01 (José M Camargo) Marcos Pires 2010 Cap7a

13
( ' i1111 ·1·hul 1 •m um : .1111bi ' nl · u11lipopu l11r · 111 1li11 11 ·i Hllll , 11 pi1ll1i ·a ' orn 11111 1 i h1 Pu · 0 diri ·ilin ·111.c cnconlraria cspa d ' u ... c m urn 1" •irn ' 1u c n<.o loss · u1111 diluduru . 'onquanto fosse parte de um "discurso do caos", qual parli · ip ou d 1 pr paraç ão do a mbient e go lpista de 1 963- 1 964 , alcan e d long prazo daq11 1•l 1 política eco nômica so ment e pode ser verificado na montagem de um modelo u1 11 centrador de renda. Ademais , a contenção inflacion ár ia teve êx ito apena cnqu11 11l11 se promovia a rees truturação da produção e da di st ribui ção da riqueza na i nul. ( 1 discur so de "res ponsabilidade fiscal" nem isso tev e. A política mon etá ri a l imi11111 -se a diminuir a velocidade da oferta de meio circulante , à custa da qued a du d manda efetiva. Uma vez da das as condições para a captação de uma parcela maior do ·. x11 dente do produto, as forças que deram o go lpe prontificaram-se a mudar a 1 o i l 1111 econômica em favor de um novo ciclo acumulativo. Qu a ndo colocado o resultado de longo prazo da economia bra s il ciru 11 1 comparação com o potenci al de desenvolvim ento desenc a deado dur a nl l' 11 Proc esso de Substituição de Importa ções, barrado em definiti vo pelo •o lp tem- se que : O total dos prejuízos causados pelo Paeg ao desenvolv imento bras il e iro parece escapar mesmo das tentativas de mensuração. Quantificar a diferen ça entre um país que tivesse da do continuidade às iniciati vas de 1945-1964, e o que teria se formado a partir do golpe de abril de 1964, parece, em última análise, um daqueles dolorosos exercícios contrafactuais de comparação entre o que foi e o que poderia ter sido. (Souza, 2005, p. 76) pollticas imple mentadas pe lo Governo Castello Branco possibilitaram a ree strutura çã o cio 11 mia brasileira e viab ili za ram a expansão econômica no período do chamad o milagr nômico, verifi ca do entre 1968 e 1973. Em um contexto autor it ário , u ma série de reform( tltu cionais foi im ple m entada a partir do Plano de Ação Econômica do Governo (P aeg), como tr do anteri ormente. Como afirmam Saes et ai. : O Paeg foi um misto de medidas conjuntura is, co m vistas a con t ro la r o proces- so inflacionário (controle monetário, redução do e conte nção sa l arial) co m um amplo programa de refo rmas instituci ona i s. A pri ncipa l medida adot ada pel o Paeg foi o reconhecim e nto da econo mia bra si leira como uma economia inflacion á ri a e a introdu ção de reg ras de correção monetária , permitindo o convívio com a infla- ção. (Saes et a i. , 1997, p. 177) O 11 milagre econômico 11 (1968-1973) r ·formas instituídas durante o Governo Castello Branco e os incentivos cria do s rn o capital privado prepararam o terreno para uma nova fase de crescirnenlo a rtir de 1968. Em primeiro lugar, as reforma s tinham como objetivo criar um novo ljllCma não inflacionário de financiamento da acumulação de capital. A partir da

description

economia brasileira

Transcript of 01 (José M Camargo) Marcos Pires 2010 Cap7a

( 'i1111·1·hul 1 •m um :.1111bi ' nl · u11lipopu l11r · 111 1li11 11 ·i Hllll , 11 pi1ll1i ·a ' orn 11111 1

ih1 Pu · 0 diri ·ilin ·111.c cnconlrari a cspa d ' u ... cm urn 1" •irn ' 1uc n<.o loss · u1111

diluduru . 'onqu anto fosse parte de um "di scurso do caos", qu a l pa rli ·ipou d 1

pr paração do ambiente golpista de 1963- 1964, a lca n e d long prazo daq111•l 1

política econômica somente pode ser verificado na montagem de um modelo u1 11

centrador de renda. Ademais, a contenção inflacionária teve êx ito apena cnqu11 11l11

se promovia a reestruturação da produção e da distribuição da riqueza na i nul. ( 1

discurso de " responsabilidade fiscal" nem isso teve. A política monetá ri a limi11111

-se a diminuir a velocidade da oferta de meio circulante, à custa da qued a du d manda efetiva.

Uma vez dadas as condições para a captação de uma parcela maior do ·.x11

dente do produto, as forças que deram o golpe prontificaram-se a mudar a 1 oi l 1111

econômica em favor de um novo ciclo acumulativo.

Quando colocado o resultado de longo prazo da economia brasilc iru •11 1

comparação com o potencial de desenvolvimento desencadeado dura nl l' 11

Processo de Substituição de Importações, barrado em definitivo pelo •o lp

tem-se que:

O total dos prejuízos causados pelo Paeg ao desenvolvimento brasileiro parece escapar mesmo das tentativas de mensuração. Quantificar a diferença entre um país que tivesse dado continuidade às iniciativas de 1945-1964, e o que teria se formado a partir do golpe de abril de 1964, parece, em última análise, um daqueles dolorosos exercícios contrafactuais de comparação entre

o que foi e o que poderia ter sido. (Souza, 2005, p. 76)

pollticas implementadas pelo Governo Castello Branco possibilitaram a reestruturação cio 11 mia brasileira e viabilizaram a expansão econômica no período do chamado milagr nômico, verificado entre 1968 e 1973. Em um contexto autoritário, uma série de reform(

tltucionais foi implementada a partir do Plano de Ação Econômica do Governo (Paeg), como tr do anteriormente. Como afirmam Saes et ai. :

O Paeg foi um misto de medidas conjunturais, com vistas a contro lar o proces­so inflacionário (controle monetário, redução do déficit~blico e contenção salarial) com um amplo programa de reformas institucionais. A principal medida adotada pelo Paeg foi o reconhecimento da economia brasi leira como uma economia inflacionária e a introdução de reg ras de correção monetária, permitindo o convívio com a infla­ção. (Saes et ai. , 1997, p. 177)

O 11milagre econômico 11 (1968-1973)

r ·formas instituídas durante o Governo Castello Branco e os incentivos criados

rn o capital privado prepararam o terreno para uma nova fase de crescirnenlo a

rtir de 1968. Em primeiro lugar, as reformas tinham como objetivo criar um novo

ljllCma não inflacionário de financiamento da acumulação de capital. A partir da

rvl1111111 l1 llH1l 1'11·i11 , du rclb r111 ·1 l'i s ·ui ' du polili ·a l:trilY1ria, bus ·ava-s · -r iar 111 l'I' 1

11i s1nos ·011s ist ·nl ·s de finan iamenlo do •<t slo públic , embora a lgumas clessns 1111 ·

didus, particularmente a introdução cio mecanismo ela correção monelária , lcnh 1111

acarretado posteriormente a explosã.o da dívida pública e a indexação gencra li 11.11 d11

da economia. A tentativa de criar bancos de investimento, de fomentar o m ' r ·11d11 de capitais, de estabelecer mecanismos de financiamento do setor imobiliário l' d mecanismos de ampliação do crédito ao consumidor visava criar esquemas d f'in 111

ciamento dos investimentos privados e de bens de consumo duráveis com o ob.i ·11 \11 de ampliar o mercado consumidor desses bens.

Em segundo lugar, a nova política salarial adotada a partir de 1965, ao , 11 bestimar sistematicamente o chamado resíduo inflacionário, arrochou os sa l{1r iu

constituindo-se em um dos elementos centrais da política de combate à infl aç< o, 1 1

direto de greve e a estabilidade no emprego foram suprimidos e os sindicato , 'N 1

ziados, eliminando-se qualquer tentativa de reação. As negociações entre sin li ·11111

e empresas foram substituídas pela política salarial formulada pelo governo, q11 1

instituiu mecanismos que previam a correção salarial anual com base em uma 111 '· 111

dos salários reais dos últimos dois anos e metade da inflação estimada para o 11111 ,

seguinte, o denominado "resíduo inflacionário'', mais uma taxa de produtividad "

Ao subestimar as médias salariais, assim como os índices da inflação ful111 1,

em um contexto político desfavorável aos trabalhadores, o governo militar ab 1111

espaço para a redução dos salários nos anos seguintes à implementação da poli ti · 1 salarial e para um aumento da concentração de renda, inclusive durante o período d11

chamado milagre econômico. O salário mínimo em São Paulo, por sua vez, atin 1 i1 1,

em 1969, o seu menor valor na década, em termos reais, segundo o Dieese, com u 111 1

perda de 22,2% em relação a 1964 e de 42% entre 1964 e 1974. Essa redução do vu lt 11

real do salário mínimo foi peça essencial no processo de arrocho salarial e parn 1

perda da participação das rendas do trabalho no total dos rendimentos, ao se 1 111

em conta que três quartos dos trabalhadores recebiam até dois salários mínimos 11 11 início da década de 1970 (Rego e Marques, 2004).

