Carlos drummond de andrade próprio

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CARLOS DRUMMOND CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE DE ANDRADE Prof. William Ferraz Prof. William Ferraz

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CARLOS DRUMMOND CARLOS DRUMMOND

DE ANDRADEDE ANDRADE

Prof. William FerrazProf. William Ferraz

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BIOGRAFIABIOGRAFIA

DrummondDrummond é consagrado pela tradição como é consagrado pela tradição como o maior poeta brasileiroo maior poeta brasileiro. Obteve um . Obteve um reconhecimento único em vida: reconhecimento único em vida:

foi capa de revistas, foi capa de revistas, enredo de escola de samba,enredo de escola de samba, assunto de programas de televisão. assunto de programas de televisão.

Sua morte provocou comoção nacional, Sua morte provocou comoção nacional, merecidamente. merecidamente.

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Mangueirade mãos dadas com a poesiatraz para os braços do povoeste poeta genialCarlos Drumond de Andradesuas obras são palavrasde um reino de verdade

Itabira em seus versos ele tanto exaltou com amor                          eis aí a verde e rosa cantando em verso e prosa o que ao poeta inspirou

É Dom Quixote ô é Zé Pereira                     é Charlie Chaplin no embalo da Mangueira

Mangueira: O Reino das Palavras – 1987 – Rody, Verinha e Bira do Ponto

Olha as carrancasdo rio São Franciscorema rema remadorprimavera vem chegandoinspirando amor o rio toma forma de sambista como o artista imaginou

Na ilusão de um sonho achei o elefante que eu imaginei

bis

 bis

 bis

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BIOGRAFIABIOGRAFIA Carlos Drummond de Carlos Drummond de

AndradeAndrade nasceu em Itabira do  nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação foi expulso por "insubordinação mental". mental".

De novo em Belo Horizonte, De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor começou a carreira de escritor como colaborador do como colaborador do Diário de Diário de MinasMinas, que aglutinava os , que aglutinava os adeptos locais do incipiente adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. movimento modernista mineiro.

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BIOGRAFIABIOGRAFIA Ante a insistência familiar para que obtivesse um Ante a insistência familiar para que obtivesse um

diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Preto em 1925.

Fundou com outros escritores ”Fundou com outros escritores ”A Revista”A Revista”, que, apesar , que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. modernismo em Minas.

Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945.

Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Correio da ManhãManhã e, a partir do início de 1969, no  e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil. Jornal do Brasil. Morreu no Rio, em 1987.Morreu no Rio, em 1987.

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Confidência do ItabiranoConfidência do Itabirano Alguns anos vivi em Itabira.Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.Principalmente nasci em Itabira.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.Noventa por cento de ferro nas calçadas.Noventa por cento de ferro nas calçadas.Oitenta por cento de ferro nas almas.Oitenta por cento de ferro nas almas.E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,é doce herança itabirana.é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;este orgulho, esta cabeça baixa...este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.Tive ouro, tive gado, tive fazendas.Hoje sou funcionário público.Hoje sou funcionário público.Itabira é apenas uma fotografia na parede.Itabira é apenas uma fotografia na parede.Mas como dói!Mas como dói!

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Confidência do ItabiranoConfidência do Itabirano

O poema começa com a saudade profunda de seu O poema começa com a saudade profunda de seu lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas lugar de nascimento, traçado em quatro belas, mas sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que sofredoras estrofes. Confessa (estrofe 3) que aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, aprendeu a sofrer por causa de Itabira; mas, paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de paradoxalmente: "A vontade de amor (...) vem de Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no Itabira"; vale dizer que o amor nasce e é servido no sofrimento. De Itabira vem a explicação de sofrimento. De Itabira vem a explicação de Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, Drummond viver de "cabeça baixa" (estrofe 3, verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta verso 6). Afinal, apesar das negatividades, o poeta sente uma incomensurável saudade de sua cidade sente uma incomensurável saudade de sua cidade natal. natal.

