O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

download O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

of 295

Transcript of O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    1/295

    OPAPEL DO TRADUTOR

    MA-Scriptie

    Taco Schreij (0437972)

    Orientadores: dr. Cees Koster

    dr. Marian Schoenmakers-Klein Gunnewiek

    Portugese Taal en Cultuur Masterprogramma Vertalen

    Universiteit Utrecht, Nederland

    Setembro de 2009

    Desenho de Mrio de S-Carneiro por Jos de Almada Negreiros

    Introduo da literatura lusfona na lngua neerlandesa entre 1900 e 2008

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    2/295

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    3/295

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    4/295

    NDICE

    Introduo.............................................................................................................................5

    Objectivos desta tese ..........................................................................................................................................5

    A estrutura da tese, perguntas base ..................................................................................................................7

    1 Quadro Terico ................................................................................................................ 11

    1.1 A Teoria dos Campos de Bourdieu e o campo literrio..............................................................................11

    1.2 Um subcampo de traduo? .......................................................................................................................13

    1.3 A editora como gate-keeper of ideas .........................................................................................................15

    1.4 A realizao da publicao de literatura traduzida ...................................................................................17

    1.5 Iniciativa pessoal ........................................................................................................................................20

    2 Definies e a realizao da base dos dados ............. ................ ................ ................ ...... 23

    2.1 Termos usados............................................................................................................................................232.2 A realizao da base dos dados quantitativos............................................................................................23

    2.2.1 O catlogo cumulativo de livros de Brinkman....................................................................................242.2.2 A Bibliografia Neerlandesa Online.......................................................................................................252.2.3 O filtrar dos resultados da base.............................................................................................................252.2.4 Justificao................................................................................................................................................262.2.5 Restries da pesquisa.............................................................................................................................282.2.6 Investigao bibliogrfica a partir de revistas literrias neerlandfonas .........................................29

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida...... ................ ................ ............. ... 31

    3.1 A introduo da literatura lusfona nos Pases Baixos, 1900-2008 ........................................................313.1.1 Literatura lusfona nos Pases Baixos..................................................................................................313.1.2 O campo literrio nos Pases Baixos e a literatura traduzida............................................................33

    3.1.3 Literatura de outras lnguas em traduo...........................................................................................383.2 A comparao com tradues da literatura espanhola e hispano-americana nos Pases Baixos .................40

    3.2.1 Evoluo geral na introduo da literatura hispanfona nos Pases Baixos...................................413.2.2 A literatura portuguesa e brasileira........................................................................................................423.2.3 Literatura contempornea e no-contempornea...............................................................................44

    3.3 Outras explicaes para a evoluo da introduo da literatura lusfona nos Pases Baixos .....................45

    4 Anlise institucional.........................................................................................................47

    4.1 Tradutores..................................................................................................................................................48

    4.2 Autores ......................................................................................................................................................51

    4.3 Editoras .....................................................................................................................................................54

    4.4 Poesia.........................................................................................................................................................55

    4.5 Reedies ....................................................................................................................................................57

    4.6 Resumo.......................................................................................................................................................61

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    5/295

    5 O indivduo como interveniente ............... ............... ................ ................ ............... ......... 63

    5.1 A primeira metade do sculo vinte..............................................................................................................635.1.1 Albert Vigoleis Thelen e Teixeira de Pascoaes ...................................................................................655.1.2 Marcus de Jong.........................................................................................................................................68

    5.1.3 Slauerhoff..................................................................................................................................................695.2 Os tradutores Willemsen e Lemmens.........................................................................................................71

    5.2.1 August Willemsen (1936-2007)..............................................................................................................715.2.2 Harrie Lemmens (1953-) ........................................................................................................................80

    5.3 Fernando Pessoa, Paulo Coelho e Jos Saramago ......................................................................................865.3.1 Fernando Pessoa......................................................................................................................................865.3.2 Paulo Coelho ............................................................................................................................................885.3.3 Saramago...................................................................................................................................................90

    5.4 Agentes literrios........................................................................................................................................91

    Concluses..........................................................................................................................93

    Bibliografia..........................................................................................................................99

    Fontes usadas para a base de dados........ ............... .................. ................. ............. .......... 103

    Anexo 1: Literatura lusfona traduzida para o neerlands .............. ................ ................ . 105

    Anexo 2: Publicaes de e sobre literatura lusfona em revistas literriasneerlandfonas..... ................ ................ ................. ................ ................ ............. ............... 145

    Anexo 3: Diagrama do campo literrio neerlands no fim do sculo vinte .................. ... 173

    Anexo 4: Tabelas do captulo quatro................ ................ ................ ................ ............. ... 175

    Anexo 5: Tabelas de todas as figuras includas na tese............................ ................ ........ 183

    Verso neerlandesa da tese / Nederlandse versie van de scriptie .............. .................. ....191

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    6/295

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    7/295

    -5-

    INTRODUO

    Em Maro do ano 2009 realizou-se em Utreque o festival Pessoa in Nederland

    (Pessoa nos Pases Baixos) . H trinta anos as primeiras tradues do escritor

    Fernando Pessoa, agora de fama mundial, foram publicadas nos Pases Baixos.

    Comeou no ano de 1978, com o lanamento de Gedichten (Poemas) , uma

    compilao de poemas seleccionados, traduzidos e apresentados por August

    Wil lemsen . O fest ival de Ma ro comemo rou Pe sso a dur ante um ms com peas

    teatrais, declamaes de poesia, f i lmes e palestras. Desde as primeiras tradues

    de Willemsen, Fernando Pessoa tem desfrutado de uma popularidade

    extraordinria nos Pases Baixos. Os seus livros tornaram-se grandes sucessos de

    venda e de zenas de autores neer lande ses foram influenci ados pela sua obra,

    como constou da palestra Pessoa herschri jven (reescrever Pessoa) dada por autoresneerlandeses como Rob Schouten, Arjen Duinker e Mark Boog, durante este

    mesmo festival.

    Agora, uma parte substancia l do s neerlandeses tem co nhecime nto da obra

    de Pessoa. Mas como ser com outros autores lusfonos? Quais e que obras

    foram traduzidas, e qual o sucesso destes escritores nos Pases Baixos? que

    em 1984 foi publicada pela ltima vez uma sinopse de tradues neerlandesas de

    literatura lusfona, composta por Venncio (1984). Desde ento muita coisa

    aconteceu nessa rea, mas continua a faltar uma anlise sistemtica desta

    literatura, nos Pases Baixos.

    Objectivos da tese

    Para investigar as tradues neerlandesas de literatura lusfona, em

    primeiro lugar precisarei de completar, actualizar e controlar a sinopse de

    Venncio (1984). Com base num a invest igao bibl iogrfica que ro comp or um a

    lista to completa quanto possvel, de todas as tradues neerlandesas de

    literatura lusfona que foram publicadas no sculo vinte e nos primeiros anos do

    sculo vinte e um. A escolha deste perodo parcialmente arbitrria, pois foi

    influenciada pelo facto de entre 1600 e 1900 terem sado somente seis tradues

    do portugus para o neerlands 1. Alm disso, nos anos 1900-2008 o panorama

    literrio nos Pases Baixos transforma-se em vrios campos. A produo de

    livros aumenta graas a melhores tcnicas de imprensa. Alm de que as editoras

    1Este dado baseia-se em Venncio (1984).

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    8/295

    Introduo

    -6-

    se orientam para a l iteratura internacional e que o interesse por tradues cresce

    fortemente, o interesse pela l iteratura lusfona 2 tambm parece aumentar.

    Depois de reunir os dados quantitativos, procurarei uma explicao para a

    evoluo histrica da introduo da literatura lusfona em traduo neerlandesa.

    Atravs da comp arao de st e trabalho com desenvolvimentos mais gerais no

    panorama literrio neerlands e com a evoluo da produo de tradues tanto

    a um nvel geral como a um nvel mais especfico, espero encontrar semelhanas

    que possam explicar a evoluo da introduo da literatura lusfona nos Pases

    Baixos.

    Em seguida quero, por meio de uma anlise institucional, expor os

    processos que resultam, ou no, na realizao de tradues do portugus. Para

    tal, concentro-me nas principais categorias de intervenientes: tradutores, autores

    originais e editoras.O j mencionado tradutor August Willemsen, que faleceu em 2007,

    provavelmente desempenhou um papel importante aqui. O seu papel na

    importao de literatura lusfona nos Pases Baixos parece ser maior do que

    apenas o de tradutor. Uma queixa comum entre tradutores que no dada a

    devida ateno ao seu trabalho. Observaes crticas sobre uma traduo muitas

    veze s l imitam-se a er ros e leg ibi lida de da tr adu o. O tradutor se nte-se como

    a servio da editora e do autor original; faz o que lhe encarregado e tem pouca

    ou nenhuma influncia sobre o resultado. August Willemsen foi uma excepo.

    No s a sua potica de traduo muito apreciada, tambm os seus

    frequentemente volumosos pre- e posfcios nas suas tradues indicam uma

    influncia no processo editorial que ultrapassa o andamento comum das coisas.

    Outro tradutor cujo nome d nas vistas Harrie Lemmens.

    Durante o meu estudo de Lngua e Cultura Portuguesa e o mestrado em

    Tradu o sur giu a ideia de que sobretudo graas ao entusia smo e infatigvel

    dedicao de Willemsen e outros, que se elevou a literatura lusfona nos Pases

    Baixos a um nvel mais alto. Percebe-se que Willemsen tambm funcionou como

    conselheiro de editores e talvez at tenha sido o precursor de certas realizaesde antologias poticas e publicaes de romances de Portugal e do Brasil . Alm

    disso, deu-me a impresso que editoras, especialmente na fase inicial da maior

    2Sei que normalmente em Estudos Literrios a literatura lusfona considerada como mais que uma s literatura, mas aqui

    utilizo o termo para o conjunto das literaturas lusfonas, sobretudo a portuguesa, a brasileira, a angolana, a moambicana e a

    cabo-verdiana.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    9/295

    Introduo

    -7-

    popularidade da literatura lusfona, arriscaram ao deixar traduzir e produzir

    certos livros, j que era incerto se estes teriam sucesso.

