2) A Informação e o Paradigma Holográfico: a Utopia de Vannevar Bush

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    DataGramaZero - Revista de Cincia da Informao - v.3 n.6 dez/02 ARTIGO 06

    A Informao e o Paradigma Hologrfico: a Utopia de Vannevar BushThe Information and the Holographic Paradigm: Vannevar Bush's Utopy

    porNilton Bahlis dos Santos

    Resumo: A Cincia da Informao tem dois elementos constituintes: por um lado ela nasce comoacmulo terico e de experincias de processamento de informaes, em particular da biblioteconomia eda documentao, com suas tecnologias capazes de processar volumes finitos de informao. Por outrocomo utopia, resultado da ampliao e alargamento do horizonte da cincia , nos esforos aliados nasegunda guerra mundial e o desejo de Bush de um novo ordenamento para a Informao. O aspecto mais

    importante no a "exploso informacional" como aumento quantitativo, mas a interconexo deexperincias e pesquisas, que gera a necessidade de processamentos para a circulao de grandes massasde informao; utopia alimentada pela possibilidade vislumbrada de processar um volume infinito com osurgimento da tecnologia informtica. Nossa reflexo que se o primeiro aspecto est estruturado no

    paradigma do moderno, com sua viso determinista e racional, resumindo-se a estudar o processo deinformao em sistemas fechados, homogneos e passveis de serem organizados priori, o segundo, autopia, no consegue encontrar uma resposta no interior deste paradigma. Este segundo aspectoconstituinte, isto a busca da capacidade de processar informaes em um nmero infinito eindependente de linguagens controladas e de disciplinas, tem como marco o texto "Como ns pensamos"de Vannevar Bush. Ele aponta para a necessidade e possibilidade da Cincia da Informao enfrentar deuma maneira nova o problema da complexidade e interatividade, caractersticas cada vez mais presentesem nosso mundo, colocando em questo o prprio paradigma vigente. Esta utopia, no entanto, foi postaem segundo plano devido aos objetivos produtivistas colocados pelas opes prticas que a marcaram.Para recoloc-la na ordem do dia necessrio rever a prpria definio de Cincia da Informao, seuslimites como campo de conhecimento, seus mtodos, suas tcnicas e tecnologias. O ParadigmaHologrfico apresenta determinados caminhos e opes para uma nova discusso e o hipertexto oevidencia em termos prticos.

    Palavras-chave: Paradigma, Holografia, Cincia da Informao, Tecnologia da Informao, Hipertexto,

    Complexidade, Interatividade, Virtual, Totalidade

    Abstract: Informational Science has two constituent elements. The first element is the theoreticalaccumulation and the experiences of processing information, from library sciences and from

    documentation, with its technologies capable of processing finite volumes of information. The secondelement is the utopia, which resulted from the amplification and the enlargement of the scientific horizon,as evidenced by the coordination of six thousand scientists in the allied efforts in the Second World War.Here the most important aspect is not the quantitative increase in information i.e. the "informationalexplosion", but rather the interconnection of experiences and research, which generates the necessity to

    process and circulate great masses of information. In this perspective utopia is supported by the glimpsedpossibility of processing an infinite volume of information with the emergence of computer sciencetechnology. Our analysis is that if the first element is structured in the Paradigm of the modern, with itsdeterministic and rational vision, (which studies the process of information in closed, homogeneoussystems that can be organized a priori); then the second element, the utopia, cannot find a answer insidethis paradigm.The second element is the search for the capacity to process information in an infinite andindependent number of controlled languages and disciplines, and it's landmark is the text "As we think" ofVannevar Bush. It points out the necessity and the possibility of Informational Science to face new ways

    to deal with the problems of complexity and interactivity, questioning the current prevalent paradigm.This utopia, however, was relegated to the second plane due to productivity goals implemented by thepractical options that characterized it. To reposition it as a priority it is necessary to review the definition

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    of Informational Science, it's limits as a knowledge field, it's methods, it's techniques, and it'stechnologies. The Holographic Paradigm presents paths and an option for this reanalyze and the hypertextdemonstrates it in practical terms.

    Keywords: Paradigm, Holography, Information Science, Technology of information, Hypertext,

    Complexity, Interactivity, Virtual, Totality

    A Utopia de Vannevar Bush

    comum na literatura da rea da Cincia da Informao (CI) a referncia aotexto "As We May Think" de Vannevar Bush, publicado em julho de 1945 emThe Atlantic Review (BUSH, 1945). O artigo teve grande influncia em nossa

    aproximao com a CI, pois foi como se nos lanasse um desafio:"O conhecimento humano vem crescendo assustadoramente e se tornandocada vez mais especializado. medida que o conhecimento cresce e aespecializao se estende, mais complicado se torna o nosso acesso a essemonumental acervo. O investigador fica perplexo quando tem que lidar com o

    produto da pesquisa de milhares de colegas -- no tendo tempo para ler, muitomenos para analisar e memorizar, tudo o que publicado, mesmo em sua reade especializao. A especializao talvez seja a nica maneira de fazer oconhecimento progredir. Mas o esforo de construir pontes entre as vrias

    disciplinas especializadas ainda incipiente e artificial" (BUSH, 1945).Vannevar Bush, que coordenou 6.000 cientistas no esforo aliado, fazia entouma avaliao do estado da cincia no ps-guerra. Ao final da SegundaGuerra, com autoridade de quem acompanhou parte substantiva da produocientfica da poca, ele apontava a dificuldade crescente da cincia que sedesenvolvia em vrias direes adquirindo complexidade; ressaltava ainoperncia dos mecanismos de produo, gerncia e difuso doconhecimento cientfico e a debilidade dos recursos humanos frente a estanova situao.

    Denunciava os problemas criados pela crescente especializao que, mesmonecessria aplicao em reas particulares de conhecimento, leva perda dacapacidade em acompanhar o desenvolvimento do conjunto da cincia. Vistoo grau de complexidade dos conhecimentos produzidos, os cientistas soobrigados a optar entre desenvolver seu trabalho, cada vez mais especializado,ou ler infinitospapers para se manter atualizado. S estaramos livres destedilema, se crissemos novas metodologias, instrumentos e mquinas que

    permitam gerir grandes volumes de informaes[1].

    O artigo de Bush colocava questes em diferentes nveis. Situando-se ao nveldo "agenciamento", da maneira de fazer de um dirigente preocupado em

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    responder necessidades e problemas prticos, as questes desbordavam emmuito esta esfera discutindo paradigmas como precondio para abordar asquestes ao nvel do agenciamento e se preocupando em mostrar a viabilidadedeste caminho, discutindo possibilidades tcnicas e prticas de realiz-lo.

