em casa

92

Tanto os recursos do instrumental humano quanto os teacutecnicos utilizados

garantem um sucesso maior no encantamento pela histoacuteria Isto soacute nos leva a crer

que a massificaccedilatildeo da leitura ou seja aquela leitura obrigatoacuteria quando todos os

alunos leem o mesmo livro e ao final do bimestre o professor realiza uma prova

constatando o aprendizado natildeo garante a formaccedilatildeo adequada que buscamos de

um leitor polissecircmico

33 O prolongamento do leitor no prazer da escuta

Em conversas informais no decorrer da pesquisa com a bibliotecaacuteria da

instituiccedilatildeo onde foram coletados os dados ela alega que os alunos mais

frequentadores da biblioteca com o intuito de retirar livros satildeo os mais novos

especialmente os alunos de 2deg 3deg e 4deg anos Eles sempre recorrem agrave bibliotecaacuteria

quando natildeo conseguem encontrar o livro desejado Durante o intervalo tambeacutem

costumam frequentar a biblioteca observam os livros novos folheiam outros

comentam com os colegas os livros que jaacute leram

Este interesse espontacircneo em preferirem ir agrave biblioteca isto eacute a escolha por

um ambiente destinado agrave guarda de livros parece ser um indiacutecio ao mesmo tempo

do desejo e do prazer em realizar leituras

O desejo em dar continuidade agrave histoacuteria escutada eacute propiciado pelo

prolongamento do prazer (SISTO 2005) A busca pelo prazer em continuar a viagem

ao mundo maravilhoso e imaginativo volvendo seus olhos iluminados e curiosos

para um mundo fantaacutestico

Pelos dados obtidos com auxiacutelio do sistema de registro da biblioteca

constataremos a busca do aluno pelo prazer e desejo em submergir nas leituras dos

livros que foram apresentados de forma luacutedica e satisfatoacuteria nas sessotildees de

contaccedilatildeo de histoacuterias O sistema de registro nos permitiu analisar a quantidade e

93

quais os livros retirados por cada aluno verificar o dia do empreacutestimo as datas

previstas para devoluccedilatildeo e a data da devoluccedilatildeo efetiva

Como informado ao longo do periacuteodo compreendido entre 26 de setembro a

26 de outubro de 2009 mecircs que antecedeu o iniacutecio da intervenccedilatildeo foram

identificados a quantidade e quais os livros retirados por cada aluno da turma A e B

O Quadro 2 apresenta o levantamento acerca da acessibilidade dos alunos

da Turma A e B agrave biblioteca para a retirada dos livros por periacuteodo antes e apoacutes a

intervenccedilatildeo

TURMAS

Nuacutemero de Alunos que Retiraram Livros

ANTES

POacuteS INTERVENCcedilAtildeO

TURMA A

(n= 27)

19

19

TURMA B

(n=22)

19

20

Quadro 2 ndash Nuacutemero de alunos que retiraram livros na Biblioteca antes e apoacutes a intervenccedilatildeo

A acessibilidade agrave retirada dos livros da biblioteca no periacuteodo que antecedeu

as intervenccedilotildees e durante as mesmas se manteve na turma A e houve um pequeno

acreacutescimo na turma B Foi possiacutevel verificar que entre 70 e 90 dos alunos que

iniciam o Ensino Fundamental como foi o caso dos alunos dessas turmas se

interessam e procuram livros da Literatura Infantil e embora estes apenas leiam as

imagens das ilustraccedilotildees como informaram B2 e B4 no recorte (R 26) abaixo natildeo

deixam de realizar leituras

94

No Quadro 3 informamos a quantidade de livros retirados pelos alunos das

turmas A e B Constata-se um aumento na quantidade de alunos da Turma A que

retiraram mais de 5 livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo em relaccedilatildeo ao periacuteodo que a

antecedeu Aleacutem disso o leitor pode verificar que 407 dos alunos da Turma A

retiram pelo menos um livro por mecircs

Entre os alunos da Turma B apesar de se registrar um aumento na retirada

de livros no periacuteodo poacutes intervenccedilatildeo com a quantidade de no miacutenimo trecircs livros

neste periacuteodo esse nuacutemero foi menor do que o constatado na Turma A

NUacuteMERO DE LIVROS RETIRADOS

TURMA A

(n=27)

TURMA B

(n=22)

ANTES POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO ANTES

POacuteS

INTERVENCcedilAtildeO

1 3 1 - -

2 1 2 1 -

3 2 1 2 2

4 3 2 - 4

5 3 2 1 1

Mais de 5 7 11 15 13

Quadro 3 Comparaccedilatildeo entre as retiradas de livros na Biblioteca por turma antes e poacutes-intervenccedilatildeo

No Quadro 4 podemos comprovar que houve interesse dos alunos em

buscar o livro apresentado pelo professor na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

R 26 Pesq Vocecirc gosta de ouvir B2 Eacute B2 Daiacute quando eu to com pressa eu comeccedilo a ler assim nem leio Pesq soacute lecirc os desenhos B2 Eacute Pesq e vocecirc B4 B4 mesma coisa que a B2 Quando eu tocirc com preguiccedila eu pego e

leio assim (raacutepido soacute olhando as imagens) e quando eu tocirc nor- mal assim eu gosto de ler

95

Quadro 4 Relaccedilatildeo de livros e total de retiradas (Turma A e B)

Quando na situaccedilatildeo de contaccedilatildeo de histoacuterias a escolha do livro e sua

apresentaccedilatildeo por professores acontecem de maneira provocativa e instigante para o

aluno este como leitor procura ter em matildeos esse livro O livro ldquoO segredo da

Lagartixardquo como se constata no Quadro 6 foi o que despertou maior interesse para

os alunos Paz (2007) em sua investigaccedilatildeo na qual pretendeu verificar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como um recurso que contribui na formaccedilatildeo de novos leitores como noacutes

o fizemos comprovou que entre alunos da 2ordf seacuterie a contribuiccedilatildeo da contaccedilatildeo de

histoacuteria eacute efetiva pois registrou que 100 dos alunos entrevistados afirmaram ir em

busca do livro apoacutes uma sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria

No levantamento feito poacutes intervenccedilotildees pudemos verificar que do total de

alunos que participaram de ambas as turmas 326 dos alunos foram em busca

dos livros apresentados

Sendo assim podemos concluir que para os alunos se formarem leitores eacute

imprescindiacutevel o esforccedilo por parte dos professores por exemplo quando cria

situaccedilotildees de contaccedilatildeo de histoacuterias E por esforccedilo entende-se que esse profissional

esteja disposto em investir seriamente na seleccedilatildeo dos textos na preparaccedilatildeo das

histoacuterias que iraacute contar para seus alunos dominando e aprimorando os recursos de

seu corpo da voz e os demais que possam expressar as emoccedilotildees que o texto

pretende gerar Quando assim procede aumenta a possibilidade de que o aluno

estabeleccedila com esse texto e a leitura muacuteltiplas relaccedilotildees Algumas delas de prazer

de identificaccedilatildeo de interesse e se constitua como leitor que pode ser livre na

Livro Trabalhado nas Intervenccedilotildees

Nuacutemero de Alunos por Retirada do Livro

Menina bonita do laccedilo de fita 3

O segredo da lagartixa 11

Ah Cambaxirra se eu soubesse 1

Beto o carneiro -

A bruxa que roubou o sol 1

A menina e o paacutessaro encantado -

96

interpretaccedilatildeo dos diversos textos que circunscrevem seu mundo independente dos

suportes e tecnologias utilizadas pelos autores para produzi-los

Dessa forma o professor estaraacute cumprindo seu papel de agente da leitura

que natildeo mede esforccedilos para formar leitores criacuteticos Precisa enfim ter em mente

que qualquer leitor estaacute apto a melhorar a sua capacidade interpretativa ldquopois

interpretaccedilatildeo nada mais eacute do que o exerciacutecio do proacuteprio pensamento em torno de

um pensamento alheiordquo (YUNES PONDEacute 1988)

Se por um lado constatamos o valor da contaccedilatildeo de histoacuterias por outro

percebemos que essa praacutetica estaacute submergindo principalmente no ambiente

familiar Verifica-se assiduamente que o encantamento por histoacuterias e as viagens

pelo mundo do imaginaacuterio estatildeo sendo substituiacutedas por outras atividades natildeo

literaacuterias

Entretanto situando a questatildeo no contexto escolar natildeo devemos esquecer

o alerta de Gimeno-Sacristaacuten (2008) quanto diz

O inimigo da leitura natildeo reside como actualmente alguns temem na cultura audio-visual que domina os meios de comunicaccedilatildeo e na extensatildeo das novas tecnologias mas nas desafortunadas praacuteticas de leitura dominantes a que submetemos os nossos alunos durante a escolaridade (GIMENO-SACRISTAN 2008 p 87 Grifos nossos)