    Depois de ter compilado todos os dados sobre a importao da literatura

    lusfona nos Pases Baixos, investigarei se h um fundo para as presunes

    acima mencionadas e se estas podem ser provadas atravs dos dados colectados e

    de entrevistas com alguns implicados. A questo mais importante aqui se a

    iniciativa e o entusiasmo de um tradutor, editor ou outro interveniente

    desempenharam um papel importante na produo de uma traduo de uma obra

    literria do portugus para o neerlands.

    A estru tur a da tese, pe rgun tas bas eNo captulo um, dou um esboo do quadro terico e no captulo dois defino

    alguns termos usados na tese, explicando como a base de dados para a pesquisa

    foram realizados. Captulos trs, quatro e cinco formam o ncleo da tese e

    podem ser divididos em quatro partes.

    No captulo trs quero dar, atravs de uma pesquisa bibliogrfica, uma

    coleco completa das tradues neerlandesas de literatura lusfona publicadas

    entre 1900 e 2008. Depois, ainda no captulo trs, analiso como esta l iteratura

    foi introduzida nos Pases Baixos e procuro uma explicao para a evoluo

    histrica desta introduo por meio de comparaes com outros dados mais

    gerais. A terceira parte consiste numa anlise institucional dos dados

    apresentados, dos quais, para finalizar, trato vrios intervenientes e instituiesde quem suspeito serem responsveis pessoalmente pela introduo e produo

    de uma parte da literatura lusfona. Esta tese consiste, assim, de quatro

    perguntas base, das quais duas so expandidas com outras perguntas, isto , mais

    detalhadas:

    1 Quais so as obras provenientes da literatura lusfona que foram traduzidas para oneerlands entre 1900 e 2008?

    2 Como que ocorreu a introduo desta literatura segundo uma perspectiva histrica?

    2.1 Quais so os perodos mais notveis na histria da introduo da literaturalusfona nos Pases Baixos?

    2.2 Como que podemos esclarecer a evoluo desta introduo?

    2.3 Essa introduo d-se de uma forma anloga produo geral de livros nos PasesBaixos?

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    10/295

    Introduo

    -8-

    2.4 Podemos comparar essa evoluo com a introduo de uma outra literaturapequena nos Pases Baixos, como a de lngua espanhola?

    3 Que intervenientes (editoras, autores e tradutores) esto envolvidos na introduo destas

    tradues?

    4 H intervenientes que desempenharam um papel pessoal na realizao das tradues?

    4.1 Quais so os tradutores, as editoras e os autores que mais se destacam quandoavaliamos as tradues neerlandesas da literatura lusfona atravs de uma anliseinstitucional?

    4.2

    Houve intervenientes que tiveram uma influncia particular na produo materialde uma ou vrias tradues?

    4.3 Que forma tinha esta influncia e quo fundamental foi?

    Para obter respostas a estas perguntas, primeiramente esboo o quadro

    terico em que esta investigao se realiza. Nas ltimas duas dcadas tm sido

    publicados cada vez mais estudos de Literatura e Estudos de Traduo em que

    empregue uma perspectiva sociolgica. Especialmente estudos sobre a recepo

    abandonaram a abordagem orientada para o produto e deslocaram o seu foco

    para a traduo como um acto social, poltico e cultural. Para responder

    questo de porque que certos tipos de textos, num determinado perodo, foram

    ou no traduzidos, desenvolveram-se teorias sociolgicas muito teis para este

    estudo. Mormente a teoria dos campos, de Pierre Bourdieu, bastante adequadapara estudos sobre uma eventual existncia de iniciativa e entusiasmo pessoal de

    um tradutor e seus eventuais efeitos.

    Para que este estudo seja sistemtico preciso delimitar o corpus. No

    segundo captulo introduzo e defino termos frequentemente usados. Alm disso,

    esclareo como foram obtidos os resultados da pesquisa quantitativa que

    compem a lista bibliogrfica e justif ico a delimitao do corpus.

    A resp osta pr imeir a pergun ta base da da no terceiro captul o, em qu e

    apresento os dados quantitativos. Tambm procuro esclarecer a evoluo da

    introduo de tradues do portugus para o neerlands e comparo-a com a

    produo geral de livros nos Pases Baixos. Em seguida vou a um nvel mais

    especfico de tradues em geral e de tradues de outras l nguas, ou seja,

    l nguas que no o ingls, o alemo ou o francs. Alm disso, quero verif icar se

    h semelhanas entre a introduo nos Pases Baixos da literatura lusfona e da

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    11/295

    Introduo

    -9-

    l iteratura de hispanfona em traduo. Nesse captulo espero dar uma resposta

    segunda pergunta base e as suas perguntas adicionadas.

    Nos quarto e quinto captulos quero obter uma resposta terceira pergunta

    base, por meio de uma anlise institucional. Captulo quatro consiste numa

    anlise das trs categorias de intervenientes mais importantes: tradutores,

    editores e autores. isto o ncleo deste estudo, porque aqui veremos se na

    verdade houve insti tui es e int erveniente s que na imp ortao da l it eratur a

    lusfona desempenharam um papel fora do comum. A partir desta anlise surgem

    realmente vrios tradutores, autores e editoras que valem a pena ser estudados.

    Na ltima parte da tese, captulo cinco, selecciono casos para um estudo

    mais pormenorizado. O primeiro caso um episdio notvel no perodo

    estudado: os anos trinta. Em seguida os dois tradutores neerlands-portugus

    mais importantes, August Willemsen e Harrie Lemmens, sero discutidos e base de entrevistas e dados dos captulos trs e quatro ser verif icado se existe

    influncia de um destes dois tradutores ou de outros pessoas implicadas na

    produo de tradues. Editoras como a De Arbeiderspers, autores originais

    como Fernando Pessoa e outras instituies tambm sero discutidos nesta

    parte. Finalmente, descrevo os dois autores lusfonos com maior sucesso nos

    Pases Baixos, a saber, o vencedor do prmio Nobel, o autor portugus Jos

    Saramago, e o autor brasileiro de best-sellers, Paulo Coelho. A pergunta mais

    importante aqui , como que a introduo das suas obras se desenvolveu e

    quais foram as razes do seu sucesso? Captulos quatro e cinco dedicam-se a

    responder quarta pergunta base.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    12/295

    Introduo

    -10-

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    13/295

    -11-

    1QUADROTERICO

    Esta pesquisa pode incorporar-se nos Estudos Descritivos de Traduo

    (EDT) orientados para a funo de tradues. Este ramo dos Estudos de

    Tradu o de sc reve tradu es no como objecto, mas a sua real iza o e recepo

    na situao sociocultural. No se trata de textos, mas de contextos (Holmes

    2004: 154). Holmes (2004) sugere no seu artigo Wat is vertaalwetenschap (The Name

    and Nature of Translat ion Studies) , publicado pela primeira vez em 1972, que uma

    ateno mais profunda neste ramo poderia levar a Estudos de Traduo

    sociolgicos. Este desenvolvimento tem-se mantido, como provam estudos de,

    por exemplo, Inghelleri (2003 & 2005), Gambier (2006) e Meylaerts (2008) nesta

    rea. Este ltimo publicou em 2006 um ensaio com o ttulo significativo Pour unescio-traduct ion.

    O objecto de estudo, dentro dos Estudos de Traduo, deslocou-se das

    tradues em si para uma viso de trabalho da traduo e de interpretao como

    uma aco social, cultural, econmica e poltica (Cronin 2003). Essa mudana

    estimulou o interesse pela teoria sociolgica de Bourdieu (2005), em que os seus

    conceitos de campo, habitus, capital e i l lusio contriburam para a possibilidade

    de tratar tradutor e intrprete como objecto de estudo. Aplicar a teoria de

    Bourdieu possibilita

    to analyze critically their [translators and interpreters] role as social and cultural agentsactively participating in the production and reproduction of textual and discursivepractices.(Inghilleri 2005: 126)

    1.1 A Teoria dos Campos de Bourdieu e o campo literrio3

    A Teoria dos Ca mpos de Bour di eu (2 005 ) de fin e uma socieda de como um

    sistema de campos dependentes reciprocamente, isto , os campos cultural,

    poltico, econmico e social. Um campo definido como um sistema organizadopor posicionamentos sociais ocupados por indivduos e instituies, em que a

    situao destes indivduos e instituies definida pela natureza do campo (Wolf

    2006: 134). Intervenientes sociais (indivduos e instituies) so construdos pela

    3Aqui baseio-me em: Rees, Kees van & Gilles J. Dorleijn (2006), Wolf (2006) e Van Voorst (1996).

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    14/295

    1 Quadro Terico

    -12-

    sociedade e ao mesmo tempo constroem a sociedade. Em cada campo, agentes,

    conscientemente e inconscientemente, lutam pelos seus posicionamentos e a

    manuteno ou mudana das relaes de poder.

    Restrinjo-me nesta tese ao campo cultural, e neste, especificamente, ao

    campo literrio. O campo cultural construdo pelo conjunto de intervenientes

    que se ocupam da produo, da promoo e do consumo de bens simblicos,

    assim como de prticas no terreno da cultura, da arte, da religio, etc. (Rees &

    Dorleijn 2006: 15-16). Assim, o campo cultural, em cada momento da sua

    existncia, construdo pelo espao dos posicionamentos disponveis naquele

    momento, que agentes apoderaram nas suas carreiras. A caracterstica da

    configurao relacional em que um posicionamento situado, l imita o

    interveniente que o ocupa ou oferece novas oportunidades. O campo literrio

    um subcampo do campo cultural que forma, igual ao campo cultural, um sistemaem movimento contnuo onde os agentes lutam pelos seus posicionamentos.

    Utilizo aqui a definio de Rees & Dorleijn (2006: 15) para o campo

    literrio neerlands, o conjunto de instituies, organizaes e intervenientes

    literrios implicados na produo material e simblica, na distribuio e no

    consumo de tudo ao que se chama l iteratura. A esta coleco pertencem, entre

    outros, editoras, bibliotecas, l ivrarias, crculos de leitores, autores, o pblico

    leitor, Mass Media, rgos de consulta que aconselham organizaes

    governamentais sobre a poltica na arte e instituies que se ocupam da

    produo imaterial ou simblica.

    Num estudo de um certo campo, a aplicao relativamente nova da teoria

    dos campos de Bourdieu pode por, assim, uma chamada anlise institucional. Ou

    seja, um estudo emprico ao campo que se concentra na operao de cada um dos

    acima referidos intervenientes e instituies e nas relaes entre estes agentes.

