ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA - UNA-SUS/UFCSPA Norbe… · ESTRUTURA DO PORTFÓLIO...
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ESTRUTURA DO PORTFÓLIO
ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE DA FAMÍLIA - UNA-SUS/UFCSPA
No Curso de Especialização em Saúde da Família da UNA-SUS/UFCSPA, o trabalho de conclusão de curso (TCC) corresponde ao portfólio construído durante o desenvolvimento do Eixo Temático II - Núcleo Profissional. Neste eixo são desenvolvidas tarefas orientadas, vinculando os conteúdos com a realidade profissional. O portfólio é uma metodologia de ensino que reúne os trabalhos desenvolvidos pelo estudante durante um período de sua vida acadêmica, refletindo o acompanhamento da construção do seu conhecimento durante o processo de aprendizagem ensino e não apenas ao final deste. O TCC corresponde, portanto, ao relato das intervenções realizadas na Unidade de Saúde da Família contendo as reflexões do aluno a respeito das práticas adotadas.
A construção deste trabalho tem por objetivos:
I - oportunizar ao aluno a elaboração de um texto cujos temas sejam de conteúdo pertinente ao curso, com desenvolvimento lógico, domínio conceitual, grau de profundidade compatível com o nível de pós-graduação com respectivo referencial bibliográfico atualizado.
II – propiciar o estímulo à ressignificação e qualificação de suas práticas em Unidades de Atenção Primária em Saúde, a partir da problematização de ações cotidianas.
O portfólio é organizado em quatro capítulos e um anexo, sendo constituído por: uma parte introdutória, onde são apresentadas características do local de atuação para contextualizar as atividades que serão apresentadas ao longo do trabalho; uma atividade de estudo de caso clínico, onde deve ser desenvolvido um estudo dirigido de usuários atendidos com patologias e situações semelhantes aos apresentados no curso, demonstrando ampliação do conhecimento clínico; uma atividade de Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças; uma reflexão conclusiva e o Projeto de Intervenção, onde o aluno é provocado a identificar um problema complexo existente no seu território e propor uma intervenção com plano de ação para esta demanda.
O acompanhamento e orientação deste trabalho são realizados pelo Tutor do Núcleo Profissional e apresentado para uma banca avaliadora no último encontro presencial do curso.
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE PORTO ALEGRE
NORBERTO WEBER WERLE
“INTEGRALIZANDO SABERES PARA INCREMENTO DA QUALIDADE
ASSISTENCIAL EM SAÚDE PÚBLICA”
Orientadora: Profª Ana Amélia Nascimento da
Silva Bones
ALECRIM-RS
2017
NORBERTO WEBER WERLE
“INTEGRALIZANDO SABERES PARA INCREMENTO DA QUALIDADE
ASSISTENCIAL EM SAÚDE PÚBLICA”
ALECRIM-RS
2017
Trabalho de conclusão de curso
apresentado à UFCSPA/UNASUS,
integrante da Especialização em
Saúde da Família, constituindo-se na
íntegra das distintas atividades
desempenhadas no ano de estudo e
prática médica formal.
Orientadora: Profª Ana Amélia
Nascimento da Silva Bones
SUMARIO
1) INTRODUÇÃO ............................................................................................................4
2) ESTUDO DE CASO CLÍNICO...................................................................................7
3) PROMOÇÃO DA SAÚDE, EDUCAÇÃO EM SAÚDE E NÍVEIS DE
PREVENÇÃO .............................................................................................................12
4) VISITA DOMICILIAR .............................................................................................17
CONCLUSÃO...................................................................................................................21
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................24
ANEXOS............................................................................................................................26
4
1. INTRODUÇÃO
No contexto da atualidade, através do melhor conhecimento dos determinantes do
processo dinâmico de saúde-doença, é cada vez mais nítida a grande relevância da atenção em
saúde resolutiva e longitudinal¹. A acessibilidade facilitada aliada à regionalização permite a
compreensão global territorial dos casos em si, incrementado qualidade e efetividade na solução
dos problemas em saúde². Desta maneira, como jovem médico, graduado pela Universidade
Federal de Santa Maria em dezembro do ano de 2015, dotado de um desejo de prática social
médica, sonhando com uma medicina equânime, pautada na participação social e
descentralizada, com plena universalidade, desenvolvo minhas atividades médicas no
município de Alecrim –RS. Anteriormente a tal exercício laboral, capacitei-me com o Curso de
Suporte Cardiológico Avançado, aliada à formação à distância em Doenças Cerebrovasculares,
protagonizado pela Universidade do Porto-Portugal, a qual habilitou-me a desenvolver dezenas
de artigos e trabalhos científicos, apresentados em vários congressos, galgando espaço na
construção da evidência médica.
Desde maio do ano corrente, pratico a medicina baseada na evidência médica adaptada
às condições determinantes em saúde locais, nesta cidade de Alecrim-RS, situada na
macrorregião Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, a 541 km da capital Porto Alegre.
Dotado de uma simpatia única e contagiante, o município de 7045 habitantes, de origem mista
alemã e italiana, foi capaz de acolher-me e possibilitar o pleno exercício dos cuidados
comprometidos em saúde com ênfase preventiva. Portando três equipes da Estratégia de Saúde
da Família, o munícipio conta com meus serviços médicos no ESF 3 ESQ SÃO PEDRO,
composto por seis microáreas, cuja população, predominantemente católica, trabalha em grande
parte no cultivo minifundiário e plantio de subsistência, com escolaridade primária e avançada
fase de transição demográfica.
A ESF 3 ESQ SÃO PEDRO trabalha de maneira comprometida e zelosa com o bem-
estar da comunidade, privilegiando a execução audaciosa de medidas de promoção e prevenção
em saúde. Contando com profissional médico, enfermeira, técnica de enfermagem, 4 agentes
comunitárias de saúde, odontóloga e auxiliar de consultório dentário, a equipe é responsável
por louváveis índices de saúde, frisando-se a ausência de mortalidade infantil continuada, a
5
cobertura de 100% das gestantes no programa Mãe-Bebê e os elevados escores de longevidade
da população.
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família também atua no âmbito do ESF 3, sob minha
ciência e responsabilidade médica. Contando com fonoaudióloga, nutricionista, educadora
física e fisioterapeuta, além da equipe de médica e de enfermagem, a intervenção
interdisciplinar toma forma plenamente, com decisões pautadas na concordância conjunta,
associada sempre à discussão do plano terapêutico com o paciente.
A estruturação municipal capacita a gestão da saúde local quanto às atividades
complementares em atenção médica de maneira ímpar. A promoção de saúde e medicina
preventiva configuram-se no foco das ações globais da cidade alecrinense. A Escola Estadual
de Ensino Médio Assis Brasil, responsabilizando-se pelo cuidado infanto-juvenil,
protagonizado pela prática regular de educação física orientada, controle de qualidade dentário
pela equipe de Saúde Bucal e avaliações médicas periódicas e programadas na sede do
educandário determinam relevantes escores de saúde locais. Ademais, o grupo de Terceira
Idade “ Vivendo Mais e Melhor”, com dedicados e aderentes participantes, é responsável por
atividades rotineiras de descontração, dança, discussão de temas pertinentes e exercícios
aeróbicos, metamorfoseando o contexto da senectude tradicionalmente monótono, em um
ambiente imperiosamente saudável.
Quanto às atividades aeróbicas, reconhecidamente essenciais para manutenção de boa
aptidão cardiorrespiratória³, tem-se conhecimento que a cidade alecrinense conta com espaço
poliesportivo novo e planejado, assim como academia ao ar livre, aberta, universal, acessível e
de qualidade, ginásio de esportes municipal, aulas de dança bissemanais patrocinadas pela
secretaria de saúde, além de pistas de caminhadas arborizadas e receptivas.
Tratando-se das demandas em atendimento em saúde, frisa-se que o ESF 3 desenvolve
ações de acolhimento pleno, privilegiando-se a resolução da totalidade das demandas dos
pacientes. Em geral as consultas médicas agendadas, aliadas às necessidades e exigências
diárias em atenção centralizam-se em queixas infecciosas de vias aéreas superiores e
gastrointestinais, com amplo predomínio no subgrupo pediátrico, enquanto queixas de
lombalgia mecânica e dores articulares difusas protagonizam cerca de 20% das consultas, com
franca predominância do público acima de 60 anos. As mulheres no menacme são responsáveis
por cerca de 25% das consultas médicas, com demandas usualmente relacionadas à
irregularidade menstrual, dor pélvica crônica e decurso gestacional, assim como a
6
representatividade de homens em consultas médicas em idade laboral ativa é ínfima
comparativamente às mulheres, mantendo proporção de 3:1;
Destaca-se neste município a atuação de uma Comunidade Terapêutica na, zona rural
estruturada sob a forma de fazenda de reabilitação de dependentes químicos das mais variadas
substâncias, enfatizando-se álcool, cocaína, crack e ecstasy. Sob os cuidados do ESF 3,
constituinte do enfático processo de territorialização, a Comunidade Terapêutica se constitui
em uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) nos termos da Lei
n°9.790, de 23 de março de 1999, sob processo do Ministério da Justiça n° 08001.004002/2004-
10, conforme Despacho da Secretária Nacional de Justiça, de 17 de maio de 20044. Responsável
por mais de três dezenas de pacientes em acompanhamento clínico multiprofissional com
psicóloga, nutricionista, enfermeira, médico e fisioterapeuta, a comunidade demonstrou grande
carência frente ao trabalho integralizado na abordagem anti-tabágica. Portando escores de
adição ao tabaco superior à 81% dos pacientes, mostrou-se clara a grande relevância do
desenvolvimento de ações custo-efetivas e eficientes. Assim, enquanto médico empreendi o
programa ‘ INTERVENÇÃO INTEGRAL MULTIPROFISSIONAL ANTI-TABÁGICA
EM GRUPO DE DEPENDENTES QUÍMICOS – “ FORMANDO NOVOS CIDADÃOS
’’, constituinte da atividade de formação médica da Universidade Aberta do SUS- Projeto de
Intervenção.