Com os resultados desta pesquisa natildeo queremos afirmar que apenas a

praacutetica de contar histoacuterias no ambiente escolar seja suficiente para formar leitores

queremos sim propor e defender essa praacutetica como um recurso fundamental para o

processo de formaccedilatildeo de leitores especialmente nas fases de letramento escolar

inicial

97

4 CONSIDERACcedilOtildeES POSSIacuteVEIS

Haacute muitos e muitos anoshellip Era uma vez Em um lugar distante daqui

Enunciados como esses instigam deslocamentos de ordem espaccedilo-temporal

no indiviacuteduo que os ouve ou lecirc bem como das circunstacircncias socioculturais que

engendraram sua subjetividade podem ser provocados por relatos de outros

propostos por quem os conta por autores desconhecidos comuns na literatura de

cordel (ABREU 1999 GALVAtildeO 2003) outros autobiograacuteficos como o de Anne

Frank ou por exemplo autobiografias que foram objeto de anaacutelise de Sophia Lyra

por Morais (2000) de Ceciacutelia Assis Brasil por Bastos (2000) por contos tradicionais

e pela literatura O fato eacute que se pode de um lado dar razatildeo a Paulo Leminsky

quando escreveu ldquoNada tatildeo meu que natildeo possa dizecirc-lo nossordquo como aos dizeres

de Escarpitt e Baker (1975 apud MELO 1999 p 73) quando afirmaram

A fragilidade dos haacutebitos da leitura tem causas mais remotas que recuam agrave idade preacute-escolar Eacute provavelmente nessa idade que se formam as atitudes fundamentais diante do livro [] Eacute conveniente entatildeo que o livro entre para a vida da crianccedila antes da idade escolar e passe a fazer parte de seus brinquedos e atividades cotidianas

Contudo a figura do narrador estaacute desaparecendo como jaacute reconhecia

Walter Benjamin

[] satildeo cada vez mais raras as pessoas que sabem narrar devidamente Quando se pede num grupo que algueacutem narre alguma coisa o embaraccedilo se generaliza Eacute como se estiveacutessemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienaacutevel a faculdade de intercambiar experiecircncias [] Uma das causas desse fenocircmeno eacute oacutebvia as accedilotildees da experiecircncia estatildeo em baixa e tudo indica que continuaratildeo caindo ateacute que seu valor desapareccedila de todo (BENJAMIN 1994 p 197)

Verifica-se nos dias atuais uma reduccedilatildeo dos meios impressos de

comunicaccedilatildeo ocasionada possivelmente pela coexistecircncia da leitura desses

98

impressos com outros suportes ndash ldquoque dispensam ou reduzem sensivelmente a

mediaccedilatildeo do coacutedigo alfabeacuteticordquo (MELO 1999 p61) ndash criados pela moderna

tecnologia Junta-se a isso o fato de que ldquoTanto o acesso quanto o tempo dedicado

pelo puacuteblico ao raacutedio e agrave televisatildeo satildeo maiores que aqueles destinados ao livro ao

jornal e agrave revistardquo (MELO 1999 p 61) Por isso hoje mais do que antes compete agrave

escola despertar atitudes positivas nos alunos em relaccedilatildeo agrave leitura

Cremos que devemos propor aos nossos alunos um convite para adentrar o

mundo da imaginaccedilatildeo a cada livro aberto e a cada histoacuteria contada E nessas

viagens carregadas de emoccedilatildeo e reflexatildeo provocar neles o desejo de silenciar o

coraccedilatildeo e escutar com os olhos as palavras proferidas pelo corpo e gestos do

professor-contador

Eacute comum presenciarmos nos espaccedilos escolares alunos de anos posteriores

a seacuteries iniciais alegarem natildeo ter apreccedilo pela leitura Poreacutem constatamos que os

alunos das seacuteries iniciais em especial os do 2ordf ano do Ensino Fundamental

apreciam a leitura satildeo assiacuteduos agrave biblioteca e gostam de levar livros para casa

Contudo cultivar este prazer nos alunos requer um esforccedilo tanto dos

professores quanto da famiacutelia visto que eacute no ambiente familiar que a crianccedila tem o

primeiro contato com a leitura Ela lecirc os gestos da matildee o timbre no som da voz e

suas accedilotildees nos primeiros anos de vida e posteriormente vai ampliando o seu

modo de ler constituindo-se assim continuamente como um leitor

Ao ingressar no espaccedilo escolar a crianccedila em especial das seacuteries iniciais

ou seja do Ensino Fundamental comeccedila a passar por um processo de letramento

extremamente significativo para ela E eacute neste momento que o professor deve estar

atento para cultivar o desejo e o prazer pelo ato de ler Os alunos nesta fase

preferem ler sozinhos visto que jaacute conseguem decodificar os signos da escrita e

isso lhes daacute muito prazer

Haacute pesquisas internacionais como a de Sainsbury e Schagen (2004) na

Inglaterra pelo survey que aplicaram a 5076 alunos com idades entre nove e 11

anos de idade buscam caracterizar o tempo que os alunos dispensam na escola e

em casa agrave leitura o interesse e atitudes dos mesmos em relaccedilatildeo agrave leitura e

informam que com a idade e a escolaridade o interesse pela leitura diminui Os

resultados da pesquisa dessas autoras permitiram que concluiacutessem que o

99

envolvimento das crianccedilas com livros de literatura por lhes possibilitar experimentar

outros mundos e papeacuteis contribui para o desenvolvimento pessoal e social como

tambeacutem para suas habilidades de ler Sugerem entretanto que os professores

devem se preocupar com as atitudes dos alunos quanto agrave leitura porque ldquomais do

que qualquer outro conteuacutedo escolar as atitudes acerca da leitura tecircm uma

importacircncia central para a aquisiccedilatildeo das habilidades de leiturardquo (SAINSBURY

SCHANGE 2004 p375)

Um dos fatores que parece contribuir para o desinteresse pela leitura ao

passar dos anos de escolaridade estaacute relacionado ao modo como o professor tem

trabalhado a literatura O texto literaacuterio eacute usado na maioria das vezes como suporte

para trabalhar outras disciplinas inclusive na alfabetizaccedilatildeo no primeiro ano do

Ensino Fundamental A literatura passa entatildeo a ter um caraacuteter utilitaacuterio e o aluno

vai deixando de apreciar o literaacuterio que ao inveacutes de expressatildeo criadora torna-se

mateacuteria aprisionada Essa visatildeo utilitaacuteria da literatura tem sua origem nos primeiros

escritos literaacuterios que foram produzidos para o puacuteblico infantil nos fins do seacuteculo XVII

e durante o seacuteculo XVIII o que ainda vemos muito presente nas escolas (LAJOLO

1986 MARTINS 2003 PERROTTI 1999)

Hoje as criaccedilotildees literaacuterias principalmente no que diz respeito agrave literatura

infantil jaacute natildeo tecircm mais esse caraacuteter utilitaacuterio de antigamente (LAJOLO 1986

MARTINS 2003 PERROTTI 1999) e no contato com estas obras literaacuterias o leitor

sofre transformaccedilotildees enriquecendo seu mundo externo e sua subjetividade na

ampliaccedilatildeo de sua experiecircncia de vida tornado-se assim um leitor criacutetico

Considerando o prazer da crianccedila em realizar leituras literaacuterias e as criaccedilotildees

literaacuterias atuais que visam formar um leitor criacutetico faz-se necessaacuterio que o professor

em suas praacuteticas educativas motive cada vez mais este aluno leitor apresentando-

lhes obras literaacuterias que instiguem sua fantasia possibilitando-lhe adentrar no

mundo de magia realidade e descobrimento Esse mundo de fantasia e realidade

pode proporcionar ao aluno um interesse maior para a leitura

interpretaccedilatildeocompreensatildeo aleacutem de contribuir com o desenvolvimento da

capacidade de observaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo

A presente pesquisa indicou que a contaccedilatildeo de histoacuterias eacute uma dentre as

praacuteticas de leitura e um recurso importante e interessante agrave matildeo do professor para

100

fazer com que seus alunos se constituam se aproximem dos outros e do mundo

Mas para que esse recurso atinja essas metas eacute preciso que o professor

desempenhe a contento essa contaccedilatildeo Natildeo basta ler o texto que escolheu ou lhe

foi indicado para ler para seus alunos precisa fazecirc-lo com maestria ler para o outro

com emoccedilatildeo despertando emoccedilotildees inquietaccedilotildees e prazer Ao assim proceder de

certo seus alunos iratildeo desenvolver atitudes positivas em relaccedilatildeo agrave leitura e

passaratildeo a admirar os textos produzidos por outros isto eacute se envolveratildeo nos textos

com espanto misturado a prazer Se por um lado ldquoo espanto atrai o olhar porque vecirc

aleacutem de si vecirc o outrordquo (NOVELLI 2000 p189) a satisfaccedilatildeo e o prazer de ler

aliados ao interesse satildeo por sua vez demonstraccedilatildeo de uma atitude positiva em

relaccedilatildeo agrave leitura conforme verificado nesta pesquisa e em pesquisas de larga escala

como na de Sainsbury e Schagen (2004)