    Uma anlise institucional permite compreender como um espectro largo de

    factores influencia as actividades de cada um dos actores. Mesmo que um

    investigador se concentre em apenas um dos componentes, a sua viso obrig-lo-

    a dar ateno s relaes entre este e os outros componentes (Rees & Dorleijn2006: 18).

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    15/295

    1 Quadro Terico

    -13-

    1.2 Um subcampo de traduo?

    Ser que til supor um subcampo de tradues ou de literatura traduzida

    dentro do campo literrio? Segundo Wolf (2006: 135) isto impossvel because

    it only exists temporarily, mainly because it lacks institutionalization. Elaprope falar de um translation space, porque sempre situado entre campos

    diferentes como os campos literrio, acadmico, poltico e outros. Bourdieu

    (2005) define um campo como um sistema em que os agentes lutam

    constantemente por uma posio (permanente) nesse campo. Para obter uma

    posio permanente o campo precisa de ter uma estrutura forte com

    posicionamentos que esto disponveis a longo prazo e uma hierarquia que

    possibilita a luta entre agentes. aqui que Wolf (2006: 135) questiona o direito

    de existncia de um subcampo de traduo, porque tradutores trabalham em

    regime independente e com contratos de curto prazo. por isso que, segundo

    ela, impossvel para tradutores lutar por posicionamentos. Raciocinando assim,

    ela no leva em considerao o facto de um tradutor, a despeito desta forma de

    trabalho, ser capaz de obter um posicionamento permanente a um outro nvel,

    alm do profissional. Porm, alguns desenvolvimentos notveis na literatura

    traduzida do portugus para o neerlands indicam que h tradutores que

    conseguiram obter posicionamentos (semi)permanentes no campo literrio. A

    dedicao e a perseverana de certos tradutores realmente influenciam o que

    traduzido e de que forma. Oferecendo tradues a vrias editoras e trabalhandocomo leitores, eles decidem o que ser publicado, e rejeitando certas tradues

    tambm o que no ser publicado. Atravs de posfcios e ensaios em revistas

    literrias, eles movimentam-se de maneira activa no campo literrio. Alm disso

    e no obstante a forma de trabalho, a reputao de tradutores, uma vez

    estabelecida, aps algum tempo resultar num posicionamento permanente a que

    se pode concorrer.

    No defendo que se estude a l iteratura traduzida como um campo separado,

    mas que seja estudada como parte do campo literrio neerlands. Como Van

    Voorst (1997: 20) salienta, um a tradu o, de facto, pode ser considerada como

    uma obra nova que ir funcionar no sistema literrio do pas em questo, j que

    uma parte substancial das instituies e dos indivduos implicados no campo da

    literatura traduzida so iguais aos do campo literrio.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    16/295

    1 Quadro Terico

    -14-

    Rees & Dorleijn (2006: 19) apresentam um diagrama do campo literrio

    neerlands no fim do sculo vinte. Neste diagrama as instituies do campo de

    traduo faltam completamente. Na Figura 1, usei o seu diagrama e tornei

    vis ve is as institui es e intervenien tes que falta vam4. Uma linha pontilhada

    indica uma influncia indirecta, uma seta indica influncia directa. Desde os anos

    oitenta, vinte e cinco at trinta por cento da produo de ttulos nos Pases

    Baixos so tradues (veja Figura 8). Esta percentagem no s justif ica a

    incorporao de intervenientes implicados na produo da literatura traduzida no

    campo literrio, como tambm obriga a esta incorporao, principalmente por

    causa da influncia que tem naquele campo.

    F i g u r a 1 : D i a g r a m a s i m p l i f i c a d o e c o m p l e m e n t a d o d o c a m p o l i t e r r i o n e e r l a n d s n o f i m d o s c u l o v i n t e ( F o n t e : R e e s &D o r l e i j n 2 0 0 6 : 1 9 , c o m p l e m e n t o s , e m c i n z e n t o , s o d o a u t o r )

    4Para o diagrama original de Rees & Dorleijn (2006) veja Anexo 3.

    organizaes de profissionaisorganizaes de tradutores:

    - Instituut voor Vertaalkunde(Instituto (Neerlands) de Traduo)- Genootschap voor Vertalers(Associao (Neerlandesa) para Tradutores)rgos de consulta:- Raad voor de Kunst(Conselho (Neerlands) para a Arte)- Raad voor Cultuur(Conselho (Neerlands) para Cultura)rgos patrocinadores:- Fonds voor de Letteren (Fundao(neerlandesa) para as Letras)

    tradutores

    crtica literria- jornalstica- ensastica- acadmica

    livrarias bibliotecaspblicas

    crculos deleitores

    editoras

    educao literria- ensino bsico- ensino secundrio- universidade

    pblico leitor

    no-leitores

    revista literria

    produomaterial

    distribuio

    produosimblica

    autores(estrangeiros)

    editoras

    organizaes e

    instituiesestrangeiras:- Instituto Cames- Fundao Gulbenkian

    agente literrio

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    17/295

    1 Quadro Terico

    -15-

    Descrever o campo da literatura traduzida , assim, uma questo de tornar

    instituies e intervenientes visveis. Para uma anlise institucional da realizao

    de literatura traduzida as instituies e os intervenientes so essenciais,

    principalmente na primeira parte do esquema, a produo material. No entanto,

    estes, atravs da crtica l iterria, tambm influenciam a produo simblica.

    Tradu tores tm, como intermedirios cul turais, um a posi o entre os aut ores

    estrangeiros e as editoras. Outras instituies envolvidas na produo material

    de tradues nos Pases Baixos que inclu no esquema, Figura 1, em cinzento,

    so: editoras estrangeiras, agentes literrios e instituies responsveis pela

    promoo da literatura nacional no estrangeiro como o Instituto Cames e a

    Fundao Calouste Gulbenkian para a l iteratura portuguesa e a Fonds voor de

    Letteren para os Pases Baixos. A Fonds voor de Letteren (literalmente:

    Fundao para as Letras), includo por Rees & Dorleijn (2006), uma instituioimportante no campo literrio neerlands, mas tambm para a l iteratura

    traduzida. Patrocinando tradutores com vrios tipos de bolsas, a fundao um

    eixo importante na realizao de tradues para a l ngua neerlandesa.

    1.3 A editora como gate-keeper of ideas

    Esta tese concentra-se nas trs categorias de intervenientes, que so

    essenciais na produo material de tradues: tradutores, editoras e autores.

    Destes trs, a editora tem uma funo crucial. As editoras, na produo,distribuio e promoo das obras, tratam as tradues com o mesmo cuidado

    que os originais. H poucas editoras que se concentram somente em obras

    traduzidas. Por isso impossvel fazer uma anlise institucional da literatura

    traduzida sem ter em conta a funo da editora em todo o campo literrio

    (tradues e obras originais), uma vez que o poder e a credibilidade da editora,

    ao introduzir uma obra em traduo, se baseiam parcialmente no valor que lhe

    atribudo atravs dos seus ttulos originais.

    A fun o da edi tora freque ntemente de sc rita como g ate-ke eper of ide as.

    Coser (1982) supe que a editora, alm de outras instituies, desempenha um

    papel decisivo na seleco, produo, distribuio, e com isso tambm na

    distribuio simblica de produtos culturais. Alm da necessidade prtica deste

    papel todo ano h tantos manuscritos entregues que uma seleco

    imprescindvel a editora tem uma funo iniciadora. Na publicao de

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    18/295

    1 Quadro Terico

    -16-

    tradues ela partilha essa funo com outras instituies e intervenientes, como

    tradutores, conselheiros e agentes literrios (Van Voorst 1997: 8). Todavia, a

    editora continua a manter uma posio central e coordenadora, porque afinal

    ela que adquire, imprime e vende os livros.

    Van Vo orst (1997: 202-214) d um exemp lo no seu estudo, tirado da prt ica

    de um tradutor e leitor 5, que tentou desempenhar um papel importante na

    publicao de tradues. O neerlands Jan de Zanger, como conselheiro e

    tradutor para a editora Contact na rea lingustica escandinava e particularmente

    dinamarquesa, tentou, zelosamente, publicar l iteratura dinamarquesa. Contudo,

    Van Voorst conclui u que qu o forosamente o lei tor lut ou pela sua causa, tanto

    maior se tornaram as reservas da editora (Van Voorst 1997: 213). 6Por mais que

    ele tentasse, entregando ttulos interessantes e criando circunstncias favorveis,

    a editora sempre continuou tendo o voto decisivo na publicao. As condiesque a editora Contact ps s publicaes na srie De Auteurs van de Tweede

    Eeuwh el ft (Os Autores da Segunda Metade do Sculo) em que a literatura

    dinamarquesa tambm deveria aparecer, so caractersticas para o

    comportamento de uma editora. Primeiramente um ttulo devia ter sido j um

    sucesso na lngua-fonte ou ento conter um tema surpreendente; alm disso,

    tinha que haver uma ressonncia, ou seja, um interesse pela rea lingustica ou

    pela cultura das quais o ttulo era proveniente, e, por fim, o ttulo tinha de ter

    grandes possibilidades de venda no mercado neerlands (Van Voorst 1997: 231-

    234).

    Ape sar de se rem condi es especf ic as de apenas uma editora em relao a

    uma srie, so proveitosas na anlise da literatura lusfona traduzida para o

    neerlands. especialmente a segunda condio, a existncia da ressonncia, que

    tem serventia na discusso da importao dessa literatura. Ser que j existia

    interesse pela rea lingustica lusfona ou pela cultura lusfona nos Pases

    Baixos quando se comeou a publicar tradues de obras em lngua portuguesa?

    Alm di ss o, a l tima condio, as possi bi lidades de venda, ta mb m imp ortante.

    O exemplo de Van Voorst (1997: 202-214) mostra que, a despeito dos esforospessoais de um leitor e tradutor, a editora que sempre tem o voto decisivo de

    passar publicao.