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Drummond e seus poemas eróticosDrummond e seus poemas eróticos

Drummond sempre se comportou de modo Drummond sempre se comportou de modo discreto, avesso à publicidade, discreto, avesso à publicidade, notabilizando-se como tradicional pai de notabilizando-se como tradicional pai de família. Todavia, após a morte, veio a família. Todavia, após a morte, veio a público sua faceta íntima de amante público sua faceta íntima de amante dedicado, pois manteve um longo e dedicado, pois manteve um longo e intenso amor paralelo à vida familiar, que intenso amor paralelo à vida familiar, que lhe inspirou diversos poemas eróticos, lhe inspirou diversos poemas eróticos, bem mais explícitos do que os que bem mais explícitos do que os que normalmente publicava em seus livros. normalmente publicava em seus livros.

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O amor natural: poemas O amor natural: poemas pornográficospornográficos

A língua lambeA língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhasA língua lambe as pétalas vermelhasda rosa pluriaberta; a língua lavrada rosa pluriaberta; a língua lavracerto oculto botão, e vai tecendocerto oculto botão, e vai tecendolépidas variações de leves ritmos.lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,E lambe, lambilonga, lambilenta,a licorina gruta cabeluda,a licorina gruta cabeluda,e, quanto mais lambente, mais ativa,e, quanto mais lambente, mais ativa,atinge o céu do céu, entre gemidos,atinge o céu do céu, entre gemidos,entre gritos, balidos e rugidosentre gritos, balidos e rugidosde leões na floresta, enfurecidos.de leões na floresta, enfurecidos.

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As 4 fases de DrummondAs 4 fases de Drummond

A poesia drummondiana apresenta quatro A poesia drummondiana apresenta quatro fases marcantes, que representam a fases marcantes, que representam a própria evolução do Modernismo no própria evolução do Modernismo no Brasil.Brasil.

Inicialmente seus versos foram muito Inicialmente seus versos foram muito influenciados pelos ideais da Semana de influenciados pelos ideais da Semana de arte moderna de 1922.arte moderna de 1922.

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1ª FASE 1ª FASE

Alguma poesia (1930)Alguma poesia (1930) Brejo das Almas (1934)Brejo das Almas (1934)

Nesta fase percebe-se a recorrência do Nesta fase percebe-se a recorrência do verso livre, do poema-piada, da concisão verso livre, do poema-piada, da concisão poética, do prosaísmo e do coloquialismo. poética, do prosaísmo e do coloquialismo.

Muitos poemas dessa época funcionaram Muitos poemas dessa época funcionaram quase como provocação aos admiradores quase como provocação aos admiradores da poesia do século XIX. É o caso de “No da poesia do século XIX. É o caso de “No meio do caminho”.meio do caminho”.

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No meio do caminhoNo meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra  No meio do caminho tinha uma pedra  tinha uma pedra no meio do caminho  tinha uma pedra no meio do caminho  tinha uma pedra  tinha uma pedra  no meio do caminho tinha uma pedra. no meio do caminho tinha uma pedra. 

Nunca me esquecerei desse acontecimento  Nunca me esquecerei desse acontecimento  na vida de minhas retinas tão fatigadas.  na vida de minhas retinas tão fatigadas.  Nunca me esquecerei que no meio do caminho  Nunca me esquecerei que no meio do caminho  tinha uma pedra  tinha uma pedra  tinha uma pedra no meio do caminho  tinha uma pedra no meio do caminho  no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra   

  Revista de AntropofagiaRevista de Antropofagia, 1928 , 1928 Incluído em Incluído em Alguma poesiaAlguma poesia (1930 (1930))

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Individualismo Pessimismo

eu “gauche”

Poema de sete faces Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

(...)

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2ª FASE2ª FASE

Sentimento do mundo (1940), Sentimento do mundo (1940), José (1942) José (1942) A rosa do povo (1945)A rosa do povo (1945)

Com o golpe do Estado Novo e a Segunda Guerra Com o golpe do Estado Novo e a Segunda Guerra Mundial, Drummond, cuja poesia sempre deixou Mundial, Drummond, cuja poesia sempre deixou transparecer a valorização dos regimes de transparecer a valorização dos regimes de esquerda, passou a discutir questões esquerda, passou a discutir questões sociopolíticas mais amplas. sociopolíticas mais amplas.