Um dos desafios que a Educaccedilatildeo Baacutesica do seacuteculo XXI enfrenta eacute o de

ensinar seus alunos a aprenderem a viver juntos conhecendo e respeitando as

diferenccedilas Ensinar de modo a que tal aconteccedila eacute um dos dois pilares dessa

educaccedilatildeo segundo Tedesco (2011) O outro eacute o de que as escolas propiciem aos

alunos condiccedilotildees para que adquiram repertoacuterios que os tornem capazes de

aprender a aprender Para que este uacuteltimo repertoacuterio possa de fato se estabelecer

atitudes positivas e praacuteticas efetivas de leitura satildeo imprescindiacuteveis Na perspectiva

do primeiro desses desafios enunciados por Tedesco (2011) selecionamos as

palavras de Turchi (2004) quando essa autora ao analisar a produccedilatildeo no campo da

literatura infantil afirma ldquoas crianccedilas de um mesmo paiacutes estatildeo expostas a fronteiras

e diferenccedilas Elas habitam vaacuterios mundos dentro de um mundo vivenciam

subculturas dentro de uma cultura e por isso precisam de diferentes vozes narrativas

que lhes falem de perto dessa diversidaderdquo (TURCHI 2004 p 40)

Foi possiacutevel verificar tambeacutem que uma boa performance durante a contaccedilatildeo

mobiliza uma seacuterie de vivecircncias entre o dito e o natildeo dito no texto possibilitando

infinitas leituras O bom leitor no caso os alunos quando na situaccedilatildeo da intervenccedilatildeo

demonstravam natildeo deixar as palavras entrarem apenas pelos ouvidos eles as

recebiam com os olhos atentos inclusive na performance e estabeleciam sentido ao

texto escrito e interpretado por quem o lia (pesquisadora-contadora) Mesmo

sabendo que quaisquer sentidos satildeo construiacutedos no interior da linguagem por

101

conseguinte expressam convenccedilotildees institucionalizadas ldquoreguladoras do dizer e dos

significados permitidosrdquo (GRIGOLETTO 1992 p 87) as experiecircncias particulares

instigadas por essa leitura foram socializadas porque o clima instaurado pela

contadora nas sessotildees de intervenccedilatildeo assim o permitiram

Aleacutem dessa performance a escolha da histoacuteria a ser contada eacute muito

importante Isso porque se deve estar atento agrave faixa etaacuteria especialmente ao niacutevel

de desenvolvimento sociocognitivo dos alunos e aos valores socioculturais dos

ouvintes no caso alunos para que a seleccedilatildeo da histoacuteria seja adequada aos seus

interesses e relacionada agraves coisas que estatildeo vivendo ou que gostariam de viver

(SISTO 2005)

Apesar de alguns autores como Perrotti (1990) e Giordano (2009)

destacarem os efeitos de tutela na formaccedilatildeo das novas geraccedilotildees o fato eacute que a

escola precisa favorecer a formaccedilatildeo de leitores especialmente dos que se

encontram nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo Deve entretanto conduzir essa

formaccedilatildeo de modo a que todos os envolvidos professores e bibliotecaacuterios sejam

mediadores com o perfil desenhado pelas palavras de Silva (2006 p 78) ldquopara

mediar a leitura eacute preciso ser generoso com o outro em formaccedilatildeo e lembrar-se do

proacuteprio percurso como leitorrdquo Ao assim procederem poderatildeo incentivar outros a

serem leitores

Quanto agrave escolha desses textos lembramos algumas das ponderaccedilotildees de

Turchi (2004) quando discute o esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil Essa autora

salienta ldquoum dos grandes desafios da literatura infantil eacute movimentar o imaginaacuterio na

sua maior potecircncia e ao mesmo tempo lidar com o limite do discursordquo (TURCHI

2004 p 39) Talvez um dos criteacuterios mais importantes para essa seleccedilatildeo seja o que

os textos respondam a esse desafio Concordamos ainda com os argumentos da

autora quando desenha os contornos da literatura infantil ldquoMais do que qualquer

gecircnero a literatura infantil parece potencializar o que afirma Bakhtin (1993 p 101)

sobre a linguagem literaacuteria lsquotrata-se natildeo de uma linguagem mas de um diaacutelogo de

linguagens um fenocircmeno pluriestiliacutestico pluriliacutengue e plurivocalrdquo (TURCHI 2004 p

39)

102

Para que os mediadores para a formaccedilatildeo de leitores no caso professores e

bibliotecaacuterios possam favorecer essa formaccedilatildeo precisam ser leitores Natildeo

quaisquer mas deles deve ser exigida a formaccedilatildeo profissional para o respectivo

exerciacutecio Entretanto algumas consideraccedilotildees iniciais no que toca aos professores

precisam ser pelo menos anunciadas uma circunstacircncia eacute a de lerem para a escola

textos didaacuteticos outra a de terem por praacutetica a leitura de textos literaacuterios

Batista (1998) para responder agrave questatildeo se os professores(as) satildeo natildeo-

leitores recorreu a pesquisas de outros estudiosos e concluiu que a auto-imagem

deles como leitores ldquoeacute a todo o momento arranhada pela imprensa pela pesquisa

pelos formadores de professores()rdquo (BATISTA 1998 p 58) Por sua vez Brito

(1998) reconhece que esse grupo profissional lecirc diferentes tipos de texto Contudo

por sua leitura limitar-se ldquoa um niacutevel pragmaacutetico dentro do proacuteprio universo

estabelecido pela cultura escolar e pela induacutestria do livro didaacuteticordquo (BRITO 1998 p

77) natildeo permite que se possa afirmar que ele seja um leitor Isso porque ldquosua leitura

de textos lsquoliteraacuteriosrsquo eacute a dos livros infantis e juvenis produzidos para os alunos ou dos

textos selecionados pelos autores dos didaacuteticosrdquo (BRITO 1998 p 77)

Argumenta Kleiman (2002) quanto a que ldquoum primeiro passo na formaccedilatildeo de

leitores eacute a seduccedilatildeo tornando a atividade de leitura o mais atraente possiacutevelrdquo

(KLEIMAN 2002 p27) Esta autora indica alguns caminhos que o professor deve

percorrer quando tem por meta instigar o aluno a ler Ela poreacutem aponta que eacute

responsabilidade da escola por conseguinte natildeo apenas do professor formar

leitores autocircnomos Vejamos suas ponderaccedilotildees

Somente quando se ensina ao aluno a perceber esse objeto que eacute o texto em toda sua beleza e complexidade isto eacute como ele estaacute estruturado como ele produz sentidos quantos significados podem ser aiacute sucessivamente revelados ou seja somente quando satildeo mostrados ao aluno modos de se envolver com esse objeto mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim compreendecirc-lo entatildeo haacute ensino da leitura O papel da escola nesse processo eacute o de fornecer um conjunto de instrumentos e de estrateacutegias para o aluno realizar esse trabalho de forma progressivamente autocircnoma (KLEIMAN 2002 p27 Grifos nossos)

103

Ao se considerar o ldquoprofessor como um outro altamente significativo no

processo de socializaccedilatildeo e de formaccedilatildeo de crianccedilas na qualidade de leitorasrdquo

(EVANGELISTA 1998 p81) outros profissionais do ensino sobretudo os

bibliotecaacuterios escolares desempenham um papel importante para aquela formaccedilatildeo

de leitor acima indicada Isso porque na escola professores e bibliotecaacuterios

ldquoconstituem-se em sujeitos significativos na formaccedilatildeo de leitores-alunosrdquo

(EVANGELISTA 1998 p 81) por suas praacuteticas educativas cotidianas um em sala

de aula e o outro na biblioteca da escola na medida em que dividam a

responsabilidade de educar (SILVA 1986 MARTINS BORTOLIN 2006)

Os resultados da presente investigaccedilatildeo indicaram a procura espontacircnea das

crianccedilas por livros na biblioteca Tal fato fornece indiacutecios de que a biblioteca da

instituiccedilatildeo na qual este estudo foi conduzido eacute um espaccedilo que propicia muacuteltiplas

leituras prazerosas visto os alunos preferirem ir para a biblioteca do que para o

paacutetio no intervalo das aulas Poreacutem isso natildeo eacute comum nas instituiccedilotildees escolares

como indica Bortolin (2006) Na maioria das bibliotecas escolares as condiccedilotildees

fiacutesicas e humanas raramente criam ldquoum espaccedilo que desperte interesse ou vontade

de permanecer nela [por sua vez] os bibliotecaacuterios (ou aqueles que ocupam o seu

lugar) por exemplo estatildeo esquecendo de animar a leitura [de] promover accedilotildees

(cotidianas e contiacutenuas) destinadas ao fomento do ato de lerrdquo (BORTOLIN 2006 p

69)

Em relaccedilatildeo agrave adequaccedilatildeo e preparaccedilatildeo do professor como contador de

histoacuterias necessaacuterio se torna que ele goste de ler pois como salienta Coelho

(1986) se algueacutem como quer formar leitores antes de tudo precisa ser leitor

Uma histoacuteria bem preparada ao ser narrada eacute capaz de envolver o aluno e

seduzi-lo Para tanto o professor antes de tudo tem que gostar da histoacuteria que iraacute

narrar e consequentemente ler muitas vezes para possa se familiarizar e tomar

consciecircncia dos detalhes essenciais da histoacuteria Quando assim procede ele poderaacute

iniciar a contaccedilatildeo da histoacuteria de forma natural com clareza e intensidade na voz

Natildeo devendo esquecer ainda dos movimentos corporais que contribuem para

enriquecer o sentido do que estaacute sendo contado

104

A maneira pela qual o professor conduz suas praacuteticas apoacutes uma contaccedilatildeo de

histoacuteria influencia a apreciaccedilatildeo ou rejeiccedilatildeo das obras literaacuterias por parte dos alunos