    5Na tese uso o termo leitor, por falta de um termo melhor. Aqui leitorsignifica a pessoa que, numa editora, faz os relatriosde leitura de uma obra original em que a editora se baseia para decidir se vai deixar traduzir uma obra.6Traduo minha de: hoe harder de lector voor zijn zaak vocht, des te groter de reserves werden van de uitgever (Van

    Voorst 1997: 213)

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    19/295

    1 Quadro Terico

    -17-

    1.4 A realizao da publicao de literatura traduzida

    H vrios argumentos que desempenham um papel no processo de deciso

    de uma editora neerlandesa para deixar traduzir e publicar uma obra. O primeiro,

    e da maior importncia, o eventual lucro que ttulos novos podero dar.Segundo Rees & Dorleijn (2006: 26), as estimativas de lucro de uma editora

    baseiam-se, entre outras coisas, no conhecimento basal do campo literrio, na

    posio de concorrentes e na past per foma nc e de um autor na crtica, isto , como

    o autor emerge em recenses crticas de ttulos anteriores, e baseiam-se no

    pblico, ou seja, nos nmeros de venda. Os autores referem-se apenas a ttulos

    novos nacionais, mas plausvel adoptar estes mesmos critrios para o

    procedimento de editoras quando se trata da publicao de tradues novas.

    Porm, h uma diferena. Uma editora, nas estimativas de lucro de uma traduo

    nova nos Pases Baixos, pode basear-se na past per for mance do autor sendo que

    quando um autor no for conhecido nos Pases Baixos, tambm pode util izar a

    pas t per forman ce do autor em outros pases. Isto particularmente vlido para

    tradues de uma literatura no escrita em alemo, ingls ou francs, as

    chamadas literaturas perifricas nos Pases Baixos. Steenmeijer (1989: 77) cita

    Theo Sontrop, ex-dir ector de uma editora neerlande sa , que di z que essa s

    literaturas tm uma deficincia ao serem introduzidas nos Pases Baixos.

    Visto que redactores de editoras [neerlandesas] em geral dominam somente as trs lnguasestrangeiras modernas, no tm acesso directo a literaturas escritas em outras lnguas. Sodependentes da opinio de especialistas ou tm de recorrer a publicaes em francs, alemoe/ou ingls: tradues, crticas, artigos e ensaios em jornais e revistas.7(Steenmeijer 1989: 77)

    A deciso de traduz ir e pub l icar uma obra frequ entemente tomada, levando em

    conta o xito da obra a ser traduzida numa ou mais das lnguas estrangeiras

    modernas 8. Este procedimento confirmado:

    A maior parte dos redactores e editores s dominam as trs lnguas estrangeiras modernas,

    o que um impedimento na seleco de fico (e no-fico) no-traduzida de outraslnguas. A consequncia que muitas obras s so descobertas aps terem sido publicadastradues (e crticas) destas numa lngua estrangeira que seja acessvel para o redactor, como

    7 Traduo minha de: Aangezien de uitgeverijredacteuren in de regel alleen de drie bekende vreemde talen beheersen,

    hebben zij niet rechtstreeks toegang tot in andere talen geschreven literaturen. Zij moeten afgaan op het oordeel vanspecialisten of hun toevlucht nemen tot publicaties in het Frans, Duits en/of Engels: vertalingen, recensies en andere kranten-en tijdschriftpublicaties. (Steenmeijer, 1989: 77)8Daqui em adiante, quando falo das trs lnguas estrangeiras modernas, falo das trs lnguas estrangeiras modernas nos

    Pases Baixos, sendo: alemo, francs e ingls.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    20/295

    1 Quadro Terico

    -18-

    ingls, francs ou alemo. O editor neerlands frequentemente decide deixar traduzir a obraem questo para o neerlands com base numa traduo anterior numa das trs lnguasestrangeiras modernas (e no eventual resultado de venda na rea lingustica em questo).9(Van Voorst 1997: 27-28)

    Os contactos das redes circunferentes da editora tambm influenciam a

    realizao de uma traduo. 10 Nelas, os intervenientes e as instituies mais

    importantes so: agentes literrios, editoras estrangeiras, conselheiros, leitores e

    tradutores. A forma como estes ltimos podem influenciar o processo de

    publicao j foi abordada brevemente em 1.3, no exemplo da literatura

    dinamarquesa da editora Contact.

    Editoras frequentemente servem-se de agentes literrios, encarregados de

    salvaguardar os interesses de um escritor ou de uma editora e que funcionam

    como um tipo de corretor literrio para a venda de direitos de traduo, deimprensa, de rdio e de televiso, direitos teatrais, cinematogrficos, etc. O

    agente literrio dedica-se construo de uma rede de contactos com editoras

    nacionais e estrangeiras (Van Voorst 1997: 188). Tanto nesta como na minga

    pesquisa, o que se verif ica como o mais importante a venda de direitos de

    traduo entre editoras. Dado que um agente literrio tem proveito da

    publicao de uma traduo, estabelecer conscientemente contacto com editoras

    e chamar a ateno delas para um ttulo a comprar. Van Voorst (1997: 186-202)

    estudou a influncia de agentes literrios na realizao de tradues novas na

    editora J.M. Meulenhoff entre 1945 e 1970. Neste perodo apareceram 408

    tradues novas, e destas conseguiu recuperar 213 acordos, constatando que no

    caso de 117 ttulos publicados, que havia um agente literrio envolvido, ou seja,

    em 55% dos casos. provvel que esta percentagem seja ainda mais alta, visto

    que nem sempre se inclui o nome de um agente literrio nos contratos, apesar do

    seu envolvimento:

    9Traduo minha de: De meeste redacteuren en uitgevers beheersen alleen de drie moderne vreemde talen en dit vormt een

    belemmering bij de selectie van onvertaalde fictie (en non-fictie) uit andere taalgebieden. Het gevolg hiervan is dat veel

    werken pas in Nederland ontdekt worden als er vertalingen (en recensies) van zijn verschenen in een voor de redacteur

    toegankelijke vreemde taal als Engels, Frans of Duits. De Nederlandse uitgever besluit regelmatig pas op grond van eenvertaling van het betreffende boek in een van de drie moderne vreemde talen (en het eventuele verkoopresultaat in hetbetreffende taalgebied) om het boek in het Nederlands te laten vertalen. (Van Voorst 1997: 27-28)10

    Para uma descrio de redes circunferentes de editoras, veja Van Voorst (1997: 175-214), onde tambm so expostos os

    procedimentos de agentes literrios e a sua relao com as editoras.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    21/295

    1 Quadro Terico

    -19-

    Segundo Maarten Asscher [editor], Meulenhoff e as outras editoras maiores fazemnegcios directamente com editoras estrangeiras e o editor neerlands tem sobretudocontacto com agentes estrangeiros e subagentes neerlandeses(Van Voorst 1997: 188)11.

    Tamb m h portanto contactos di rectos en tre edi to ras neerlandesas e

    editoras estrangeiras, dos quais resultam acordos sem envolvimento de um

    agente literrio, se bem que Asscher aqui, provavelmente, se referia traduo

    de literatura neerlandesa para outras l nguas. No corpus de 213 contratos acima

    mencionado, Van Voorst (1997: 186-202) encontrou 75 contratos que foram

    feitos directamente com a editora que tinha os direitos.

    Os dados da pesquisa de Van Voorst (1997: 186-202) mostram que, no

    perodo 1945-1970, na editora Meulenhoff, no se publicou nenhuma traduo

    do portugus para o neerlands com envolvimento de um agente literrio.Porm, encontrou um acordo para uma traduo do portugus em que no

    mencionado um agente literrio. Em total J.M. Meulenhoff publicou quatro

    tradues do portugus para o neerlands naquele perodo. Devido ao corpus

    incompleto no podemos concluir nada definitivamente. Conforme Roland Fagel,

    ex-editor na editora Wereldbibliotheek, nos Pases Baixos no h agentes

    literrios activos na rea de lngua portuguesa. O contacto d-se com agncias

    estrangeiras e particularmente com editoras estrangeiras. 12 Os dados de Van

    Voorst (1997: 200) tambm de monstram qu e mais de oitenta por cento das

    tradues para o neerlands, realizadas com envolvimento de um agente literrio,

    foram traduzidas de uma das trs l nguas estrangeiras modernas. S um quinto

    das tradues realizadas com o envolvimento de um agente literrio era

    proveniente de outras l nguas, o que contribui para a suposio que uma editora

    s decide traduzir uma obra de outras l nguas, depois de ter sido traduzida numa

    das trs l nguas modernas.

    Parece impossvel reconstruir qual o factor que afinal levou publicao de

    uma obra sem uma pesquisa pormenorizada nos arquivos das editoras. E mesmo

    assim, ser difcil recuperar o factor decisivo, dado que as influncias nofuncionarem independentemente umas das outras. Ilustra-se isso atravs de um

    exemplo simples:

    11Traduo minha de: Volgens Maarten Asscher doen Meulenhoff en de andere grotere uitgeverijen rechtstreeks zaken metbuitenlandse uitgeverijen en heeft de Nederlandse uitgever vooral te maken met buitenlandse agenten en Nederlandse

    subagenten (Van Voorst 1997, 188).12

    Informao pessoal de Roland Fagel, Maio de 2009.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    22/295

    1 Quadro Terico

    -20-

    Imagina que um editor recebesse, de um estranho editora (um tradutor, um hispanista),um relatrio de leitura sobre um ttulo interessante, na sua opinio. Se o editor ao mesmotempo receber informao sobre o ttulo ou o autor em questo de outra fonte (umarecenso crtica numa revista estrangeira, um conselho de um agente literrio ou de um

    colega estrangeiro, uma traduo numa revista, um prmio estrangeiro, uma visita do autor),isto pode ser decisivo e faz-lo decidir publicar o ttulo. Todavia se tivesse tido suadisposio somente o relatrio de leitura, ou a recenso crtica, ou a traduo na revista ou ainformao do agente literrio ou do seu colega estrangeiro, talvez a deciso fossenegativa.13(Steenmeijer 1989: 78)

    O comentrio de Theo Sontrop, no incio, indica que numa traduo de uma

    obra para o neerlands, escrita numa lngua diferente das trs l nguas

    estrangeiras modernas, provvel que, pelo menos, a iniciativa venha de um

    especialista (tradutor, leitor ou, neste caso, um lusitanista). Que este facto se

    aplica claramente a Sontrop, como editor na De Arbeiderspers, sendo director da

    De Arbeiderspers de 1972 a 1991, num perodo em que foi traduzida muita

    literatura lusfona, pode-se concluir da seguinte citao:

    No confio nas editoras que se deixam aconselhar acerca da literatura estrangeira. Otrabalho tem que ser feito dentro de casa.14(Sontrop 1984: 138)

    Dizendo isto, provavelmente, referia-se importncia de empregar

    tradutores e conselheiros (semi)permanentes, no caso da lngua portuguesa,

    como August Willemsen e Jos Rentes de Carvalho.