A política salarial implementada, incluindo a do salário mínimo, conjugnd11 ao cerceamento das atividades sindicais e políticas, resultaram não apenas em u1111

perda dos salários na renda, mas também na abertura do que ficou conhecido corno "leque salarial". Ou seja, ocorreu uma di spersão crescente entre as próprias reml11

do trabalho, com uma compressão dos salários mais baixos, representados em g nil pelos trabalhadores menos qualificados e ligados às atividades produtivas nas c111 presas, e reajustes mais favoráveis ao pessoal ocupado nas atividades admin ist ru

tivas, com maior grau de qualificação, como técnicos de níveis médio ou superio1, gerentes, administradores etc. Segundo o Dieese, em comparação com 1964, o alt'1

rio real dos trabalhadores ligados à produção encontrava-se, em 1973, 10% meno1, em termos de poder de compra, enquanto o pessoal ocupado na área administrali v11

pn:s •111011 vn lor's n:uis d· s ·11 . ll' IHll1111•11t11 11p •11111 • •111 111/.1 •1111 •111\' o 110 11110 kiu l (R' •o · Marqu 'S, 001). Ad ·111 d , 1·111111111po11t11 . '1111w1 ( 111 I /). 1 i'01 ll1l11\' lP d~·

l\'ll s umplamcnlc dcsfovnrúv ·I 1111,' Ir 1l urlh 1d1111• t 1111111111 po. 1IHl11011 t ·111p1 " ' 1'

1 vur a inlen idade do trabalho, i111p11nd11 11111 ~\1 1 jo1111d 1. ~· 1111ii11r di s ·iplii111 da 1(>1\'1 1 ll'llbalho. ssa prática propi ·io11 •11 11lios d· produl ivid11d · 1u · 111 o 1i11·111n r ·p11 :-; , 11dm1

o su lúrio , elevando as taxus d · · plorn,·t o · as tu 11s d · lu TOS dos capitulislas, \1

u • 11111cni zou a crise para muitas ' 111JW '8us. Posteriorm ntc, consl il ui -s · ·111 u111 ·I ·-1 •nto importante para a retomada cio cresc imcnlo econômico a parlir ele 1968:

Num exame de mais longo prazo, importa assinalar que a política sa la ri a l,

combinada com as demais medidas assinaladas, provocou uma muda nça qua­

li tativa nas relações de trabalho: maior subordinação do trabalhado r à di s ·i­

plina da empresa, maior dependência face às autoridades patro nais, sindica is,

previdenciárias, policiais etc. e menor atenção às necessidades , a pi rações l:

aos direitos do trabalhador. (Singer, 1977, p. 79)

Portanto, não constitui surpresa que a conjugação da política sala ri al e da pol f 1 i-11 trubalhista , que levou a urna compressão da remuneração dos trabalhadores, l ' nha

ultado em uma impressionante concentração de renda entre 1960 e 1970, orno 111ost ramos dados da Tabela 7.1. A metade mais pobre da população, que já tinh a u rn u

nr ·ela baixa no total da renda do país, em 1960, equivalente a 17,4% do tota l, viu 11

1111 participação se reduzir para apenas 14,9%, em 1970. As classes médias lamb ~ 111

•fderam participação, caindo de 43%, em 1960, para 38,4%, em 1970, ao pass qu '

·11mada mais rica, representada pelo estrato dos 10% de maior renda, passou d · 'l,6%, em 1960, para 46,7% do total da renda, indicando um quadro de ex trema d· · 1 ualdade e urna ampliação das disparidades sociais e econômicas. Ressa lte-se qu ' omcnte o estrato do 1% mais rico se apropriava de 14,7% do total da renda nac ionul ,

111 1970, o equivalente à fatia da metade mais pobre da nação.

·~ ' buição de rehda por estraros de rendimentos no Brasil, (1960-1980, em %),

Ano Estratos

1960 1970 1980

17,4 14,9 12,6

43, 0 38.4 36,5

39,6 46,7 50,9

100,0 100,0 100,0

28,3 34, 1 37,9

11,9 14,7 16,9

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

ÁilH in1 , 11 polfti ·a sa larial vi •ente, uo pr 's •rvur ou ·I ·vur o pod ·r aqui sili o d11 camadas mais iltas de renda, redu zindo, ao menos ·111 termos relativos, ar ·nd 1 d11 segmentos de renda mais baixa, tornou nã.o apenas o pcrfi 1 da d i tribu ição d · r ·11d í1 mais regressivo como também introdu ziu mud anças importante na strul u1 11 d 1

demanda, como enfatiza Singer (1977). Ocorreu uma expansão mai int 11 s11 11!1

bens de consumo duráveis e de determinados tipos de serviços consumidos 1wl 1 classes mais a ltas, enquanto os bens de consumo não duráveis, como alim ·111 11 vestuário e tecidos, tiveram um comportamento muito menos dinâmico. e ,uncl 1111

autor, entre 1964 e 1970, a produção da indústria de ali mentos cresceu 42%, a inil11

tria têxtil teve queda de 4%, e a indústria de vestuário ficou estagnada. Já a in c.lt'1sl 1111 de material elétrico e eletrônico aumentou 113%, e a indústria de materia l de l l'll 11 ,

porte expandiu-se 143%.

O controle da inflação, por meio dos mecanismos de controle de preço e ·011 tenção dos salários mais baixos, mas permitindo o fortalecimento das rend as d 1

classes médias e altas, além de uma expai são do crédito ao consumidor, para a 111• 1 1

cultura e a construção civil e dos gastos públicos, sobretudo em infraestrutura, · ri1111

as condições para a rápida expansão da economia a partir de 1968. A existênciu d capacidade ociosa nas empresas, em função do baixo crescimento econômic 11 11

anos anteriores, também favoreceu esse novo ciclo de crescimento, ao não reprcs ·11 tar um elemento adicional de pressão inflacionária.

A retomada do crescimento econômico começou a delinear-se ainda no f'i 11 d de 1967, mas foi no ano seguinte que a economia brasileira voltou a crescer de f n111 consistente. Entre 1967 e 1970, o PIB cresceu 9,9% em média ao ano (Tabela 7 .... l '

Gráfico 7.1). Entre 1970 e 1974, o PIB cresceu à taxa média anual de 11 ,3%, índi T

elevado se comparado com a taxa histórica de crescimento da economia brasil ciru , situada ao redor de 7% ao ano, e com as taxas de crescimento de outros países

época. O crescimento médio da indústria, entre 1967 e 1973, foi de 12,7%, e os cio

res de bens de consumo duráveis, bens de capital e bens intermediários cresceram, · respectivamente, 23,6%, 18,1% e 13,5% no mesmo período. O segmento dos bens ll'

consumo não duráveis cresceu a uma taxa de 9,4% ao ano. Esse crescimento, apesu 1

de ser expressivo, ficou bastante aquém do dos demais setores da indústria, espec iu 1

mente dos bens duráveis, em função da política de contenção salarial, de modo quL' o comportamento da massa salarial ficava mais dependente da evolução do emprc •o (Saes et al. , 1997).

O setor de construção civi l cresceu , nesse mesmo período, 10,9% ao ano cn1 média, e a agricultura teve elevação anual média de 4,2% entre 1967 e 1973, caben·

fo destaque para os produtos de exportação, enquanto os artigos voltados para o nercado interno tiveram um comportamento bem mais modesto.

A partir de 1967, houve um afrouxamento da política monetária e creditícia, o 1ue gerou estímulos para reanimar a economia. Desde 1966, a demanda por bens d ·

7.2 7llxa de variaç.!o anual do PIB rotai por

PIB

9,8

9, 5 'I /, 1 UI 11,

10.4 11,1 10, ' - --11 ,3 11 , 10) 11 )

11,9 14,2 4,0 1//1

14,0 17,0 0,1

8,2 8,5 1,3

5,2 6,2 3.4 11,8

10,3 10.7 4,2 7.~

4,9 3,9 9,6 4,1

5,0 6.4 -2 ,7 6,2

6,8 6,8 4,7 7,8

1980 9,2 9,2 9, 5 9,0

lco 7.1 - Evolução do PIB total e por setores (1968-1980)

::R ~ 10 +---~---.~~~~~~~~__J\:7'1l7ir-~~--.i:-~---i "' :::i e

~ 5 +----~-____,...L__-\,---~J---f-'~~~-t------j '"' V'

"' ~ o +--________ ___::,.....:::__ ____ ---t----JL-------i

1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 Ano

-+- PIB ... o .. · Indústria __._Agricultura -e- Serviços

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

l'1111 r-< 111110 d11r '1 ds vinha se ex pandin lo, em virtude do uprof'u11c.lamento da con ·cn­

tnu,:1 o da r ·mlu ·111 prol da classes 111édi <1s e <1ltas. orne-se a i so o aumento dos

fim1nciamentos para compra de bens de consumo. A reforma financeira, ao permitir a

especialização das instituições, criou as condições para a ampliação do mercado de '

setor pelo aumento do endividamento das famílias , inclusive da classe trabalhadora .

O aumento do consumo, por sua vez, estimulou o incremento da produção do setor

produtor de bens industriais de consumo durável , o que provocou efeitos estimulantes

sobre os setores produtores de bens de capital e de insumos intermediários.

A construção civil residencial foi outro setor que passou a crescer acentuada­

mente a partir de 1968, depois de apresentar resultados negativos no período ante­

rior. Para tanto, foi decisiva a ampliação do crédito imobiliário por meio do Banco

Nacional Habilitação (BNH), que contava com recursos do FGTS e das cadernetas

de poupança. A injeção de vultosos recursos no setor gerou uma explosão imobi­

liária que beneficiou especialmente as classes médias, pois os trabalhadores não

tinham condições de arcar com as elevadas prestações devido à política de arrocho

dos salários. O fato de esse setor demandar um volume muito grande de diferentes

tipos de insumos (cimento, vidro, ferro, aço alumínio etc.), além de empregar um

contingente expressivo de mão de obra, acabou estimulando outros setores. As in­

dústrias de bens de consumo não duráveis também cresceram em razão do aumento

do emprego e das exportações. A retomada dos investimentos estatais, modestos em

um primeiro momento, também contribuiu para a recuperação da economia.