Objetivou-se portanto, integralizar as ações de saúde centradas no grupo de pacientes
dependentes químicos em acompanhamento, possibilitando abordagem anti-tabágica
multiprofissional, garantindo todo o suporte necessário para o abandono do hábito prejudicial
ao êxito dos cuidados globais em saúde.
7
2. ESTUDO DE CASO CLÍNICO
Mediante abordagem centrada na pessoa, fazendo jus ao conhecimento adquirido e
honrando-se o atendimento equânime, integral e longitudinal, descrever-se-á a seguir o
desenvolvimento de um caso clínico, atendido por mim no âmbito do ESF 3- ESQ SÃO
PEDRO, na cidade de Alecrim-RS, pautando-se na medicina baseada em evidências, conectada
à realidade e condições locais. O caso faz referência a uma das situações mais prevalentes em
consulta médica ambulatorial, a irregularidade menstrual.
2.1 IDENTIFICAÇÃO
Data do Atendimento: 23/12/2016 Hora: 14:32 Identificação: J.S.P.
Sexo: Feminino Idade: 24 anos Estado Civil: Casada Religião: Católica
Cor: Parda
2.1.1 QUEIXA PRINCIPAL Irregularidade menstrual há 7 meses.
2.1.2 HISTÓRIA DA DOENÇA ATUAL
Paciente em consulta ambulatorial, refere que há cerca de 7 meses apresenta
irregularidade menstrual, com episódios descritos condizentes com menorragia, entremeados
por períodos de até 60 dias de amenorreia. Alerta que nos últimos 90 dias não apresentara
quaisquer episódios de sangramentos de ordem vaginal, estando em franca amenorreia.
Associadamente refere início há cerca de 120 dias de dor mamária bilateral, com caráter em
peso, intensidade na escala visual da dor ( EVA: 6/10), predomínio em quadrante superior
externo bilateralmente, sem irradiação, com melhora ao uso de analgésicos comuns
(Paracetamol / Dipirona) e piora subsequente cerca de 24 h após. A dor tem manifestação diária,
com paroxismos locais, os quais tem contribuído para um desempenho laboral subótimo.
Nega relações sexuais desprotegidas, assim como uso de quaisquer medicações no
último ano. Não usa anticoncepcionais de quaisquer ordens, incluindo parenterais, dispositivos
ou orais. Nega passado de gestações prévias, vulvovaginites ou doença inflamatória pélvica.
8
Paciente refere que há cerca de um mês, tem apresentado frequentes contusões em
membros superiores, colidindo os membros em portas, instrumentos ou objetos inanimados,
cogitando-se a hipótese de dificuldade visual associada.
Nega irregularidades menstruais prévias, transtornos de ordem miccional, digestiva ou
cardiorrespiratória. Nega atividades aeróbicas extenuantes diárias, estresse intenso ou
pensamentos sequencias em gravidez (Pseudociese). Paciente refere distribuição de pelos
corporais habitual, sem hirsutismo aparente. Nega sintomas de hiperandrogenismo clínico,
incluindo seborreia, acne, voz grave e alterações capilares.
2.1.3 EXAME FÍSICO
Bom Estado Geral / Mucosas Úmidas Coradas Anictéricas e Acianóticas;
Bulhas Cardíacas Normofonéticas, Ritmo Regular de 2 tempos, Sem sopros;
Murmúrio Vesicular pulmonar regularmente distribuído, sem ruídos adventícios ;
Ruídos hidroaéreos presentes e normais, sem organomegalias, sem peritonismo, sem
dores à palpação do baixo ventre;
Pulsos periféricos amplos. Sem edema de membros inferiores;
Mamas simétricas, túrgidas. Mamilo protuso. Sem retrações à inspeção dinâmica;
Dor à palpação periareolar bilateral e de quadrante superior-externo;
À expressão: Drenagem de secreção brancascenta em baixa quantidade bilateralmente;
Tireóide tópica, sem nodulações, fibroelástica;
Toque Vaginal: Colo grosso, posterior, fibroelástico, alto firme, longo, impérvio. Sem
nodulações. Procedimento indolor. Altura : 159cm Peso: 54 kg
Sinais Vitais:
Pressão Arterial: 120/74 mmHg Frequência Cardíaca: 89 Temperatura Axilar: 36.8 ºC
Saturação de Oxigênio: 98 % Frequência Respiratória: 14 mpm
2.1.4 REVISÃO DOS MÚLTIPLOS SISTEMAS
Rinite alérgica polissintomática há cerca de 8 anos, com tratamento episódico com
Fluticasona 50 mcg Spray Nasal;
9
Ausência de Dente Incisivo Lateral Direito de Arcada Dentária Superior por Fratura
Traumática; Onicólise de 1º Pododáctilo Pé E
2.1.5 HISTÓRIA FISIOLÓGICA PREGRESSA
Nascida de 39 semanas + 3 dias; Parto cesariano por iteratividade; Primeira infância
sem alterações; Vacinações atualizadas; G0P0A0;
2.1.6 HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA
Internação em julho de 2013 ( aos 21 anos) por gastroenterite viral complicada com
desidratação. Sutura em perna direita ( Cicatriz ) em março de 2015 por ferimento corto-
contuso pós queda domiciliar.
2.1.7 HISTÓRIA MÓRBIDA FAMILIAR
Mãe portadora de hiperparatireoidismo com adenoma de paratireoide, diagnosticado em
2012 aos 50 anos em tratamento;
Irmã falecida por Septicemia de foco pulmonar aos 27 anos. Portava carcinoma
pancreático de ilhotas descoberto aos 22 anos.
Pai de 56 anos e irmão de 20 anos hígidos.
2.1.8 HÁBITOS DE VIDA DIÁRIA
Nega etilismo e tabagismo; Pratica pilates duas vezes na semana. Não faz demais
atividades aeróbicas. Não ingere verduras ou frutas.
2.2 LISTA DE PROBLEMAS:
Irregularidade menstrual há 7 meses com amenorreia secundária há 90 dias;
Mastalgia bilateral;
Déficit acuidade visual temporal bilateral;
Expressão mamária láctea;
Histórico neoplásico familiar;
2.3 HIPÓTESE DIAGNÓSTICA Prolactinoma;
10
2.4 CONDUTA DE INVESTIGAÇÃO INICIAL
Em investigação inicial de quadro de amenorreia, optou-se pela investigação
laboratorial rotineira associada ao perfil hormonal e ultrassonografia pélvica transvaginal;
FSH 3 mUI/ml LH 4,5 UI/L Estradiol 42 pg/ml Estrona 57pg/ml
Testosterona Total 1,3 pg/ml Androstenediona 0,9 ng/ml Prolactina 201 ng/ml
BHCG Negativo TSH 2,34 T4 livre 0,92 ng/ml Cortisol 5,8 ug/ml TGO 31 TGP
37 Creatinina 0,78 Hemoglobina 14,3 Sódio 141 Potássio 3,9 INR 1,2 Albumina 4,4
Ecografia Pélvica Transvaginal: Útero em anteversoflexão. Volume Normal. Ovários
visibilizados, sem cistos.
Em decorrência da corroboração diagnóstica clínico-laboratorial ( Altos níveis de
prolactina e dosagem hormonal condizente com fase folicular), procedeu-se realização de
Ressonância Magnética de Hipófise e Campimetria Visual.
Ressonância Magnética: 27/12/2016 Lesão expansiva hipofisária com extensão
suprasselar de 0,9 cm no maior eixo, sem sinais de sangramento, tocando quiasma óptico,
devendo-se tratar de Adenoma Hipofisário.
Campimetria: Hemianopsia Bitemporal com aparente predomínio à esquerda;
Esclareceu-se o diagnóstico neoplásico com a paciente em questão em conversa franca,
aberta. Em decorrência do histórico neoplásico familiar, que faz alusão ao quadro de Neoplasia
Endócrina Múltipla do tipo 1, traçou-se para melhor compreensão da dinâmica familiar e
contextualização o seguinte genograma:
Em reunião do NASF, discutiu-se extensamente o caso em questão, esclarecendo-se à
totalidade da equipe o caráter hereditário da neoplasia diagnosticada, assim como o contexto
de Neoplasia Endócrina Múltipla.