    1.5 Iniciativa pessoal

    A de cis o de um a editora para lanar no mercado a traduo de um a obra,

    um processo complicado que influenciado por muitos intervenientes e

    instituies. Alm do mais, difcil recuperar qual foi o factor decisivo para

    publicar uma obra. Todavia, obviamente a editora que tem a ltima palavra.

    13Traduo minha de: Stel dat een uitgever ongevraagd van een buitenstaander (een vertaler; een hispanist) een leesrapport

    krijgt over een naar zijn oordeel interessante titel. Als de uitgever tegelijkertijd via een andere bron (bespreking in eenbuitenlands tijdschrift, advies van een literair agent of van een buitenlandse collega, vertaling in een tijdschrift, buitenlandse

    onderscheiding, bezoek van de auteur) informatie over deze titel of de auteur ervan onder ogen krijgt, dan kan dit de doorslag

    geven en hem doen besluiten de titel in zijn fonds op te nemen. Had hij alleen het leesrapport, alleen de bespreking, alleen detijdschriftvertaling of alleen de informatie van de literair agent of van zijn buitenlandse collega tot zijn beschikking gehad,dan was de beslissing wellicht negatief uitgevallen. (Steenmeijer, 1989: 78)14

    Traduo minha de: Ik heb geen vertrouwen in een uitgever die zich omtrent buitenlandse literatuur laat adviseren. Men

    moet het werk binnenshuis kunnen doen. (Sontrop 1984: 138)

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    23/295

    1 Quadro Terico

    -21-

    Na Introduo, indiquei a minha suposio que indivduos, frequentemente,

    seriam responsveis pela introduo da literatura lusfona traduzida nos Pases

    Baixos. Posso agora precisar essa hiptese, presumindo que a iniciativa para

    tradues, vir muitas vezes de intervenientes individuais no campo literrio.

    Isto , penso que muitas vezes tem sido o prprio tradutor que sugeriu ao editor

    ou editora que publicasse uma obra em traduo. Para alm disso, um editor

    poder ter f icado to entusiasmado sobre uma certa obra, que a publicou sem ter

    conhecimento da pas t per for mance do autor nos Pases Baixos ou noutros pases.

    Por outras palavras, algum teve de ter a funo de impulsionador, muitas vezes

    deve ter sido o tradutor e s vezes algum da prpria editora. A primeira obra

    traduzida de um autor , neste caso, a mais essencial, porque depois de ter sido

    publicada uma primeira traduo, uma editora pode basear-se j na pas t

    per formance de um autor no campo literrio neerlands. Estas suposies parecemser confirmadas por indivduos implicados, como os tradutores August

    Wil lemsen e Harrie Lemm ens e o edi tor Theo So ntrop, qu e se ro di scutido s no

    captulo cinco.

    Que uma editora tenha os meios para iniciar o processo de uma traduo

    no necessita explicao. Tambm parece lgico considerar um tradutor como

    interveniente importante no campo literrio, mas geralmente o tradutor no

    considerado desta maneira.

    To become a translator in the West today is to agree to becoming nearly fully subservient:to the client, to the public, to the author, to the text, to language itself or even, in certainsituations of close contact, to the culture or subculture within which the task is required tomake sense.Simeoni (1998: 12)

    Contudo, da introduo j se indicou que considerar a presena de certos

    tradutores, faz sentido tratar o tradutor como interveniente no campo literrio e

    incorpor-lo como tal. Os tradutores August Willemsen e Harrie Lemmens, por

    exemplo, no parecem adoptar uma atitude to subserviente, especialmente

    perante o cliente, ou seja, a editora, e o pblico. O tradutor no somentesubserviente editora, ao pblico, ao autor, ao texto, l ngua ou cultura, mas

    tambm pode actuar por entusiasmo pessoal e talvez com um aspecto

    missionrio. Assim, podemos distinguir dois tipos de tradutores: o tradutor

    subserviente e o tradutor interveniente.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    24/295

    1 Quadro Terico

    -22-

    O caso do tradutor e leitor Jan de Zanger, descrito em 1.3, um bom

    exemplo de um tradutor interveniente. Van Voorst (1997: 214) conclui: se

    surgiu um forte nmero de tradues dinamarquesas na editora Contact, isto ,

    na minha opinio, em parte, graas a enorme persistncia de Jan de Zanger 15.

    Steenmeijer (1989: 77) tambm pensa que a maioria dos ttulos espanhis, ao

    contrrio dos ttulos hispano-americanos, so realizados por iniciativa dos

    tradutores. Mas mesmo assim, uma grande parte dos ttulos hispano-americanos

    foi traduzida por iniciativa pessoal do tradutor e s uma fraco por mediao

    de um agente literrio.

    T a b e l a 1 : In ic i adores de t t u los espanhis e h i spano-amer icanos t r aduz idos segundo o i to da s dez ed i tor a s dema ior impor t nc ia . (Font e : S t eenmei j e r 1989 : 78 )

    Iniciador Literatura espanhola Literatura hispano-americanaEditora 42,4% 62,7%

    Externo (tradutores e outros) 51,4% 31,4%Agente literrio 6,1% 6,0%

    Parece que a iniciativa pessoal ocorre sobretudo nas literaturas menos

    conhecidas ou chamadas de perifricas nos Pases Baixos, exactamente porque

    faltam conhecimentos ao editor. O que, naturalmente, no significa que, nas

    literaturas das trs l nguas estrangeiras modernas nos Pases Baixos, s

    trabalham tradutores subservientes. Contudo, a hiptese que a percentagem

    destes, seja maior do que nas literaturas perifricas.

    15Traduo minha de: dat er bij Contact een flink aantal Deense vertalingen is verschenen, is naar mijn mening voor een

    deel het gevolg van de enorme vasthoudendheid van Jan de Zanger. (Van Voorst 1997: 214)

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    25/295

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    26/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -24-

    reedies. Para a investigao bibliogrfica usei Brinkmans cumulatieve catalogus

    van boeken (catlogo cumulativo de l ivros de Brinkman) para o perodo 1900-1990 e o

    Neder landse Bib liogra fi e Onl ine (Bib li og ra fia Neer landesa Online ) para o perodo 1974-

    2008.

    Ven ncio (1 984) pub li cou Tradues do portugus, uma sinopse de tradues

    neer landesas de l i teratura lusfona16, em que ele apresenta as tradues neerlandesas

    em ordem alfabtica, incluindo as tradues publicadas em revistas (l iterrias).

    Quanto a essa publicao, existem bastantes limitaes para us-la como base

    para este estudo, sendo a mais importante o facto de entretanto terem vindo

    luz 25 anos de novas tradues portuguesas. Alm disso, Venncio no explica

    como coleccionou os seus dados, de forma que no claro se estes dados so

    confiveis. Ele mesmo escreve que a sua bibliografia o resultado de uma

    pesquisa efectuada no completamente sistemtica, mas que contudo, apreparao desta segunda edio revelou que muito provavelmente tudo o que

    relevante para esta rea aqui assinalado (Venncio, 1984: 3). 17

    2.2.1 O catlogo cumulativo de livros de Brinkman

    A fonte mais completa para coleccionar descries bi bl iogrf ic as e

    informaes sobre a produo de livros nos Pases Baixos o Brinkmans

    cumulatieve catalogus van boeken (daqui em adiante Brinkman) . Desde 18 58, cada ano

    publicado um catlogo de todos os livros publicados nos Pases Baixos,

    naquele ano, e cada cinco anos um volume cumulativo, sendo acrescentado aindao Onderwerpenregister (Registo de Temas) ou Repertorium (Repertrio) . O catlogo

    baseado em informaes bibliogrficas entregues pelas editoras. Partindo da

    hiptese que todas as editoras registam todos os seus livros, Brinkman

    satisfatoriamente confivel.

    Os livros no catlogo esto em ordem alfabtica por autor (ou

    eventualmente por ttulo). Uma pesquisa integral aos autores lusfonos um

    trabalho inexequvel devido ao longo perodo a que os dados deste estudo se

    referem. No repertrio os livros so classif icados por gnero e por tema. Dado

    que esses temas no so divididos por lngua, era necessrio pesquisar os

    repertrios mo.

    16Traduo minha de: Vertalingen uit het Portugees, een overzicht van Nederlandse vertalingen van Portugeestaligeliteratuur.17

    Traduo minha de: de voorbereiding van deze tweede druk heeft echter uitgewezen dat zeer waarschijnlijk al hetgeen

    relevant is op dit gebied, hier wordt gesignaleerd (Venncio, 1984: 3).

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    27/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -25-

    A literatur a examinada neste est udo compe- se de fic o e poesi a. Ess a

    definio uma consequncia de duas categorias em Brinkman: Romans en

    novellen: vertaald (Romances e novelas: traduzidos) e Gedichten: vertaald

    (Poemas: traduzidos). Nestas duas categorias dos registos de temas de 1900-

    1990 procurei os autores lusfonos. Para reconhecer estes autores muitas vezes

    era suficiente reconhecer um prenome ou apelido portugus, usando tambm os

    meus prprios conhecimentos da literatura lusfona.

    2.2.2 A Bibliografia Neerlandesa Online

    O estudo tornou-se mais fcil para o perodo 1974-2008, visto que desde

    1974 todas as informaes bibliogrficas foram includas na Neder la ndse

    Bibliografie (Bibliografia Neerlandesa) . Nesta, a Koninklijke Bibliotheek (Real

    Biblioteca) colecciona e guarda as informaes sobre todas as publicaes de

    editoras neerlandesas reconhecidas. Voorbij & Douma (1996) fizeram um estudo

    confiabilidade da Bibliografia Neerlandesa e constataram que 96,6% dos livros

    com nmero ISBN est presente na Depotcollectie (Coleco de Depsito) e por

    isso na Bibliografia Neerlandesa.

    A bibl iografia corresp onde a Brinkman desde 1974. Na Ne der landse

    Bibliografie Online (Bibliografia Neerlandesa Online, BNO) 18 possvel procurar as

    publicaes atravs de literatura lusfona. Por uma pesquisa avanada nos temas

    do Brinkman Romances e novelas: traduzidos e Poemas: traduzidos, adicionada

    com os termos de pesquisa vert. (uma abreviatura de vertaald que significatraduzido) e Portugees, toda a l iteratura lusfona publicada entre 1974 e 2008

    descerrada. Optei deliberadamente pela coincidncia nos anos 1974-1990 nas

    pesquisas em Brinkman e a BNO para poder verif icar os dados reunidos por mim

    e mo em Brinkman.

