GRANITÓIDES CALCIOALCALINOS PAL!=OPROTEROZÓICOS …

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GRANITÓIDES CALCIOALCALINOS PAL!=OPROTEROZÓICOS DO COMPLEXO PARAIBA DO SUL, SEGMENTO CENTRAL DA 11 m 1111111 Claudia Sayão Valladares* Nuno Machado-Femandes** Monica Heilbron* Mario Cesar Heredia de Figueiredo (in memoriam) * Universidade do Estado do Rio de Janeiro ** GEOTOP/UQAM-Canadá A evolução geológica do Complexo Paraíba do Sul, originalmente Qefinido por Ros- ier (1957), tem sido objeto de estudo desde a década de 50 com os trabalhos pioneiros efetuados por este autor e por Ebert (1955, 1956). Até o momento persistem dúvidas e opiniões diversas acerca do entendimento de sua litoestratigrafia e compartimentação tectônica, quanto ao conteúdo litológico das unidades cartografadas, seus limites, e natureza genética das rochas que compõem as unidades do Complexo. Mesmo a questão de denominação, se Grupo ou Complexo Paraíba do Sul, permanece em ab- erto, dada a falta de consenso quanto ao intervalo de deposição e idade de metamor- fismo das unidades metassedimentares; idade de cristalização e de metamorfismo; derivação ígnea ou sedimentar do conjunto dos gnaisses; entre outros aspectos. Os trabalhos mais recentes reconhecem no Complexo Paraíba do Sul, na região NW do estado do Rio de Janeiro e de seu limite com os estados de São Paulo e Minas Gerais e também no Espírito Santo, duas sequências de características genéticas distintas: uma metassedimentar, superior e outra gnáissica-migmatítica, inferior, provavelmente ortoderivada (Machado, 1986; Campos Neto & Figueiredo, 1990; Heil- bron et aI., 1991, 1993; Almeida et ai, 1993). Objetivando-se caracterizar a unidade composta essencialmente por gnaisses, de- nominada de Unidade Quirino, foram realizados, estudos petrográficos e estudos geo- químicos nestas rochas aflorantes na região de Barra Mansa, Rio Claro e Getulândia,estado do Rio de Janeiro, Folha topográfica 1:50.000 (Folha SF-23-Z-A-V-2) do IBGE. Todo este estudo teve como base o mapeamento geológico que será apresen- tado em Valladares (em preparação). Complementando a pesquisa foram realizadas análises geocronológicas U-Pb no Centre de Recherche en Géochimie isotopique et en Géochonologie (GEOTOP) da Université du Québec à Montréal (UQAM-Canadá). Foram selecionados zircões dos gnaisses graníticos do Vilarejo de Bonsucesso, zircões dos homblenda-gnaisses da Pedreira da Conceição (município de Valença), descritos por Machado (1986), integrantes do Domínio Paraíba Norte do referido autor. 38 FAIXAS MÓVEIS PROTEROZÓICAS

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GRANITÓIDES CALCIOALCALINOSPAL!=OPROTEROZÓICOS DO COMPLEXO

PARAIBA DO SUL, SEGMENTO CENTRAL DA

11 m 1111111

Claudia Sayão Valladares*Nuno Machado-Femandes**

Monica Heilbron*Mario Cesar Heredia de Figueiredo (in memoriam)

* Universidade do Estado do Rio de Janeiro

** GEOTOP/UQAM-Canadá

A evolução geológica do Complexo Paraíba do Sul, originalmente Qefinido por Ros-ier (1957), tem sido objeto de estudo desde a década de 50 com os trabalhos pioneirosefetuados por este autor e por Ebert (1955, 1956). Até o momento persistem dúvidas eopiniões diversas acerca do entendimento de sua litoestratigrafia e compartimentaçãotectônica, quanto ao conteúdo litológico das unidades cartografadas, seus limites, enatureza genética das rochas que compõem as unidades do Complexo. Mesmo aquestão de denominação, se Grupo ou Complexo Paraíba do Sul, permanece em ab-erto, dada a falta de consenso quanto ao intervalo de deposição e idade de metamor-fismo das unidades metassedimentares; idade de cristalização e de metamorfismo;derivação ígnea ou sedimentar do conjunto dos gnaisses; entre outros aspectos.

Os trabalhos mais recentes reconhecem no Complexo Paraíba do Sul, na regiãoNW do estado do Rio de Janeiro e de seu limite com os estados de São Paulo e MinasGerais e também no Espírito Santo, duas sequências de características genéticasdistintas: uma metassedimentar, superior e outra gnáissica-migmatítica, inferior,provavelmente ortoderivada (Machado, 1986; Campos Neto & Figueiredo, 1990; Heil-bron et aI., 1991, 1993; Almeida et ai, 1993).

Objetivando-se caracterizar a unidade composta essencialmente por gnaisses, de-nominada de Unidade Quirino, foram realizados, estudos petrográficos e estudos geo-químicos nestas rochas aflorantes na região de Barra Mansa, Rio Claro eGetulândia,estado do Rio de Janeiro, Folha topográfica 1:50.000 (Folha SF-23-Z-A-V-2)do IBGE. Todo este estudo teve como base o mapeamento geológico que será apresen-tado em Valladares (em preparação). Complementando a pesquisa foram realizadas

análises geocronológicas U-Pb no Centre de Recherche en Géochimie isotopique et enGéochonologie (GEOTOP) da Université du Québec à Montréal (UQAM-Canadá). Foramselecionados zircões dos gnaisses graníticos do Vilarejo de Bonsucesso, zircões doshomblenda-gnaisses da Pedreira da Conceição (município de Valença), descritos porMachado (1986), integrantes do Domínio Paraíba Norte do referido autor.