FIGURA 1. Genograma da família de J.S.P
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2.5 REVISÃO DE LITERATURA ACERCA DA MORBIDADE
Estima-se que a prevalência da MEN 1 varia de 0,01 a 2,5 por 1.000. As manifestações
clínicas da doença estão relacionadas com o órgão afetado e podem incluir efeitos de massa
devido ao tamanho do tumor, hipersecreção hormonal e malignidade5. A MEN 1 é uma
síndrome genética, com transmissão autossômica dominante de alta penetrância e causada por
uma mutação que inativa o gene MEN 1, que é um gene supressor tumoral. A MEN 1 é
considerada familial quando um indivíduo apresenta MEN 1 e pelo menos um parente de
primeiro grau apresenta no mínimo uma das características de MEN 1, ou seja, a presença de
tumor em pelo um dos três tecidos mais freqüentemente afetados6. A incidência de adenomas
hipofisários em pacientes com MEN 1 varia de 10% a 65%.O prolactinoma é o tumor mais
comum e causa galactorréia e amenorreia7. O tratamento varia de acordo com o tipo de tumor
hipofisário. Prolactinomas são tratados com agonistas dopaminérgicos (ex. bromocriptina,
cabergolina)5. A grande maioria dos pacientes (70-90%) responde a este tratamento,
demonstrando regressão do tamanho tumoral e normalização da prolactina e regressão dos
sintomas. Pacientes que não toleram os agonistas dopaminérgicos ou que são resistentes a eles
são candidatos à cirurgia transesfenoidal, combinada ou não, à radioterapia8.
2.6 PROJETO TERAPÊUTICO SINGULAR
Em reunião interdisciplinar programada com a equipe do ESF, incluindo médico,
psicóloga do NASF, enfermeira e agente comunitária de saúde responsável por sua microárea,
contando com a opinião da paciente acerca do curso de tratamento proposto, estabeleceu-se
como terapêutica o agonista dopaminérgico ( Cabergolina 0,5 mg 2 x na semana). Valendo-se
do aval especializado endrocrinológico, traçou-se planos em acordo com a paciente e com seu
contexto de vida, solicitando-se nova Ressonância Magnética em 6 meses, assim como dosagem
de prolactina em 2, 4 e 6 meses. Nova avaliação oftalmológica fora agendada para 6 meses do
início da terapêutica. Empreendera-se a solicitação do fármaco especial via SUS, com laudo
médico requerendo, uma vez que a paciente não porta condições financeiras de adquiri-lo. Nova
consulta agendada para 15 dias no âmbito de ESF, privilegiando-se sempre a integralidade,
longitudinalidade e equidade. Investigação programada de irmão de 20 anos, visando-se ao
rastreio de processos neoplásicos em consulta agendada para uma semana.
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3. PROMOÇÃO DA SAÚDE, EDUCAÇÃO EM SAÚDE E NÍVEIS DE PREVENÇÃO
Descrever-se-á neste módulo de desenvolvimento, correlacionando-se com o processo
contínuo de formulação deste portfólio, as medidas de promoção, educação e prevenção em
saúde empiricamente enfatizadas em múltiplos casos complexos disponíveis no portal de
educação a distância, o qual se configura em substrato de ensino e compartilhamento de
informação e experiência, com crescimento profissional, teórico e técnico global.
A avaliação das medidas é oriunda de rigorosa leitura, revisão, reflexão acerca dos
casos e contextualização com a realidade local dos atendimentos em atenção básica.
3.1 IDENTIFICAÇÃO DAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO, EDUCAÇÃO E
PROMOÇÃO DE SAÚDE
Abordando-se de maneira comprometida os casos exemplificados, elencaram-se as
principais medidas de prevenção, promoção e educação em saúde, listando-as e emitindo-se
comentários básicos acerca da questão:
Medida de Controle da Obesidade ( CASO 11);
o Dietoterapia : Tem-se vasto conhecimento acerca do grande benefício clinico e
em desfechos favoráveis de ordem cardiovascular sobre a manutenção do estado
eutrófico, com índice de massa corporal entre 18,5 e 25. Tal medida tem forte
impacto socioeconômico, em tratando-se de custos hospitalares relacionados
com desfechos vasculares, incluindo acidentes vasculares cerebrais, doença
arterial obstrutiva periférica e infarto agudo do miocárdio. Proporcionando
melhor controle da pressão, com diminuição da resistência insulínica e escores
glicêmicos favoráveis, tal medida imprime protagonismo nas orientações diárias
nutricionais.
o Exercícios Físicos Rotineiros: A prática regular, orientada e comprometida de
exercícios aeróbicos tem potencial crescente de incremento substancial na
qualidade de vida, perda de peso, melhor controle das cifras pressóricas e bem -
estar. É capaz de proporcionar liberação de substâncias incluindo beta-
endorfinas, as quais estimulam o metabolismo corporal e auxiliam na melhora
do perfil cardiovascular individualmente.
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Medida de Promoção e Prevenção em Saúde com Ênfase em Saúde do Trabalhador
(CASO 13): É crescente no atual contexto da sociedade contemporânea, a ênfase
proposta à melhora do perfil ergonômico laboral, como forma de prevenção primária às
patologias osteoarticulares e musculoesqueléticas provenientes de posições corporais e
exercícios extenuantes de prática diária. Assim, pretende com conhecimento
biomecânico, favorecer o uso consciencioso da estrutura corpórea, promovendo
melhora do desempenho físico, prevenção de lesões de estresse repetitivo e síndrome
de dor crônica. ( Ex.: Adaptação de máquinas a altura do trabalhador, cadeiras com
ajuste de lordose lombar, orientações e descanso intra-jornada).
Meios de Prevenção Secundária e Educação Em Saúde Relacionadas a Lesões que
Exijam Manejo Cirúrgico Ambulatorial ( CASO 14) : É nítida a relevância que
assume o correto manejo cirúrgico de condições clinicas prevalentes, com execução
favorável ambulatorial. Exemplificando-se o nível de prevenção secundária associado,
a cantoplastia bem realizada previne potencial celulite de membro inferior, dor crônica,
fibrose e distrofia ungueal posterior.
Medida de Prevenção Primária Associada à Atualização Vacinal ( CASO 15 E 17);
Indubitavelmente é sabido a grande gama de doenças imunopreviníveis com a prática
efetiva das imunizações previstas em calendário vacinal preconizado pelo Ministério da
Saúde. Cumpri-la é papel dos profissionais de saúde e de cada cidadão individualmente,
proporcionando perfil preventivo relacionado a múltiplos contatos, incluindo cortes
com vidro, lata, pregos e estruturas em muitas profissões como pedreiros, catadores,
médicos e odontólogos.
Medidas de Educação em Saúde e Prevenção Secundária Relacionadas a
Transtorno de Ajustamento a Nova Constituição Familiar ( CASO 16) : Tal
situação, de enorme prevalência e abordagem complexa pela equipe multiprofissional,
assume um grande papel na gênese de conflitos familiares. O fornecimento de
orientações, discussões em reuniões familiares, abordagem centrada na família e
condutas discutidas em grupo é capaz de implicar a resolução do conflito, o
estabelecimento e reconhecimento da nova realidade e a determinação dos novos papéis
de cada integrante do lar.
Perfil de Reconhecimento de Doenças em Puericultura e Prevenção Terciária de
Complicações Estabelecidas ( CASO 17): O acompanhamento de puericultura com
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estabelecimento regrado das frequências de avaliação profissional servem para rastreio
de incongruências ( Prevenção Secundária), assim como educação e orientações básicas
em prevenção primária. Frequentemente as consultas não são realizadas e muitas
condições mórbidas vigentes com potencial prevenível, implicam em danos, cuja
reabilitação ( Prevenção Terciária) figura como entidade de grande importância.
3.2 RELAÇÃO DOS CONCEITOS ÀS PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM UBS
É nítida a relevância obtida com a totalidade das informações provenientes dos casos
complexos exemplificados. A reflexão proposta oriunda da leitura, permite ao profissional
correlacionar o conhecimento teórico à pratica profissional em Atenção Básica. Assim, propõe-
se as seguintes reflexões:
3.2.1 INTER-RELAÇÃO COM A PRÁTICA EM SAÚDE MENTAL COM ÊNFASE EM
ATENÇÃO BÁSICA
É aparente a grande prevalência e a maciça limitação que as doenças de Saúde Mental
tem infligido em nossa sociedade. Ao encontro do contexto esclarecido no CASO 16, em prática
acurada, profunda e centrada em Projetos Terapêuticos Singulares, eu enquanto médico de
cidade de pequeno porte, minifundiária e agropecuária, necessito constantemente de atualização
e formação complementar para o manejo de tais condições. Em meu ESF, os transtornos de
ajustamento ao novo padrão de constituição familiar, seja o ninho vazio ou o nascimento de
novos indivíduos, proporciona variáveis conflitos, uma vez que os casais tem rotina extenuante
de serviço em seus estabelecimentos agropecuários por longo período, metamorfoseada por
novas atribuições ( cuidado dos filhos) ou a ausência deles ( ninho vazio).