    As referncias em nossa rea, no entanto, eram mais "exploso deinformaes[2]", ou a visionria mquina Memex (a busca de uma tecnologiacapaz de super-la), do que a questo que nos provocava inquietaes. Parans, a grande questo era que a mudana de quantidade[3] (no volume deinformaes) exigia uma mudana de qualidade no seu tratamento. O quefazia, que "nossos mtodos de transmitir e analisar o resultados das

    pesquisas..." (ficassem) "... antiquados e totalmente inadequados aospropsitos para os quais os empregamos" (BUSH, 1945). Os processos deindexao usados no eram capazes de dar conta desta nova situao. Para

    abordar este volume infinito de informaes o caminho apontado era o daassociao de idias "como ns pensamos" (BUSH, 1945). Esta diferena deprocedimento exigia uma mudana de paradigma, uma mudana da maneirade processar, relacionar e mesmo conceber as informaes. No entanto aoavanar na discusso ao nvel "prtico[4]" a questo de fundo aparecia difusa

    permitindo que questes tcnicas e prticas fossem pensadas dentro da ticado paradigma anterior. Ficava em segundo plano a questo mais importanteque Bush colocava: sua utopia de "construir pontes entre as vrias disciplinasespecializadas" rompendo as comportas que as mantinham isoladas.

    O artigo, de certa forma, era expresso dos dois elementos constituintes da CI:

    1. Por um lado, o acmulo terico, de experincias prticas e de tcnicas deprocessamento da informao existentes at ento (capazes apenas deprocessar volumes finitos de informao);2. Por outro lado, a constituio uma problemtica colocada por um objetoterico novo (a Informao) e uma nova rea de conhecimento (a Cincia daInformao)[5] o que coloca na ordem do dia, a utopia de romper ascomportas que aprisionam a informao no limite estreito das disciplinas.Utopia que resultado da ampliao e alargamento do horizonte da Cincia,evidenciado pela coordenao dos cientistas para os esforos aliados (o quegera a necessidade de processamento e circulao de grandes massas,infinitas, de informao). Utopia que tambm se apoiava no surgimento datecnologia informtica e sua capacidade de processar um volume cada vezmaior de informaes e que se materializou mais tarde na Internet.

    Se o primeiro aspecto, com sua tica produtivista[6], determinista e racional,estava estruturado no paradigma moderno[7], restrita a estudar o processo deinformao como um sistema fechado, homogneo e passvel de serorganizado priori, o segundo, a utopia, no encontra uma resposta no interior

    deste paradigma.

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    Esta utopia, de "estabelecer pontes entre as diferentes especializaes", de sercapaz de processar informaes em um volume infinito e independentementede linguagens controladas, aponta para a nica possibilidade de se lidar com acomplexidade do mundo em que vivemos. Mas ela coloca em questo o

    paradigma vigente e pe na ordem do dia a necessidade de redefinio doprprio conceito de informao, da Cincia da Informao como rea deconhecimento, e de seus mtodos, tcnicas e tecnologias.

    Para esta redefinio, ao nosso ver, necessrio refletir em duas questes:

    1. Porqu a Cincia da Informao aceita as divises de disciplinas e no secoloca por cima delas, capaz de produzir conhecimentos que perpassem suasfronteiras?2. Seria possvel abordar o problema da informao em uma outra esfera, de

    uma outra maneira, a partir de onde as fronteiras das disciplinas no secolocasse como algo intransponvel?

    Nossa tese de que a Cincia da Informao se estabelece ao nvel do"atual[8]" e nesta esfera[9] as disciplinas fazem sentido, pois elas trabalhamem espao (escalas/posies) e tempo (velocidade/momentos)diferenciados[10]. Uma caracterstica fundamental deste tipo de abordagem que seus elementos transitam e so acionados ao nvel do "atual", isto , a

    partir de "contextos" determinados, ou dito de outro modo, a partir dedeterminados parmetros espao-temporal (que por sua vez so construesdo paradigma moderno). Exatamente por se estabelecerem ao nvel dediferentes processos de emergncia, onde os parmetros de espao/tempo decada disciplina so diferentes, podemos dizer que encontramos dobras (notempo e no espao) na passagem de uma para outra disciplina[11].A possibilidade de estabelecer "pontes entre as disciplinas" como queriaVannevar Bush, s existe se trabalharmos no terreno no "virtual[12]", ondeestes parmetros particulares deixam de ter importncia, isto , se estudarmosa informao de maneira independente do tempo e do espao onde elas podemse "atualizar". Para isto precisaramos estudar a informao no como umacadeia de "relaes de determinaes" mas como "possibilidade de relaes".

    A fixao destes parmetros espao-temporal de uma certa maneira permiteuma cristalizao das relaes[13]. Elas so dadas. Isto possibilita odeslocamento do ncleo crtico da teoria da rea para a questo da"representao", criando-se um sistema passvel de ser medido e onde

    possvel estabelecer valores (falso ou verdadeiro). Como o sistema est dado possvel promover uma indexao e catalogao "a priori" e descobrir uma"melhor maneira" de organizar a informao originando padres que devemser usados por todos e em todo o lugar.

    Mas criar um sistema estvel e capaz de ser operacionalizado a partir dediferentes parmetros espao-temporal, de mltiplos contextos e pontos de

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    vista, exigiria trabalhar um volume de informaes que as tecnologias deinteligncia at a pouco ainda no eram capazes de processar. De outro modo,isso s possvel operando determinadas restries e observando o processoem determinadas condies particulares[14].

    Estas restries so dadas pelos pressupostos de espao e tempo criados[15].Tratar o fenmeno em determinados limites de escala; reduzir o nmero deelementos observados; desprezar fenmenos que no seriam determinantes

    para os objetivos pretendidos, e restringir o nmero de "pontos de vistas"considerados[16], foram algumas das maneiras de criar um sistema capaz defuncionar.

    O problema, no entanto, aparece novamente quando necessitamos trabalharcom interatividade e mltiplos "pontos de vistas", em diferentes escalas e

    espao/tempos, com um volume infinito de informaes e em condies detempo real, isto , de "tempo zero" ou em sistemas onde o tempo no existe.

    Este de certa maneira o mundo em que vivemos. Uma nova situao onde:

    * Novos objetivos produtivistas justificam largamente a necessidade deestudar a informao dentro de uma perspectiva mais ampla, no-restrita aatividade de cincia e tecnologia propriamente dita, j que a informao secoloca cada vez mais no centro de todas as prticas na sociedade em quevivemos;

    * Vivemos uma evoluo das tecnologias de inteligncia (informtica,internet, hiper-texto, simulao, etc.) que viabiliza, oferece e em certo sentidoexige uma ampliao das possibilidades de estocagem, gerncia e

    processamento da informao a nveis jamais imaginados;* Onde o paradigma moderno se mostra incapaz de pensar estas novas prticase coloca a necessidade de avano no sentido da constituio de um novo

    paradigma (o que um problema terico e prtico ligado aos aspectosanteriores).Essa nova situao permite e exige uma nova abordagem da Cincia daInformao. E um bom caminho para isto retomar a Utopia de VannevarBush.

    II - Texto e Hipertexto

    O texto e o hipertexto, de um certo modo so expresses dessas duaspossibilidades de abordagem, por sua vez manifestaes de paradigmasdiferentes.

    Podemos dizer que at o surgimento da Internet vivamos uma situao de"carncia de informaes". Ainda que seu volume tendesse ao infinito as

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    informaes eram estocadas em diferentes mdias e lugares, incomunicveis.O acesso a elas, portanto, era parcelar e determinado. As informaes eram

    basicamente processadas pelos homens, que as inscreviam, organizavam etransmitiam[17], e difundida atravs de palavras, principalmente escrita, eestocadas em livros, jornais, peridicos e correspondncias.