Sisto (2005) nos assegura que eacute interessante que o professor natildeo cobre dos alunos

a repeticcedilatildeo de dados da histoacuteria porque este tipo de accedilatildeo natildeo acrescenta em nada

na expressatildeo criadora do aluno ou seja natildeo contribue para a magia da histoacuteria

Uma conduta recomendaacutevel segundo esse autor eacute a de estimulaacute-los a um debate

com foco na temaacutetica da histoacuteria e na relaccedilatildeo que ela possa ter com as vivecircncias

dos alunos

Outra maneira de garantir o interesse dos alunos eacute a de que eles sejam

instigados a fazer relaccedilotildees com outros textos que abordem o mesmo assunto mas

que apresentam pontos de vista distintos sobre uma mesma questatildeo Natildeo podemos

nos esquecer que a apresentaccedilatildeo do livro do(a) autor(a) e ilustrador(a) eacute essencial

para que o aluno possa aprender a contextualizar a histoacuteria no campo das demais

produccedilotildees aleacutem de viabilizar que tenham futuramente acesso ao texto que lhe

agradou E ao ir agrave biblioteca em busca daquela histoacuteria ele poderaacute entrar em

contato com tantas outras

Um aspecto significativo que observamos durante a pesquisa diz respeito agrave

assiduidade agrave biblioteca Logo que iniciamos a intervenccedilatildeo percebemos o interesse

dos alunos em procurarem nela os livros apresentados na contaccedilatildeo A ida agrave

biblioteca para realizar empreacutestimo do livro de mesmo tiacutetulo de outras obras do

autor ou ainda do mesmo gecircnero foi registrada informalmente e pelo programa de

controle da proacutepria biblioteca Isso eacute um indiacutecio de que a conduta do professor

durante e apoacutes a contaccedilatildeo de histoacuteria parece fomentar o interesse do aluno em ir agrave

busca de outras obras literaacuterias

De modo geral podemos concluir que a apresentaccedilatildeo de obras literaacuterias por

meio da contaccedilatildeo eacute uma estrateacutegia que estimula a criatividade mobilizando a

imaginaccedilatildeo do leitor

Como afirma Scliar (apud QUADROS ROSA 2009 p25) ldquoContar e ouvir

histoacuterias estaacute embutido em nosso genoma eacute algo que acompanha a humanidade

desde haacute muito tempordquo Existe um fio muito fino que liga quem conta a quem ouve

uma histoacuteria mas ningueacutem sabe ao certo qual o poder que uma histoacuteria possui

105

quando contada Sabemos que ela possibilita a caminhada pelo desconhecido e

que aleacutem de transformar desperta no ouvinte a sensibilidade Como atesta Sisto

(2005 p130) quem ouve uma histoacuteria ldquo[] deixa-se invadir oferece sua boca como

bauacute seus olhos como receptaacuteculo seu corpo como relicaacuteriordquo ou seja o ouvinte se

transforma no personagem mais precioso da contaccedilatildeo de histoacuterias

Nos rastros das histoacuterias contadas o professor-contador teraacute compartilhado

uma legiatildeo de palavras com outros coraccedilotildees causando infinitos efeitos em quem o

escuta E no brincar com a voz e o corpo o professor-contador vai equilibrando-se

nas palavras e nas riquezas que a histoacuteria presenteia envolvendo o ouvinte em idas

e vindas a outros mundos espaccedilos dos quais de certo natildeo hesitaratildeo em voltar

Foram trecircs meses de trocas e aprendizagens na instituiccedilatildeo em que

desenvolvemos a pesquisa Desses encontros foi possiacutevel demonstrar a contaccedilatildeo

de histoacuteria como mais uma estrateacutegia fundamental na formaccedilatildeo do leitor garantindo-

se com isso o enriquecimento do processo educacional sob uma perspectiva que

valoriza a constituiccedilatildeo de sujeitos criacuteticos e reflexivos Isso porque as narrativas

orais especialmente as que tecircm por suporte a leitura de textos literaacuterios como foi o

caso deste estudo condensam em si caminhos plurissignificativos para a leitura e

compreensatildeo de si e do mundo

Nesta pesquisa foi possiacutevel entender pelo menos parcialmente como satildeo

tecidas as relaccedilotildees dos alunos com a leitura por meio das praacuteticas desenvolvidas

pelos professores como contadores de histoacuterias

Os resultados e as anaacutelises foram apresentados natildeo como resultados finais

sobre a temaacutetica mas como uma exemplificaccedilatildeo de um estudo no campo Outros

sem duacutevida satildeo necessaacuterios Esperamos que a leitura do presente relato instigue a

quem se disponha a investigar em situaccedilatildeo de campo esta temaacutetica a ultrapassar as

limitaccedilotildees que neste se fazem presentes decorrentes algumas delas por exemplo

da pesquisadora ser professora na instituiccedilatildeo e ter desempenhado o duplo papel de

pesquisadora e contadora de histoacuterias Entretanto muitos satildeo os que defendem o

professor como pesquisador de sua praacutetica por considerarem que essa dupla funccedilatildeo

gera efeitos na sua formaccedilatildeo profissional na medida em que o leva a analisar e

refletir sobre seus proacuteprios fazeres

106

Um fato desde a proposiccedilatildeo deste estudo foi assumindo a forma de

desafio ao qual futuramente pretendemos responder as razotildees que levam

professores de 5ordf 6ordf 7ordf e 8ordf seacuterie a se afastarem do trabalho com as narrativas

orais

Defendemos ao longo deste relato o poder da linguagem e da leitura para a

constituiccedilatildeo subjetiva e cidadatilde de nossos alunos Concordamos por exemplo com

Benveniste (1976 p 27) quando afirma ldquoO homem sentiu sempre ndash e os poetas

frequumlentemente cantaram ndash o poder fundador da linguagem que instaura uma

realidade imaginaacuteria anima as coisas inertes faz ver o que ainda natildeo eacute traz de

volta o que desapareceurdquo e com Manguel (1997 p 20) ao dizer que ldquoTodos lemos a

noacutes e ao mundo agrave nossa volta para vislumbrar o que somos e onde estamos Lemos

para compreender ou para comeccedilar a compreender Natildeo podemos deixar de ler

Ler quase como respirar eacute nossa funccedilatildeo essencialrdquo Natildeo nos esqueccedilamos poreacutem

das palavras quase de advertecircncia de Zilberman (2002 p 21) quando pondera ldquoa

leitura proposta pela escola soacute se justifica se exibir um resultado que estaacute aleacutem

delardquo

Constatou essa autora que ldquo[] em depoimentos de escritores sobre suas

leituras de infacircncia verifica-se que sua atitude perante os livros natildeo coincide com as

expectativas da escola e vice-versa a escola natildeo lhes oferece o modelo desejado

de aproximaccedilatildeo aos textos literaacuteriosrdquo (ZILBERMAN 2002 p21)

Se isso ainda acontece a escola natildeo estaacute desempenhando uma das suas

funccedilotildees a de ensinar a ler Como argumentamos anteriormente compete ao

professor de quaisquer disciplinas ensinar a ler inclusive esses tipos de textos

podendo fazecirc-lo demonstrando ldquoao aluno modos de se envolver com esse objeto

[texto] mobilizando os seus saberes memoacuterias sentimentos para assim

compreendecirc-lordquo (KLEIMAN 2002 p 28)

O estudo que desenvolvemos testando o uso da estrateacutegia da contaccedilatildeo de

histoacuterias literaacuterias para a formaccedilatildeo de leitores demonstrou essa mobilizaccedilatildeo por

parte dos alunos- participantes O desafio que se foi impondo ao longo da execuccedilatildeo

deste estudo e jaacute anunciado parece importante que seja enfrentado com uma ou

mais pesquisas

107

Sob o tiacutetulo Entre Vozes e Silecircncios a Arte de Escuta na seccedilatildeo 3 do

primeiro capiacutetulo deste trabalho discorremos sobre a importacircncia da escuta

Iniciamos lembrando as ponderaccedilotildees de Larrosa (2004) quanto agrave inexistecircncia nos

curriacuteculos escolares de uma disciplina que trabalhe e ensine o aprendizado da

escuta Ensina-se um pouco de tudo mas o ensino da escuta eacute ignorado Cobrado

frequentemente poreacutem relacionado a questotildees disciplinares O silecircncio em sala de

aula se constitui na maioria das vezes em um indiacutecio de ordem poreacutem nele se

institui o apagamento de outras vozes e natildeo como condiccedilatildeo para aprender a viver

juntos conhecendo e respeitando as diferenccedilas como sugeriu Tedesco (2011)

O uso da estrateacutegia de contaccedilatildeo de histoacuterias possibilita essa e outras

aprendizagens entretanto quando utilizada em nossas escolas acontece apenas

nas seacuteries iniciais da escolarizaccedilatildeo formal

Concluiacutemos indicando a necessidade de se valorizar as narrativas orais e

essas em nossa opiniatildeo natildeo deveriam ficar restritas agrave contaccedilatildeo de histoacuterias Outros

espaccedilos-tempos como os criados por sessotildees de teatro encontros literaacuterios rodas

de conto apenas para citar alguns poderiam ser criados e passarem a ser rotina em

nossas escolas Transcrevemos na paacutegina seguinte o poema de Carlos Drummond

de Andrade que ressalta a importacircncia porque natildeo dizer maacutegica da leitura