3.2.2 INTER-RELAÇÃO COM A PRÁTICA DE PRÉ-NATAL E PUERICULTURA
COM ÊNFASE EM ATENÇÃO BÁSICA
Durante o desenvolvimento de minhas atribuições em atenção de saúde, pude
correlacionar os CASOS 15 e 17 ao contexto de pré-natal e atendimento em puericultura
desenvolvido. Grande responsável pelo sucesso do parto, desenvolvimento neuropsicomotor e
capacidade neurocognitiva, o pré-natal bem conduzido configura-se em medida de extrema
importância na gênese de um indivíduo com condições de saúde favoráveis. Em nosso âmbito
15
de atendimento, tivemos algumas gestantes tabagistas com refratariedade importante às
abordagens prévias. Deste modo fora necessário manter-se a inter e transdisciplinariedade da
equipe assistencial, em projeto terapêutico singular e abordagem centrada na pessoa, como
forma de propiciar o abandono de tal prática, proporcionando em atitude de prevenção primária
e promoção de saúde, condições melhores de oxigenação feto-placentária. Ademais, é sabido e
universalmente presente, que casos de atraso na atualização vacinal em puericultura são
comuns. Em minha unidade, à observação atenta da totalidade da equipe aos atendimentos,
observou-se que cerca de 15-20 % das crianças tinham atrasos não sabidos dos cadernos
vacinais, denotando a necessidade de intervenção eficiente na mudança no atual paradigma.
3.3 REVISÃO NA LITERATURA ACERCA DA DIETOTERAPIA ( CONTROLE DE
OBESIDADE) – DIETA DASH
As doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis por 80% das mortes em países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Dentre estas, as cerebrovasculares são a segunda
causa de mortalidade no mundo, sendo o acidente vascular cerebral (AVC) a doença
cerebrovascular apontada como a mais importante causa mundial de incapacidade9. No Brasil,
o AVC é a principal causa de morte por doenças cerebrovasculares, com 70.232 óbitos
registrados em 200810. Dentro deste contexto, a dieta DASH (Dietary Approaches to Stop
Hypertension) tem se mostrado uma alternativa de prevenção e tratamento da HAS e
consequente agente preventivo de eventos secundários, com ênfase em prevenção primária,
secundária e até mesmo, na reabilitação em saúde ( Prevenção Terciária). Estudos baseados
em evidência clínica têm mostrado o papel da dieta DASH na redução dos níveis pressóricos
de pacientes hipertensos e, por isso, é hoje recomendada pela VI Diretriz Brasileira de
Hipertensão, como parte do tratamento não medicamentosos da HAS11. A dieta DASH
preconiza o consumo de frutas, verduras, produtos lácteos com baixo teor de gordura, cereais
integrais, peixe, aves e nozes, ao mesmo tempo que incentiva um menor consumo de carne
vermelha, doces e açúcares. Seu consumo resulta em aumento na ingestão de potássio,
magnésio, cálcio e fibras, que contribuem para redução dos níveis pressóricos12.
A dieta DASH também contribui para uma menor incidência de insuficiência cardíaca.
Em um recente estudo observacional realizado por Fung et al.,47 mulheres com boa aderência
à dieta DASH tiveram uma redução de 24% no risco de doença coronariana e 18% no risco de
AVC13. Larson et al. sugerem que a ingestão de potássio e magnésio estejam inversamente
associadas com o risco de AVC em mulheres com história de HAS14.
16
3.4 APLICAÇÃO DO CONHECIMENTO DA REVISAO E MUDANÇAS DE
PRÁTICAS EM UBS/CONTEXTUALIZAÇÃO COM CASO CLINICO DESCRITO
Em virtude da maciça representação das doenças cardiovasculares em termos de custos
em tratamento de saúde e morbimortalidade, é nítida a relevância da prática de medidas não-
farmacológicas, associadas à terapia medicamentosa empreendida. Tratando-se da revisão
supracitada, com foco nutricional ao enfrentamento das morbidades, ratifica-se em múltiplos
estudos o caráter benéfico e efetivo de tal situação.
Muitas são as doenças pioradas, deflagradas ou alimentadas pelo sedentarismo,
obesidade e má prática alimentar em termos de saúde pública. Enfaticamente as doenças
cardiovasculares configuram-se como as mais influenciadas por tal comportamento, contudo
vê-se que a alimentação regrada, rica em alimentos de baixo teor salino e ricos em substâncias
iônicas, proteínas e gorduras insaturadas imprime melhora substancial global da maioria dos
pacientes em tratamento ou acompanhamento ambulatorial, não necessariamente hipertensos
ou vasculopatas. Assim, fazendo correlação com a situação descrita no estudo de caso clínico,
integrante deste Portfolio, a paciente J.S.P, apesar de portar patologia neoplásica sem vigência
de hipertensão, não mantinha rotina de exercícios aeróbicos ou hábito de ingesta de vegetais ou
frutas. Independentemente do seu estado pressórico normal, sua dieta não proporciona
condições cardiovasculares e sistêmicas ideais, constituindo-se deste modo medida de
educação, promoção em saúde e prevenção primária a ingesta da dieta DASH, a qual
comprovadamente é detentora de substâncias antioxidantes, hipotensoras e capaz de imprimir
redução no risco de morte por condições cardiovasculares globais, as quais incidem em boa
parcela de pacientes detentores de outras morbidades ( inclusive Neoplásicas como J.S.P.) não
hipertensivas.
Por conseguinte, conclui-se que a revisão fora de extrema importância, capacitando-nos
enquanto profissionais de atenção primária a efetivar indicações baseadas em evidência para
modificação do estado nutricional e práticas educativas em saúde. Muitas mudanças de conduta
ocorreram, frisando-se a abordagem centrada em medidas não-farmacológicas, controle
semanal do peso ambulatorial, estimulo à efetivação das medidas corpóreas em consultas
periódicas, revisão da dieta DASH em cada consulta e aferição minuciosa das cifras pressóricas
pré e pós dieta DASH, almejando-se além do melhor bem-estar, redução da morbimortalidade
futura.
17
4. VISITA DOMICILIAR- ATIVIDADES À DOMICILIO
Fazendo jus aos preceitos de descentralização, com ênfase na integralidade da atenção
e universalidade de acesso, é nítida a relevância da prática de visita domiciliar ao contexto de
assistência em saúde. É sabido, cada vez de maneira mais concreta, que a resolubilidade
terapêutica aumenta quando o profissional se aproxima do contexto regional em que o paciente
está envolvido. Com a criação do SUS, a integralidade surge como um dos principais pilares na
construção da Atenção Primária à Saúde, uma vez que se fundamenta na articulação das ações
de promoção, prevenção e recuperação, além da abordagem integral dos indivíduos e
familiares15. Por conseguinte, integrante da grade oficial de ações em Estratégia de Saúde da
Família do ESF 3 “ ESQ SÃO PEDRO”, cuja representatividade médica é protagonizada por
mim, a prática de atenção junto ao lar dos pacientes é tarefa reconhecida e aplicada de maneira
eficiente.
4.1 IDENTIFICAÇÃO DE CASOS
Reconhecendo casos de vulnerabilidade em suas visitas rotineiras e pragmáticas, as
agentes comunitárias de saúde são as principais responsáveis pela identificação e seleção de
situações de potencial beneficência relacionada à visita domiciliar. Em reuniões quinzenais de
equipe, as situações são descritas por cada uma das agentes, estabelecendo-se discussões
fundamentadas em evidências irrefutáveis, determinando-se os próximos lares a serem
submetidos à intervenção diagnóstica situacional e terapêutica pela equipe.
4.2 MECANISMO DE EXECUÇÃO
A todas as quintas-feiras, no turno matinal, junto da Enfermeira e das Agentes
Comunitárias em Saúde responsáveis por cada caso em individual, realizamos tal intervenção
descentralizada de atendimento saúde.
O deslocamento até a casa dos pacientes se dá através da utilização de carro municipal
da secretaria de saúde, não havendo histórico de indisponibilidades de transporte desde a minha
chegada à cidade. Em clima harmônico e comprometido, durante o trajeto terrestre são
discutidas as peculiaridades da visita do caso sequente, abordagem esta usualmente centralizada
na figura da Agente Comunitária em Saúde, a qual além do conhecimento específico acerca das
18
medicações utilizadas pelo paciente, status vacinal, adesão medicamentosa e padrão de
constituição familiar, também é integrante da rede de relações e ambiente regional de interação
em que o paciente territorialmente está inserido.
4.3 PRÁTICA: INTEGRALIDADE E FUNCIONALIDADE
As visitas domiciliares são indubitavelmente multifuncionais e honram os preceitos
preconizados pelo crescente e contemporâneo mecanismo de assistência em saúde: Atenção
Centrada na Pessoa e Projeto Terapêutico Singular. Em nossa experiência de 10 meses em
prestação de serviço, privilegiando-se a longitudinalidade da atenção, conseguimos provar de
maneira inequívoca que tal ação de assistência mostra benefícios tanto em casos agudos quanto
crônicos. Exemplificando-se, tem-se o caso de agricultor que fora mordido por morcego em sua
propriedade sem a busca de atendimento médico. A agente comunitária de saúde comunicara
a enfermeira, que rapidamente providenciou horário para a prática de atenção domiciliar junto
ao médico, notificando-se o caso, providenciando-se atualização anti-tetânica e anti-rábica além
de soroterapia localizada. Ao mesmo tempo, comprova-se a magnitude de impacto benéfico
que a visita domiciliar, em caso de paciente com paresia importante apendicular por acidente
vascular cerebral, possui, guiando terapêuticas alimentares, farmacológicas, higiênicas e
ergonômicas, analisando de muito perto a realidade financeira, habitacional, familiar e social
dos casos individualmente.