    A tecnologia de imprensa favorece uma leitura linear, predeterminada peloautor. Um livro ou um artigo de revista, em princpio, se l de cabo arabo[18], pginas e pargrafos um aps outro. Quando lemos algo, nossa

    predisposio inicial entender o que quer dizer o autor. A formao de umponto de vista prprio, em princpio, ocorrer ou no em um momentoseguinte[19].

    O texto, de uma certa maneira, uma extenso da fala[20] e reflete algumas

    de suas caractersticas. A mais importante delas organizar as informaes apartir de um ponto de vista determinado, no tempo e no espao: o tempo eespao do autor, do personagem ou da situao, em outras palavras a partir deum determinado sujeito. Ao estabelecer uma narrativa criado um sistema de

    parmetros espaciais e temporais onde esto articulados os diferentes fatos eepisdios a partir de um determinado ponto de vista. Este encadeamento, noentanto, s se torna possvel a partir destes parmetros e no seu interior. Deuma certa maneira eles so exclusivos daquele sujeito (em um momento elugar determinado).

    Ocorre que, diferentemente da fala, o texto ganha uma dinmica prpria.Conforme ele se "afasta" do espao e tempo do autor a fora da gravidade emrelao ao emissor perde sua fora, e retirado de seus parmetros, se torna

    possvel a sua des/reconstruo em um outro espao e tempo, o espao etempo do leitor, ganhando uma nova coerncia criada por este. Este processo,muitas vezes se d de maneira imperceptvel e inconsciente. O leitor acreditaque "entendeu" o que se quis dizer e que sua percepo do texto a mesma doautor.

    Podemos dizer assim que, apesar de se articular ao nvel do atual (como afala) "estabelecendo determinaes", ao desprender-se do autor, o textoaprofunda seu estatuto virtual. Ele passa a ter uma existncia virtual secristalizando no mais como "relaes determinadas", mas como"possibilidade de relaes".

    As tecnologias tradicionais de escrita e impresso impuseram assim modelosnarrativos seqenciais que originam problemas, em particular quando seaprofunda a complexidade e se desenvolve a interatividade (quando diferentessujeitos se colocam em relao). Mas estes problemas, provisoriamente, foram

    reduzidos com a evoluo das tcnicas de edio e de gramtica possibilitandopequenas escapadas momentneas e precrias, atravs de notas, apostos,

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    parntesis, imagens e referncias capazes de levar a outros ambientes e outraspublicaes[21].

    Conforme o texto se afasta em relao ao espao/tempo que o estruturou, estascaractersticas virtuais ganham fora. O contexto, que no seno outra formade designarmos o "atual" (os parmetros espao/temporais) perde suafora[22] e as caractersticas virtuais se aprofundam.

    Por outro lado, enquanto o texto ganha distncia do autor e aumenta o nmerodos leitores, se introduz um elemento de complexidade a este processo:atravs dele diferentes sujeitos (e, portanto diferentes sistemasespao/temporal) so colocados em contato. Isso por sua vez aprofunda aindamais suas caractersticas virtuais[23].

    O leitor pode assim colocar em ao sua posio como sujeito. Mesmo que osuporte (livro) o dificulte, ele pode acrescentar ao livro outros textos atravsde anotaes, resenhas, comentrios, opinies em outras publicaes e livros,etc. Para no falar de que, atravs da indstria da edio, so introduzidos no

    prprio livro outros sujeitos nas figuras do editor, tradutor, revisor,apresentador, prefaciador, programador visual, etc.

    Mas quando se evolui do texto impresso para o texto digital, para o textoeletrnico e em particular para o hipertexto, comeamos a romper com estetipo de narrativa e com sua estrutura espao-temporal. O texto eletrnico

    desde o incio coloca em cheque a maneira de organizar e gerir a informaoexigindo uma revoluo em suas prticas. As novas tecnologias de informaoe comunicao serviram precisamente para facilitar a circulao do leitor nostextos independentemente de sua narrativa. A disponibilidade de textoseletrnicos foi o primeiro passo. "Com o surgimento dos arquivos eletrnicosse viabilizou a criao de bancos de dados, de sistemas de busca e anlise dotexto por meio de software, assim como a reutilizao e recomposio dostextos. Simples programas de edio com capacidade de fazer buscaspassaram a nos permitir localizar fragmentos que nos interessavam, copi-los, e inseri-los em uma base de dados, em um artigo ou em uma mensagemde correio eletrnico (TORL, )".

    O hipertexto foi o incio dessa revoluo e talvez a mudana maiscaracterstica da transformao de prticas comunicativas que est emcurso[24]. Se no incio ele parece apenas uma extenso do texto, onde os links

    podem ser comparados a notas, referncias e comentrios de autor, tradutor,editor, etc., e se mantenha ainda uma estrutura narrativa, nossa opinio que oseu desenvolvimento romper de vez com qualquer estrutura narrativa,

    perdendo a coerncia e assumindo o contraditrio, trazendo assim para seu

    interior "dobras" espao-temporal e desta maneira radicalizando seu cartervirtual, como local de convivncia de diferentes possibilidades de sujeitos.

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    O hipertexto no apenas uma nova forma de organizao do texto. Existeuma diferena de qualidade, uma ruptura entre um e outro. Mesmo que o texto

    busque formas de superar as amarras da linearidade, ao criar o aposto, a nota,a referncia, etc, isto , recursos que remetem a outros tempos e outrosespaos, estes se constituem a partir do tempo e espao do autor, do editor oudo personagem, ou at so capazes de articular outros sujeitos, mas os articulaem um tempo e espao contnuo (ainda que falando de "lugares" e"momentos" diferentes). O hipertexto, ao contrario, permite trabalhar comagentes e processos que no se do dentro de uma temporalidade eespacialidade determinadas. Enquanto o texto tem a virtude na coerncia, ohipertexto tem sua virtude na possibilidade de convivncia da contradio.Enquanto o texto o terreno do sujeito, o hipertexto o terreno das relaes.

    III - Transio de Paradigmas

    Pensamos que o "paradigma determinista" (que de alguma forma hegemnico nas concepes, nas prticas e na maneira de operar o mundo doocidente), no mais capaz de descrever e permitir que se opere em ummundo cada vez mais complexo[25].Esse paradigma nos permite descrever e operar o mundo[26] com relativosucesso em determinada escala (ao nvel humano, poderia se dizer) e comnmero limitado de variveis passiveis de serem articuladas em relaes decausa e efeito[27]. Mas com o aumento da complexidade[28] e necessidade de

    abordagens que considerem um nmero infinito de elementos, em diferentesescalas e em condies de "tempo real[29]", este paradigma se mostrainoperante. Isto porque em uma situao onde a descontinuidade e aassincronia a regra, as relaes de causa e efeito se inviabilizam, no

    possvel colocar todas as variveis em uma mesma ordem de tempo e deespao, e um pequeno incremento de valor em uma varivel pode terconseqncias desproporcionais e imprevisveis em todo o sistema.