108

A palavra A palavra A palavra A palavra maacutegicamaacutegicamaacutegicamaacutegica Certa palavra dorme na sombra

de um livro raro

Como desencantaacute-la

Eacute a senha da vida

a senha do mundo

Vou procuraacute-la

Vou procuraacute-la a vida inteira

no mundo todo

Se tarda o encontro se natildeo a encontro

natildeo desanimo

procuro sempre

Procuro sempre e minha procura

ficaraacute sendo

minha palavra

VtUumlAumlEacuteaacute WUumlacircAringAringEacuteCcedilw wx TCcedilwUumltwx

109

REFEcircRENCIAS

ABRAMOVICH F Literatura infantil gostosuras e bobice 5 ed Satildeo Paulo Scipione 2004 ABREU M Quem natildeo lecirc e natildeo escreve da vida pouco desfruta poreacutem In_________ Estado de Leitura Campinas Mercado de LetrasAssociaccedilatildeo de Leitura do Brasil 1999 (Coleccedilatildeo Leituras no Brasil) ALLEBRANDT LI FEIL IS FRANTZLM O valor da literatura na sala de aula e na vida In ________ O tecer da linguagem no cotidiano escolar reflexotildees sobre o ensino e a aprendizagem da linguagem nas seacuteries iniciais do ensino fundamental 2 ed Ijuiacute Rio Grande do Sul UNIJUIacute 1999 p 83-102 ALVES R A menina e o paacutessaro encantado 17 ed Satildeo Paulo Loyola 1999 __________ Escutatoacuteria A casa de Rubem Alves Disponiacutevel em lthttpwwwrubemalvescombrescutatoriohtmgt Acesso em 26 de abril de 2009 ALVES-MAZZOTTI A J O planejamento da pesquisa qualitativa em educaccedilatildeo Cadernos de Pesquisa Satildeo Paulo n 77 p53-61 maio 1991 ANDRADE C D A palavra maacutegica Disponiacutevel em lthttpwwwportalsaofranciscocombralfacarlos-drumonda-palavra-magicaphpgt Acesso em 15 de abril de 2011 BAJARD E Ler e dizer compreensatildeo e comunicaccedilatildeo do texto escrito 2 reeimp Satildeo Paulo Cortez 1994 BARRETOS S L M et al Literatura infanto-juvenil novos tempos Revista Akroacutepolis Umuarama v 12 ndeg 3 julset 2004 Disponiacutevel em lt httprevistasuniparbrakropolisarticleviewFile416381gt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 BARROS M H T C SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo FA 2006

110

BORTOLIN S A leitura e o prazer de estar na biblioteca escolar In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 65-72 BASTOS M H C O diaacuterio de Ceciacutelia de Assis Brasil (1916-1928) praacuteticas de leitura de uma moccedila gauacutecha In MIGNOT AC V BASTOS MHC CUNHA MTS (Org) Refuacutegios do Eu Educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis 2000 p 145-157 ___________ CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 145- 157 BATISTA A A G Os(As) professores(as) satildeo lsquonatildeo-leitoresrsquo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 23-60 BAUER M W GASKELL G (Orgs) Pesquisa qualitativa com texto imagem e som um manual praacutetico Petroacutepolis Vozes 2002 BENJAMIN W O narrador Consideraccedilotildees sobre a obra de Nicolai Leskov In _________ Magia e teacutecnica arte e poliacutetica ensaios sobre literatura e histoacuteria da cultura Satildeo Paulo Brasiliense 7 ed 1994 p 197-221 BENVENISTE E Problemas de linguumliacutestica geral Satildeo Paulo Cia Ed Nacional Edusp 1976 BERGER P L LUCKMAN T A construccedilatildeo social da realidade - tratado de sociologia do conhecimento Petroacutepolis (RJ) Vozes 1999 BORDIEU P A leitura uma praacutetica cultural (debate entre Pierre Bordieu e Roger Chartier) In CHARTIER R(org) Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 229-254 ___________ CHARTIER R A leitura uma praacutetica cultural In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 BRASIL MINISTEacuteRIO DA EDUCACcedilAtildeO Secretaria de Educaccedilatildeo Fundamental Paracircmetros Curriculares Nacionais 1ordf a 4ordf seacuterie Brasiacutelia SEFMEC 1997

111

BRITO L P L Leitor interditado In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 61-78 BRZEZINSKI I Pesquisa sobre formaccedilatildeo de profissionais da educaccedilatildeo no GT8Anped travessia histoacuterica Revista brasileira de pesquisa sobre formaccedilatildeo docente Satildeo Paulo v 1 n 1 p 71-94 2009 Disponiacutevel em lthttpformacaodocenteautenticaeditoracombrgt Acesso em 15 de maio de 2010 BUSATTO C Contar e encantar pequenos segredos da narrativa Petroacutepolis RJ Vozes 2003 CAMPBELL J Os primeiros contadores de histoacuterias Histoacuteria amp Antropologia 2005 Disponiacutevel em httpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdf gt Acesso em 2 de fevereiro de 2010 CARDOSO M M A bruxa que roubou o sol 4 ed Satildeo Paulo FTD 1999 CHARTIER A M HEacuteBRARD J Discursos sobre a leitura 1880-1980 Satildeo Paulo Aacutetica 1995 CHARTIER R Praacuteticas da Leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 COELHO B Contar histoacuterias uma arte sem idade Satildeo Paulo Aacutetica 1986 COELHO N N Literatura infantil teoria anaacutelise didaacutetica Satildeo Paulo Moderna 2000 COENTROV S A arte de contar histoacuterias e letramento literaacuterio caminhos possiacuteveis Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Linguiacutestica Aplicada) ndash Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2008 196f COLELLO S M G Educaccedilatildeo e intervenccedilatildeo escolar In Revista Internacional drsquoHumanitats Departamento de Filosofia e Ciecircncias da Educaccedilatildeo FEUSP Departamento de Ciegravences de lrsquoAntiguitati de lrsquoEdat Mitjana Universitati Autogravenoma de Barcelona Editora Mandruvaacute Satildeo Paulo Barcelona n 4 p 47-56 Janeiro 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwhottoposcomgt Acesso em 14 de dezembro de 2010

112

COSTA S G A Oralidade da Linguagem In______ Oralidade no ensino ndash Atividades de sugestotildees FALEUFMG Belo Horizonte 2004 p 10-12 DANSA L O segredo da lagartixa Satildeo Paulo FTD 2000 DONATO D Recontando histoacuteria a leitura e visatildeo de mundo do preacute-escolar Dissertaccedilatildeo (Mestrado em Educaccedilatildeo) ndash Universidade Federal de Satildeo Carlos Satildeo Carlos 2005 132f ECO U Lector in faacutebula a cooperaccedilatildeo interpretativa nos textos narrativos Satildeo Paulo Perspectiva AS 1986 EVANGELISTA A A M A leitura literaacuteria e os professores condiccedilotildees de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo In MARINHO M SILVA C S R da Leituras do professor Campinas SP Mercado de Letras 1998 p 79-91 FRANK A O diaacuterio de Anne Frank Ediccedilatildeo integral 28 ed Trad CALADO Ivanir A Rio de Janeiro Record 2010 FREIRE J AT Os saberes da literatura e a formaccedilatildeo de leitores Revista entre letras Araguaiacutena (Tocantins) n 1 p191-208 2010 Disponiacutevel em lt httpwwwuftedubrpgletrasrevistacapitulostexto_10pdf gt Acesso em 10 de janeiro de 2011 FREIRE P A importacircncia do ato de ler In______ A importacircncia do ato de ler em trecircs artigos que se completam Satildeo Paulo Autores AssociadosCortez 1989 p11-24 ________ Carta de Paulo Freire aos professores In______ Ensinar aprender leitura do mundo leitura da palavra Estudos Avanccedilados Satildeo Paulo v15 n42 2001 p 259-268 ________ Da leitura do mundo agrave leitura da palavra (Entrevista concedida a Ezequiel Theodoro da Silva) Leitura Teoria e Praacutetica Campinas 1982 p 3-9 FREITAS H JANISSEK R Anaacutelise leacutexica e anaacutelise de conteuacutedo teacutecnicas complementares sequecircnciais e recorrentes para a exploraccedilatildeo de dados qualitativos Porto Alegre Sphinx Sagra Luzzatto 2000 FOUCAMBERT J A leitura em questatildeo Porto Alegre Artmed 1994