De maneira geral, o setor industrial esteve em condições de responder positi ­

vamente a esses estímulos, pois a prolongada estagnação gerou alto índice de ca­

pacidade ociosa nos principais ramos. No curto prazo, o crescimento baseou-se na

ocupação dessa capacidade ociosa, fruto, em grande parte, do ciclo expansivo an­

terior. Entre 1968 e 1970, durante a fase de recuperação, os investimentos subiram

modestamente. Em 1967, os investimentos corresponderam a 16,2% do PIB, pas­

sando para 18,9% em 1970 (Cano, 2000). Cabe destacar que a retomada foi liderada

pelo setor produtor de bens de consumo duráveis, que acabou puxando os demais

ramos da economia, além de consolidar sua posição como o setor mai s dinâmico da

economia, o que havia sido apenas esboçado no período do Plano de Metas. Des ·a

forma, a grande expansão desse período não significou urna mudança na estrutu ra

econômica, mas, sim, um aprofundamento das tendências manifestadas anterior­

mente. Corno destaca Evans:

Durante o auge do recente "milagre" brasileiro, de 1970 a 1973, a produ­ção de bens de consumo duráveis cresceu duas vezes e meia mais depressa do que a produção de bens de consumo não duráveis. A natureza do produto, por sua vez, afeta os tipos de insumos que a indústria exige, tanto em termos

d· b ·ns d · ·upit 11 I 1·111111 1 1·111 1 •111111 d1• p1111l11t11 11t •11111•dl i'11 l11 t h 11 11 . 1982, p.

utra característi ·11 i111p1H t11 11k d ·ss · p ·rlodll !Oi o 11pro1'1111darn ·nto do proc ·ss1 d· abertura da econom ia brusi l ·iru , ini ·iado com o Plano d M •tas . No ·ont • to d1

1'11c •, foram implementadas vá ria · reformas no âmbit das relaç cs ex t rnu s, ·01111 n ·liminação de entraves e procedimentos burocrático relativo ao comér ·i no, incentivos fiscais de exportação e, principalmente, a introdução de mini 1 ·s 11

lori zações cambiais a partir de 1968. Além disso, a dívida externa fo i re strulurnd 11

·0111 alongamento dos prazos, e um novo acordo de garantias para o ca pita l strun

•iro foi assinado (Saes et ai. , 1997).

As reformas introduzidas no comércio exterior e o contexto intern aci nal lt1 o n\vel permitiram recorrer às importações, particularmente de bens de produçao, 11 1 medida em que o rápido crescimento da economia brasileira, a partir de 1968 , t nd i1

11 ocupar paulatinamente a capacidade ociosa existente. A participação das imp rln ~·(e no PIB, que era de 5,4%, em 1967, subiu para 8,6%, em 1973. A ampli ação d111 importações só foi possível devido ao incremento acentuado das exportaç e i lOI

fluxos de financiamento e investimento externos, que cresceram a parti r de 1968 O aumento das exportações deveu-se, sobretudo, aos incentivos fiscais e cred ilí ·io1

·stabelecidos pelo governo e à sua política de minidesvalorizações da moeda , qu! permitia compensar a diferença entre a inflação interna e a externa. Tamb 111 f> (

verificou uma melhora das relações de troca, o que contribuiu, sem dúvida, pa ra \

bom desempenho das exportações. Outro aspecto importante foi a diversifi caçt l das exportações, especialmente com o crescimento paulatino das exportações d produtos industrializados. Em 1968, os produtos básicos representavam 79,3% !a i

exportações brasileiras, enquanto os produtos industrializados significavam 20,21X1 Dentre essas, a exportação de produtos manufaturados correspondia a 10,5%, e a d<

scmimanufaturados, a 9,7%. Em 1973, as exportações de produtos básicos era m (( 64,5% do total e as de produtos industrializados, de 32,9%, e as de manufatura drn representavam 23,1%, e as de semimanufaturados, 9,8%. Essa diversificação é indi·

cativa das transformações então em curso na economia brasileira (Serra, 1984).

A maior abertura da economia brasileira não pode ser vista de forma i olad l

da conjuntura internacional naquele momento. O chamado "milagre econômico'

coincidiu com uma fase de grande expansão da economia mundial , embora SS(

mesma expansão gerasse contradições que abririam, posteriormente, uma profund1 crise internacional, a qual seria um dos fatores determinantes para o esgotamento dt fase de crescimento acelerado da economia brasileira. O aumento das exportaçõ ':

brasileiras de 1,7 bilhão de dólares, em 1967, para 6,2 bilhões de dólares, em 1 97 ~

(Tabela 7.3), correspondendo a um crescimento de 275% (24% ao ano), não pocl s 1

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

1 Exportações Importações Balança Balança de Divida Reservas

Ano (FOB) (FOB) comercial pagamentos externa internacion 1

1967 1,7 1,4 0,2 - 245 3,3 0,2 ~

1968 1,9 1,9 o.o 76 3,8 0,3

1969 2,3 2,0 0,3 549 4,4 0,7

1970 2,7 2,5 0,2 545 5,3 1,2

1971 2,9 3,2 - 0,3 529 8,3 1,7 ·~

1972 4,0 4,2 -0,2 2.439 11,5 4,2

1973 6,2 6,2 0,0 2.179 14,9 6, 4

1974 8,0 12,6 - 4,7 - 936 20,0 5,3

1975 8,7 12,2 -3,5 - 950 25,1 4,0

1976 10,1 12,4 - 2,3 1.192 32, 1 6,6

1977 12, 1 12,0 0,1 630 38,0 7,3 ·-1978 12,7 13,7 - 1,0 4.262 52,2 11,9

1979 15,2 18,1 - 2,8 -3.215 55,8 9,7

1980 20,1 23,0 - 2,8 -3.472 64,2 6,9

=ont e: lpeadata.

!xplicado apenas pela política de incentivos governamentais. Sem dúvida, a expan ;ão acelerada da economia mundial também foi fundamental para esse desempenho. )articularmente a larga especulação com commodities, que caracterizou os ano, niciais da década de 1970.

A situação de liquidez nos mercados financeiros internacionais, por sua v '!,,

-Oi fundamental para viabilizar o rápido crescimento da dívida externa brasileira 1

~poca, que saltou de 4,4 bilhões de dólares, em 1969, para 14,9 bilhões, em 197., )iante desse quadro de excesso de liquidez no mercado internacional, com taxas d · uros reais atraentes, o governo estimulou a captação de capital externo por interm iio de diversos mecanismos, como a Instrução nº 289 da antiga Sumoc, de janeiru le 1965, que autorizava empresas brasileiras a contrair empréstimos diretamente no nercado internacional, e das Resoluções nº 63 e nº 64, do Bacen, ambas de 1967, qu ' mtorizavam bancos comerciais e de investimento, além do BNDE, a captar recurso. 10 exterior e a repassá-los a empresas locais.

Os investimentos externos diretos continuaram a crescer, passando de 115 mi hões de dólares, em 1967, para quase 1,2 bi lhão de dólares em 1973. A escassc'I le mão de obra e os altos salários nos países desenvolvidos, associados à busca d · 1ovos mercados e de acesso a matérias-primas, estimulavam as empresas a inves li1 :ada vez mais nos países periféricos (Singer, 1977).

tlmentos estrangeiro no 8

1.39 1

1.181 1.208 1.203

:>.110 •

o~~==:;_--,~---,--~,----,-~,------,-~,..--~,--,-~,---.~.--

1966 1967 1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1 80 1 RI

onte: lpeadata.

A política de estimular a abertura da economia brasileira, seguida a pu ri ir d

1964, representava o aprofundamento da estratégia de desenvolvimento asso ·iud1

sboçada ainda no Estado Novo, mas que tinha ganho outra dimensão na épo ·:1 d<

( ioverno JK. Essa estratégia visava, segundo Singer (1977), inserir o Bra i 1 na d i j.

1 o internacional do trabalho como produtor de bens primários, bens de con. urno t

111úquinas e equipamentos leves. O Brasi l continuaria importando tecnolog ia c um1

rande gama de bens de capital. Essa estratégia sancionava a estrutura vigent · 11t

·conomia naquele momento. Nesse ponto, diferia do projeto de desenvolvimento h

Vurgas, que almejava centrar o desenvolvimento brasileiro na constituição do depur·

tnmento produtor de bens de produção, embora contasse, para isso, com ampl a par

ticipação de capital estrangeiro. Ao seguir essa estratégia, o governo mi lita r . ta :

abr indo mão da possibi lidade de outra forma de desenvolvimento, de um capital is

1110 plenamente desenvolvido, em que a dependência tecnológica e financeira pod ·

ria ser bem menor. A maior abertura da economia brasileira favoreceu a ampl iaç; 1

do papel das empresas multinacionais.

Em suma, as bases para o acelerado crescimento da economia brasile ira 11 1

período 1968-1973 foram as seguintes:

1) aumento da demanda interna por bens de consumo duráveis, garantida pela a lt

concentração da renda e pela ampliação do crédito ao consumidor;

2) ampliação do setor de construção civil;

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

\) 11u111l'11to d11s l:XportaÇÕl:s, con::1l:guido •ru~: a s ô ·xpi1nst o do com ' re io int ·rn11 ·ional · ú política de e tímulo governamental ús cxportaçõc , ca lcada 111 lh1 tes sub ídios;

4) entrada de volume considerável de capitais estrangeiros;

5) aumento dos investimentos.

A formação fixa de capital bruto, que correspondia a 15% do PNB, em 1%7, passou para 21,2%, em 1970, atingindo 22, 8%, em 1973 (Singer, 1977). Cresccru111 os investimentos industriais, tanto das empresas estatais, a uma taxa de aprox i 111 0

damente 20% ao ano, entre 1967 e 1973, especialmente em infraestrutura e mal '· rias-primas, como das empresas privadas (Saes et al., 1997).

Muitos autores, entre eles Singer (1977), Oliveira (1984) Serra (1984) e Mel lu

e Beluzzo (1984), ressaltam que o rápido crescimento liderado pelo setor de bens d · consumo duráveis ocasionou acentuados desequilíbrios setoriais na economia brn sileira. Esses desequilíbrios geraram pontos de estrangulamento em setores impo1· tantes, como o siderúrgico, o petroquímico e o de minerais não ferrosos. Tamb ' 111 assinalam atrasos ocorridos ou erros de previsão nos investimentos sob respon su­bilidade do governo. Ou seja, em virtude desses problemas, em um contexto I •

crescimento acelerado da demanda, verificou-se, em certos setores, uma crôni ·11 carência de produtos ao longo da fase de expansão, como é o caso, por exemplo, do setor siderúrgico. As indústrias de bens de capital e intermediários não conseguian1 satisfazer às necessidades ampliadas de máquinas, equipamentos e insumos básicoN dos demais setores da economia.