    A realidade que construmos[30] (causal, sncrona, homognea, linear,seqencial e "previsvel" a partir da descoberta das "condies iniciais"; capazde ser decomposta e estruturada "a priori"), comea a se apresentar cada vezcom mais dobras, mais excees, com mais elementos que devem serdesprezados. Por outro lado, cada vez mais detalhes devem ser incorporados descrio[31], fazendo com que o modelo se obscurea, fique confuso, e percaseus contornos. Do mesmo modo, a maneira de operar calcada nela comea a

    produzir resultados cada vez mais imprevisveis e menos relevantes.

    Quando falamos de mudana de paradigmas, falamos de um processo queengloba diversos "nveis". A mudana se manifesta na maneira de abordar os

    problemas, na viso de totalidade (ou de sua inexistncia), das medies e

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    relaes que podem ser feitas e estabelecidas, assim como na tcnica e namaneira de operar.

    Um paradigma cria algumas armadilhas para se perpetuar. Ele se incorpora atal ponto em nossa vida, se impregna em nossa maneira de ver e de operar - eassim na nossa maneira de "sentir", que temos a dificuldade de pensar de outraforma[32]. Mas a invaso do homem em novas esferas da vida, seu acesso aoutras escalas, lhe apresenta novas possibilidades. o que acontece nestemomento onde encontramos "indeterminao" em lugar de "determinao";"acaso" em lugar de "previsibilidade"; "descontinuidade" em lugar de"continuidade"; "assincronia" em lugar de "sincronia" e "interatividade" emlugar de "aditividade".

    Estes elementos esto cada vez mais presentes em nossa vida e podemos

    verificar que muitos intelectuais, cientistas, artistas e pessoas comunsdemonstram sensibilidade para eles, dando-lhes respostas variadas emdiversos nveis. Surgiram tcnicas, tecnologias, artifcios, noes, conceitos,frmulas, relaes e possibilidades alternativas aos elementos do "paradigmadeterminista". Mas estes novos elementos ainda no se globalizaram nacriao de um novo paradigma capaz de dar uma nova ordem ao caos que nosenvolve[33].

    Nos chamou a ateno, no entanto, quando se enfrenta estas discusses e nacrtica ao paradigma determinista, a freqncia com que aparece a referncia

    holografia (um processo relativamente desconhecido) para ilustrar, esclarecer,simular e descrever estes novos processos[34]. Em particular a referncia

    possibilidade de se pensar uma situao onde o todo esta na parte e a parteesta no todo e de se viabilizar a possibilidade de pensar a informao noterreno virtual.

    IV - Hipertexto: O Rompimento com a linearidade

    Como j observamos Vannevar Bush - apesar de no usar a palavra[35], j nadcada de 40 descreveu a idia de hipertexto. Explicava que, "nossa maneiranatural de pensar, de considerar um assunto, por associao. Captamosconexes entre as coisas e nossos pensamentos tomam a forma de redes".Essa a idia original que est por trs do WWW onde os elementos deinformao esto vinculados de diversos modos no seqenciais, e onde oscomputadores poderiam nos ajudar a seguir esses vnculos, assim comoconstruir novos.

    No inicio dos anos 70, a evoluo da informtica e dos processos dedigitalizao, compresso, correo de erro, estocagem e gerncia de

    informaes viabilizaram um salto significativo na capacidade de estocar

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    informaes. Como exemplo, podemos citar o clebre , cujo objetivo erapublicar 10.000 textos na rede antes do ano 2000[36].

    A Internet comeava a engatinhar nas Universidades e nos Centros dePesquisa. O crescimento das informaes estocadas colocar a necessidade decriar e implantar ferramentas que ajudassem ao usurio a buscar e a organizara informao disponvel na rede. A rede comeava a se tornar complexa, maso hipertexto ainda era (e hoje ele ainda ) um adolescente. Estava a meiocaminho do simples e do complexo, refletia ainda a narrativa centralizada eseguia a lei da gravidade. O Gopher[37] foi uma das mais importantesmanifestaes deste processo de maturao. Era baseado em menus, ondecada opo apresentava o enlace seguinte, hierarquicamente inferior. A buscada informao estava baseada em uma estrutura de diretrios at chegarmosao "documento final".

    Ressalte-se que estamos j aqui perante uma configurao de rede. Mas umarede determinada, a rede possvel a partir da concepo do pensamentomoderno. Uma rede cujos "ns" so articulados por relaes de determinao,onde quanto mais prximo do centro mais importante se ; onde existe umahierarquia de determinaes e onde a comunicao com os pontos mais abaixoda pirmide passa obrigatoriamente por estruturas superiores. Observem asemelhana com o mundo e a realidade que foi construda a partir do modomoderno de ver o mundo.

    Mas imagine que em um "n" desta pirmide, em algum ponto mais abaixo, secria uma "nova relao", uma subdiviso que aponta para um nvel alguns"ns" acima. O resultado ser algo similar s escadas e outros objetos doartista plstico Escher, ou dos desenhos de Juarez Machado, onde se avana

    para trs e se desce para um nvel superior. Chega-se a um paradoxo onde alinguagem linear e seqencial no permite mais entender esta rede cada vezmais complexa, onde no se consegue mais saber onde , melhor dizer, ondeno existe mais centro ou onde, dependendo de um ou outro ponto de vista,qualquer elemento pode ocupar esse lugar. Chegamos a uma situao, ondeespao e tempo passam a ter dobras e no podem ser mais reduzidos a algocontnuo. Comeamos a trabalhar com a possibilidade de uma descrio onde

    podem conviver diferentes pontos de vista, onde podem conviver diferentes"sentidos", sujeitos e diferentes situaes.

    Este caminho se iniciou, em 1989, com o Projeto World-Wide Web:

    "Imaginemos que estamos lendo um livro e que encontramos uma palavra queno conhecemos. O mais normal que nesse momento tenhamos queinterromper a leitura para buscar seu significado em um dicionrio. Porm, e

    se pudssemos selecionar esta palavra no prprio texto de tal forma queimediatamente nos aparecesse seu significado? Poderamos pensar assim,

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    tambm, sobre referncias que se fazem em um artigo cientfico. Esta idia(...) foi desenvolvida no CERN para facilitar a comunicao e adestramentodos colaboradores, cientistas e estudantes dispersos geograficamente portodo o mundo e que participavam em seus projetos. (...) a intuio original daequipe do CERN era que o problema dos vnculos entre elementos deinformao dispersos poderia ser abordado mediante um sistema dehipertextos distribudos em redes de computadores". O resultado o que hojeem dia se oferece com o WWW: "documentos cujos enlaces nos podemconduzir a um certo nmero de outros documentos e assim sucessivamente,combinados com consultas que geram os enlaces dinamicamente segundonossos prprios interesses. o leitor quem decide que enlaces seguir ou queperguntas fazer. Isso o que o WWW faz possvel".(SHOOP, 1993).