    2.2.3 O filtrar dos resultados da base

    Na investigao alguns gneros de livros no so levados em considerao.

    Assim, l ivros de no-f ico fa ltam nos result ados. Qua ndo estud ei out ros temas

    nos repertrios de Brinkman, como Portugese let terkunde (l i teratura portuguesa),Portugal, Moambique, notei que, comparando por exemplo com obras francesas ou

    alems, h muito pouca no-fico traduzida do portugus. Porm, em estudos

    mais pormenorizados este gnero poderia ser levado em considerao tambm.

    18De Nederlandse Bibliografie Online, http://picarta.pica.nl/xslt/DB=3.9/ (ltima consulta: Agosto 2009)

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    28/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -26-

    Edies com uma tiragem de menos de cinquenta exemplares deixei fora da

    contagem devido influncia insignificante e o pequeno alcance de pblico

    leitor. Trata-se de tiragens limitadas, publicadas, por exemplo, com uma

    linografia como A fragme nt o f An to n ius de Fernando Pessoa (1988)19 ou por

    ocasio de um aniversrio, como Papier de Carlos Drummond de Andrade (2008).

    Alis , mui tas vezes est as edi es so fragmentos de tradu es qu e j foram

    publicadas antese que, a sim, inclu na contagem.

    As co mpilaes de hist r ias e de poesia de vrios aut ores foram includas na

    base e na anlise. Um exemplo Mee ste rs der Portuges e vert e lkun st (Mes t re s do conto

    portugus ) (Diversos autores 1970) . No inclu compilaes de poemas ou

    histrias latino-americanas, dado que nestas a l iteratura brasileira pouco

    representada.

    Tamb m inclu os l ivros de viagem de Jos Rentes de Carvalho, a saber,Portugal, um guia para amigos (1988), Lisboa, um novo guia para amigos (2001),

    Portugal, um guia para descobridores (2005) 20. A razo mais importante que este

    autor reconhecido pelas suas obras literrias e no se recomenda os guias como

    simples guias.

    Do mesmo modo inclu a l iteratura infanto-juvenil. A razo principal para

    esta deciso, que h s seis tradues neerlandesas, todas da mo de Lygia

    Bojunga Nunes. J que estas tradues so uma parte to pequena dos resultados

    completos, a incluso no resultar numa desfigurao do estudo. Lygia Bojunga

    Nunes elogiada pela contnua qualidade literria das suas obras e considerada

    um dos maiores escritores da literatura infanto-juvenil (Casa Lygia Bojunga).

    2.2.4 Justificao

    A necessid ade de pesquisar Brinkman mo podia ter tido como

    consequncia, por exemplo, o facto de os dados apresentados no serem

    completos, porque eu poderia no reconhecer um autor com um nome que

    parecesse africano ou rabe, como autor lusfono. Que os resultados so de

    facto confiveis, resulta de comparaes com algumas inventariaes de

    literatura portuguesa e brasileira em traduo neerlandesa.

    Ven ncio & Barel (1994) do, no se u artigo Portugese literatuur na Pessoa

    (Literatura portuguesa aps Pessoa) na revista l iterria De Gids de Fevereiro

    19No inclu referncias literatura lusfona em traduo na Bibliografia da tese, mas encontram-se no Anexo 1.20

    Os ttulos neerlandeses so: Portugal, een gids voor vrienden (1989), Lissabon, een nieuwe gids voor vrienden (2001) e

    Portugal, een gids voor ontdekkers (2005).

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    29/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -27-

    1994, uma lista com todas as tradues de literatura portuguesa publicadas nos

    Pases Baixos, das quais no faltava nenhuma nos meus resultados. Da Bibl iogra f i e

    van Nederlandse publicat ies over Brazili 1945-1965 (Bibliografia de publicaes

    neer landesas sobre o Brasi l 1945-1965) de Schul ten (1965) constam, na categoria

    Literatura , as tradues neerlandesas da literatura brasileira neste perodo, e

    pude constatar que tinha includo todos os livros na minha base tambm. Pos

    (1996), na sua palestra Literatura portuguesa traduzida para o Neerlands, d

    todas as tradues de literatura portuguesa publicadas at o ano 1996, das quais

    todas foram includas na minha base. Finalmente, recebi uma lista de Harrie

    Lemmens com todas as suas tradues e estas eu tambm j tinha achado.

    Al m di ss o, da s comp araes do meu corpus com o Vertalingen uit het

    Portugees de Venncio (1984) para os anos 1900-1984 e com a BNO para os anos

    1974-1990, verif iquei que nada escapou minha ateno. At umas obras daminha base faltam na de Venncio (1984). Isto tudo, como evidente, no

    confirma completamente a integridade do meu estudo. Porm, posso dizer que a

    minha base de dados contm quase todas as obras literrias de lngua portuguesa

    em traduo neerlandesa produzidas entre 1900 e 2008.

    Quando eu estava a coleccionar as reedies parecia que nem todas elas

    estavam includas no Brinkman e na BNO . Tal ocorreu nomeadamente com obras

    de cinco ou mais reedies. Resolvi este problema contactando as editoras

    directamente. As obras em causa diziam respeito a l ivros de Paulo Coelho, de

    Jos Sa rama go e um as obras de Fernando Pe ssoa 21. Van Voorst (1997: 225)

    constata tambm que reedies de uma traduo publicada por uma outra

    editora ou pela mesma editora mas numa outra forma (por exemplo livro

    encadernado versus livro de bolso) no so indicadas por Brinkman.22Devido ao

    grande nmero de livros na sua pesquisa, foi-lhe impossvel corrigir estes hiatos,

    mas na minha pesquisa foi possvel, dado que o nmero de livros menor.

    Porm, possvel que das obras com menos reedies nem todas tenham sido

    encontradas. No meu estudo parto do princpio da editora como gate-kee per, de

    modo que a nfase nas novas publicaes, pois:

    21A informao necessria foi obtida atravs de correspondncia com a assistente de direco da editora De Arbeiderspers,Stien van Waardt, e um funcionrio desconhecido da editora J.M. Meulenhoff.22Traduo minha de: een herdruk van een vertaling door een andere uitgeverij of door dezelfde uitgeverij maar in een

    ander formaat (gebonden versus pocket bijvoorbeeld) in Brinkman niet aangegeven.

    (Van Voorst, 1997: 225)

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    30/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -28-

    O iniciar de uma nova traduo tem que ser apreciado de modo diferente que reeditar amesma obra. Isto porque no primeiro caso iniciado um novo projecto: a editora tem queseleccionar um livro ou um manuscrito, adquirir os direitos, contratar um tradutor, darforma ao livro, etc. No caso de uma reedio, a editora pode deixar de fazer ou reduzir amaior parte destas actividades. Por isso, indiscutivelmente, no se pode ver ambos os

    trajectos de forma igual.23

    (Van Voorst, 1997: 22)

    A pesquisa bibliogrfica no Brinkman e na BNO resultou numa lista de 264

    obras traduzidas do portugus para o neerlands em primeira edio. A lista

    completa com estes resultados encontra-se no Anexo 1. A produo de livros

    inclusive reedies consta de 584 livros. 24

    2.2.5 Restries da pesquisa

    No resto da tese uso o nmero de 247 obras traduzidas do portugus em

    primeira edio e, inclusive reedies, 561 livros. Isto , respectivamentedezassete e vinte e quatro menos do que os nmeros j mencionados (264 e 584).

    Parcialmente, isto devido incluso no Anexo 1 das produes com uma

    tiragem baixa, excludas na minha anlise (veja 2.2.3). Alm disso, as tradues

    neerlandesas do portugus e reedies de tradues j existentes publicadas

    entre Janeiro e Setembro de 2009 tambm esto inseridas no Anexo 1. S ao

    finalizar a anlise para esta tese tornou-se aparente que um gnero

    (parcialmente) no foi includo na minha pesquisa. Diz respeito aos temas de

    Brinkman dagboeken (dirios) e brieven (cartas). Ento ainda adicionei na

    base de dados:

    Padre Antnio Vieira,Een natte hel: brieven en preken van een Portugese jezuet (Cartas e sermes

    escolhidas pelo tradutor)

    Paulo Coelho,Wie inspireerde Kahlil Gibran? (Cartas de amor do profeta)

    Jos Rentes de Carvalho,Er is hier niemand: dagboek mei 1999 tot mei 2000 (Tempo sem tempo)

    Jos Rentes de Carvalho,Gods toorn over Nederland: getuigenis van een halve eeuw: 1956-2006 (A

    ira de Deus sobre a Holanda: testemunho de um meio sculo 1956-2006)

    23Traduo minha de: Het initiren van een nieuwe vertaling moet anders gewaardeerd worden dan het herdrukken van

    dezelfde titel. In het eerste geval is er namelijk sprake van een nieuw project: de uitgever moet een buitenlands boek of

    manuscript selecteren, de rechten ervoor verwerven, een vertaler aantrekken, het boek vormgeven etc. Bij een herdruk kanhet merendeel van deze activiteiten achterwege blijven of gereduceerd worden. Beide trajecten kunnen dus niet zonder meerworden gelijkgesteld. (Van Voorst, 1997: 22)24

    Na verso CD-ROM desta tese os dados sobre as reedies so incorporados no ficheiro Excel dados quantitativos_

    kwantitatieve gegevens.xls.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    31/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -29-

    2.2.6 Investigao bibliogrfica a partir de revistas literriasneerlandfonas

    Inicialmente, um outro objectivo desta tese era incorporar a recepo da

    literatura lusfona em revistas l iterrias e o papel que elas desempenharam na

    recepo de certos autores e tradutores. Na fase da pesquisa bibliogrfica, partida hiptese de que ainda fizesse este estudo. Alm de indexar os ttulos

    lusfonos traduzidos para o neerlands, tambm comecei a coleccionar os

    artigos de e sobre a l iteratura lusfona publicados em revistas l iterrias

    neerlandfonas. Devido ao tamanho do corpus, no houve tempo para fazer um

    estudo detalhado destas publicaes e tive que me limitar. Porm, a investigao

    bibliogrfica foi completada e ser mencionada de leve no quinto captulo. Sem

    dizer nada sobre estes dados coleccionados, inclu-os no Anexo 2, para que

    estejam disponveis para qualquer pessoa que queira aproveit-los.