Houve um descompasso entre o crescimento da produção de bens de consumo duráveis, de bens de produção e de bens de consumo não duráveis. Enquanto u indústria de equipamentos de transporte cresceu, em média, 25%, entre 1971e197., as indústrias metalúrgicas e de minerais não metálicos cresceram apenas 11,5%. Por sua vez, os bens mais ligados ao consumo popular, como alimentos e bebidas, cres­ceram 9,5% e 11,3%, respectivamente. Cabe assinalar que o crescimento médio da indústria foi de 14,4%, nesse período (Baer, 1979). Tal desequilíbrio entre os setores econômicos resultaria no surgimento de gargalos na oferta, o que poderia, em longo prazo, comprometer a manutenção das elevadas taxas de crescimento, gerando . pressões inflacionárias.

Apesar das desproporcionalidades setoriais, a economia brasileira continuou crescendo, graças à elevação das importações de bens de capital e de bens interme­diários, em um cenário de relativa folga cambial. Essas importações, como assina la Oliveira (1984), cresceram a taxas superiores às da produção interna de bens de capital, embora o produto real desse setor tenha quase triplicado entre 1968 e 1975. O crescimento das importações, na oferta total de bens de capital, foi sintomático.

l\m 11)67, as i111port11ç< 'N d ·NN · tlp11 d1 1 p111d11tn 11•p11 11111v11111 .1 /, l /1111 d1111l 11t11 11 11

197 , 'OIT'sp 11diarna 6 ,ô7'Yl1. () 1"1 l'O' lli' l ' llil ' 1h• t111p111l11\'l111d1•p111d11h1 i11l1 1111111d 111

rios, cm 197 , apresentava m - NL' l 1iL• 11111 , >{ 11 " 1111 11li1111 11111: /t111

11 1111 pulld 1 ·1111.

O crescimento accl rado dn , i111jHll 111\'I •, , ·111 d •1·01·r 11 ·i11 d11 N ultu N l11 x11N d

nrnrnul ação e da atrofia r lal ivu do H ·tor produtor d· b ·111-1 d · prod11ç1 o, u ·u1T ·to

d ~N •quilíbrio no balanç de pa •am •11111 1-1 . O ·r ·s ·im ·nto c.l<rn cx portaç •s v ·ril'i ·11d

tlll período não foi suficiente para ·obrir us imporlaç e13, 1 Llgar os juros du dí vid

tl:rna e fazer frente a outro tipos de reme a'. Vários autores, c 1110 é a ~m d

Sin •cr (1977), consideram que o aumento do endividamento externo, nesse pcríod(

foi necessário para cobrir as importações imprescindíveis à continuidad la ' · p111 1

1lo econômica, ao pagamento da dívida externa e às remessas de lucro.

orno mencionou Oliveira (1984), verificaram-se, naquele per íodo,

1111mcntos das remessas de lucros, juros, dividendos etc., o que contribuía para pion1

uinda mais a situação das contas externas brasileiras. Segundo ele, es a pt"'Sfit

d •corria, em parte, do fato de os setores dinâmicos da economia estarem nas 111 1 (1

do capital estrangeiro. Em 1969, das dez maiores empresas no Brasil , cm t ·n1H1

d· lucratividade, sete eram multinacionais e três estatais, nenhuma de ca pilal pn

vado nacional (Rezende, 1999). Considerando-se os ativos das dez maiore · cmpn;

as presentes em cada um dos 17 setores mais dinâmicos da economia brasil · in

Bacr (1979) mostra que, em 1973, nove desses setores tinham a presença 111ajori1tl

1·iu do capital internacional. Essas empresas estrangeiras, que, na maioria, atuuvu1

110 departamento de bens de produção, como material elétrico, de transporte ' d

máquinas, e que apresentavam altas taxas de lucratividade, remetiam parl 01

idcrável dos lucros para o exterior, pressionando o balanço de pagamento . Ess

seria outro fator a contribuir para o aumento da dívida externa, pois, no au e 1

·iclo, os déficits em transações correntes foram crescentes, particularmente na cont

de erviços.

Não existe consenso entre os autores acerca da natureza da dívida externa 1

período. Para Singer (1977), a política de endividamento externo, que acarretou

salto de 11,1 bilhão de dólares na dívida externa entre 1968 e 1973, tinha com

objetivo financiar as importações necessárias para enfrentar os pontos de estran r l

lamento que estavam surgindo na economia em virtude do acelerado cresciment'

Ou seja, o endividamento externo era importante para complementar a poupa n~

interna no financiamento do desenvolvimento. Davidoff (1984) considera que o fo rl

·ndividamento nesse período tinha um caráter eminentemente financeiro. E ta ri

muito mais relacionado com a necessidade de crédito interno, por causa do a ·l

ll:rado crescimento e da política monetária e creditícia, que não tinha amplia do

crédito na mesma proporção, do que com a necessidade de financiar as importaç L

para a continuidade do desenvolvimento.

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

1 1 l \ , l ' 11111111 , 1 h il1111~· 11 l·o111ercia l do perí do 1969- 1973 manteve-sL: cqui ­. O liwt · d l'i ·it 1111 '()11111 de serviços teria sido comp n ·ad pela enlrad11 ;si im ·nlos e ternos. Portanto, o aumento do sa ldo da dívida externa nt o ; r ·reditado ~ nec s ·i lade de se obterem recursos para financiar o de n­

cnto. A razões para esse salto devem ser buscadas nas relações fi nancei ni s si l com a economia mundial. O excesso de liquidez nos eurornercados, as Laxas de juros e os prazos longos de pagamento induziram os países em d -1i111ento a se endividar, e isso não aconteceu apenas com o Brasil , ma c m

is pai es subdesenvolvidos: "Por outras palavras, a economia brasileira ~ i 11da, juntamente com outras economias, num movimento geral do capita l :iro internacional, em busca de oportunidades de valorização." (Davidoff, 1. 17- 1 ).

utra ituação de desequilíbrio entre os setores da economia aconteceu na ; u ~1ria . A produção agrícola para exportação cresceu mais que aquela para o o interno. Essa produção também não acompanhou o crescimento da indús-11 mas a salarial. O resultado foi a carência de matérias-primas e de alimento ', ; ntribuiu para o aumento da inflação. O peso da produção exportável no o da produção agrícola passou de 12%, em 1966-1967, para 18%, em 197 1984). Esse comportamento deveu-se, em grande parte, à política de incen­x portações e à política de mini desvalorização da moeda introduzida, como

), a partir de 1968.

e gotamento do chamado "milagre econômico" está intimamente associad de equilíbrios setoriais, que foram se agravando ao longo da fase de expan­rrupção da crise internacional, em 1974, também contribuiu para a crise do ·e'', mas a fase de expansão já dava nítidos sinais de esgotamento bem antes ~ internacional, por exemplo, na exacerbação da inflação, que voltou a se 1 partir de 1972. De fato , a inflação, que tinha sido reduzida de 38,5%, em ira J 9,5%, em 1970, voltou a crescer. Em 1973, os preços entraram em rápida ;endente e atingiram um patamar de mais de 34%, em 1974. A tentativa d ' os preços por meio do controle da CIP e da manipulação dos índices oficiais 1- e totalmente infrutífera.

auge do ciclo expansivo da economia brasileira ocorreu em 1973, quando o ento do Produto Interno Bruto atingiu 14%. Mas, já no fim daquele ano, a 1 petróleo viria a piorar o cenário internacional, levando a economia mun-111 longo período de recessão cujos impactos na economia brasileira seriam ; no ciclo seguinte, o da "marcha forçada". O governo militar tentou irnpu­cli nio econômico, a partir de 1974, à crise externa. Não se pode negar que ilências do cenário externo afetaram negativamente a economia brasilei ra.

do petróleo quadruplicaram em um curto espaço de tempo, passando de s o barril para quase 12 dólares, o que contribuiu para o aumento da inflaçã

. j)lll'll os li " 11IUUdos d 'Sl'ljlltllhiio. 1111 l'iltllll N . 1 'l'llllS, 1. lo ijll ' p 1\111 li lllljlPlf I li

1n11i i; de 80'% do p ·ln 1 •o q11l' l'011 .i 11ini11 . l ~ HN novo quudro 1 ·riu ohl'i 1udo o 1 ov ·rno 11 11dotar medidas puru d ·s11t 111 · · ·r 11 '·ono111i a. 'ontudo a ·ris' tio "mi la •rc · ' 0 -

11 mico" já vinha se 111a11il"s t1111clo unt es d<1 cri e interna ional , que apenas agravou

uma situação que já era prc ·u1 anlc.

xi stem divergên ias na li teratura quanto às causas do declínio da atividade econôm ica a partir de 1974. Para Serra (1984) e Mello (1984), por exemplo, a crise se d ·vc fundamenta lmente à sobreacumulação de capital em alguns setores essenciais. A expansão tinha-se iniciado com o departamento de bens de consumo duráveis,

--que acabou puxando os demais setores. Dessa forma, observava-se uma defasagem 110 ritmo da acumulação de capital, pois a recuperação da indústria de bens de capi­tal se deu após a expansão do setor de bens duráveis. Nessa linha de interpretação, o ·iclo de crescimento não poderia ser autossustentável. A indústria de bens de consu­mo duráveis não teria condições de induzir um crescimento mais longo a altas taxas, poi isso dependeria de uma contínua ampliação do endividamento das famílias e da ·apacidade do setor em alargar continuamente seu próprio mercado.