    Schoop (1993) descreve assim as diferenas entre o Gopher e o WWW:"Tanto o Gopher como o WWW, so aplicaes que oferecem ao usurio um

    servio de informaes homogneo e simples de utilizar. O usurio algunsminutos aps comear a utiliz-los capaz de extrair uma informao.Ambos so tambm distribudos e integram quase a maioria dos demaissistemas de informaes existentes na Internet. Ambos so conhecidos comosistemas globais de informao. No entanto, a forma de obter as informaes totalmente distinta. O Gopher est baseado em menus e cada opo domenu que dispe do enlace, enquanto que o WWW est baseado no conceitode hipertexto e so as palavras ressaltadas de um documento que possuem umenlace (mais informao) que apontam para outros documentos. O Gopher

    est baseado em uma estrutura hierrquica de diretrios at chegar aodocumento final (texto, imagem,...), enquanto que o WWW se baseia emenlaar as palavras/imagens dos documentos com outros documentos e assimsucessivamente...".Claro que a estrutura dos textos de cada pagina continua viciada muitas vezes

    pela tradio de escrever como uma estrutura de determinaes hierrquicas,utilizando a narrativa lgica e seqencial tradicional. Mas o simples fato decriar este tipo de ligaes abre uma infinidade de caminhos possveis o quecomea a modificar a maneira de ler. Isto, mais cedo ou mais tarde, levar aque se escreva de uma nova maneira.

    Muito falta para se aprender a trabalhar com hipertextos[38]. Durante anospersistir uma diversidade de formas hbridas. Mesmo as verses WWW damaior parte dos textos oferecidos apenas utilizam o hipertexto para criarmenus de suas sees, porm nem sequer introduzem enlaces no contedo dotexto[39].

    O que ocorre com o hipertexto no uma exceo. De uma maneira geralpodemos dizer que as transformaes que estamos vivendo ainda esto em suainfncia e deste modo temos ainda manifestaes de prticas cognitivas de

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    outras pocas convivendo com as novas. Mas j podemos perceber as prticascompletamente novas que ela prenuncia.

    O hipertexto uma das manifestaes de novas prticas comunicativas ecognitivas introduzidas pela Internet. A ttulo de ilustrao relacionaremostrs aspectos que dizem respeito a caractersticas constituintes de processoscognitivos que ela coloca e que apontam para a ruptura de paradigmas:

    * Em primeiro lugar, como j vimos, a passagem do processo de organizaoda informao estruturada em narrativa para a organizao baseada nohipertexto, onde as informaes no tm significado em si (no existe umsentido implcito), elas dependem do olhar e do caminho percorrido (existeaqui uma situao onde o olhar constituinte);* Em segundo lugar, o rompimento com a trajetria. Se antes o tempo e

    espao eram vistos como variveis que se correspondem, contnuas ecorrelacionadas, apontando uma trajetria, agora os caminhos sodescontnuos, como descontnuos so o espao e o tempo. Neste marco, ficadifcil localizar uma informao percorrendo uma trajetria, "percorrendo umaordem", ser mais fcil de encontr-la atravs de mecanismos probabilsticos(mecanismos de busca);* Em terceiro lugar inexiste uma perspectiva, um "ponto de fuga", isto , umafonte de legitimidade definida capaz de mostrar a "forma correta", a partir deum nico olhar e de uma determinada hierarquia.

    A nosso ver estas prticas so manifestaes do esgotamento do paradigmamoderno e da emergncia de um novo paradigma.

    V - Fotografia e Holografia

    A holografia permite entender a totalidade como algo diferente da soma daspartes (onde a parte est no todo e o todo est na parte), e o modelo que elasugere oferece a possibilidade de relaes assncronas, intersubjetivas einterativas (como elemento de construo de realidades). Podemos tambm

    perceber os processos de sincronizao e de interferncia, como possveisexplicaes para as dinmicas de um determinado sistema sem se lanar mosdas tradicionais relaes de causa e efeito. Mais importante que o anterior ofato que o modelo hologrfico se constri "fora do tempo", ou dito de outramaneira, define um campo de possibilidades onde o tempo inexiste, mas que

    permite uma emergncia particular no tempo e no espao daquele que a eleacede.

    Se explorarmos um pouco as diferenas entre a fotografia e a holografia,podemos perceber como a abordagem hologrfica pode re-equacionar e criar

    novos diferenciais para o estudo da informao, seu estoque e seuprocessamento.

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    A fotografia uma forma de representao e um sistema de estoque deinformaes que reflete uma viso de totalidade estruturada a partir do mtodode anlise. Nela se tem uma correspondncia direta entre "cada pontorepresentado" e seu "original" atravs de uma projeo cartesiana em umsuporte fotogrfico. Ao fazer este "desdobramento[40]" a fotografia destri atotalidade que se propunha representar estocando apenas um dos pontos devista a partir do qual ela observada, focando-a e fixando-a no tempo e noespao (ou dito de outra maneira transformando-a em elemento constitutivodeste tempo e espao).

    No caso da holografia no temos uma "representao", mas um sistema deinformao capaz de mltiplas representaes e de "atualizaes" diversas notempo e no espao, dependendo do ponto de vista do observador.

    Algumas das caractersticas mais fascinantes da holografia so:1) A transformao de uma representao bidimensional do objeto(holograma) em uma imagem tridimensional que reproduz a inteira aparnciado objeto;2) O fato de que a informao contida no holograma no tenha nenhumasimilitude com o objeto que ela capaz de constituir/reconstituir[41];3) O modo como a informao esta organizada (parte representando parte, nafotografia e parte contendo informao do todo, na holografia);4) O papel constitutivo que nesta tcnica joga a relao entre as partes do

    holograma, j que cada parte, por menor que seja, possui a informao total doholograma, precisamente de todas as interaes possveis entre as partes, oque lhe permite reconstruir visualmente todo o objeto com clareza[42].

    VI - Um caminho para rever o conceito de informao

    Como podemos pensar a informao a partir destas duas possibilidades deabordagem?

    As teorias clssicas de informao, comunicao e educao, criaram um

    modelo que considera a existncia de um emissor, um canal e um receptor. Oprocesso de comunicao se desenvolve a partir do emissor que emite umamensagem que passa pelo canal e chega ao receptor.

    Como se pode ver estamos perante uma abordagem trabalhada ao nvel do"atual", a partir de parmetros espao-temporal. A informao s pode serconcebida assim se estamos tratando de um sistema distincionalmentefechado, onde todos os sucessos esto conectados a todos os demais (socausalmente conexos) e ocorrem em instantes de um tempo comum e nico(so sncronos). Um sistema "s pode ser considerado perfeitamente

    sincrnico e causalmente conexo quando concebido como um sistemaisolado" (NAVARRO, 1997).

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    Estamos face, portanto, a uma concepo de informao concebida comopropriedade interna de um sistema com caractersticas sncronas, contnuo,linear, homogneo, e previsvel, cujas relaes esto dadas e determinadas "a

    priori". O emissor "emite" uma mensagem que percorre um canal em umdeterminado tempo que posteriormente, por um processo aditivo, recebida eassimilada pelo receptor. A informao, em ltima instncia, se confunde coma mensagem ganhando uma espessura quase material, como um lquido que

    passa por um canal.

    Evidentemente que ao observarmos este modelo em funcionamento, podemosverificar que esta "mensagem" se modifica no processo de comunicao e que"emissor" e "receptor" se influenciam mutuamente (interativamente).