É sabido que além da funcionalidade terapêutica aguda ou crônica diretas, as visitas
domiciliares são também responsáveis de maneira efetiva pela vigilância epidemiológica e
medidas de prevenção secundária. Principalmente em localidades rurais, distritos municipais
de longínquo acesso ao sistema de saúde, reconhece-se a presença de situações alarme, que
imediatamente identificadas pelas agentes comunitárias de saúde, são alvo de ação pela equipe
capacitada. Assim, tem-se muitos exemplos de tais eventos, que sempre são enfatizados por
este profissional médico em ambiente de reunião multiprofissional, incluindo tossidores
crônicos ( mais de 3 semanas), indivíduos com humor hipotímico ou passado de tentativa de
suicídio, cidadãos com alterações tegumentares dismórficas, casos de pacientes acamados,
principalmente aqueles com complicações incluindo escaras, encurtamento de tendões,
espasticidade ou dor crônica, entre outros. Em nossa experiência assistencial, fomos advertidos
que em localidade distante 12 Km da unidade básica de saúde, havia um núcleo familiar em
que três indivíduos dos cinco integrantes do lar portavam lesões elevadas de pele, crônicas,
19
pruriginosas, com bordos ativos e não dolorosas na região escapular. Fazendo alusão às
enfáticas situações de alarme, a agente comunitária cogitou a necessidade de intervenção ao lar.
Munidos de instrumentos básicos para a realização de um exame físico comprometido, com
testes acurados de sensibilidade tátil, algésica, térmica e proprioceptiva, além do dermatoscópio
tradicional, pudemos afastar com precisão o diagnóstico de hanseníase, principal preocupação
aludida pela profissional regional que reconhecera a adversidade. Por conseguinte, efetuou-se
o diagnóstico de dermatofitose nos três indivíduos, cuja fonte provavelmente se configura o
feno carregado sobre o ombros, uma vez que tal prática era feita comumente sem vestes
diariamente. Empreendido o tratamento antifúngico, agendara-se consulta de controle em 4
semanas, onde as lesões dos três indivíduos apresentaram regressão importante, restando-se
apenas leve hipercromia residual, sem sintomatologia.
4.4 ESTABELECIMENTO DE REDE DE APOIO EM VISITA DOMICILIAR
Tratando-se de diagnose situacional, é sabido que a Estratégia de Saúde da Família
também compreende a função de suporte e amparo social a situações de vulnerabilidade quanto
à débil rede de apoio de muitos pacientes possuem. Desprivilegiados quanto à constituição
familiar, sendo muitas vezes sós nos lares, muitos idosos com restrições físicas de deambulação,
cognitivas ou até mesmo por desinformação, não procuram atenção profissional para os
intercursos sintomatológicos ou manejo de doenças crônicas e são muitas vezes surpreendidos
por doenças graves de implicação direta no bem maior que todos possuímos, a vida. De forma
incisiva, estes casos também são fortes candidatos à nossa prática comprometida de atenção
domiciliar, frisando-se sempre tal indicação em discussões multiprofissionais, com priorização
de um atendimento integral. O caráter polissêmico do termo integralidade sustenta que essa é
uma ação social resultante da permanente interação dos atores na relação demanda e oferta,
considerando aspectos subjetivos e objetivos, nos planos individual e sistêmico 16. A relevância
da integralidade na reorientação do modelo assistencial reside justamente no fato de ser esse,
dentre os princípios do SUS, "aquele que confronta incisivamente racionalidades hegemônicas
no sistema", contrapondo-se a uma visão reducionista e fragmentada dos indivíduos17. Tivemos
uma surpresa, enquanto equipe de atenção focada no incremento substancial da qualidade de
vida de nossos munícipes, quando fomos alertados por Agente Comunitária de Saúde que um
cidadão alecrinense, morador de localidade distante 6 Km da Unidade Básica de Saúde, viúvo
e sem filhos, nunca tivera em um consultório médico até hoje, tendo completado 73 anos no
20
último mês. Portando instabilidade postural e de marcha grosseira era incapaz de deslocar-se e
de realizar muitas atividades diárias de autocuidado. Assim, na quinta-feira matinal mais
próxima, munidos de espírito altivo e altruísta, deslocamo-nos até sua residência, onde pudemos
analisar seu caso de maneira especial. Hipertenso com cifras superiores à 160/100 sem
tratamento, hiperglicêmico com hemoglucoteste aleatório de 243, portador de coxartrose
grosseira com aparente anquilose do membro e estigmas de neuropatia sensitiva distal bilateral
simétrica, o paciente fora submetido ao empreendimento terapêutico, com inibidores da enzima
conversora de angiotensina com foco pressórico, tricíclicos em baixa dose com foco neural,
analgesia simples ( STEP 1 ) para a coxartrose, além de orientações dietéticas, funcionais e
reabilitadoras domiciliares básicas. Fora dispensado pedido de exames laboratoriais básicos
com foco metabólico para acompanhamento e empreendimento terapêutico relacionado à
diabetes a posteriori. Ademais, de maneira a concretizar a integralidade plena de atenção,
acionara-se a Assistência Social municipal para avaliação e acompanhamento, dotando o
paciente de maior rede de apoio e sustentação quanto às ações de cuidado individual,
vestimenta, alimentação e suporte em sociedade.
4.5 APOIO ÀS CONDUTAS DE DECISÕES INTERDISCIPLINARES: NASF
A inter-relação da Estratégia de Saúde da Família local e o Núcleo de Apoio à Saúde da
Família protagoniza organização e prática exemplares. Pode-se dizer que a proposta dos NASF,
em boa medida anunciada na Portaria do Ministério da Saúde nº 154/2008, propõe ampliar a
abrangência e o escopo das ações da Atenção Básica, bem como sua resolubilidade, apoiando
a inserção da Estratégia de Saúde da Família na rede de serviços, como as visitas domiciliares,
tendo o processo de territorialização e regionalização a partir da Atenção Básica18.
Determinadas situações cuja decisão inter e transdisciplinar figura melhores escores de
resolubilidade, o NASF municipal é acionado e realiza junto dos profissionais do ESF as
intervenções pautadas em evidência científica mais indicadas para cada caso individualmente,
sempre com decisão pactuada entre os elos do tratamento: paciente, profissional e família.
Foram nítidas a subsequente melhora em casos de paciente com trauma raquimedular por queda
de andaime, com paraplegia residual e escaras de decúbito, com subnutrição e transtorno
depressivo de ajustamento à nova situação, em que nutricionista, educadora física, psicóloga e
fisioterapeuta junto à equipe básica comprometeram-se com retornos subsequentes, orientações
dietéticas, posicionais, motivadoras e cinesioterápicas acuradas.
21
CONCLUSÃO
Sabidamente, no contexto atual da sociedade contemporânea, dotada de grande
desigualdade social, com disparidade de acesso e renda, é imperiosa a necessidade do
oferecimento de serviço assistencial em saúde de qualidade ímpar, resolutivo, acessível e
integral, com coordenação de cuidado e longitudinalidade de atenção para a universalidade dos
cidadãos. Para tanto, ao encontro da evidência, ultrapassando-se os limites da mera
disseminação de conceitos, capacitando-se em fundamentação científica e com focalização
regional e prática integrada, é clara a necessidade de formação contínua e formal dos médicos
que atuam em Saúde Pública, em regime de Estratégia de Saúde da Família, um crescente
desafio nos dias atuais. Assim, vê-se com grandiosa beneficência este curso de especialização
em Saúde da Família, integrante da Universidade Aberta do SUS em parceria de execução com
a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.
Iniciados os estudos no primeiro semestre do ano de 2016, o Curso de Especialização
deste o seu início mostrou com transparência e nitidez a sua grande e distinta função:
incrementar de maneira substancial a qualidade da assistência. Constituído por Eixos de Estudo,
pudemos enquanto parte discente desta formação, conhecer de maneira aprofundada e
concomitantemente focalizada na prática diária de assistência aspectos relacionados às várias
nuances da execução laboral médica em saúde pública. Pudemos ter acesso e adentrar os
conhecimentos de legislação relacionados à criação e estruturação do Sistema Único de Saúde,
reconhecer a evolução história dos sistemas de atenção até a atualidade, informar-se a respeito
do financiamento e pactuação das ações propostas, além da aprendizagem vigente dos
programas de fomento e incentivo atual, incluindo-se o Pacto pela Vida.
Fora extensamente gratificante, as correlações constantes fomentadas por este curso de
Especialização, que além de distribuição de informações formais acerca da execução da prática
clínica, incentivava estes profissionais médicos no conhecimento diário e aprofundado da
realidade local onde estavam inseridos, com registros fotográficos, busca de informações
econômicas, demográficas, geográficas e epidemiológicas do município correspondente.
Indubitavelmente esta ação permitiu a cada profissional conhecer a intimidade do contexto
financeiro, seja ele comercial ou agropecuário, contexto habitacional, contexto social e contexto
cultural, aproximando-se do estilo de vivência dos pacientes, o que de maneira incisiva capacita
sua conduta médica em se tornar resolutiva, com ganhos bilaterais, individuais e coletivos.