A capacidade de endividamento das familias tinha limites, ainda mais em um ·ontexto de arrocho dos salários e de concentração da renda. Embora o cresci­mento do departamento produtor de bens de consumo duráveis gerasse uma estru­tura de emprego e de salários e, portanto, de distribuição da renda compatível com a ·lcvação de suas taxas de acumulação, ele não tinha condições de ampliar continua­mente seu mercado. Dessa forma, a demanda de bens de consumo duráveis tendia a ~rescer menos que a taxa de acumulação das empresas do setor. O resultado dessa defasagem seria a formação de capacidade ociosa nos setores mais dinâmicos da 'Conomia. Mais cedo ou mais tarde, isso acabaria por afetar negativamente os inves­timentos, por causa da queda nas expectativas futuras quanto à sua rentabilidade. A redução dos investimentos desencadearia o processo de crise, o que teria aconte­·ido com a economia brasileira a partir de 1973. Para reverter o quadro, teria sido necessário um pacote de investimentos no setor de bens de produção. No entanto, n problema central continuava sendo o do financiamento da acumulação de capital, pois o que se colocava, naquele momento, seria como financiar um bloco de grandes projetos . Isso requereria instrumentos capazes de levar a uma enorme central ização de capitais, o que implicava remodelar todo o sistema financeiro e dotar o Estado de mecanismos que aumentassem suas receitas, além de depender de financiamentos externos. O departamento de bens de produção só se tornaria o setor dinâmico da 'conomia se fosse possível superar esses obstáculos, e o II PND teria sido uma ten­

tativa fracassada de superá-los.

Para Singer (1977), as causas da crise seriam de outra natureza. Para esse autor, u inflação reprimida pelo controle de preços, que começou a manifestar-se em 1972, seria expressão de auge do ciclo econômico. Porém esse apogeu marcaria também

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

o 111 dod 1 ·11 s ·. nu medida cm qu · u d ·spropor ·io11ulidatk: unir· os s ·1orcs da ··o 11omi11, oo ·uusur pontos de cstrangula111u1110 e, portanto, l ~ill a de matérias-prim:i s, múquina ·,equipamentos e até de mão ele obra, se cxprc a ri a cm inflação cres · · 11

te. l so é indicativo de que o processo de acumulação e taria e choca ndo c 111 a, barreiras físicas da produção, a partir das quais não seria mais possível ampli ú-111 no curto prazo, configurando-se uma situação de pleno emprego. Nesse contexto, n Estado, sob a pena de ver o processo inflacionário fugir do controle, tende a ado111r medidas de cunho recessivo.

A maior abertura da economia brasileira, que implicou maiores volumes de i111-portação e exportação, também influenciou o incremento dos preços. O crescimcnl o substancial dos preços dos produtos primários no mercado internacional foi tram: mitido para a economia brasileira. O mesmo ocorreu com os preços dos produl o. importados, que também subiram no período. O resultante aumento nos custos du 1-1 empresas era repassado para os preços finais.

Os desequilíbrios setoriais também afetaram o equilíbrio da balança de pa rn mentos. As importações, particularmente de bens de capital e intermediários, cr s ceram relativamente mais que as exportações e que a produção interna desses bens, o que resultou em desequilíbrios na balança comercial, cujo déficit atingiu a ci frn de 4,7 bilhões de dólares em 1974.

A política econômica restritiva, adotada a partir de 1974, o aumento da inflaç: o e a política salarial, que arrochava os salários, ao diminuírem os salários reais e s­treitarem os mercados, afetaram negativamente a capacidade de compra e de endi vi­damento das famílias, o que atingiu as indústrias de bens de consumo duráveis e nllo duráveis. Este último setor representava, em 1974, 45% da produção industrial. eu declínio afetava negativamente toda a economia. Concomitantemente à queda no con­sumo, várias indústrias do setor produtor de bens de consumo duráveis apresentava111 capacidade ociosa desde o auge do ciclo, o que contribuiu para a redução dos invesl i­mentos. Os investimentos privados caíram a partir de 1974. A economia só não entrou em recessão, mas houve um declínio contínuo até 1980, em virtude do aumento dos investimentos públicos relacionados ao II PND, implementado a partir daquele ano.

O li PND e a 11marcha forçada 111

O longo ciclo de expansão da economia mundial desde o final da Segunda Guerni Mundial, conhecido como os "anos dourados" do capitalismo, que se caracterizou

1

A expressão "marcha forçada" foi cunhada por Antônio Barros de Castro e Francisco Eduardo Pires de Souza parn c.aracterizar o período de expansão verificado entre 1974 e 1980, quando a economia brasileira cresceu a taxas expres· s1vas por conta do crescente endividamento externo. 0fer Castro e Souza, 1985.)

lus ·l •vudus lu xas d · 'I' ·s ·i111 ·11111 1•1111111111h 11 11p11• 11111111 11111 1 H11l111111·11h1 1111 l 'Hdu de 1970. ;\ p ·rdu d· di1111111 11111 1• 11 11 111111 1111 11 111•111111l 11 p 11d1 01di· 111 111

l l'IHI ·ional C ·tabelcc ida ' lll nr ·11011 11111 1 , q111111li 1 1p11 rd ul 1• l I \ 1 il lll O dúl li 111 i11 111· ·onta do déficits inl •rno · voi111·11•1 d do li, ludo. IJ11 idos. /\di ·i11111ll111 ·nll.' , 1l

movimento cíc li c clesccnd ·111 · 1(11 1111p11I iP111dtl p ·111 ~k 1 1~· 1lo uhruplu los pr ·~o .

do petróleo, em dez mbro d ' 1<)7 \, · p ·lo 1111111 ·111 0 subs111 11 ·ial das la ·as 11011iinui s d juros, que afeta ri am e ·pcc ialrn ·111 ·os pn ls ·s 1.;ubdes ·11 volvidos. !\ cri t-: · s • ·11r11 ·­l l'izaria por uma desacelcraçao das lu xas de cresc iment d PIB du s e ·0110111i ns • nlrai s, pela perda de dinamis111 cio comércio mundial e pelo aum nl das lo xus d• inflação e de juros nominais (Tabela 7.4).

ela 7.4 1cadores da economi'a mundi<;il (variações médías anuais)

Indicadores 1950-1960 1960-1970

4,2 5,3

6,5 8,3

Nominais 3,7 5, 1

Reais 1,2 2,4

l11d ice de preços (IPC)l2) 2,5 2,7

111 xportações. 12) Méd ias ponderadas para Estados Unidos, Re ino Unido, Aleman ha e França . ontes: Madd ison (1989) , World Bank (1991) e Unctad (1993), apud Carneiro (2002).

1970-1980

3,6

5,2

8,2

0,3

7,9

Entre 1973 e 1975, a produção industrial norte-americana caiu quase WX); 11

juponesa, 19,8%; a alemã, 11,8%; a francesa , 13,6%; a italiana, 15,5%; e a britâni ·u. 10%. O desemprego subiu significativamente, chegando a cerca de 8 milhõ s d ~

lrubalhadores desocupados nos Estados Unidos, no quarto trimestre de 1975. ' O·

mércio mundial sofreu forte retração, caindo 7%, depois de anos seguidos de cr s ·i· mcnto. Isso atingiria, em especial , os países subdesenvolvidos que não exportava 11

petróleo, em virtude da deterioração de seus termos de troca. A inflação continum 11 subir, apesar da forte recessão, chegando, em 1974, a 11% nos Estados Uni los 14,1% no Japão, e 23,5% na Grã-Bretanha. Ou seja, verificou-se um acentuad( numento dos patamares inflacionários em quase todo o mundo.

No caso do Brasi l, a crise internacional e os desequilíbrios estruturais interno: resultariam, a partir de 1974, em um período de lenta desaceleração da econ 111 ia 4ue se estenderia até 1980. Enquanto o PIB, no período 1967-1973, tinha cresc ido cm média, 11 ,2% ao ano, entre 1973 e 1980 esse número se reduziu para 7,1%. A fa s1 do chamado "milagre econômico" tinha terminado, embora a economia est ivcss1

Alessandro
Realce

1011 1• d1• 1111111 1111111,·t o ·ira ·t 'rizadu por L1mu ·st11 1 11111,·t o • ·on ini ·a . Entr ·lu11t11

oi-: 11111 k 1d111 i • ·on m1 ic · era 111 pr ocupa nlcs. A i n fia 'é o, d poi s de LI m p ·rlod11 d· qu ·du , oltou u crescer em 1972 e, cm 1974, ating iu a c ifra de 34%, pa sando 1111

patamar de mais de 40%, entre 1976 e 1978, e ating.indo 79% , em l979. As pr 'SSl 1·

inflacioná rias tinham origem nos graves desequilíbrios entre os setore da ·onu

mia explicitados ao longo da fase expansiva anterior, decorrentes de um padr; o d 1•

acumulação de capital liderado pelo setor de bens de consumo duráveis. O c r s •1

mento mais rápido desse setor em relação aos outros departamentos (bens de capit ai

e insumos) gerou pontos de estrangulamento em importantes setores, corno o sidl'

rúrgico, o químico, o petroquímica, o de minerais não ferrosos etc. Esses desequil

brios alimentavam a inflação, tornando inócuas as tentativas de contê-la por me io d1• controles de preços, e agravavam os déficits nas contas externas. Em 1974, o d ri ·11

da balança comercial foi de 4,690 bilhões de dólares, e o de transações corrcnt ·s,

de 7,122 bilhões. O agravamento da situação das contas externas também se d ·11

à crise internacional que se abriu naquele ano. Esses problemas traziam à tona 11 ,

graves vulnerabilidades internas e externas da economia brasileira (Serra, 1 8'1; Castro e Souza, 1985; Cano, 2000).

O general Geisel, que assumiu a Presidência em 1974, tinha um duplo desa l'io,

do ponto de vista econômico. De um lado, o objetivo da política econômica dev ri n

er direcionado para combater a inflação e os desequilíbrios nas contas exte rnas:

do outro, deveria assegurar a continuidade do crescimento econômico, mediante L111l

ambicioso plano de desenvolvimento, o II PND, Plano Nacional de Desenvolviment l,

que visava superar os desequilíbrios setoriais. Essas duas linhas de ação estava m,

segundo Castro e Souza (1985), articuladas em torno da estratégia de enfrentar os

problemas estruturais da economia brasileira. Ou seja, a estratégia perseguida se ri 11

a tentativa de superar o subdesenvolvimento do pais.