113

GALVAtildeO A M de O Folhetos de cordel experiecircncias de leitoresouvintes (1930-1950) In PAIVA A et al Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 87-98 GARCIA A Em busca das escolas na escola por uma epistemologia das balas sem papel Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 28 n 98 2007 p 129-147 GERALDI J W (Org) O texto na sala de aula 2 ed Cascavel Assoeste 1985 GIMENO-SACRISTAacuteN J A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel Ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Portoed 2008 p 85-109 ______________ A importacircncia de desescolarizar a leitura nas sociedades da informaccedilatildeo In ________ A educaccedilatildeo que ainda eacute possiacutevel ensaios sobre a cultura para a educaccedilatildeo Porto Porto 2008 p 87-93 GIORDANO R Da infacircncia (de)formada agrave formaccedilatildeo de professores Excursos In SANTOS A R P FARIAS JUacuteNIOR R S de GIORDANO R (Re)Tratos da infacircncia e da educaccedilatildeo Beleacutem Assai 2009 p 67-96 GONZAacuteLEZ REY F L Pesquisa qualitativa em psicologia caminhos e desafios Satildeo Paulo Thomson Pioneira 2002 GRIGOLETTO M A constituiccedilatildeo do sentido em teorias de leitura e a perspectiva desconstrutivista In ARROJO R (Org) O signo desconstruiacutedo implicaccedilotildees para a traduccedilatildeo a leitura e o ensino Campinas SP Pontes 1992 p 93-97 HEacuteBRARD J O autodidatismo exemplar Como Valentin Jamerey-Durval aprendeu a ler In CHARTIER R Praacuteticas da leitura 2 ed Satildeo Paulo Estaccedilatildeo Liberdade 2001 p 35-73 HELD J O imaginaacuterio no poder as crianccedilas e a literatura fantaacutestica Satildeo Paulo Summus 1980 HOUAISS A Dicionaacuterio eletrocircnico Houaiss da liacutengua portuguesa Instituto Antocircnio Houaiss Objetiva 2009

114

KANAAN D A-B Escuta e subjetivaccedilatildeo a escritura de pertencimento de Clarice Lispector Casa do Psicoacutelogo 2002 KLEIMAN A B Contribuiccedilotildees teoacutericas para o desenvolvimento do leitor teorias de leitura e ensino In KLEIMAN A B ROSINF T BECKER P (Orgs) Leitura e animaccedilatildeo cultural Repensando a escola e a biblioteca (Ediccedilatildeo biliacutengue) Passo Fundo (RGS) UPF 2002 p 27-68 ____________ Oficina de leitura teoria e praacutetica 10 ed Campinas Pontes 2004 LACERDA L Poacutesfacio A histoacuteria da leitura no Brasil formas de ver e maneiras de ler In ABREU M(Org) Leitura histoacuteria e histoacuteria da leitura Campinas Mercado de Letras 1999 p 33-47 LAJOLO M ZILBERMAN R Literatura infantil brasileira histoacuteria e histoacuterias 6 ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 __________ O texto natildeo eacute pretexto In ZILBERMAN R (org) Leitura em crise na escola as alternativas do professor 6 ed Porto Alegre Mercado Aberto 1986 LARROSA J Linguagem e educaccedilatildeo depois de Babel Belo Horizonte Autecircntica 2004 __________ Pedagogia profana danccedila piruetas e mascaradas 4 ed Belo Horizonte Autecircntica 2003 __________ Literatura experiecircncia e formaccedilatildeo In COSTA M V (Org) Caminhos investigativos novos olhares na pesquisa em educaccedilatildeo 2 ed Rio de Janeiro DPampA 2002a p133-160 __________ Notas sobre a experiecircncia e o saber de experiecircncia Revista brasileira de educaccedilatildeo Espanha n 19 p 20-28 JanFevMarAbr 2002b LEMINSKY P Desmontando o frevo Cantatas literaacuterias 3 ed Satildeo Paulo Brasiliense 1983 p 21

115

LUumlDKE M e ANDREacute MDA Pesquisa em educaccedilatildeo abordagens qualitativas Satildeo Paulo EPU 1986 MACHADO A M Ah cambaxirra se eu pudesse Satildeo Paulo FTD 2003 __________ Beto o carneiro Rio de Janeiro Salamandra 1993 ___________ Menina bonita do laccedilo de fita 3ed Satildeo Paulo Aacutetica 1999 MANGUEL A Uma histoacuteria da leitura Traduccedilatildeo de Pedro Maia Soares 2 ed Satildeo Paulo Companhia das Letras 1997 MARCUSHI L A Leitura e compreensatildeo de texto falado e escrito como ato individual de uma praacutetica social In ZILBERNAM R SILVA E S Leitura perspectivas interdisciplinares Satildeo Paulo Aacutetica1998 p 38-57 MARINHO M Proacute-Leitura perspectivas interdisciplinares a formaccedilatildeo do professor Anais do 7deg encontro de extensatildeo da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2004 Disponiacutevel em lt httpwwwufmgbrproexarquivos7EncontroEduca161pdfgt Acesso em 8 de marccedilo de 2011 MARTINS A Interlocuccedilatildeo do livro didaacutetico com a literatura In PAIVA A MAR-TINS A PAULINO G VERISIANI Z Literatura e letramento espaccedilos suportes e interfaces O jogo do livro Belo Horizonte AutecircnticaCEALEFAEUFMG 2003 p 147- 153 MARTINS E BORTOLIN S O bibliotecaacuterio escolar lsquoafinandorsquo o foco na leitura In SILVA R J da BORTOLIN S Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006 p 33-41 MELO M J Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In BARZOTTO V H (org) Estado de leitura Campinas Mercado de letras 1999 p 61-94 MELLO J M de Os meios de comunicaccedilatildeo de massa e o haacutebito de leitura In MIGNOT A C V BASTOS MH C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 61-94

116

MELLOUKI MrsquoH GAUTHIER C O professor e seu mandato de mediador herdeiro inteacuterprete e criacutetico Educaccedilatildeo amp Sociedade Campinas v 25 n 87 p 537-571 2004 MOLLIER J Y A histoacuteria do livro e da ediccedilatildeo um observatoacuterio privilegiado do mundo mental dos homens do seacuteculo XVIII ao seacuteculo XX Varia histoacuteria Belo Horizonte v25 n 42 p 521-537 2009 MORAIS M A C de Vida intiacutema das moccedilas de ontem um encontro com Sophia Lyra In MIGNOT ACV BASTOS M H C CUNHA M T S (Orgs) Refuacutegios do eu educaccedilatildeo histoacuteria escrita autobiograacutefica Florianoacutepolis Mulheres 2000 p 109- 122 MORAIS J A arte de ler Satildeo Paulo UNESP 1996 MOYERS B Os primeiros contadores de histoacuterias Disponiacutevel em lthttpwwwbotucatuspgovbrEventos2007contHistoriasartigososPrimeirosContadoresHistpdfgt Acesso em 25 de janeiro de 2010 NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social Sciences Maringaacute v 22 n 1 p189-193 2000 ONG W Oralidade e cultura escrita a tecnologizaccedilatildeo da palavra Campinas SP Papirus 1998 PAIM E A PRIGOL V Mediaccedilatildeo e formaccedilatildeo de leitores In CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 17 2009 Campinas Anais Campinas SP ALB 2009 P1-7 Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais17txtcompletossem01COLE_2398pdfgt Acesso em 10 de agosto de 2010 PARANAacute Secretaria de Estado da Educaccedilatildeo Diretrizes curriculares Disponiacutevel em httpwwwdiaadiaeducacaoprgovbrdiaadiadiadiamodulesconteudoconteudophpconteudo=98 Acesso em 15 de marccedilo de 2009 PATRINI M de L A renovaccedilatildeo do conto emergecircncia de uma praacutetica oral Satildeo Paulo Cortez 2005

117

PAZ M S Oralidade na escola e formaccedilatildeo de leitor Revista Boitataacute Londrina 03 janjun2007 p1-21 Disponiacutevel em lthttpwww2uelbrrevistasboitataindexphpcontent=volume_3_2007htmgt Acesso em 6 de junho de 2009 PEREIRA C A R RIBEIRO GM F Da escuta compreensiva consideraccedilotildees sobre o fenocircmeno do ouvir em um possiacutevel diaacutelogo entre Martin Heidegger e Heraacuteclito de Eacutefeso In____________ ldquoExistecircncia e Arterdquo- Revista Eletrocircnica do Grupo PET - Ciecircncias Humanas Esteacutetica e Artes da Universidade Federal de Satildeo Joatildeo Del-Rei - Ano V - Nuacutemero V ndash janeiro a dezembro de 2010 PERRENOUD P Ofiacutecio de aluno e sentido do trabalho escolar Porto Porto Editora 1995 PERROTTI E A leitura como fetiche In BARZOTTO Vadir H Estado de leitura Campina SP Mercado de Letras 1999 p 125-147 ____________Confinamento cultural infacircncia e leitura Satildeo Paulo Summus 1990 PULLIN E M M P PUumlSCHEL S U A pesquisa sobre alfabetizaccedilatildeo leitura e escrita a partir dos trabalhos e pocircsteres apresentados na ANPEd da 23ordf agrave 26ordf Reuniatildeo Anual In ANPEd Sul- Seminaacuterios de Pesquisa em Educaccedilatildeo da Regiatildeo Sul Anais Curitiba-PR 2004 v 1 p 1-10 QUADROS D R V M CD Formar Leitores eacute um desafio para a escola Revista Chatildeo da Escola n 8 2009 Disponiacutevel em lthttpissuucomsismmacdocsrevista_chao_08 gt Acesso em 5 de marccedilo de 2011 REYZAacuteBAL M V Comunicaccedilatildeo oral e sua didaacutetica Bauru (SP) EDUSC 1999 REZENDE L A Leitura na graduaccedilatildeo para apalpar as intimidades do mundo In ______ (org) Leitura e visatildeo de mundo peccedila de um quebra-cabeccedila Londrina EDUEL 2007 p 1-11 RIBEIRO M A H W Em busca de experiecircncias de leitura In CECCANTINI J L (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 390-406