As questões existenciais não são deixadas de As questões existenciais não são deixadas de lado a esta altura, mas os três livros dessa fase lado a esta altura, mas os três livros dessa fase misturam-nas à preocupação social. misturam-nas à preocupação social.

O Coloquialismo se mistura com sombra de O Coloquialismo se mistura com sombra de Classicismo.Classicismo.

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Mãos dadas Não serei o poeta de um mundo caduco.Também não cantarei o mundo futuro.Estou preso à vida e olho meus companheiros.Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.Entre eles, considero a enorme realidade.O presente é tão grande, não nos afastemos.Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,a vida presente.

solidariedade e lutasolidariedade e luta

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E agora, José? A festa acabou,  a luz apagou,  o povo sumiu,  a noite esfriou,  e agora, José?  e agora, você?  (...)

Relação Eu-mundoRelação Eu-mundo Questionamento da existência:o impasse

Com a chave na mão 

quer abrir a porta,  não existe porta;  quer morrer no mar,  mas o mar secou:  quer ir para Minas,  Minas não há mais. José, e agora? (...)você marcha, José! José, para onde?

José

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O Lutador

Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco.

(...)

Palavra, palavra (digo exasperado), se me desafias, aceito o combate. (...)

O ciclo do dia ora se consuma e o inútil duelo jamais se resolve.

A PoesiaA Poesia

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3ª FASE3ª FASE Novos poemas (1948)Novos poemas (1948) Claro enigma (1951)Claro enigma (1951) Fazendeiro do ar (1954)Fazendeiro do ar (1954) A vida passada a limpo (1959)A vida passada a limpo (1959)

A terceira fase de sua poesia é altamente A terceira fase de sua poesia é altamente reflexiva: reflexiva: as questões sociais dão espaço às indagações as questões sociais dão espaço às indagações filosóficas, de ordem metafísica. filosóficas, de ordem metafísica.

Muitos poemas passam a empregar formas poéticas Muitos poemas passam a empregar formas poéticas mais tradicionais, problematizam a própria criação mais tradicionais, problematizam a própria criação poética, num exercício de poética, num exercício de metalinguagem.metalinguagem.

Surgem algumas poesias eróticas.Surgem algumas poesias eróticas.

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Oficina irritadaOficina irritada

Eu quero compor um soneto duroEu quero compor um soneto duroComo poeta algum ousara escrever.Como poeta algum ousara escrever.Eu quero pintar um soneto escuro,Eu quero pintar um soneto escuro,Seco, abafado, difícil de ler.Seco, abafado, difícil de ler.

Quero que meu soneto, no futuro,Quero que meu soneto, no futuro,Não desperte em ninguém nenhum prazer.Não desperte em ninguém nenhum prazer.E que, no seu maligno ar imaturo,E que, no seu maligno ar imaturo,Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.Ao mesmo tempo saiba ser, não ser.

Esse meu verbo antipático e impuroEsse meu verbo antipático e impuroHá de pungir, há de fazer sofrer,Há de pungir, há de fazer sofrer,Tendão de vênus sob o pedicuro.Tendão de vênus sob o pedicuro.

Ninguém o lembrará: tiro no muro,Ninguém o lembrará: tiro no muro,Cão mijando no caos, enquanto arcturo,Cão mijando no caos, enquanto arcturo,Claro enigma, se deixa surpreender. Claro enigma, se deixa surpreender.

Claro enigma (1951)Claro enigma (1951) ArcturoArcturo: estrela que serve de norte: estrela que serve de norte

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Procura da poesia Não faças versos sobre acontecimentos. (...) Não faças poesia com o corpo, (...) Nem me reveles teus sentimentos, (...) O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.(...)O canto não é a naturezanem os homens em sociedade.(...)Penetra surdamente no reino das palavras.Lá estão os poemas que esperam ser escritos.Estão paralisados, mas não há desespero,há calma e frescura na superfície intata.Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...)Chega mais perto e contempla as palavras.Cada umatem mil faces secretas sob a face neutrae te pergunta, sem interesse pela resposta,pobre ou terrível, que lhe deres:Trouxeste a chave?