    Dois processos diferentes se estabelecem ento para ser possvel manter o

    modelo:* Por um lado um processo de reduo. Para torn-lo operacional precisodesprezar tudo o que no for "relevante" para os seus objetivos[43]; restringira observao e a operao ao que possa ser medido, homogeneizado[44],controlado, organizado e domesticado;* Por outro lado, ao nvel terico, incorporando ao modelo os elementosobservados, estudando suas "particularidades", "enriquecendo-o" e ampliandosua descrio a ponto de desfigur-lo, mas sem conseguir sair de seus limites,sem colocar em questo o prprio modelo.

    Mas podemos considerar, de outro modo, a informao como umapropriedade da relao entre sistemas diferentes. Isto s pode se verificar seestudamos a informao no terreno virtual, como um processo de in-formaorecproca entre sistemas diferentes situadas em parmetros espao/temporaldiferentes.

    Esta in-formao recproca no se d atravs do "envio demensagens/respostas" sucessivas no tempo e no espao, mas, conforme nos

    prope Navarro por um processo de "sincronizao de constries[45]". A

    noo de constries entre sistemas equivalente a noo de in-formao:"aquisio por parte de uma realidade de uma nova forma particular" (existeaqui uma identificao entre informao e surgimento de novas distines).

    "Dois sistemas se in-formam mutuamente quando deixam de serindependentes e se convertem em causalmente dependentes quando seustempos se cruzam - entram em contato - e geram um tempo novo nos quaisso possveis e se formam seqncias de sucessos, inexistentes em seustempos prvios individuais".

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    Quando isto ocorre, cada um ou ambos (ou os vrios) sistemas podem serapenas perturbados e quando deixarem de se sincronizar retomar suatrajetria; ou podem ter sua trajetria irremediavelmente modificada.

    Neste modelo no existe mensagem. Nada passa de um a outro sistema. Ainformao no algo tangvel, quase material, mas um processo[46]. De umacerta forma ela um processo de emergncia, no tempo e no espao, de algoque no se situa neles.

    A sincronizao de constries pode constituir uma nica rede deacontecimentos no contnuos (a reduo a uma seqncia nica um caso

    particular) onde as diferentes seqncias "podem manter-se independentes emtodos os momentos que no sejam aqueles nos quais se cortam, nos quaisentram em dependncia causal", em outras palavras quando se manifestam no

    terreno do "atual", em um "ponto de vista", onde aparece um sujeito[47]. Nosoutros momentos temos um fenmeno de "concorrncia causal" quando aspr-condies de um certo sucesso "podem se gerar de maneira independentee diversa".

    Esta abordagem permite entender como o processo de in-formao pode geraralgo novo e no apenas "transferir algo de um lugar para outro". Permite-nostambm trabalhar com ambientes assncronos, fragmentrios, no-homogneos, descontnuos e principalmente entender o processo interativo ecomo pode a informao ser o resultado de uma tenso entre "sujeitos"

    diferentes.

    Notas

    [1] Durante a guerra, por necessidades de inteligncia, foram inventados omicrofilme e mquinas para decifrao de cdigos, mostrando a viabilidade deuma mquina para estocar, catalogar e buscar informaes, permitindotrabalhar com bancos de dados e processar e estocar grandes volumes deinformaes.

    [2] O problema para Bush no est na "exploso de informaes" mas namaneira de processa-la. Em suas palavras: "a dificuldade parece no ser tantoque publicamos mais do que deveramos, dada extenso e a variedade denossos interesses atuais, mas, sim, que as publicaes se estenderam muitoalm de nossa capacidade atual de fazer real uso delas. O registro das idiashumanas expandiu-se prodigiosamente -- e, entretanto, os meios de que nosvalemos para tentar encontrar algo de importante nesse labirinto de idias, soos mesmos que utilizvamos quando muito menos existia para pesquisar

    (BUSH, 1945)" (grifos nossos).

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    [3] O "aumento" de quantidade de informaes era, principalmente, resultadoda interconexo. Ao coordenar os cientistas Bush teve acesso praticamentetodo o conhecimento cientifico da poca; pode ver o quanto o estudo dediferentes reas se debruavam sobre os mesmos problemas e quantosesforos poderiam ser poupados se eles fossem relacionados. Mas serelacionados - e no vistos nos limites restritos e finitos duma especialidadeou biblioteca, teramos de ser capazes de processar um nmero infinito deinformaes.

    [4] Esta questo, o estabelecimento de relaes entre diversos processos deespecializaes, se coloca para Bush como um problema prtico devido funo de coordenao que assumia.

    [5] Em Bush aparece mesmo uma intuio sobre a possibilidade de uma nova

    metodologia quando coloca a "associao de idias como ns pensamos"como elemento central do novo caminho que deve ser procurado.

    [6] O objetivo produtivista pode ser resumido na proposio de desenvolverteoria e tecnologia que viabilizasse uma maior racionalizao de recursos eaumentar o potencial de resultados das atividades de pesquisa cientfica etecnolgica aumentando sua rentabilidade.

    [7] No contexto deste trabalho entendemos o paradigma moderno comomodelo que concebe a totalidade como passvel de anlise, estruturado por

    relaes de causa-efeito e construdo no tempo e espao. Usamos tambm"paradigma determinista" quando queremos ressaltar seu aspecto agencial ouoperacional.

    [8] Trabalhamos com os conceitos de "atual" e "virtual" no sentido formuladopor Pierre Levy: "o virtual como o complexo problemtico, o n detendncias ou de foras que acompanha uma situao, um acontecimento, umobjeto ou uma entidade qualquer, e que chama um processo de resoluo: aatualizao. (...) A atualizao criao, inveno de uma forma a partir deuma configurao dinmica de foras e de finalidades. Acontece ento algomais que a dotao a um possvel ou que a escolha entre um conjunto

    predeterminado: uma produo de qualidades novas, uma transformao dasidias, um verdadeiro devir que alimenta de volta o virtual" (LEVY, 1996).Por nosso lado, associamos o atual a uma emergncia situada no tempo e noespao enquanto o virtual pode ser entendido como sistema modal, capaz decriar condies para se gerar diferentes emergncias, diferentes possibilidadessituadas no tempo e no espao.

    [9] Os objetivos "produtivistas", os marcos paradigmticos, as tecnologias

    utilizadas e os problemas colocados se estabelecem ao nvel do agenciamentoe desta maneira ao nvel do atual.

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    [10] Esta reflexo recoloca a discusso da questo "trans-disciplinaridade"versus "inter-disciplinaridade" da Cincia da Informao.

    [11] Uma outra questo a ressaltar, e que tem ligao com o anterior que aCincia da Informao se auto-restringe ao se limitar ou colocar o acento noestudo da Informao em Cincia e Tecnologia. Esta auto-restrio, noentanto, dada pelos marcos tericos e prticos em que ela se construiu,ligada:* Ao objetivo produtivista associado a interesses do Estado e a polticas

    pblicas, ou ainda a grandes monoplios;* s tecnologias de inteligncia que lhe do suporte (em particular a escrita) eque oferecem possibilidades limitadas de estocagem, gerncia e

    processamento da informao;* Ao paradigma moderno que lhe oferece a base terica.

    [12] Ver nota [8].