22
É sabido que o estímulo incessante desta formação permitiu aos profissionais a
efetivação de um “Projeto de Intervenção”, após o melhor conhecimento da realidade territorial.
Eu, como parte proativa e integrante da Estratégia de Saúde da Família ESQ SÃO PEDRO,
integralizei ações de saúde centradas em grupo de pacientes dependentes químicos em
acompanhamento em Comunidade Terapêutica localizada neste município de Alecrim-RS,
possibilitando abordagem anti-tabágica multiprofissional, garantindo todo o suporte necessário
para o abandono do hábito prejudicial ao êxito dos cuidados globais em saúde. Após as várias
fases de concretização, é nítido o grande êxito que tivemos com a prática formalizada,
promovendo adição destacada nos escores de saúde globais da população e crescendo
profissionalmente. Posso concluir que o Projeto de Intervenção me capacitou enquanto médico
ao reconhecimento de situações de vulnerabilidade com necessidade de medidas concretas, e
propiciou-me ambiente ideal para a execução do aprendizado incipiente, forçando-me e
estimulando-se a novas experiências e busca contínua de evidências científicas para a resolução
dos problemas regionais.
Durante a estruturação do Curso de Especialização, a simulação de ambiente análogo à
realidade vivenciada enquanto médicos de Saúde da Família, com a criação das cidades virtuais
e profissionais com suas peculiaridades constitucionais, fora extremamente benéfico para a
construção de diferentes realidades e compreensão sistemática do processo de adoecimento,
associado às nuances intrínsecas à dinâmica de prestação de serviço.
Durante o Eixo 2 do Curso, pudemos ter acesso a casos simulados, que realmente
refletiram a realidade de atendimento em saúde pública. Revestidos de carga cultural, oriunda
do processo de trabalho, territorialização, constituição familiar, educação e influência social,
cada caso atendido por mim em ambiente de Estratégia de Saúde da Família fora analisado de
forma integral, não centrada unicamente na doença, e sim compreendendo o processo dinâmico
que se configura o adoecer. Muitas vezes fomos fomentados à busca de evidência científica em
plataformas virtuais de referências publicadas na literatura mundial para propiciar a melhor
conduta médica individual, sempre se discutindo o plano com o paciente, parte integrante
gestora do seu próprio tratamento.
Revisando-se situações de prevalência significativa em atenção médica, pudemos
retomar conceitos de inúmeras morbidades incluindo Infecção Urinária, Dor Lombar, Saúde do
Trabalhador/Doenças Ocupacionais, Abuso e Dependência de Psicotrópicos, entre outras, o que
aliado aos fóruns de discussão no espaço dinâmico da plataforma virtual, propiciou discussões
23
constantes destes profissionais inseridos em contextos e realidades diferentes, com objetivo
comum, auxiliando-se na concretização das aspirações desta formação.
A construção deste portfolio fora sem dúvida a peça chave para a organização da
aprendizagem efetivada. Dividido em partes, em processo sucessivo, sempre amparado pela
orientação virtual profissional, pudemos muito além de reconhecer e aplicar de maneira
concreta o padrão de construção textual da ABNT, unir as diferentes experiências e
conhecimento adquirido neste ano de ritmo intensivo de estudos e prática profissional,
metamorfoseando de maneira definitiva o modo de pensar e agir destes profissionais, quanto ao
processo de saúde-doença, as diferentes influências multimodais no adoecimento, a importância
do conhecimento territorial e cultural local para a resolução dos problemas. Por conseguinte,
conclui-se que o ganho foi imensurável a este profissional que enfaticamente se tornou um
médico muito mais altruísta, compreensivo, comprometido, engajado na busca da conduta mais
adequada caso a caso e, por conseguinte, mais resolutivo.
24
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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reflexões críticas feitas com base na defesa de alguns valores. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2008;
2) MATTA, G.C.; LIMA, J.C.F. (Orgs.). Estado, sociedade e formação profissional:
contribuições e desafios em 20 anos de SUS. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. p.313-52;
3) BAPTISTA, T.W.F. História das políticas de saúde no Brasil: a trajetória do direito
à saúde. Rio de Janeiro: EPSJV/Fiocruz, 2007. p.29-60;
4) Lei Nº 9790/99 – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL;
5) TROUILLAS, J et al. Pituitary tumors and hyperplasia in multiple endocrine
neoplasia type 1 syndrome (MEN1): a case-control study in a series of 77 patients
versus 2509 non-MEN1 patients. Am J Surg Pathol, 2008. 32(4):534–543;
6) LEONTIOU, C.A.T et al. The role of the aryl hydrocarbon receptor-interacting
protein gene in familial and sporadic pituitary adenomas. J Clin Endocrinol
Metab, 2008. 93(6):2390–2401;
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responsive to cinacalcinet. Nature Clinical Practice Endocrinology & Metabolism.
2008, Vol. 4 (6), pp. 351-357;
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inibitor genes in multiple endocrine neoplasia type 1 and related states. Journal of
Clinical Endocrinology and Metabolism. 2009, Vol. 94 (5), pp. 1826-1834.
9) WHO Statistical Information System (WHOSIS). World Health Statistics 2008. p. 31-
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10) BRASIL: MINISTÉRIO DA SAÚDE-HIPERTENSÃO. Brasília: Ministério da
Saúde, 2010.
11) SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VI Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão. Arq Bras Cardiol 2010; 95(1 supl.1):1-51
12) LICHTENSTEIN, A.H. et al. Diet and lifestyle recommendations revision 2006: A
scientific statement from the American Heart Association Nutrition Committee.
Circulation. 2006;114;82-96.
13) FUNG, T.T et al. Adherence to a DASH-style diet and risk of coronary heart disease
and stroke in women. Arch Intern Med. 2008;168:713-20.
25
14) LARSON, S.C; VIRTAMO, J. Wolk Al. Potassium, calcium, and magnesium intakes
and stroke risk: discussion. Am J Epidemiol. 2011;174:35-43.
15) OMIZOLLO, J.A.E. O princípio da integralidade na visita domiciliar. Um desafio
do Saúde da Família. http://www.tede.ufsc.br/teses/PNFRO518.pdf (acessado em
março/2017).
16) ALVES, V.S. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da
Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial.
Interface Comun Saúde Educ 2005; 9:39-52.
17) SAKATA, K.N et al. Concepções da equipe de saúde da família sobre as visitas
domiciliares. Rev Bras Enferm 2007; 6:659-64.
18) MENDES, V.L. Editorial. Rev soc bras fonoaudiol. 2009; 14(1):129-35.
26
ANEXO-1
UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL-PASSO FUNDO
UNIVERSIDADE ABERTA DO SUS-UNASUS
PROJETO DE INTERVENÇÃO
INTERVENÇÃO INTEGRAL MULTIPROFISSIONAL ANTI-TABÁGICA EM
GRUPO DE DEPENDENTES QUÍMICOS –
“ FORMANDO NOVOS CIDADÃOS ’’
Norberto Weber Werle
ALECRIM-RS , 2016
27
RESUMO
Frente à tendência mundial de excepcional aumento dos índices de drogadição múltipla
populacional e visando-se à recuperação de usuários, implantou-se na cidade de Alecrim-RS,
uma comunidade terapêutica integrante da rede AVIPAE. Em alusão à prática dos princípios
doutrinários do SUS, visando-se a execução integral do cuidado e coordenação em saúde, a
Unidade Básica Esq São Pedro idealizou apoio ao projeto, protagonizando ações idealizadas
frente a uma abordagem visando ao abandono definitivo do hábito tabágico pelos pacientes em
acompanhamento. Portando suporte em saúde mental, farmacêutico, clínico e social, as medidas
propostas almejam melhores índices de saúde, incluindo recuperação de processos mórbidos
vigentes, melhora nos escores de longevidade, qualidade de vida e bem-estar, além de
orientações globais aos familiares, proporcionando maior taxa de sucesso no enfrentamento.
Indubitavelmente, ratifica-se a grande relevância das medidas propostas, justificadas
pela ampla gama de malefícios comprovados na literatura mundial inerentes ao uso do tabaco,
tanto isoladamente como em associação aos demais entorpecentes, enfatizados neste projeto de
intervenção.
Descritores: Transtornos por Uso do Tabaco / Abandono do Uso do Tabaco/
Integralidade em Saúde;
28
SUMÁRIO
1) INTRODUÇÃO ..........................................................................................................29
2) OBJETIVOS ...............................................................................................................31
3) REVISÃO DA LITERATURA..................................................................................32
4) METODOLOGIA.......................................................................................................35
5) CRONOGRAMA........................................................................................................37
6) RECURSOS.................................................................................................................38
7) RESULTADOS ESPERADOS...................................................................................40
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................42
ANEXOS............................................................................................................................43
29
1.INTRODUÇÃO
No contexto da contemporaneidade é nítido o crescimento exponencial de indivíduos
em situação de dependência química. Tem-se conhecimento que a elevada prevalência desta
entidade implica vultuosos gastos em saúde, abstenção ao trabalho e desagregação familiar,
contribuindo sobremaneira para desfechos adversos precoces, incluindo mortalidade e
comorbidades crônicas de alto impacto social¹.