Gráfico 7.3

Variação anual da inflação no Brasil (1968-1980)

"' E 100 +-~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~+-~~---l

"' o '"' \.)'

"' y:::: - ~ 50 +-~~~~~~~~~~~~~~~~----..><>,-1--"-L,..J,<--~~~~--I QJ

"D

"' X

24,5 19 19,5 19,5

"' 1- o +-~~--.-~~~.-~~-.--~~--,~~~,--~~~~~--,~~--1 1966 1968 1970

onte: lpeadata.

1972 1974 Ano

1976 1978 1980 1982

Diu11l. d ·ss, quadro, ·0111 uhwt1v11 11111111•1111•1111•1111· i 11111111111111 111it l111,n11 1•111

, 'llS o ·r ·s ·enl ' d l'i ·il 1111 :-1 ·1111! 11 1• 11•11111 th• 11111 l11d111 , d1 1111t111, l llP •1111, .. \11

t •14 tran •ulament. s e on Hlli ·os), ·111111• 1 1111 , . d111 11" il11l1d 111 · d • 1.1111111 ·11

un mica : (1) redu z ir o nlv ·Ide ntivid 1111- ,. \'11111 ., i dl'1111111l11 i11l · 1 · ~111 , d . lorn111 11

•qunr a economia bras ileira a u111p11 1111111· ·u111putl ·I ·0111 us r ·:-i tru;t1 ':-! • 1 ·ri~ii H , ·luindo 0 aumento dccorrcnl ·do ·hoqu · du p ·tról ·o, ' r ' lu z ir o voluni ·d '

1111-

mlaçõc de bens de capita l mal rius-pri 111as . Se •LI ndo 13onel 1 i · Mulan ( 1977 ), :1

•11110111ia já estava operando acima da sua capac idade p tcncial , o quer forçava us

r •ssl e inflacionárias e os déficit ext rnos (Sae et ai ., 19'!7); (2) acc lcnr o ~') rO~ so etc crescimento, por meio da internalização da produçao de e~u1pa111 nlo~, d

11 umos industriais e energia, de forma a superar os gargalos surgido '.,º pcn~do

nt ·rior. Como se sabe, o governo optou pela segunda alterna~iv_a, e ta1 p l Ili ·as

1 b t · das no II PND Essa opção implicou end1v1damento exte rno 1rnm consu s ancia . . . muior contando com um cenário ainda de grande liquidez intern~c1onal , o que r l.ar-

lou 0

ajuste da economia ao novo quadro internacional (Carneiro, 2002)-_ -~g ~1ndo • .

1 . Souza (1985) 0 Governo Geisel teria se recusado a adotar a est1 a tcg1a do

llS 10 e ' · · d tustarnento, a partir da avaliação de que a crise internacional sena ~assa~e ira , ·

forma que seria preferível equilibrar as contas externas recorrendo a fmanc1am cnto

trangeiro, com taxas de juros e prazos favoráveis , em vez de jo~ar o país na_ rccc ·-

no. o governo militar teria optado por dar continuidade à ?ºlítica d,e cresc1m nl

·onômico com 0 endividamento externo seguida desde o fmal da decada de 1960,

ll·ndo como estratégia uma mudança estrutural da economia brasileira, processo qu ·

foi denominado "fuga para a frente".

o pacote de investimentos previsto pelo plano abrangia os seguintes setores:

O ampliação da produção interna de petróleo;

o expansão da geração de energia elétrica, tanto pela construção de hidrelétri cas

(Itaipu) como pela construção de usinas nucleares (Angra);

O expansão da produção de insumos industriais, como aço, petroquímicos, meta is

não ferrosos;

o expansão da infraestrutura, como a Ferrovia do Aço e projetos rodoviários; e

o expansão do setor de mecânica pesada, para ampliar a produção de máquina ·

e equipamentos.

A esses setores pode-se acrescentar o Proálcool, criado em 1975, q~e consisti a

. m programa do Governo Federal para estimular e modernizar a agncultura ca-em u . . l

· · · d · · duça-0 de a' lcool combustível para em um pnme1ro momen o, nav1e1ra, v1san o a pro '

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

11d i ·1011 '1 hl 1\ 1•,mm li1111 e, cm um se •undo, ulilil'.ú-lu ·111 u111inulor 0sp · ·ialm ' nl · d ·

s ·nvolv ido p11 rn esse combustível com o objclivo de diminuir a dependênc ia cio pel ró

lco imporh do.

Os recursos utilizados pelo governo, que tinh a no BNDE o seu princ ipul

agente, eram oriundos de fundos especialmente constituídos para fin anc iar o pl ano,

como o PIS e o Pasep,2 e também pelo aumento da emissão de títulos público , co­

mo ORTNs e LTNs.

Como afirma Carneiro (2002), os objetivos do II PND centravam-se na corr ·­

ção dos desequilíbrios na estrutura industrial e no setor externo, como estratég ia d ·

superação do subdesenvolvimento. Seus objetivos gerais seriam: (1) modificar a S·

trutura industrial, desenvolvendo e aumentando a participação da indústria pesada;

(2) fortalecer a indústria privada nacional , que tinha desempenhado um papel secu n·

dário no desenvolvimento, reservando-lhe o setor de bens de capital por encomend a:

(3) desconcentrar regionalmente a atividade produtiva; e (4) melhorar a distribuição

da renda.

Segundo Castro e Souza (1985) e Fiori (1995), o II PND foi a última tentati va

de dar um salto qualitativo na economia brasileira, com o intuito de superar o sub-·

desenvolvimento. Esses autores acreditam que, para isso, seria preciso completa r

o processo de industrialização. Ou seja, tratava-se de implementar um padrão d '

acumulação centrado no DI, departamento produtor de meios de produção, bens

de capital e insumos básicos, que tinha ficado atrofiado nas fases anteriores d · industrialização, constituindo uma estrutura industrial avançada e completa, nos

moldes dos países centrais. Essa estratégia envolvia riscos , pois significava agrava r

os desequilíbrios nas contas externas em curto prazo, na medida em que desenvolv r

os setores relativamente atrasados requereria aumentar as importações. Porém, no

longo prazo, significaria uma superação dos desequilíbrios externos.

Essa estratégia de manter o desenvolvimento em plena crise internacional, em

um momento em que a economia brasileira apresentava nítidos sinais de reversão cí­

clica desde o ano anterior, baseava-se na necessidade de legitimar o sistema polític

vigente e possuía uma dose de sólida racionalidade econômica. No período do cha­

mado "milagre econômico" tinha-se realizado um bloco de investimentos que ainda

estavam em andamento e cuj a maturação se daria após 1974. Nessas circunstância ',

adotar uma política recessiva tornaria muito difícil e custosa a absorção da nova ca­

pacidade produtiva gerada por esses investimentos. Essa situação poderia abrir urna

crise de grandes proporções na economia, ainda mais que afetaria negativamente as

perspectivas dos empresários, dificultando uma futura retomada.

2 Trata-se do Programa de Integração Social e do Fundo Único do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Pú­blico, instituídos de maneira independentes pelo Governo Federal em 1970 e unificados em 2 de setembro de 1975.

Adot11r urna polilica rc · ·ss iv11 . 111 1'·111d • 11 1\11 p ·1111 til 1111h Ili\' \o do i11 v1• 1i11 w11

tos du "sa l'rn de 1974", não a ·arr ' l11r i 1 11 ·1111111111 11111111111\ l l ' 11111111 11' 111 'l'1u11111ti11 .

llll' ·nntinu ari a vulned1vel diant ' d · lllll I , ltu 1,· 111 dl' 111 . 111hil id11d · i111 ·n111 d o1111I,

O ( h>vcrno Ge isel, ao anunci't r o li PN 1), q11 , 11 11 1· ·11l id11d " 11 ud11 nw iN ra qu · u111

lo ·o ele investimentos concentrados no t ·mpo, impediu que o pa ís 111 r •ull111 ss ·

1111 r0ccssão, sustentando o cresc i rnento até o iníc io da década de 1980. 111 isso,

perava-se que seria possível mudar a estrutura da economia.

uperar o subdesenvolvimento e, ao mesmo tempo, garantir auton mi a na ·io-

11111 ·ra um projeto ambicioso e de difícil consecução. No caso do Brasil , a pr s ' 11 çu

lo ·apitai estrangeiro já era considerável, desde a segunda metade dos anos de 19 O, •11r11cterizando uma situação de desenvolvimento associado. O Plano de Metas , uo

ro111per com o projeto de Vargas de enfatizar o desenvolvimento ela infracs lr uluru

du indústria de bens de capital, buscou, segundo Oliveira (1984), implanta r um

flndrão de acumulação de capital calcado na produção de bens ele consumo duráv ' is,

u que estava de acordo com os interesses das empresas multinacionais à épo a, ~i s

1unis almejavam penetrar nos fechados mercados para esses produtos na peril·cria .