    [13] como se observssemos o mesmo cenrio, no mesmo momento e lugar,num mesmo "contexto" (e se desconsiderssemos as diferentes caractersticas

    particulares de percepo e cognio dos observadores). Nesse caso steramos um "ponto de vista13", o mesmo posicionamento em termosabsolutos. Somente neste caso poderamos considerar as relaes como dadase termos "uma melhor maneira" de organizar as informaes, uma "verdade".Somente neste caso poderamos abstrair o contexto, j que ele seria uma

    constante.

    [14] Por exemplo, "ressaltadas determinadas condies de temperatura epresso" expressa esta opo na fsica.

    [15] Ainda que no possamos desenvolver nos limites deste trabalho dequalificao, gostaramos de esclarecer que, para ns, os conceitos de espao etempo que parecem to evidentes e capazes de serem perceptveis ao nvel"sensvel" (como algo que est a), no so mais do que construes tericas.

    Elas parecem bvias pelo paradigma que adotamos (e parecem "evidentes"por estarem na base de nossa maneira, da escala e dos limites em queoperamos o mundo). Em outras escalas e situaes ocorrem movimentoserrticos e aleatrios. que, ao contrrio nos "espantam", como os que podemos

    perceber em escalas subatmicas (dos quarks, por exemplo).A noo aparentemente bvia de que vivemos em um mundo de quatrodimenses (um espao tridimensional acrescido de uma varivel temporal)hoje questionada pelas teorias mais recentes da fsica, pois tal modelo semostra incapaz de descrever fenmenos j descobertos e reconhecidos. Nasteorias de "hiper-espao" e a das "supercordas" por exemplo, se trabalha com

    dez dimenses (e no apenas quatro), nove espaciais e uma temporal.

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    [16] Uma maneira de operar esta restrio trabalhar dentro de determinadoslimites de varincia, tomando pontos de vistas situados em espao e tempocontguos. De uma certa maneira o moderno o reino do contguo.

    [17] Olhando uma cadeia editorial podemos entender este processo, queatualmente pode parecer absurdo.Um livro muitas vezes comeava escrito a mo, ou ditado pelo "escritor".Depois o manuscrito era revisado e batido a mquina por ele prprio, um

    parente, um amigo ou uma secretria. Lgico que isto exigia uma nova revisoj que qualquer erro de quem bateu a mquina poderia prejudicar a obra.Posteriormente o texto ia para o editor que rabiscava, recompunha e s vezesre-digitava vrias pginas. Aps uma nova reviso o texto entrava no processogrfico. As pginas datilografadas eram lidas e re-digitadas na linotipo que

    produzia vrias placas de chumbo correspondentes a cada linha do livro. Estas

    placas eram colocadas em uma moldura de madeira com a qual se fazia umaprova de prelo. A prova era revisada e as correes necessrias refeitas nalinotipo, com as novas placas substituindo as erradas na moldura de madeira,uma nova prova de prelo, uma ltima reviso e finalmente impressas. Depoisdisso normalmente eram descobertos novos erros que possivelmente noestavam na prova do autor. Produzia-se uma errata, digitava-se na linotipo,etc., impressa em uma folha que era colocada dentro do livro. Numa novaedio se recomeava tudo de novo. Observe que o homem intermediava a

    passagem entre cada fase do processo.

    [18] Excetuando-se experincias editoriais como "O jogo de amarelinha" doescritor argentino Julio Cortazar.

    [19] Observe-se aqui a pratica cognitiva diferente da leitura de um hipertextoaonde, conforme se avana na leitura se opta por links, se vai e vem a vriostextos desenvolvendo um processamento paralelo de informaes.

    [20] Ainda que existam diferenas e se passem transformaes no processo de"inscrio" da informao, a escrita mantm a mesma estrutura da fala,

    articulada em uma narrativa e associada ao "atual", isto a parmetros espao-temporal e ao contexto no qual ela foi gerada.

    [21] , nos fala que os pensamentos,"(...) esto escritos deste modo (seqencial e com um fio condutor) e assimque se compreende o que dizem. Se os lemos de outra maneira, por exemplosaltando de um fragmento a outro, para frente e para atrs, o mais provvel que captemos somente parte do sentido, e s sob um determinado ponto devista, no melhor dos casos. No entanto a leitura fragmentria, inclusivealeatria, uma prtica corrente no s do leitor acidental, mas tambm e

    sobretudo do connaisseur que j sabe de antemo o que busca no texto. Osavanos sucessivos da tecnologia do livro, por exemplo, tm como objetivo

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    possibilitar ao leitor ir diretamente aonde quer, ao captulo ou a passagem dotexto que fala do tema que lhe interessa, ou a outros textos vinculados comaquele. So modos de leitura habituais e muitas vezes indispensveis, aindaque rudimentares. Uma referncia a outro artigo em uma pgina de umaenciclopdia nos exige voltar a buscar, talvez, em outro volume; do mesmomodo, uma nota de p de pgina nos obrigar a voltar biblioteca ou livraria, e pode ser que tenhamos que esperar dias ou meses para receber ooutro texto (TORL, )".

    [22] Na fala o contexto est ali, inclusive por movimentos e gestos; nacorrespondncia ele est presente nas situaes compartilhadas; no jornaldirio ele sobrevive no momento comum (quando se l o jornal no momentode sua publicao), e conforme este momento e contexto se diluem peloalargamento da periodicidade (ressalte-se o demorado tempo de edio do

    livro com as tcnicas iniciais de impresso) e a precariedade de distribuio,vamos chegar ao seu quase/desaparecimento no livro

    [23] O texto,ou o conjunto de textos se transforma em um "campo depossibilidades", como algo que pode ser reciclado, reaproveitado, redefinido,adquirindo novos significados relativamente autnomos em relao a quem oscriou. Teillard de Chardin, com seu conceito de "noosfera" (CHARDIN,1955) e Popper com seu "Mundo Trs" (POPPER, 1967) expressam idias quevo neste mesmo sentido.

    [24] As prticas comunicativas tm seu desenvolvimento relacionado aoinstrumental tecnolgico e a linguagem utilizada e capacidade de estocagem,gerncia e transmisso da informao.

    [25] Fizemos aqui algumas simplificaes para efeito de no nosprolongarmos demasiado em questes secundrias para os objetivos destetexto:* Entenda-se por paradigma um modelo de descrio, uma "viso de mundo",que serve de base para a construo de mecanismos de operao.

    * Um paradigma que "se instala" gera um sem nmero de possibilidades deestabelecimento de relaes entre elementos e fatos percebidos e verificados.Ao se "enriquecer" com estes novos elementos, porm, a partir de um dadomomento este modelo no consegue mais dar conta e integrar todos oselementos que aparecem, tornando-se as explicaes complicadas, confusas echeias de "dobras".* Sobre a transio de paradigmas nos aproximamos das formulaes de DanForesta, Kuhn, entre outros, que a concebem no como evoluo, mas comouma ruptura na forma de ver o mundo, impossvel se verificar a partir e nointerior da lgica do paradigma vigente. Por isso esta mudana exige um

    elemento no racional, intuitivo que seja capaz de descobrir "relaesinesperadas" que coloquem em questo o paradigma anterior.

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    * A questo chave que coloca na ordem do dia, a necessidade de superao do"paradigma determinista", a nosso ver se situa na passagem do simples para ocomplexo (ver Gell Man Murray).