118

ROCKWELL E La lectura como praacutectica cultural conceptos para el estudio de los libros escolares Educaccedilatildeo e pesquisa Satildeo Paulo v 27 n 1 p 11-26 jun 2001 Disponiacutevel em lthttpwwwscielobrscielophpscript=sci_arttextamppid=S1517-97022001000100002amplng=ptampnrm=isogt Acesso em 6 julho de 2010 SAINSBURY S SCHAGEN I V Attitudes to reading at ages nine and eleven Journal of research in reading n 27 p 373-386 2004 SANTOS B de S A criacutetica da razatildeo indolente contra o desperdiccedilo da experiecircncia Satildeo Paulo Cortez 2000 SILVA E C Individualidades e subjetividades em foco Boletim Centro de Letras e Ciecircncias humanas UEL Londrina n 57 p 89-112 - juldez 2009 SILVA E T da Leitura na escola e na biblioteca Campinas Papirus 1986 SILVA J R A hora do conto na escola paradoxos e desafios In BARROS M HTC SILVA R J BORTOLIN S Leitura mediaccedilatildeo e mediador Satildeo Paulo Ed FA 2006a p 89-106 ___________ Formar leitores na escola In SILVA RJ BORTOLIN S (Org) Fazeres cotidianos na biblioteca escolar Satildeo Paulo Polis 2006b p 73-78 SILVA M M MONTEIRORC Contaccedilatildeo de histoacuteria a importacircncia do papel das narrativas luacutedicas no ensino- aprendizagem 2007 Disponiacutevel em lthttpwwwfflchuspbrdlcvlportpdfpost11pdfgt Acesso em 1 de outubro de 2010 SMITH F Leitura significativa 3 ed Porto Alegre Artmed 1999 SISTO C A literatura frequenta a escola Mas quem conta as histoacuterias In PAROLIN I C H (Org)Sou professor A formaccedilatildeo do professor formador Curitiba Positivo 2009 p 67-71 ___________Textos e pretextos sobre a arte de contar histoacuterias 2 ed Curitiba Ed Positivo 2005 SOARES M B Letramento um tema em trecircs gecircneros Belo Horizonte Autecircntica 1998

119

SMOLKA A L B A atividade da leitura e o desenvolvimento das crianccedilas In ______ SILVA E T da BORDINI M da G ZILBERMAN R Leitura e desenvolvimento da linguagem Porto Alegre Mercado Aberto 1989 p 23-41 TEDESCO JC Los desafiacuteos de la educacioacuten baacutesica en el siglo XXI Revista Ibe-roamericana de Educacioacuten Madrid n 55 p 31-47 2011 TEIXEIRA E Competecircncias transversais para o oficio de aluno metodologia acadecircmica em questatildeo ou quando estudar ler e escrever faz a diferenccedila Trilhas Beleacutem v1 n2 p56-65 2000 TORRES S M TETTAMANZY A L L Contaccedilatildeo de histoacuteria resgate da memoacuteria e estimulo agrave imaginaccedilatildeo Revista eletrocircnica de criacutetica e de teorias da literatura Sessatildeo aberta Porto Alegre v 4 n 1 p 1-8 2008 TURCHI M Z O esteacutetico e o eacutetico na literatura infantil In CECCANTINI JL (Org) Leitura e literatura infantil memoacuteria de Gramado Satildeo Paulo Cultura Acadecircmica Assis SP ANEP 2004 p 38-44 VILELA R A T O lugar da abordagem qualitativa na pesquisa educacional retrospectiva e tendecircncias atuais Perspectiva Florianoacutepolis v 21 n 2 p 431-466 2003 VYGOTSKY L S A preacute-histoacuteria da escrita In ______ A formaccedilatildeo social da mente Satildeo Paulo Martins Fontes 1984 p 119-134 __________ Pensamento e palavra In ______ A construccedilatildeo do pensamento e da linguagem Satildeo Paulo Martins Fontes 2001 p 395- 486 VIEIRA M C T Leitura significativa prazer dever ou relevacircncia social no ensino superior CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL 16 2007 Campinas Anais Campinas SP ALB Disponiacutevel em lthttpwwwalbcombranais16sem12pdfsm12ss06_07pdfgt Acesso em 17 de julho de 2009 WITTER G P Influecircncias socioculturais na leitura anaacutelise do ASIRR (19891994) Transinformaccedilatildeo Campinas v 8 n 3 p 66-80 1996

120

YUNES E PONDEacute M G Leitura e leituras da literatura infantil Satildeo Paulo FTD 1988 ZILBERMAN R A Literatura infantil na escola 6 ed Satildeo Paulo Global 1987 __________ Formaccedilatildeo do leitor na histoacuteria da leitura In PEREIRA V W (Org) Aprendizado da leitura ciecircncias e literatura no fio da histoacuteria Porto Alegre EDIPUCRS 2002 p 15-29 ZUMTHOR P A letra e a voz a literatura medieval Satildeo Paulo Companhia das Letras 1993 ___________ A presenccedila da voz In_________ Escritura e nomadismo Satildeo Paulo Ateliecirc Editorial 2005 p 61-102 ___________ Introduccedilatildeo a poesia oral Satildeo Paulo Hucitec 1997

121

APEcircNDICES

122

APEcircNDICE A

QUESTIONAacuteRIO PARA SELECcedilAtildeO DOS ENTREVISTADOS

1 Na sua concepccedilatildeo o que eacute um ldquobomrdquo e um ldquomaurdquo leitor

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

2 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquobonsrdquo leitores Justifique sua escolha

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3 Escolha dois alunos que vocecirc considera ldquomausrdquo leitores Justifique sua escolha

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

123

APEcircNDICE B

TERMO DE COMPROMISSO

Sr Diretor

XXXXXXXXXX

Eu Ana Claudia Ramos aluna regularmente matriculada no Curso de

Mestrado em Educaccedilatildeo da Universidade Estadual de Londrina com o nuacutemero

200910180042 e sob a orientaccedilatildeo da Profa Dra Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin

venho solicitar o apoio desta instituiccedilatildeo para o desenvolvimento das atividades de

pesquisa que subsidiaraacute a produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS

DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA

FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE ALUNOS LEITORESrdquo Comprometo-me a

socializar com toda a equipe desta instituiccedilatildeo bem como os demais membros da

comunidade os resultados da pesquisa realizada bem como seu produto final que

se constitui na dissertaccedilatildeo de Mestrado

Londrina ____de _______ de 20___

__________________

Ana Claacuteudia Ramos

Mestranda em Educaccedilatildeo - UEL

124

TERMO DE AUTORIZACcedilAtildeO

Eu ___________________________________________________ diretor do

Coleacutegio XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX aceito receber a mestranda Ana

Claudia Ramos para desenvolver as atividades de pesquisa que subsidiaraacute a

produccedilatildeo da Dissertaccedilatildeo de Mestrado ldquoOS DECORRENTES DA CONTACcedilAtildeO DE

HISTOacuteRIAS COMO UMA ESTRATEacuteGIA FUNDAMENTAL NA FORMACcedilAtildeO DE

ALUNOS LEITORESrdquo no periacuteodo de 26102009 agrave 10122009

Londrina ___ de______________ de 20___

_____________________________________________

Diretor XXXXXXXXXX

125

APEcircNDICE C

CARTA DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DE PESQUISA

Eu Ana Claudia Ramos discente do Curso de Mestrado em

Educaccedilatildeo da UEL-Universidade Estadual de Londrina pretendo desenvolver uma

pesquisa que tem como objetivo investigar alguns dos efeitos das narrativas orais

ou seja os decorrentes da contaccedilatildeo de histoacuterias como uma estrateacutegia fundamental

para a formaccedilatildeo de alunos-leitores A participaccedilatildeo dos alunos desta instituiccedilatildeo

auxiliaraacute nos levantamentos de dados e natildeo traraacute qualquer benefiacutecio direto para a

mesma mas proporcionaraacute um melhor conhecimento a respeito do tema

pesquisado Somente com esta pesquisa seraacute possiacutevel que os estudos sejam

satisfatoacuterios

Os dados para o estudo seratildeo coletados atraveacutes de uma intervenccedilatildeo

ou seja por meio de sessotildees de contaccedilatildeo de histoacuteria e entrevista com um grupo

focal ambas seratildeo gravadas A coleta de dados seraacute realizada pela pesquisadora

responsaacutevel nas dependecircncias da proacutepria instituiccedilatildeo e sua aplicaccedilatildeo natildeo acarreta

riscos aos sujeitos e nem prejuiacutezo no andamento das atividades de sala

Este material seraacute posteriormente analisado garantindo-se sigilo

absoluto sobre as gravaccedilotildees sendo resguardado o nome dos participantes bem

como da instituiccedilatildeo

A divulgaccedilatildeo do trabalho teraacute finalidade acadecircmica esperando

contribuir para um maior conhecimento do tema estudado Aos participantes cabe o

direito de retirar-se do estudo em qualquer momento sem prejuiacutezo algum

_______________________ ________________________________

Ana Claacuteudia Ramos Universidade Estadual de Londrina

126

APENDICE D

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Pelo presente instrumento que atende agraves exigecircncias legais o(a)

senhor(a)________________________________________________matildee do

aluno(a) _________________________________________apoacutes leitura da CARTA

DE INFORMACcedilAtildeO AO SUJEITO DA PESQUISA ciente dos serviccedilos e

procedimentos aos quais seraacute submetido natildeo restando quaisquer duacutevidas a respeito

do lido e do explicado firma seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO de

concordacircncia em participar da pesquisa proposta

Fica claro que o sujeito de pesquisa ou seu representante legal pode a

qualquer momento retirar seu CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO e

deixar de participar do estudo alvo da pesquisa e fica ciente que todo trabalho

realizado torna-se informaccedilatildeo confidencial guardada por forccedila do sigilo profissional