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4ª FASE4ª FASE Lição de coisas (1962) Lição de coisas (1962)

Por fim, Drummond retomou um pouco do espírito Por fim, Drummond retomou um pouco do espírito revolucionário do Modernismo de 1922, fundindo-o com o revolucionário do Modernismo de 1922, fundindo-o com o experimentalismo que caracterizava a poesia brasileira na experimentalismo que caracterizava a poesia brasileira na virada da década de 1950 para a de 1960. virada da década de 1950 para a de 1960.

Retorno aos poemas curtos e humorísticos de Alguma Retorno aos poemas curtos e humorísticos de Alguma poesia. Memorialismo e reflexão.poesia. Memorialismo e reflexão.

Experimentalismo sensível e inteligente.Experimentalismo sensível e inteligente.

Adoção de elementos do Concretismo:Adoção de elementos do Concretismo: Abandono da sintaxe;Abandono da sintaxe; Atomização dos vocábulos;Atomização dos vocábulos; Espacialização gráfica do textoEspacialização gráfica do texto

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Amar-amaroAmar-amaro porque amou por que amouporque amou por que amou

se sabiase sabiap r o i b i d o p a s s e a r s e n t i m e n t o sp r o i b i d o p a s s e a r s e n t i m e n t o sternos ou desesperadosternos ou desesperadosnesse museu do pardo indiferentenesse museu do pardo indiferenteme diga: mas por queme diga: mas por queamar sofrer talvez como se morreamar sofrer talvez como se morrede varíola voluntária vágula evidente?de varíola voluntária vágula evidente?ah PORQUE AMOUah PORQUE AMOUe se queimoue se queimoutodo por dentro por fora nos cantos ecostodo por dentro por fora nos cantos ecoslúgubres de você mesm(o,a)lúgubres de você mesm(o,a)irm(ã,o) retrato espetáculo por que amou?irm(ã,o) retrato espetáculo por que amou?

se era parase era paraou era porou era porcomo se entretanto todaviacomo se entretanto todaviatoda via mas toda vidatoda via mas toda vidaé indignação do achado e aguda espotejaçãoé indignação do achado e aguda espotejaçãoda carne do conhecimento, ora vejada carne do conhecimento, ora veja

permita cavalheir(o,a)permita cavalheir(o,a)amig(o,a) me releveamig(o,a) me releveeste malestareste malestarcantarino escarninho piedosocantarino escarninho piedosoeste querer consolar sem muita convicçãoeste querer consolar sem muita convicçãoo que é inconsolável de ofícioo que é inconsolável de ofícioa morte é esconsolável consolatrix a morte é esconsolável consolatrix consoadíssimaconsoadíssimaa vida tambéma vida tambémtudo tambémtudo tambémmas o amor car(o,a) colega este não consola mas o amor car(o,a) colega este não consola nunca de nuncarás.nunca de nuncarás.

Lição de coisas (1962)Lição de coisas (1962)

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Outras obrasOutras obras

Após Lição de coisas, Drummond ainda publicou Após Lição de coisas, Drummond ainda publicou muitos outros livros de poemas, que não costumam muitos outros livros de poemas, que não costumam ser agrupados nas quatro fases de sua poesia, ser agrupados nas quatro fases de sua poesia, destaque para:destaque para:

Boitempo(1968)Boitempo(1968) A paixão medida (1980)A paixão medida (1980) Corpo (1984)Corpo (1984) Amar se aprende amando (1985)Amar se aprende amando (1985) O amor natural (publicado postumamente em 1992)O amor natural (publicado postumamente em 1992)

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REUNIÃO E NOVA REUNIÃOREUNIÃO E NOVA REUNIÃO

Em 1969 os dez primeiros livros de Em 1969 os dez primeiros livros de Drummond foram organizados e editados Drummond foram organizados e editados pelo autor no volume REUNIÃO.pelo autor no volume REUNIÃO.