I· su reversão de prioridades acarretou mudanças na inserção do país na econ 1111<1

mundi al. Segundo o autor:

Essa inversão restaurou [ .. . ] um padrão de relações centro-periferia num patamar mais alto da divisão internacional do trabalho do sistema capitali sta, instaurando por sua vez - e aqui constitui sua singularidade - uma crise re­corrente do balanço de pagamentos, que se expressa na contradição entre uma industrialização voltada para o mercado interno mas financiada ou control a­da pelo capital estrangeiro e na insuficiência de geração de meios de paga­mento internacionais para fazer voltar à circulação internacional. Em outras palavras, esse tipo de crise é radicalmente distinto da crise dos balanços de pagamentos das economias dependentes, pois o padrão agroexportador das fases anteriores gerava, ao produzir a mercadoria exportável, os meios de pa­gamento do capital internacional; as crises desse padrão eram, rigorosamente, crises de circulação internacional de mercadorias. Agora, sob o novo padrão, as crises são de circulação internacional do capital-dinheiro. (Oliveira, 1984, p. 87)

A grande expansão no período do chamado "milagre econômico" reforçou a

Nlratégia seguida pelo Governo JK. O desenvolvimento econômico desse período

n o significou alterações no padrão de acumulação, antes aprofundou o padrão dc­

cquilibrado do período anterior, baseado na liderança do departamento produtor d·

h ·ns de consumo duráveis. O crescente volume de investimentos externos diretos,

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

llO l' l'llll l'Oll 'X( ' 8 'alianças entre O ·apitai estran rei ro 'OS S •tores cluN ·laNS 'S do

1nin11nt s, · 110 influir na definiçã.o da polític·1 econômica, limitava as po ·s ibilidud ·,

de um d ·envolvimento mais autônomo.

O II PND, em certo sentido, constituiu , como apontaram Fiori (1995) e ast n1

e Souza (1985), uma tentativa de retomar o projeto de Vargas em um contex to in

terno e externo bastante diferente. Da mesma forma que o programa de Varga , nt il

hostilizava o capital estrangeiro; pelo contrário, contava com ele para financiar, pdP

menos em parte, o desenvolvimento econômico. Da mesma forma, também s ·o

brou em virtude de não ter conseguido forjar um sólido esquema de financiamento ,

O sistema financeiro continuou direcionado para créditos de curto prazo, pu r 1

o crédito ao consumo e para a especulação. Os novos instrumentos criados para ' 11

frentar esse problema se desvirtuaram, passando a atuar fundamentalmente na 'N

peculação financeira . Mais uma vez, a inexistência de um mercado financeiro e d · capitais robustos ou de outros esquemas internos de crédito consistentes que pernt i

tissem financiar os investimentos de prazo mais longo levou à necessidade de r'l'

correr novamente ao capital externo para financiar o plano, contando com um qu adr 'tr

de grande liquidez internacional, inflado pelo mercado dos " petrodólares" (Fior i, · 1995). A dívida externa brasileira, entre 1970 e 1980, cresceu de 5,3 bilhões puf' 1

64,2 bilhões de dólares, e em 1974 ela era de 20 bilhões de dólares. Embora part i•

considerável desse crescimento tenha tido um caráter meramente financeiro, par · ·l 1

não desprezível financiou o II PND (Davidoff, 1984; Castro e Souza, 1985).

Essa abundância de crédito externo parecia viabilizar, do ponto de vista dos ·11

financiamento, a execução do plano, diferentemente do que tinha acontecido co 111

Vargas em 1937 e em 1951, quando a carência de recursos externos inviabiliz u 11

projeto de industrialização. Contudo, essa saída, que implicou um endividam ·11

to externo elevado, se mostraria desastrosa para o país nos anos subsequente , 11 1

medida em que, sendo os empréstimos concedidos a taxas de juros flutuan t s, 11

elevação dessas taxas, a partir de 1979, ampliou enormemente os custos de p·1 •11

mento da dívida externa. Além disso, para alguns autores , o montante de crédito ·111

dólares tomado pelo país nos anos de 1970 foi excessivo, utilizado em grande pari •

para aumentar as reservas, sendo muito superior ao déficit corrente de mercadori11

e serviços e ao próprio serviço da dívida acumulada no período anterior (Tavares

Assis, 1986).

Outras dificuldades enfrentadas pelo II PND dizem respeito ao financia111 c11l tr

do gasto público e ao desenvolvimento tecnológico. O Estado desempenhou pap •I

central na execução do plano, seja pelo fato de os investimentos em setores estral '•

gicos ficarem diretamente a seu cargo, seja pelo direcionamento e pelo suporte I' 11

necidos à iniciativa privada. No financiamento dos investimentos estatais no ' l ll l

de bens intermediários, devido às defasagens de preços e tarifas, utilizados con111

instrumentos de combate à inflação, e devido às restrições impostas às empr s 1

•s t11t11i s d·11tili'.l.urorn·r ·udoi11kr1111d1•111dll11, 11l 111d11 1111 111p1 11 1111 11 111111111

ados a r · ·01T ·r d· inan ·ira 'I' -. 'l· ·111 1• 1111 t111 11 111 11 1111 •1111 11• 11'11111 e 1 I• 11d1111111l 1t 111

partic ipou do f'inan ·iament purn 11 111d11 1111 IH td 1 p111 11111'1111 '•dio dP ll NI >P , qm·

11hriu cncr as linha· de r dilo 110 s '1111 p1 i 1tlo, n., 1·:-. 1' tl1JW Nlirnos ti11lw rn ·or·

r~'\' I o monetá ri a prefixada rn ~() 11 ., , 1111 11111 •11111 " 111 d • 11 11111 ·11t1 l d11 i111'111,·1 o, q11 ·

q1111 se a lca nçou a casa do 80'X>. ·111 l1J71J, t> q11 · tn111 Hl'on11ou 'HS 'H ·111pr '·s ti11ws u111 doações para as empresas pri vadn s, irnpli ·nn lo ' ' l)llllStO da li vida pl'.1bli ·a . /\ 1 111

diNHO, O reba ixamento das ta rifas C dos pr ' ((OH 'N lala is aba ixo d·1 in fi a '::tO fun ·ionn l i

·11111 ubsídios ao setor privacl e fo i um d s fa l re · que arruina ram a · fi na n ·us du H

·111prc as estatais (Carneiro, 2002).

O fomento da iniciativa privada dava-se também por meio de inúm eros suh-

klios e incentivos fiscais à indústria e à agricultura. Segundo Ca rne iro (200 ), os

ln ·cntivos e subsídios à agropecuária, às exportações e ao setor de energ ia Oll SI i­

tulram "parcela crescente dos favores concedidos ao setor privado, dob ra n lo s 11 11

p11rl ic ipação no PIB de 2%, em 1976, para 4%, em 1980" (Carneiro, 2002 p. 99). No

lotul , os subsídios e incentivos fiscais da área federal subiram em relação a PI 13, d ·

VY.1, cm 1976, para 7,6%, em 1980.

A forma de financiamento do gasto público no II PND implicava crcs · 111 •

'k·tcrioração das finanças públicas. Entre 1974 e 1980, a carga tributária líquida ·11i 11

d· 16,3% do PIB para 12,1%. Nesse mesmo período, o déficit operacional passou dL:

'Xi do PIB para 4,1%, enquanto o primário passou de 0,8% para 1,8%. A car 'li d · Juros ela dívida pública também aumentou, de 1,2% do PIB, em 1974, para 2 <Yo, ' lll

1')80. Enquanto isso, a dívida pública permanecia em torno de 10% do PIB. Núnt '

ros relativamente modestos, se comparados com a situação atual, mas indi cali v lS

d· uma potencial crise fiscal do Estado, que se configuraria alguns ano depoi s

(( 'a rneiro, 2002).

O II PND também não era consistente na previsão de geração e controle de l ·­

nologia, questão fundamental para um desenvolvimento econômico mais autôn n o.

No setor de bens intermediários, a cargo do Estado, o padrão tecnológico cv lu iu

ll·ntamente, o que pode ter inibido maiores investimentos nessa área. A impla ntaçt o

da indústria de bens de capital dependia da resolução de problemas re lativ s ao

l'inanciamento, à escala de produção, ao tamanho do mercado e ao acesso à Lo·

11ologia. Esses fatores consistiam em obstáculos à difusão desse setor para a e ·o­

nom ias subdesenvolvidas. O II PND não conseguiu resolvê-los , pois não prev ia ( s

necessários investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em educação. Ta mb ' 111

111 o conseguira estabelecer sólido esquema de financiamento à inovação. Adi io -

1111lmente, acabou estimulando a diversificação do setor, quando deveria ter cs l i­

inulado a especialização. O mercado nacional não possuia escala suficiente para

•omportar determinadas indústrias desse setor. A presença de um grande númc rt>

I ·empresas estrangeiras no setor parece ser outro elemento decisivo para ini bir o

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

d 'H ·11 oi 1111 11to autônomo (i<; tccnolo ··ia, pois essas empresas jli traziam pro11t11

u 1 · ·11010 • iu · mo cst i mu lavam sua produçao i nt ma . :;- m comparação, a 'or ia ,

cm 1980, já tinha desenvolvido um etor de bcn de cap ita l que, apc ar d menor

que o do Brasil, era dominado por empresas naciona i , o que fa z ia que o investi ­

mentos em pesquisa e desenvolvimento e em educação fossem bem maiore ( ar­

neiro, 2002).

No geral, pode-se afirmar que o II PND não significou grandes alterações na

estrutura industrial brasi leira. Isso pode ser visto na Tabela 7.5, que mostra a distri ­

buição setorial dos investi mentos no período. Os dados apresentados sugerem que os

investimentos realmente realizados nos setores de bens de capital e intermediários

ficaram abaixo das projeções, não se verificando grandes mudanças em relação ao

período anterior. As taxas de crescimento setorial também sugerem que não houve

grandes alterações no padrão de acumulação. Entre 1974 e 1980, o setor de bens de

capital cresceu 7,4%, em média, ao ano. O setor de bens intermediários expandiu-se

8,3% ao ano no mesmo período. O setor de bens de consumo duráveis continuou

liderando o crescimento, com uma taxa de 9,3% anuais. O setor de bens não durávei ·

cresceu em média, por ano, 4,4%, entre 1974 e 1980 (Carneiro, 2002).