    Os dados foram adquiridos atravs de uma pesquisa na Bibliografie van de

    li teraire t i jdschri ften in Nederland en Vlaanderen (Bibliografia das revistas l iterrias

    nos Pases Baixos e em Flandres), composta por Hilda van Assche (1972-1999).

    Ela indexou os contedos de muitas revistas l iterrias f lamengas e neerlandesas

    para os anos 1972-1999. Ao fim de cada publicao, um volume por ano, est um

    registro de temas bem organizado, no qual facilmente se acha funcionrios,

    autores, tradutores e l nguas. Desde o ano 2000, a bibliografia est on-line

    (http://bltvn.kb.nl/). No Anexo 2 apresento os 230 artigos sobre e tradues de

    prosa e poesia lusfona publicados em revistas l iterrias neerlandfonas. Porm,Van Assche, na sua bibliograf ia , no inclui u todas as revist as l i terrias f la mengas

    e neerlandesas. Por isso, a l ista no pretende ser uma apresentao completa de

    todas as publicaes de e sobre literatura lusfona em revistas l iterrias

    neerlandfonas. 25

    25Na verso CD-ROM desta tese os resultados da investigao bibliogrfica a partir de revistas literrias neerlandfonas so

    incorporados no ficheiro Excel revistas dados quantitativos_ tijdschriften kwantitatieve gegevens.xls.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    32/295

    2 Definies e a realizao da base dos dados

    -30-

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    33/295

    -31-

    3ANLISE QUANTITATIVA DA LITERATURA

    LUSFONA TRADUZIDA

    Para fazer um esboo da importao da literatura lusfona nos Pases

    Baixos no sculo vinte, primeiro, apresentarei, neste captulo, a produo de

    ttulos desta l iteratura, em forma grfica. Em seguida, compar-la-ei com a

    produo geral de ttulos nos Pases Baixos e com a produo da literatura

    traduzida para analisar se a evoluo da importao da literatura lusfona se

    pode esclarecer atravs de dados gerais. Para terminar este captulo, tambm

    incluo dados da literatura espanhola e hispano-americana nos Pases Baixos para

    uma comparao.

    3.1 A introduo da literatura lusfona nos Pases Baixos, 1900-2008

    At agora no houve um inventrio completo de tradu es neerlande sa s da

    literatura lusfona. O nico publicado (Venncio 1984) no completo porque

    cobre os livros publicados at 1984, mas depois disso no foi actualizado. Para

    obter um inventrio to completo quanto possvel, usei Brinkmans cumulatieve

    catalogus van boeken (catlogo cumulativo de l ivros de Brinkman) para o perodo 1900-

    1990 e da Bibliografia Neerlandesa Online para o perodo 1974-2008. A realizao e

    a justif icao do estudo encontram-se no captulo anterior.

    O estudo resultou numa base de 247 obras traduzidas em primeira edio e,

    incluindo reedies, de 561 obras. Para a l ista completa, veja Anexo 1 ou o

    ficheiro Excel dados quantitat ivos_kwantitat ieve gegevens.xls, includo na verso CD-

    ROM da tese.

    3.1.1 Literatura lusfona nos Pases Baixos

    Na Figura 2 representada a produo total das tradues da literatura

    lusfona em primeira edio.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    34/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -32-

    0

    1

    2

    3

    4

    5

    6

    7

    8

    9

    10

    11

    12

    13

    14

    1900

    1904

    1908

    1912

    1916

    1920

    1924

    1928

    1932

    1936

    1940

    1944

    1948

    1952

    1956

    1960

    1964

    1968

    1972

    1976

    1980

    1984

    1988

    1992

    1996

    2000

    2004

    2008

    Ano

    Nmerodettulosproduzidos

    cadaano

    F i g u r a 2 : N m e r o d e t r a d u e s n e e r l a n d e s a s d e l i t e r a t u r a l u s f o n a e m p r i m e i r a e d i o .26

    Sem comparar com outros dados da produo de ttulos nos Pases Baixos,

    j podemos dizer algo sobre a produo da literatura lusfona. Por exemplo, que

    nos anos 1900-1932 apenas duas tradues foram publicadas. Alis, antes de

    1900 foram publicadas umas tradues do portugus. Pos (1994), no seu artigo

    Literatura portuguesa traduzida para o neerlands, menciona tradues de

    Ferno Mendes Pinto no sculo dezassete e de Lus Vaz de Cames 27 (Os

    Lusadas) no fim do s cul o dezoito e no incio do sc ulo de zanove , e E a de

    Queiroz em 1895. Venncio (1984) ainda menciona uma traduo de Joo de

    Barros publicada depois de 1707. 28

    Nos anos trinta, o interesse pela l iteratura lusfona sobe ligeiramente sendoque, pelo menos, a cada dois anos aparece uma traduo nova. Nos anos 1940-46

    a produo para novamente. Aps a Segunda Guerra Mundial o nmero de

    ttulos produzidos contnuo com uma mdia de um ttulo por ano e nos anos

    oitenta sobe a trs ttulos por ano.

    O que depois notvel a transio para os anos noventa. Nos anos

    oitenta, produziram-se, em mdia, trs ttulos por ano. Nos anos noventa de

    repente so nove, sobressaindo o ano de 1991 com uma produo de treze

    ttulos. O ano de 1990 claramente um ponto de viragem no interesse na

    literatura lusfona nos Pases Baixos, pois tambm nos anos subsequentes a

    mdia anual continua a ser cerca de nove ttulos.

    26Dados coleccionados pelo autor. Para os dados numricos, veja Tabela 17 no Anexo 5.27

    Veja tambm, para um estudo historia de traduo de Os Lusadas na Europa, De Vries (2007)28

    Veja Anexo 1 para as obras traduzidas antes do ano 1900.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    35/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -33-

    No captulo cinco analiso em detalhe o ponto de viragem entre o fim dos

    anos oitenta e os vinte anos seguintes. Agora efectuo uma comparao com a

    produo geral de livros nos Pases Baixos e parte das suas tradues.

    3.1.2 O campo literrio nos Pases Baixos e a literatura traduzidaNa Figura 3 est reproduzida a produo total de ttulos em primeira edio

    nos Pases Baixos.

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    1935

    1937

    1939

    1941

    1943

    1945

    1947

    1949

    1951

    1953

    1955

    1957

    1959

    1961

    1963

    1965

    1967

    1969

    1971

    1973

    1975

    1977

    1979

    1981

    1983

    1985

    1987

    1989

    1991

    1993

    1995

    1997

    Ano

    Nmerod

    ettulosproduzidosporano

    F i g u r a 3 : P r o d u o t o t a l d e t t u l o s n o s P a s e s B a i x o s , s e n d o n o v a s e d i e s . ( F o n t e : C B S )29

    Dados sobre a produo de ttulos puramente literrios no esto

    disponveis. Neste trabalho, uso nmeros da produo de ttulos nacionais do

    CBS (Instituto Central de Estatstica dos Pases Baixos). Esta contagem abrange

    romances neerlandeses e estrangeiros, compndios e l ivros educativos. Podemos

    presumir que estes nmeros do uma imagem confivel da produo de ttulos

    literrios nos Pases Baixos.

    Comparando com a produo da literatura lusfona, toda a produo de

    ttulos tem apresentado uma evoluo mais constante. Nos anos 1940-45 a

    produo desce fortemente, mas recupera-se no ano de 1946 e continua a subir

    numa linha constante. Na produo de literatura lusfona, a descida durante a

    Segunda Guerra Mundial tambm est presente e a produo se recupera,

    igualmente, a partir de 1946. Porm, a subida seguinte e constante, como se

    29 Para a grfica usei dados do CBS (Instituto Central de Estatstica dos Pases Baixos), disponveis por Statline:

    http://statline.cbs.nl/StatWeb/publication/?DM=SLNL&PA=37650&D1=4-

    6&D2=a&STB=T,G1&CHARTTYPE=1&VW=T.Nos anos 1983 e 1991 foram introduzidas novas maneiras de registar, por isso no se pode comparar completamente osdados. Para os anos 1900-1935 s h nmeros da produo completa, isto , uma soma de edies novas e reedies. Dados

    sobre a produo de novas edies no esto disponveis. Para os dados numricos, veja Tabela 18 no Anexo 5.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    36/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -34-

    verif ica na Fi gur a 3, falta completa me nte na evolu o da li teratur a lus fona. At

    aos anos oitenta, a produo de literatura lusfona mantm-se constante sendo

    que apenas nos anos noventa sobe exponencialmente. A tendncia na produo

    lusfona, no evolui proporcionalmente produo geral nos Pases Baixos, e

    temos de procurar a explicao da subida repentina nos anos noventa, num outro

    lugar. Quando inclumos as reedies na contagem, tambm no h uma

    explicao para a subida repentina. Como vemos na Figura 4, tampouco se

    explica quando a comparamos com a produo total de ttulos de literatura

    lusfona, reproduzida na Figura 5.

    0

    2000

    4000

    6000

    8000

    10000

    12000

    14000

    16000

    18000

    20000

    1900

    1904

    1908

    1912

    1916

    1920

    1924

    1928

    1932

    1936

    1940

    1944

    1948

    1952

    1956

    1960

    1964

    1968

    1972

    1976

    1980

    1984

    1988

    1992

    1996

    2000

    2004

    2008

    Ano

    Nmerodettulosproduzidosporano

    F i g u r a 4 : P r o d u o t o t a l d e t t u l o s n o s P a s e s B a i x o s , n o v a s e d i e s e r e e d i e s . ( F o n t e : C B S )30

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    1900

    1903

    1906

    1909

    1912

    1915

    1918

    1921

    1924

    1927

    1930

    1933

    1936

    1939

    1942

    1945

    1948

    1951

    1954

    1957

    1960

    1963

    1966

    1969

    1972

    1975

    1978

    1981

    1984

    1987

    1990

    1993

    1996

    1999

    2002

    2005

    2008

    Ano

    Nmerodettulosproduzidosporano

    F i g u r a 5 : N m e r o d e t r a d u e s n e e r l a n d e s a s d e l i t e r a t u r a l u s f o n a e m p r i m e i r a e d i o e e m r e e d i o , 1 9 0 0 - 2 0 08 .31

    30Dos anos 1900-1935 s existem mdias de cinco anos, portanto liguei os nmeros com linhas direitas. A linha entre osanos 1900-1935 uma indicao da evoluo da produo dos ttulos por ano. Para os dados numricos, veja Tabela 18 no

    Anexo 5.31

    Dados coleccionados pelo autor. Para os dados numricos, veja Tabela 17 no Anexo 5.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    37/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -35-

    Incluindo as reedies na produo de literatura lusfona, a imagem se

    torna diferente da Figura 2, em que somente esto reproduzidas as primeiras

    edies. Na Figura 5 a subida repentina na popularidade da literatura lusfona,

    s parece comear na segunda metade dos anos noventa. Mas no foi sem razo

    que decidi analisar as publicaes de ttulos em primeira edio. Ao estudar os

    dados com mais ateno, constatei que das 314 reedies publicadas, 212 so de

    apenas dois autores, isto , autor de best-sellers como o brasileiro Paulo Coelho

    e o vencedor do prmio Nobel, o portugus Jos Saramago. Quando exclumos a

    obra destes dois autores revela-se uma imagem mais coerente. Como vemos na

    Figura 6 o ano de viragem continua a ser 1990.