EM 1982 foram agrupados além dos dez EM 1982 foram agrupados além dos dez anteriores, mais nove livros no volume anteriores, mais nove livros no volume NOVA REUNIÃO.NOVA REUNIÃO.

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TEMAS DE REUNIÃOTEMAS DE REUNIÃO Em 1962 ao completar 60 anos, o poeta organizou uma Em 1962 ao completar 60 anos, o poeta organizou uma

seleção de seus poemas e e agrupou os poemas em torno seleção de seus poemas e e agrupou os poemas em torno de de 9 grupos temáticos9 grupos temáticos, que receberam do autor títulos , que receberam do autor títulos específicos:específicos:

1- o indivíduo ( “um eu todo retorcido”)1- o indivíduo ( “um eu todo retorcido”) 2- a terra natal (“uma província: esta”)2- a terra natal (“uma província: esta”) 3- a família (“a família que me dei”)3- a família (“a família que me dei”) 4- amigos (“cantar de amigos”)4- amigos (“cantar de amigos”) 5- A sociedade (“amar-amaro”)5- A sociedade (“amar-amaro”) 6- o amor (“uma, duas argolinhas”)6- o amor (“uma, duas argolinhas”) 7- a poesia (“Poesia contemplada”)7- a poesia (“Poesia contemplada”) 8- os exercícios lúdicos (“Na praça de convites”)8- os exercícios lúdicos (“Na praça de convites”) 9- a existência (“ Tentativa de exploração e interpretação do 9- a existência (“ Tentativa de exploração e interpretação do

estar-no-mundoestar-no-mundo

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Reflexão ExistencialReflexão Existencial

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Anoitecer É a hora em que o sino toca,mas aqui não há sinos;há somente buzinas, sirenes roucas,

apitosaflitos, pungentes, trágicos,uivando escuro segredo;desta hora tenho medo. É a hora em que o pássaro volta, mas de há muito não há pássaros;só multidões compactasescorrendo exaustascomo espesso óleoque impregna o lajedo;desta hora tenho medo.

É a hora do descanso,mas o descanso vem tarde,o corpo não pede sono,depois de tanto rodar;pede paz – morte – mergulhono poço mais ermo e quedo;desta hora tenho medo. Hora de delicadeza, gasalho , sombra, silêncio.Haverá disso no mundo?É antes a hora dos corvos,bicando em mim, meu passado,meu futuro, meu degredo; dessa hora, sim, tenho medo.

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Desfile

O rosto no travesseiro,escuto o tempo fluindono mais completo silêncio.(...)Vinte anos ou pouco mais,tudo estará terminado.O tempo flui sem dor.O rosto no travesseiro,fecho os olhos, para ensaio.

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Os últimos diasQue a terra há de comer.Mas não coma já.(...)E a matéria se veja acabar: adeus, composiçãoque um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias grossas, meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,Sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, [idéia de justiça, revolta e sono, adeus,vida aos outros legada.

 

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Resíduo De tudo ficou um pouco.Do meu medo. Do teu asco.Dos gritos gagos. Da rosaficou um pouco.(...) 

Se de tudo fica um pouco,mas por que não ficariaum pouco de mim? (...) 

fica sempre um pouco de tudo.Às vezes um botão. Às vezes um rato.

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Poesia socialPoesia social

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Tempos sombrios...

O medo A Antonio Candido

        "Porque há para todos nós um problema sério...         Este problema é o do medo."

                   (Antonio Candido, Plataforma de Uma Geração) 

 Em verdade temos medo.(...)E fomos educados para o medo.Cheiramos flores de medo.Vestimos panos de medo.De medo, vermelhos riosvadeamos.

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(...)

Faremos casas de medo,duros tijolos de medo,medrosos caules, repuxos,ruas só de medo e calma.(...)Nossos filhos tão felizes...Fiéis herdeiros do medo,

eles povoam a cidade.Depois da cidade, o mundo.Depois do mundo, as estrelas,dançando o baile do medo. 

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“morreremos de medoe sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas

e medrosas.”

(Sentimento do Mundo)