No II Levantamento Domiciliar de Uso de Substâncias Psicotrópicas no Brasil, no ano
de 2007, revelaram-se como principais produtos utilizados o álcool e o tabaco, determinando-
se índices médios de 12,7 e 10,4 % de dependência global, contanto com amostragem
representativa de mais de 100 cidades brasileiras¹. Em análise de subgrupos excetuando-se o
tabaco, determinou-se a maconha com 8,8% e os solventes com 6,1 %, como as substancias
sequenciais de ordem da prevalência de dependência, ratificando a importância de medidas
efetivas no tratamento e prevenção do consumo². Ademais, é sabido que há franca
predominância de uso de múltiplas substâncias em franca adição por parte dos pacientes,
determinando-se o tabagismo como a principal droga associada às demais.
Ao encontro da problemática social referida, instalou-se na cidade de Alecrim-RS,
situada no Alto Uruguai, microrregião de Santa Rosa, uma comunidade terapêutica de
recuperação de pacientes em dependência química geral, incluindo drogas lícitas e ilícitas. A
comunidade, integrante da rede AVIPAE, centrada numa cidade minifundiária, com cerca de
7045 habitantes, de predomínio rural e economia baseada em agricultura e pecuária leiteira,
configura-se como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) nos
termos da Lei n°9.790, de 23 de março de 1999, sob processo do Ministério da Justiça n°
08001.004002/2004-10, conforme Despacho da Secretária Nacional de Justiça, de 17 de maio
de 2004.
Responsável por mais de três dezenas de pacientes em acompanhamento clínico
multiprofissional, incluindo equipes psicológica, nutricional, de enfermagem, médica e
fisioterapêutica, a comunidade demonstrou grande carência frente ao trabalho integralizado na
abordagem anti-tabágica. Portando escores de adição ao tabaco superior à 81% dos pacientes,
mostrou-se clara a grande relevância do desenvolvimento de ações custo-efetivas e eficientes
na resolução das adversidades demonstradas com clareza pelos pacientes e profissionais
atuantes em tal situação;
30
Deste modo, em reunião multiprofissional no âmbito de Unidade Básica de Saúde
municipal, almejando-se ações integralizadas e a coordenação do cuidado, a Estratégia da Saúde
da Família idealizou abordagem anti-tabágica singular ao grupo de dependentes químicos,
protagonizando ação de recuperação em saúde, com mudança de hábitos, acompanhamento em
saúde mental, abordagem terapêutica centrada nos indivíduos e disponibilização de fármacos
com indicação formal gratuitamente, garantindo a universalidade do acesso terapêutico.
31
2. OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
- Integralizar as ações de saúde centradas no grupo de pacientes dependentes químicos
em acompanhamento, possibilitando abordagem anti-tabágica multiprofissional, garantindo
todo o suporte necessário para o abandono do hábito prejudicial ao êxito dos cuidados globais
em saúde.
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Garantir acompanhamento médico, com ênfase em saúde mental, propiciando
ambiente de escuta individualizado para condução diagnóstica e das demandas específicas de
cada paciente no curso de abstinência tabágica;
- Disponibilizar de maneira gratuita quaisquer medicações das quais os pacientes em
acompanhamento tenham indicação de uso, como forma de garantir o sucesso das medidas
intervencionistas;
- Possibilitar o compartilhamento de experiências atuais e prévias entre os adictos com
relação ao enfrentamento das adversidades inerentes ao abandono do tabaco;
- Estimular a cultura do auto-cuidado em saúde, visando-se às ações de caráter integral,
com avaliações medicas periódicas gerais e rastreio de comorbidades possivelmente associadas;
- Difundir orientações entre cidadãos integrantes do círculo de convívio dos pacientes
acerca da maleficência tabágica, proporcionando orientações diversas para o a auxilio no
enfrentamento da situação;
- Conhecer de maneira acurada o perfil de tabagistas em análise, com ênfase no perfil
etário, quantidade de uso, resposta terapêutica e histórico comórbido;
32
3. REVISÃO DA LITERATURA
No contexto da atualidade o consumo do tabaco tem se tornado um grande preditor de
morbimortalidade, despontando como fator de risco de ordem direta para doenças
cardiovasculares, autoimunes e neoplásicas. Tem-se conhecimento dos grandes malefícios
proporcionados pela inalação das substâncias constituintes da droga, contudo o controle da sua
comercialização e uso é considerado hoje pela Organização Mundial da Saúde, um dos maiores
desafios de saúde pública vigentes¹.
Em se tratando de prevalência, é sabido que há no mundo cerca de 1,2 bilhão de
fumantes. Detendo-se especificadamente na população acima de 15 anos, constatamos que
cerca de um terço é dependente do tabaco, o qual também proporciona mais de 10.000 mortes
diárias através das múltiplas implicações patológicas relacionadas ao seu uso². A realidade
gaúcha vai realmente ao encontro dos índices globais, mostrando prevalência de consumo de
27,4% na população maior de 15 anos de idade, sendo que 90% dos adictos tornaram-se
dependentes na faixa etária de 5-19 anos, evidenciando a gravidade da situação e a
vulnerabilidade a que nossos jovens estão expostos².
Os principais fatores de risco que levam ao hábito de fumar são: sexo, idade, nível
socioeconômico, tabagismo de familiares de primeiro grau e dos amigos, rendimento escolar,
separação dos pais e estresse no trabalho 3,4. Ademais percebe-se que o uso abusivo ou a
dependência de outras substâncias psicoativas é comum nos dependentes do uso do tabaco5,
assim como indivíduos tabagistas são mais propensos a usar cocaína e crack, mostrando-se o
álcool e a maconha como as substâncias psicoativas mais prevalentes de uso primário e
secundário6.
Em alusão ao contexto exposto, evidencia-se a necessidade da criação de instituições
destinadas ao cuidado dos pacientes dependentes, proporcionando o oferecimento de ambientes
saudáveis de convívio e o afastamento efetivo dos vícios vigentes até então. Assim, é crescente
o número de Comunidades Terapêuticas espalhadas pelo território brasileiro, responsáveis pela
reabilitação, recondicionamento, educação e ressocialização de dependentes químicos das mais
diversas substâncias em franca coadicção com o tabaco7.
É sabido que a dependência da nicotina é um comportamento tão virulento que embora
70% dos fumantes desejem parar de fumar, apenas 5 % destes conseguem fazê-lo por si
33
mesmos7. Quando tabagista deseja interromper o hábito, pode-se explorar alguns pontos-chave
em apenas cinco a dez minutos: marcar uma data para deixar de fumar; rever experiências
passadas e determinar o que ajudou e o que falhou nas tentativas anteriores; identificar
problemas futuros e fazer um plano para lidar com eles; solicitar o suporte de familiares e
amigos; planejar o que fazer a respeito do consumo de álcool; e prescrever medicamentos8.
Apesar de prático e fácil, o aconselhamento breve proporciona efetividade restrita, mantendo
escores de até 18% de resolubilidade, conferindo à terapia farmacológica o padrão ouro frente
ao resultado favorável no abandono da dependência9.
Enfatizando-se o uso de fármacos na terapêutica referida, temos a disposição no
contexto brasileiro o uso da reposição nicotínica e de fármacos neuromoduladores, com atuação
a nível de neurotransmissão, determinando-se a Bupropiona como o protótipo do grupo.
Ademais, são claros os benefícios da associação das duas frentes terapêuticas, sendo esta a
recomendação que porta os melhores resultados na análise de subgrupos de tratamento anti-
tabágico.
Na cidade de Alecrim, situada no Noroeste do Estado do Rio Grande Sul, integrante do
Alto Uruguai, situa-se uma das Comunidades Terapêuticas de maior referência do interior do
Estado do Rio Grande do Sul. Integrante da Rede AVIPAE, a Comunidade Terapêutica São
Luiz Gonzaga instalada na comunidade do Vale do Pilão-Alecrim-RS é responsável pelo
cuidado e reabilitação de 32 pacientes dependentes das mais distintas drogas, incluindo 26
tabagistas também adictos a outros entorpecentes. Apesar da abordagem multiprofissional
vigente na instituição, percebera-se a carência de uma intervenção anti-tabágica efetiva, uma
vez que o abandono do uso de nicotina não tinha uma prioridade ímpar, tampouco existia um
protocolo com ênfase nesta questão nos objetivos empíricos da comunidade.
Assim são nítidas a necessidade e a relevância de uma atuação médica universal e
participativa ao grupo de pacientes supracitado, uma vez que mediante atenção prioritária à
situação de elevada vulnerabilidade, ser-se-á capaz de integralizar ações em saúde, com ênfase
na situação local, colaborando de maneira efetiva e eficiente na reabilitação e inclusão de
cidadãos com melhores escores de saúde na sociedade. Ademais, suspendendo-se de maneira
continuada o hábito tabágico, estar-se-á proporcionando redução consciente da
morbimortalidade envolvida na situação;
34
Indubitavelmente o projeto em questão será responsável pela melhora dos indicadores
municipais de saúde, incremento na qualidade de vida e convivência familiar dos dependentes
readmitidos na sociedade e difusão de conhecimentos oriundos da intervenção.