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    14

    16

    18

    20

    1900

    1903

    1906

    1909

    1912

    1915

    1918

    1921

    1924

    1927

    1930

    1933

    1936

    1939

    1942

    1945

    1948

    1951

    1954

    1957

    1960

    1963

    1966

    1969

    1972

    1975

    1978

    1981

    1984

    1987

    1990

    1993

    1996

    1999

    2002

    2005

    2008

    Ano

    Nmerodettulosproduzidosporano

    F i g u r a 6 : N m e r o d e t r a d u e s n e e r l a n d e s a s d e l i t e r a t u r a l u s f o n a e m p r i m e i r a e d i o e e m r e e d i o , 1 9 0 0 - 2 0 0 8 , s e m C o e l h oe S a r a m a g o . 32

    Uma outra explicao imaginvel para a viragem em 1990 poder ter sido

    uma subida repentina na percentagem de tradues na produo total de ttulos.

    Cada ano so publicados nmeros sobre a produo de ttulos e das tradues no

    Boekblad, o antigo Het Nieuwsblad voor den Boekhandel (uma revista com as notcias

    do comrcio dos livros nos Pases Baixos). Heilbron (1995: 218) usa estes dados

    para demonstrar como a percentagem de tradues na produo nacional de

    livros, sobe de dez, no fim dos anos quarenta, a mais de vinte e cinco por cento

    em 1990. Quando representamos os dados em forma grfica h certamente uma

    subida notvel, no s no nmero absoluto de tradues (Figura 7), mas tambm

    na percentagem de tradues na produo nacional de livros (Figura 8).

    32Dados coleccionados pelo autor. Para os dados numricos, veja Tabela 17 no Anexo 5.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    38/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -36-

    0

    500

    1000

    1500

    2000

    2500

    3000

    3500

    4000

    1946

    1948

    1950

    1952

    1954

    1956

    1958

    1960

    1962

    1964

    1966

    1968

    1970

    1972

    1974

    1976

    1978

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    Jaar

    Aantalgeproduceerdevertaling

    enperjaar

    F i g u r a 7 : N m e r o a b s o l u t o d e t r a d u e s p u b l i c a d a s n o s P a s e s B a i x o s . F o n t e : H e i l b r o n ( 1 9 9 5 )33

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    1946

    1948

    1950

    1952

    1954

    1956

    1958

    1960

    1962

    1964

    1966

    1968

    1970

    1972

    1974

    1976

    1978

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    Ano

    Percentagemdetraduesnaproduonacionaldettulosporan

    F i g u r a 8 : P e r c e n t a g e m d e t r a d u e s n a p r o d u o n e e r l a n d e s a d e l i v r o s . F o n t e : H e i l b r o n ( 1 9 9 5 )34

    A dif erena entre a subida do nme ro abso lut o das tradu es e da

    percentagem extraordinrio. O nmero de tradues cinco vezes maior entre

    1948 e 1980 (de 718 a 3650 ttulos), enquanto a percentagem sobe duas vezes e

    meia no mesmo perodo (de 8,9 a 25 por cento). A subida do nmero de

    tradues no se pode, portanto, explicar somente atravs da subida na produo

    total de ttulos. Segundo Heilbron (1995: 218), este aumento na percentagem de

    tradues, est relacionado, no exclusivamente, mas na sua maior parte, com

    33Esta grfica baseada nos dados de Heilbron (1995: 250). Heilbron, por sua vez, baseia-se em dados da Koninklijke

    Vereniging ter Bevordering van de belangen des Boekhandels (Real Associao para a Promoco dos interesses das

    Livrarias) at 1983, e depois na Titelproductie (produo de ttulos) 1990, da Koninklijke Bibliotheek/Stichting Speurwerkbetreffende het boek (Real Biblioteca/Fundao para Investigaes respeitando o Livro), Amsterdam 1991. Ele usa nmerosde cada dois anos (veja Tabela 19 no Anexo 5), para uma imagem mais compreensvel mediei para os anos intermdios. Para

    os dados numricos, veja Tabela 19 no Anexo 5.34

    Para os dados numricos, veja Tabela 19 no Anexo 5.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    39/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -37-

    tradues da lngua mundial mais importante, o ingls 35. Nestes dados, todavia,

    tambm no se encontra uma indicao atravs da qual possamos deduzir que a

    subida repentina de tradues do portugus, no fim dos anos oitenta e comeo

    dos anos noventa, consequncia de uma tendncia geral.

    Os dados usados por Heilbron (1995) tm uma desvantagem, ele baseia-se

    em nmeros incluindo reedies. No captulo dois j indiquei preferir, para a

    minha anlise, o uso de contagens com apenas primeiras edies. Alm disso,

    nos seus dados, Heilbron (1995) no distingue por gnero.

    Van Voorst (199 7), na sua tese Weten wat er in de wereld te koop is, em que

    estuda as tradues publicadas por quatro editoras neerlandesas entre 1945 e

    1970, baseia-se em dados que adquiriu atravs de uma pesquisa em Brinkman.

    Assim, pde fa zer di stino entre gneros e l ngua s-fontes , e cont ar s as

    primeiras edies. Na sua tese falta tempo para pesquisar mo os dados decada ano. Devido ao tamanho do corpus, no quadro deste estudo, isto tampouco

    possvel. Para poder analisar os dados sobre primeiras edies e classif ic-los

    por gnero, Van Voorst (1997) fez uma sondagem, escolhendo seis volumes

    anuais de Brinkman to espalhados pelo perodo de pesquisa quanto possvel.

    0,0

    5,0

    10,0

    15,0

    20,0

    25,0

    30,0

    35,0

    1946

    1947

    1948

    1949

    1950

    1951

    1952

    1953

    1954

    1955

    1956

    1957

    1958

    1959

    1960

    1961

    1962

    1963

    1964

    1965

    1966

    1967

    1968

    1969

    1970

    Ano

    Percentagemdetraduesnaproduonacio

    naldettulosporano

    Heilbron, primeirasedies e reedies

    Van Voorst, primeirasedies

    F i g u r a 9 : A p e r c e n t a g e m d e t r a d u e s n a p r o d u o t o t a l d e t t u l o s n o s P a s e s B a i x o s . F o n t e s : V a n V o o r s t ( 1 9 9 7 ) , H e i l b r o n( 1 9 9 5 ) .36

    Quando agora compararmos os resultados da pesquisa de Van Voorst (1997)com os de Heilbron (1995), constatamos que a percentagem de tradues em

    35Traduo minha de: komt niet uitsluitend, maar wel voor het overgrote deel voor rekening van vertalingen uit de meestcentrale wereldtaal, het Engels (Heilbron 1995: 218)36

    Para os dados numricos, veja Tabela 19 no Anexo 5.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    40/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -38-

    primeira edio, na produo total de ttulos em primeira edio, ainda maior

    do que a percentagem de tradues inclusive reedies na produo total.

    A Fi gur a 9 mo stra que , de pende ndo da base de dados que se us a, a imagem

    em relao percentagem de tradues na produo nacional de ttulos no ano

    1966 muda. Quando se parte da produo total, inclusive reedies, a

    percentagem de tradues pouco menos de vinte por cento. No entanto,

    quando s se conta as primeiras edies, a percentagem no mesmo perodo sobe

    a quase trinta por cento. Assim, podemos deduzir indirectamente que saram, e

    talvez ainda saiam, menos reedies de tradues do que de ttulos neerlandeses.

    De facto, a percentagem de tradues, inclusive reedies, menor do que a

    percentagem de tradues em primeira edio na produo total de ttulos em

    primeira edio.

    Destes dados podemos constatar que a evoluo da percentagem detradues na produo de ttulos mais ou menos igual. Em ambos os casos, de

    1946 a 1960 a percentagem sobe fortemente, e nos anos sessenta desce um

    pouco. No h razes para presumir que essa semelhana no se prossiga nos

    anos seguintes. Conclumos ento que na evoluo da percentagem de tradues,

    na produo total de ttulos, tambm no h uma explicao para a subida

    repentina no nmero de tradues lusfonas no fim dos anos oitenta.

    3.1.3 Literatura de outras lnguas em traduo

    Em publicaes sobre tradues nos Pases Baixos quase sempre se util izamquatro categorias, a saber ingls, alemo, francs e outras l nguas. excepo

    de uns estudos, como a pesquisa de Steenmeijer (1989) sobre a l iteratura

    hispanfona nos Pases Baixos.

    A evolu o do nme ro de tr adu es da categoria outr as l ngua s nos Pa se s

    Baixos no indica uma subida sbita, no fim dos anos oitenta, como vimos na

    literatura lusfona. Da anlise de Heilbron (1995) resulta que a produo de

    tradues daquelas l nguas sobe, triplica de 1946 a 1990, mas isto acontece de

    uma forma bastante contnua, como vemos na Figura 10.

  • 7/23/2019 O Papel Tradutor Vertaler Actor MAS T Schreij 0437972

    41/295

    3 Anlise quantitativa da literatura lusfona traduzida

    -39-

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    1946

    1948

    1950

    1952

    1954

    1956

    1958

    1960

    1962

    1964

    1966

    1968

    1970

    1972

    1974

    1976

    1978

    1980

    1982

    1984

    1986

    1988

    1990

    Ano

    Nmerodettulosproduzid

    osporano

    F i g u r a 1 0 : N m e r o d e t r a d u