38 FAIXAS MÓVEIS PROTEROZÓICAS

A Unidade Quirino é caracterizada na região abordada por extensos corpos degnaisses homogêneos, localmente migmatíticos, com hornblenda e/ou biotita, ocu-pando a porção inferior do CPS.É característica desta unidade a presença de enclavesmáficos e de enclaves de rochas calciossilicáticas. Regionalmente integram por voltade 70% em superfície do Domínio Tectônico Paraíba do Sul de Heilbron (1993) nasegmento central da Faixa Ribeira. Dois tipos petrográficos principais foram identifi-cados: um homblenda-biotita gnaisse fino a médio, granoblástico, de composição gra-nodiorítica e um biotita gnaisse porfiroblástico granítico, com matriz fina a média, e por-firoblastos de microclina, mais comunmente, e/ou raramente de plagioclásio.

Os gnaisses graníticos perfazem ca. de 70% da Unidade Quirino na áreamapeada. Os gnaisses granodicríticos, parecem compor a porção inferior dareferida unidade. São semelhantes aos ortognaisses da unidade inferior do Com-plexo Paraíba do Sul, descritos por Machado (1986) no Domínio Paraíba Norte,porção ocidental do estado do Rio de Janeiro, região de Vassouras e Valença, NEda área mapeada.

Geoquimicamente são gnaisses granitóides do tipo I (White & Chappell, 1977)pertencentes a série calcioalcalina .A análise dos elementos maiores denotam umcaráter no limite entre o metalunimoso e peraluminoso, com média das porcen-tagens molares de AI203l(CaO+K20+Na20) de 0.97. Foram reconhecidas duas se-quências calcioalcalinas, uma médio a alto-k (formada por gnaisses granodioríti-cos), e outra alto-K, muito enriquecida em LlLE (integrada por gnaisses graníticos)A primeira apresenta fracionamento e conteúdo total de ETR decrescente com adiferenciação, com LaN ca. de 200X o condrito para o termo menos evoluído. Poroutro lado, a sequência calcioalcalina granítica de alto-K da Unidade Quirino, apre-senta de um modo geral contéudo crescente de ETR e aumento do fracionamentocom a diferenciação. O contéudo total de ETR chega a 400X o condrito para os ter-mos com sílica em torno de 66,5 a 68,5%.

As duas sequências calcioalcalinas observadas podem ter sido geradas nummesmo evento colisional. Os dados geoquímicos sugerem que sequência calcioal-calina granodiorítica representaria os estágios iniciais da colisão, assemelhando-sea granitóides calcioalcalinos pré-colisionais (Batchelor & Bowden, 1985), Cordilhei-ranos no sentido de Pitcher et aI. (1979, 1982). A sequência calcioalcalina muitoenriquecida em LlLE, granítica, poderia representar os estágios finais destacolisão, assemelhando-se a granitóides pós-colisionais, no sentido de Batchelor &Bowden (1985), gerados sob crosta espessada.

Foram selecionados zircões para estudos geocronológicos U-Pb dos ortognaissesda Unidade Quirino. No gnaisse-granodiorítico os zircões eram incolores, prismáticos aequidimensionais de vários tipos. Adicionalmente, estes zircões apresentavam doistipos de núcleos, núcleos incolores e núcleos translúcidos, estes últimos com inclusõesde minerais opacos e/ou inclusões transparentes que Ihes davam um aspecto espon-joso. Continham frequentemente duas gerações de sobrecrescimento. O primeiro,

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~ais interno, era bem desenvolvido, transparente e livre de inclusões. O segundoorr:n.ava uma .tina casca, frat~rada, inadequada para análise.O resultado da~

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O biotita-gnaisse granítico porfiroblástico continha zircões transparentes, vari-ando em forma de prismáticos a equidimensionais, e apresentavam duas geraçõesde sobrecrescimento. A primeira, relativamente bem desenvolvida, era sobrecre-scida por uma fina casca, que não foi analisada. A análise de um cristal transpar-ente equidimensional é concordante a 604:!:1Ma. Esta análise juntamente com aanálise 5 pontas de prismas, relacionadas a prirT..cira geração de sobrecrescimento,e a análise de um único núcleo, definem uma discórdia com intercepto inferior a605:!:3Ma e intercepto superior a 2185:!:8Ma.

Interceptos superiores com idade de 2185:!:8Ma e 2169:!:3Ma, ..ugerem queestas idades "Sejam de cristalização. Os gnaisses granodioríticos da Pedreira deValença, contêm um significante componente arqueano como é indicado poridades mínimas de zircão de 2846Ma e 2981 Ma. As idades obtidas pelos intercep-tos inferiores (605:t3Ma e 571:t3Ma) foram interpretads como de remobilizaçãodestas rochas durante a Orogênese Brasiliana.

Sugere-se a partir destas determinações que o termo Paraíba do Sul fique re-strito as unidades metassedimentares e que as rochas da Unidade Quirino, cristali-zadas dentro do intervalo de tempo do Tranzamazônico, façam parte do conjuntodo embasamento das unidades supracrustais da Faixa Ribeira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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HEILBRON et a1.1991.. In: SIMP. DE GEOL. DO SUDESTE, 2, São Paulo,., p. 519-527.

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