35
4.METODOLOGIA
O projeto de intervenção referido trata-se de um estudo clínico Intervencionista, em que
se implementarão as melhores indicações terapêuticas anti-tabágicas vigentes ao público
selecionado. A amostra será constituída de todos os pacientes usuários de substâncias químicas
diversas integrantes da Rede AVIPAE/Comunidade Terapêutica São Luiz Gonzaga/Alecrim-
RS em coadicção com tabaco, sendo formada por 26 pacientes.
A intervenção tomará forma na estrutura da própria comunidade contando com
consultório individual onde o profissional médico realizará a entrevista particular dos pacientes,
traçando o perfil destes e instituindo-se o tratamento de maior benefício centrado na situação
clinica inerente a cada caso de dependência.
O estudo contará com o auxílio da Secretaria de Saúde de Alecrim nas suas diversas
etapas de desenvolvimento, enfatizando-se a dispensação farmacológica e suporte de demandas
diversas em saúde.
O referido projeto é composto pelas seguintes fases clinico-terapêuticas : 1)
Conhecimento do Perfil dos Pacientes; 2) Abordagem Breve; 3) Revisão Clínica e Instituição
Terapêutica Farmacológica, 4) Revisão e Ação das Demandas Individuais, 5) Avaliação e
Resultados
1) Conhecimento do Perfil dos Pacientes: Primeira fase do referido projeto de
intervenção configurar-se-á na entrevista clínica, com ênfase na construção de uma
boa relação médico-paciente, centrada na discussão e no conhecimento do perfil
comórbido/epidemiológico de cada paciente, além do nível de dependência
(mediante escala de Fagerström- ANEXO 1) ;
2) Abordagem Breve: Segunda fase da intervenção, em que através de uma
explanação de 5-10 minutos, o profissional instruirá o paciente dependente acerca
de sua situação de saúde e os malefícios potenciais que o continuado uso da nicotina
e demais substâncias associadas proporcionará ao seu organismo. Ademais nesta
fase o paciente é esclarecido acerca do seu grau de dependência, enfatizando-se a
autopercepção da maleficência tabágica vigente ( Escore de Pontos-ANEXO 2) ;
3) Revisão Clínica e Instituição Terapêutica Farmacológica: Tratar-se-á da fase
subsequente à abordagem breve, em que o profissional médico avaliará o resultado
36
da fase anterior, selecionando os pacientes de perfil refratário para a instituição do
uso de fármacos e intensificação de abordagem como forma de atingir a meta de
intervenção.
4) Revisão e Ação das Demandas Individuais: Nesta fase, enfocar-se-á no contínuo
tratamento farmacológico, reafirmações das abordagens breves, revisão da
posologia terapêutica e ações globais em saúde, revisando-se as demandas
comórbidas prévias de cada paciente, as intervenções preventivas e rastreios de
malignidades recomendados de acordo com perfil etário e a promoção de saúde
global.
5) Avaliação e Resultados: Nesta etapa, discorrer-se-á acerca dos resultados clínicos,
alertando-se as taxas de abandono continuado.
Cada fase clínica do referido projeto terá a duração de 15 dias, sendo liberado relatório
individualizado referente à cada paciente, junto ao prontuário clinico individual. As
intervenções realizadas pelo profissional serão quinzenalmente discutidas em âmbito de reunião
de equipe multiprofissional, buscando à prática integralizada da atenção em saúde.
Ao final dos 90 dias de extensão e prática continuada, apresentar-se-ão os resultados ao
grupo de pacientes, assim como aos profissionais envolvidos, como forma de reflexão e
avaliação das ações desenvolvidas.
37
5. CRONOGRAMA :
Procedimento Ago/2016 Set/2016 Out/2016 Nov/2016 Dez/2016 Jan/2017
Apresentação
Projeto para a
Equipe-ESF
X
Seleção de
Material e
Fármacos/
Organização
Institucional
X X
Conhecimento
do Perfil dos
Pacientes
X X
Intervenção
Breve
X
Revisão
Clínica e
Instituição
Terapêutica
Farmacológica
X X
Revisão e
Ação das
Demandas
Individuais
X X
Avaliação
Final e
Resultados
X
Apresentação
e Discussão
em Equipe
X
Publicação X
38
6. RECURSOS NECESSÁRIOS
6.1 RECURSOS HUMANOS
Mediante critérios de qualidade, para execução de projeto com abordagem
integral, inter e transdisciplinar, é indispensável a presença efetiva e atuante dos
seguintes profissionais:
- Enfermeira do ESF;
-Médico do ESF;
-Psicóloga atuante no NASF;
-Técnica em Enfermagem do ESF;
-Farmacêutica da Secretaria Municipal de Saúde;
6.2 RECURSOS MATERIAIS
Após análise acurada das francas necessidades perante as ações metodológicas
planejadas, conclui-se a necessidade de:
- 500 folhas A4;
- 10 canetas azuis;
- Esfigmomanômetro, estetoscópio e oxímetro de pulso;
- Adesivos de Nicotina de 21 mcg, 14 mcg e 7 mcg na quantidade estimada de
32, 16 e 16 caixas respectivamente;
- 20 caixas estimadas de Bupropiona 150 mg;
- Fichas de avaliação de dependência tabágica;
- 1 Computador;
- 1 Impressora;
- Prontuários de pacientes;
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-Históricos Comportamentais no ambiente da Comunidade Terapêutica;
-Balança;
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7.RESULTADOS
7.1 RESULTADOS ESPERADOS
Indubitavelmente, mediante análise acurada do perfil de cada paciente, com ênfase nos
antecedentes patológicos, hábitos de vida e morbidades vigentes, pautados na Medicina
Baseada em Evidências, pretende-se que a implementação de medidas anti-tabágicas coerentes
proporcione aos adictos a interrupção efetiva total e permanente de tal malefício com adesão
terapêutica global.
Associadamente, após a imperiosa avaliação integral de cada indivíduo, usufruindo das
subsequentes medidas de prevenção secundária, incluindo rastreio recomendado de possíveis
patologias associadas em dependência da sintomatologia individual, espera-se uma diminuição
considerável da morbimortalidade por doenças associadas.
Contando com os demais profissionais integrantes do projeto, tem-se grande expectativa
na melhora substancial da qualidade de vida pós interrupção, assim como espera-se melhora
considerável dos índices de desempenho cardiopulmonar com a reabilitação sugerida,
executando-se com excelência as medidas de prevenção terciária.
Através do conhecimento global dos pacientes e associação de dados coletados, espera-
se traçar um perfil epidemiológico típico e expandir a metodologia empregada para diferentes
espaços, visando-se a incrementar qualidade e resolubilidade em outros serviços de saúde.
Ademais, objetiva-se como resultado favorável o fato de que a convivência adjunta dos
pacientes em âmbito de comunidade terapêutica e a troca de experiências proporcionada em
reuniões coletivas, além do acolhimento em sala de espera, proporcione crescimento mútuo e
ajuda externa no enfrentamento da abstinência ao tabaco;
7.2 RESULTADOS ALCANÇADOS
Tratando-se de resultados incipientes e iniciais, neste que se configurara em estudo de
intervenção, com acompanhamento longitudinal e sem grupo controle, até o presente momento
tivera-se:
Interrupção do hábito tabágico em 73% (19 pacientes) após 15 dias da 3ª fase;
Interrupção do hábito tabágico em 84% (22 pacientes) após 15 dias da 4ª fase;
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Redução da quantidade diária de uso para menos da metade em 75% dos restantes (três
pacientes dentre os quatro que persistiram no hábito);
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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EISTEIN. Álcool e drogas sem distorção. http://www.einstein.br/alcooledrogas
(acessado em 21/set/2016).
2. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Pare de fumar: atualidades sobre o
tabagismo. http://www.inca.gov. br/tabagismo/atualidades (acessado em
21/set/2016)
3. HAGGSTRÄM FM et al. A controlled trial of nortriptyline, sustained-release
bupropion and placebo for smoking cessation: preliminary results. Pulm
Pharmacol Ther. 2006;19(3):205-9
4. MALCON MC, MENEZES AMB, CHATKIN M. Prevalência e fatores de risco
para tabagismo em adolescentes. Rev Saúde Pública 2003; 37 (1 Suppl): 1-7.
5. FIGUEIREDO VC et al. Determinantes dos níveis de cotinina salivar: um estudo
de base populacional no Brasil. Rev Saúde Pública 2007:41(6):954-962 .
6. OKUYEMI KS et al. Nicotine dependence among African American light
smokers: a comparison of three scales. Addict Behav. 2007;32(10):1989-2002.
7. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Inquérito de tabacos em escolares:
VIGESCOLA. http://www.inca. gov.br/vigescola/ (acessado em 20/set/2016).
8. BIENER L, BOGEN K, CoNNOLLY G. Impact of corrective health information
on consumers’ perceptions of “reduced exposure” tobacco products. Tob
Control. 2007;16(5):306-11.
9. WELLMAN RJ, DIFRANZA JR, PBERT L. A comparison of the psychometric
properties of the hooked on nicotine checklist and modified Fagerström
tolerance questionnaire. Addict Behav. 2006;31(3):486-95.
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9.ANEXOS
9.1 ESCALA DE FAGERSTRÖM
9.2 ESCORE DE PONTOS