.. Setores :ªíl\ 1970-1974 1975-1979 Projeções li PND

Energia 8,4 10,1 19,4

Petróleo 1,1 1,7 2,0

Carvão e gás 0,0 0,0 2,4

Eletricidade 7,3 8,4 15,0

Indústri a 18,6 17,8 22 ,8

Indústrias básicas 10,5 10,7 19,3

Meta lurgia 2,4 2,7 6,8

Mat. de transporte 1,8 1,5 2,3

Mecânica e elétrica 2,0 2,5 2,7

Química 2,4 2,2 4,5

Não metal e papel/ce lulose 2,0 1,8 2,0

Outros 8,1 7,2 3,5

Transporte 11 ,6 9,4 10,2

Comunicações 3,1 3,5 3,8

Investimento/PIB (%) 22 ,5 24,1 -

Fonte: Batista (1987), apud Carneiro (2002).

/\a •r i ·ullura , por s11a v ' '!,, •u111111111111 11 11p11 11t111 111111h 1·1111w11h11 11w1111 ti vorúv •I •111 rclaçi e aos d ·111uis s ·lull· , 11 ·1h 11 111h1 11 11 p 11 tklp t\'llu 1111 1'111 ( 1'11h ·I 7.-). No entanto, o setor passou por u111 ' \111 1' t\11111111 · o d · 111od ·1·11 1111\·l)o d ·sd

11 dé ·ada de 1960, ca ractcri zndo po1· 11 111 11111111\'I t '· ·111 l'11 pn1d11tivus, ·11j111 11 k

li1i a elevação s ignificati va du utili 1 1\' )11 d • 111 . 1111111,' 11111d ·mos · d · 111{1qu i1111 s

·quipamentos ag rícola , impul sio1111d11 p ·111 i11 1pl ·111 ·111 uçt o d' urna 1 olili ·o d· ·r

dito rural subsidiado, pcl atr ·la111 ·111 0 11111 is liir l · ·0111 a indústria pro · 'Ss11dor11

também por alterações nas r laç cs so ·ia is de produçü , ampliando o carál · r ·11pil 11

1 is ta do setor. Essas mudança · - chamadas " modem ização conse rvadora" apr ·s ·n

taram diversas características, entre a quai cabe destacar o seu caráter d •s i 1 u11 '

heterogêneo e concentrador, tanto nos aspectos regionais como no que e r ·r ·r gama de produtos e de produtores inseridos no processo. De modo geral , as rnu la11

~us , nessas duas décadas, concentraram-se na região centro-su l do país, bem ·01ll1

11os produtos e nos estratos produtores mais atrelados à lógica de va lor ização do ·:i

pilai agroindustrial. Os anos 1970 foram marcados pela continuidade de e pro · ·s

so, com avanços na tecnificação e na agroindustrialização. As atividades 1 i 'ª la s il

·xportações tiveram significativo crescimento, particularmente as exportaçõ ·s d

soja, laranja, carnes de aves, pinheiros e eucaliptos. Também se observou o aurn ·111 1

do grau de processamento da produção. Os setores não ligados à agroindú ·tria ·/0 1

ôs exportações, ou seja, centrados em ativ idades voltadas para o mercado int nH

ti veram um crescimento bem modesto, o que gerou problemas de abastec imento. 1 ~ 11

linhas gerais, as políticas modernizantes formuladas para o setor agrícola poss ibili

taram que este se constituísse em um importante elo dos complexos agroindustriui

que se desenvolveram no período, representando um mercado crescente para b ' 11

de capital e insumos produzidos pela indústria e um fornecedor de matéria -pri 11111

e de alimentos para as agroindústrias em expansão. Porém, esse processo acarrclo1

importantes mudanças na estrutura produtiva, como o crescimento da concenlru

ção fundiária e a diminuição da pequena produção, progressivamente sub tituíd pela grande produção tecnificada e empresarial, pelo aumento da desigualdade 111

campo, pelo intenso êxodo rural e pela utilização crescente de trabalhadorc assu

lariados com vínculos precários e instáveis, como o trabalho volante (Si lva , 198 1 Kageyama, 1985; Sorj , 1980).

Esse processo concentrador de renda e de riqueza ocorrido no campo aca bo1

sendo um dos fatores que reforçariam a ampliação da desigualdade de renda 111

Brasil nessas duas décadas. Nos anos 1970, a renda concentrou-se ainda mais, n.

medida em que a conjugação das políticas salarial e trabalhista continuava rcpr '

sentando um fator de contenção dos salários, ao mesmo tempo em que a elcvaça1

dos patamares inflacionários tendia a corroer o poder de compra dos traba lhado r ·~

A participação dos 50% mais pobres no total da renda diminuiu ainda mai ncss

década, passando de 14,9%, em 1970, para apenas 12,6%, em 1980. Os e t r"~ l o

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce

111 d1u. t 1111h 111 p ·rdcrurn parti ·ipuçt o, r ··duzindo-s' d· 8,41% do totul , 110 primcirc

u110 , puru J6, . 'Xl, 110 último ano. Inversamente, u fra ção de renda da ca mada mai s

rica, representada pelos 10% de maior renda, p·1s ·ou d 46 7 % para 50,9% do tota l,

sendo que a fatia do 1% da população de maior renda pulou para 16,9%, uma parcela

maior que a dos 60% mais pobres do país (Tabela 7.1).

Em linhas gerais, as dificuldades em implementar um plano de tão larga en­

vergadura como o II PND em um contexto de crise internacional marcada pelo

crescimento da inflação, dos desequilíbrios das contas externas e da deterioração

das finanças públicas ficaram cada vez mais evidentes. A implementação do plan ,

sob o peso desses problemas, foi desacelerada em 1977, com o adiamento de grandes

projetos, principalmente nas áreas de insumos básicos, energia e infraestrutura. A

taxa de crescimento do PIB sofreu uma forte desaceleração, caindo de 10,3%, em

1976, para algo em torno de 5%, nos três anos seguintes.

Quanto aos resultados e limites decorrentes da implantação do II PND, ex i -

tem diferentes correntes de interpretação. A primeira, elaborada, entre outros, por

Bonelli e Malan (1976), considera ter o II PND evitado um ajustamento da economia, .

dando preferência ao enfrentamento das crises interna e externa por meio da ampli a­

ção do financiamento externo, o que tornaria o ajuste nos anos 1980 mais doloroso.

A segunda linha, defendida por Castro e Souza (1985), parte do pressuposto de qu

a saída brasileira da crise buscou enfrentar os problemas estruturais da economia,

agravados no novo contexto internacional aberto com a crise de 1974. Os grandes

projetos contemplados pelo II PND, pelo aporte de capitais necessário, por sua com­

plexidade e pelo longo prazo de maturação começariam a gerar resultados apenas a

partir de 1983 e 1984. Na visão desses autores, os crescentes superavits comerciai s

registrados a partir do início da década seguinte seriàm resultado das transforma­

ções estruturais da economia brasileira e dos investimentos realizados durante o 11

PND, e não apenas de um ajuste recessivo da economia (Rego e Marques, 2004). Por

último, temos a visão de Lessa (1978), que assinala que a tentativa de enfrentar pela

raiz o subdesenvolvimento teria sido um fracasso por não contar com uma sólida

base de apoio político e um esquema financeiro consistente. O plano não contava

com o endosso de parte significativa das classes dominantes e das multinacionai ,

na medida em que implicava priorizar o departamento produtor de meios de pro­

dução em detrimento do departamento de bens de consumo duráveis, como vinh a

acontecendo desde o Plano de Metas. Parte considerável da burguesia brasileirn

associada ao capital estrangeiro não via com bons olhos essa mudança, que feria

seus interesses e os de seus sócios. Os setores da burguesia que, seguindo a sinal i­

zação e os incentivos do governo, investiram no setor de bens de capital, também

passaram para a oposição, à medida que a desaceleração do plano, a partir de 1977,

lhes restringiu o mercado, colocando-os em uma situação difícil.

l ~ lll 111Ul\O d . 197<) ini1•11111 ,. " p 11\1 l llll d11 fll ' IH111111 1 ip111•i111d11 , qm , '11111111 jll

111 ·iro moment o, nt o ult ·r<H 111 11111111 d11 p11llth 1111111111111 · 1 1•11111d11 1wlo pu •111 untcrior. ma pr 'doinin 11 ·111 d111111 \.1111 •d • 1•11 111 1111 l· 11t1 ,• t 1, p11l1'111rn1 1111111 ·1 1)

inve timento en en 'I' •in e i11 , 111111 11 1! '1 l\'U, 11 1111. • il i ulud 'H oll11d11 s p11n1 us 111 ·11

c!l<.IO externo , s1 · ·i11l111 ·111 · 1 1111 ·1111111· 1 (R ·•o · Murqu •s, 2004). /\ · ·0110111i brasileira cre ceu 6, %, · 111 l ')!'J, · 1) , 'X•. ·111 1980. No ' 11t anto, a inl'laçi o lisp11ro1 ncs. es dois anos, alca nça ndo 79,4%, cm 1979, e 110,6%, n último ano, ontra uni

luxa de 41 ,5%, em l 978.

Nofront externo, o "segundo choque do petróleo", com a duplicaçã dos pr · ~· 11

no mercado internacional e uma nova desaceleração da economia mundi ·il , limito

11 margem de manobra das políticas econômicas. Outro choque, entretanto, vi riu d

política de juros altos iniciada pelo Federal Reserve System (Fed), no fim l ~1qu ·I

11110. As dívidas contratadas com base em taxas de juros flutuante 1 assa nam ,

partir de 1979, a pressionar em demasia o balanço de pagamentos.

Os déficits na balança comercial, de 2,8 bilhões de dólares em 1979 e em 1 e X(

e um déficit de quase 13 bilhões de dólares na balança de transações correnl s n ' ss último ano resultaram em uma redução de 3 bilhões de dólares das res rvas int ' I

nacionais e em dificuldades crescentes para o seu financiamento. Já em 1 81, governo brasileiro iniciaria um processo de ajuste da economia à nova conjuntu r internacional, induzindo a recessão para gerar excedentes que seriam direc ionado

para pagar os compromissos externos. É o que se verá no próximo capítu lo.

Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce
Alessandro
Realce