Natildeo existiratildeo despesas ou compensaccedilotildees pessoais para o participante em

qualquer fase do estudo Tambeacutem natildeo haacute compensaccedilatildeo financeira relacionada agrave

sua participaccedilatildeo Se existir qualquer despesa adicional ela seraacute absorvida pelo

orccedilamento da pesquisa

Caso vocecirc tenha duacutevidas ou necessite de maiores esclarecimentos

pode nos contactar Ana Claudia Ramos pelos telefones 3357023199262223 ou

procurar o Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da

Universidade Estadual de Londrina na Avenida Robert Kock nordm 60 ou no telefone

3371 ndash 2490

Londrina de de

________________________________________

Assinatura do responsaacutevel legal

127

APEcircNDICE E

Toacutepico Guia

As questotildees seratildeo utilizadas como molas propulsoras para iniciar a entrevista

outras questotildees poderatildeo e deveratildeo ser feitas no percurso da conversa

confrontando opiniotildees e vivecircncias

bull Vocecircs acham importante lermos histoacuterias

bull Vocecircs gostam mais de ouvir a professora contando histoacuteria ou ler

sozinho

bull Vocecircs tecircm haacutebito de ouvir e ler histoacuterias em casa

bull Quem costuma contar para vocecircs histoacuterias em casa

bull O que eacute mais interessante ler um livro ou ouvir uma histoacuteria contada

por outra pessoa

bull Vocecircs acham que noacutes aprendemos mais lendo ou ouvindo histoacuterias

Ou aprendemos da mesma forma tanto lendo quanto ouvindo

bull Sua professora tem o haacutebito de contar histoacuteria

bull O que vocecircs sentem ao ouvir a professora contando uma histoacuteria

bull Como seria se sua professora nunca contasse histoacuteria para a sua

turma

bull Vocecircs ficam curiosos em ler novamente a histoacuteria contada pela sua

professora

bull Vocecircs tecircm o habito de retirar livros na biblioteca

bull Vocecircs os retiram por que a professora manda ou porque vocecircs

gostam

bull Quantas vezes vocecircs vatildeo retirar livro na semana

128

bull O que vocecircs acham quando a professora conta histoacuteria sem mostrar o

livro

bull Como que eacute ouvir histoacuteria sem ver as imagens

bull Vocecircs conseguem ou natildeo imaginar os personagens

bull Vocecircs jaacute tinham ouvido esta histoacuteria Vocecircs conhecem alguma histoacuteria

parecida

bull O que vocecircs mais gostam quando a professora (pesquisadora) conta

as histoacuterias

bull Vocecircs acham que eacute importante ouvirmos histoacuterias Por quecirc

bull Hoje estaacute sendo a uacuteltima sessatildeo de contaccedilatildeo de histoacuteria O que vocecircs

acham

bull De todas as histoacuterias contadas quais vocecircs mais gostaram Por quecirc

bull Vocecircs preferem ouvir algueacutem contando histoacuteria ou ler sozinhos a

histoacuterias

Quanto agrave histoacuteria

bull O que mais chamou a atenccedilatildeo na histoacuteria ouvida

bull Se vocecirc pudesse mudar o final da histoacuteria como o faria

bull Se estivesse no lugar do personagem X qual seria sua atitude

129

APEcircNDICE F

SINOPSE DAS HISTOacuteRIAS TRABALHADAS NAS INTERVENCcedilOtildeES

PRIMEIRA SESSAtildeO Menina bonita do laccedilo de fita

O livro narra agrave histoacuteria de um coelhinho branco quer ter uma filha pretinha

como aquela menina do laccedilo de fita Mas ele natildeo sabe como a menina herdou

aquela cor Ele tenta descobrir- atraveacutes da menina- o segredo para ser pretinha

daquele jeito Depois de diversas tentativas ele descobre - atraveacutes da matildee da

menina - e consegui realizar o que tanto desejava

SEGUNDA SESSAtildeO O segredo da lagartixa

Estaacute histoacuteria contada em 28 quadrinhas fala de uma lagartixa anti-social que

vivia num jardim isolada de todos Ela mantinha um segredo guardado em uma

caixinha e este era bonito demais para natildeo ser revelado

TERCEIRA SESSAtildeO Ah cambaxirra se eu soubesse

A histoacuteria conta a faccedilanha de uma ave que tenta impedir que um lenhador

derrube a aacutervore de galho mais bonito onde ela deseja fazer o seu ninho Mas o

lenhador cumpre ordens do capataz que cumpre ordens do baratildeo ateacute chegar ao

imperador Todos afirmam cumprir ordens de seus superiores e tecircm medo de

desobedececirc-los Entatildeo ao enfrentar o temido imperador a cambaxirra ameaccedila sair

por aiacute e pedir ajuda a todo o mundo

130

QUARTA SESSAtildeO Beto o carneiro

O livro narra agrave histoacuteria de um carneirinho chamado Beto que mais parecia um

novelo branco e macio de latilde Beto era rebelde e natildeo gostava de ter que obedecer

sempre sem nunca poder questionar Beto natildeo estava satisfeito em ser quem era

Sonhava e tentava tornar-se bem diferente dos outros carneiros Depois de muitas

tentativas malsucedidas Beto encontra algueacutem muito especial a ovelhinha negra

Memeacutelia E eles descobrem que tecircm muita coisa em comum

QUINTA SESSAtildeO A bruxa que roubou o sol

A histoacuteria se passa eu uma floresta encantada onde viviam animais fadas

duendes e aves Nesta floresta vivia uma bruxa muito malvada e infeliz que decidiu

roubar o sol pois ele era fonte de tanta luz e alegria As fadas perceberam o que

tinha acontecido puseram-se a procurar o Sol Ao encontraacute-lo libertaram-no e tudo

voltou ao normal

SEXTA SESSAtildeO A menina e o paacutessaro encantado

A histoacuteria relata a relaccedilatildeo de amor e amizade de uma menina e um paacutessaro

encantado E para natildeo sofrer a saudade e ausecircncia da separaccedilatildeo do seu melhor

amigo resolveu aprisionaacute-lo em uma gaiola Percebendo que tal atitude foi

acabando com a alegria e o amor que existia entre os dois resolveu libertaacute-lo

131

APEcircNDICE G

FICHA DE OBSERVACcedilAtildeO UTILIZADA NAS SESSOtildeES DE CONTACcedilAtildeO

As anotaccedilotildees foram realizadas a cada 5 minutos

Protocolo orientador para as anotaccedilotildees

Houve interrupccedilatildeo por parte dos alunos para algum questionamento

Houve interrupccedilatildeo externa (direccedilatildeo professores funcionaacuterios)

Houve interrupccedilatildeo por parte da professora

Envolvimento de todos ao ouvir a histoacuterias

Envolvimento de menos da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Envolvimento de mais da metade dos alunos ao ouvir a histoacuteria

Observaccedilotildees

132

ANEXO

133

ANEXO A ndash Formulaacuterio de controle informatizado da biblioteca

  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
  • CONTACcedilAtildeO DE HISTOacuteRIAS
    • Profordf Drordf Elsa Maria Mendes Pessoa Pullin
      • A Deus
          • AGRADECIMENTOS
          • NOVELLI P G A Filosofar eacute olhar para ad-mirar educar eacute atrair o olhar para seduzir Acta Scientiarum Human and Social
Page 9: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 10: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 11: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 12: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 13: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 14: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 15: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 16: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 17: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 18: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 19: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 20: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 21: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 22: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 23: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 24: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 25: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 26: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 27: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 28: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 29: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 30: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 31: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 32: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 33: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 34: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 35: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 36: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 37: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 38: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 39: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 40: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 41: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 42: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 43: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 44: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 45: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 46: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 47: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 48: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 49: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 50: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 51: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 52: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 53: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 54: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 55: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 56: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 57: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 58: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 59: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 60: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 61: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 62: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 63: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 64: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 65: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 66: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 67: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 68: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 69: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 70: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 71: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 72: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 73: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 74: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 75: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 76: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 77: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 78: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 79: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 80: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 81: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 82: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 83: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 84: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 85: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 86: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 87: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 88: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 89: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 90: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 91: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 92: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 93: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 94: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 95: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 96: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 97: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 98: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 99: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 100: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 101: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 102: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 103: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 104: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 105: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 106: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 107: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 108: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 109: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 110: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 111: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 112: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 113: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 114: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 115: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 116: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 117: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 118: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 119: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 120: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 121: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 122: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 123: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 124: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 125: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 126: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 127: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 128: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 129: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 130: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 131: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 132: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 133: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 134: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a
Page 135: CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS - UEL...possíveis decorrentes da contação de histórias para a formação de alunos-leitores, e descobrir se e como o desempenho do professor durante a