    [26] Um mesmo paradigma pode ser descrito de diferentes maneiras. No casodo paradigma determinista temos, por exemplo, determinadas formas dedescrio, a linguagem, a escrita, a matemtica, a perspectiva, a fotografia,etc. Estas formas de representao e as tcnicas que viabilizam sua operaoso ao mesmo tempo expresso e elementos constituintes do paradigma.

    [27] O aumento do nmero destas variveis inviabiliza esta estruturao emrelaes causais. Procede-se ento na eliminao de variveis tidas comodesprezveis (que em realidade s podem ser desprezadas em determinadotempo e espao). Ocorre que em determinados momentos do sistema estes

    elementos desprezveis podem passar a ser determinantes e gerar situaesque subvertem o sistema construdo anteriormente.

    [28] Podemos dizer que o mundo ganha mais complexidade no momento queo homem capaz de perceber e operar em diferentes escalas e com umnmero de variveis tendendo ao infinito.

    [29] Observe-se que "tempo real" outra maneira de falar em "tempo zero",ou inexistncia de tempo.

    [30] Pois ela s existe no limite do "conhecido".

    [31] As imagens dos sistemas csmicos de Ptolomeu e Coprnico (verimagens em anexo) nos permitem visualizar como se opera a transio de

    paradigmas em momentos deste tipo. Conforme conhecemos novos astros epodemos visualizar seus movimentos, mais as suas trajetrias se mostraminesperadas e incompreensveis e mais a descrio se mostra confusa. Derepente, colocando o sol no centro do sistema a partir de um novo paradigma,os mesmos movimentos podem ser descritos de uma maneira muito maissimples, onde a lgica do paradigma se apresenta de forma clara e cristalina.De uma maneira mais geral podemos dizer que uma mudana de paradigmasse relaciona a uma certa mudana de elementos e parmetros que definem osistema. Ptolomeu descreve o sistema a partir da Terra. Coprnico a partir doSol o que exige um nvel de abstrao maior. Este novo "ponto de vista"viabiliza determinada viso dos contornos e da totalidade do sistema, dasrelaes que ele comporta e, de alguma forma, das medies possveis e

    possibilidades de se operar a partir dele.

    [32] Por exemplo: estamos to acostumados ao mtodo de anlise que temos

    dificuldade de pensar as coisas sem dividi-las; estamos to acostumados apensar e operar a partir das relaes de causa e efeito, que desprez-los parece

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    que significa condenar o mundo a paralisia.Outras armadilhas so noes criadas (que perpassam conceitos) cuja nicafuno legitimar o paradigma como, por exemplo, "realidade" e "verdade".So noes que s tem importncia a partir da tica daquele paradigma e quese pretende transformar em universais. Mas talvez a mais importante de todas,seja de criar premissas que impedem uma nova abordagem, como manter oslimites das disciplinas como algo intransponvel (ou simplesmente comocondio anterior a partir da qual devem ser pensados os problemas), quemostram grande eficincia como instrumento para impedir que se tome como

    premissa "totalidades" diferentes das divisveis atravs da anlise.

    [33] como se observssemos o problema, de certa forma como Ptolomeu,vendo o sistema a partir de um ponto onde os movimentos se tornamimpossveis de serem explicados e o mximo que conseguimos acrescentar

    detalhes a nossa descrio.

    [34] Posteriormente encontramos ncleos de pensadores que trabalhavam como conceito de Paradigma Hologrfico procurando tirar mais conseqncias das

    possibilidades de descrio da holografia.

    [35] No incio dos anos 60, "quando os cursos por instruo programadacomearam a ficar populares, um recm sado da universidade chamado ,cunhou a expresso hipertexto para exprimir a idia de escrita/leitura nolinear em um sistema de informtica. Hoje considerado o guru dessa nova

    linguagem" (http://www.quattro.com.br/passage/ficinth.htm - FicoInterativa & Hipertexto, The Passenger, 1995) .

    [36] No ano 2000 j existiam milhes de textos publicados na Internet. Note-se o quanto se estava longe de entender a dinmica explosiva da Internet.

    [37] O Goffer ainda existe e pode ser acessado atravs de um browser (oInternet Explorer ou o Netscape, por exemplo). Ele elucidativo de umatentativa de utilizar um instrumental metodolgico de um paradigma moderno

    para organizar a Internet. O passar do tempo demonstrou a inviabilidade deutilizar uma hierarquia e um sistema de ndices para organizar um grandevolume de informaes.

    [38] Ressalte-se, apenas para no deixar de lembrar, que antes mesmo deaprender a trabalhar com o hipertexto, j se faz experincias cognitivassignificativas na Internet com o que chamado de hipermdia (com acombinao de diferentes mdias e no apenas de textos).

    [39] Segundo nossa viso os links (relaes j estabelecidas) tendem a perder

    importncia em relao a mecanismos de busca cada vez mais associados aoprprio texto capazes de transformar uma palavra ou frase qualquer do texto

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    (e no apenas as predeterminadas pelo autor) em uma busca e enlace paraoutros textos.

    [40] Ver discusso da ordem Dobrada e ordem Desdobrada de Bohm.

    Ele fala da ordem implcita ou dobrada, onde espao e tempo no so osfatores dominantes que determinam as relaes de dependncia ouindependncia dos diversos elementos, e da qual deriva uma ordem explcitaou desdobrada, onde aparecem nossas noes ordinrias de espao e tempo, etambm de existncia separada de partculas materiais, que seriam abstraesderivadas daquela ordem mais profunda (BOHM, 1992).

    [41] Visto a luz natural o holograma tem uma aparncia velada com crculosmais ou menos concntricos.

    [42] Para Navarro estas caractersticas podem ser concebidas "como algunsdos princpios organizadores desta realidade abstrata que chamamos deinformao (NAVARRO,1997)":Principio de emergncia: "determinada informacin codificada en un ciertonivel de realidad, puede resultar constitutiva, en un contexto adecuado, deentidades pertenecientes a un nivel de realidad superior, irreductible al

    primero";Principio de transduo informacional: "la codificacin de la informacinacerca de un objeto emergente, tal y como se materializa en ese nivel de

    realidad subyacente al mismo en el "plano generativo" correspondiente alholograma, no tiene por qu resultar isomorfa respecto al modo como esainformacin se encarna y manifiesta en el dominio emergente el objetovisualmente reconstruido";Principio do todo nas partes: "el estilo hologrfico de organizacin de lainformacin establece una peculiar relacin entre las partes de un todo y esamisma totalidad. Una relacin por la que las partes codifican de algn modo o,con mayor precisin, poseen modelos generativos de la totalidad en la que seincluyen (...) em uma "sutil relacin de inclusin mutua, dinmica y

    generativa, entre la totalidad y los elementos subyacentes que la componen";Principio de constituo interativa: las partes de un holograma constituyen lareferida totalidad, como realidad emergente, a partir de esa codificacin

    propia de esos modelos generativos en ellas presentes, pero tambin demanera cooperativa, por medio de procesos de interaccin entre las mismas.Se tratara de un princpio segn el cual es justamente a travs de lasinteracciones de las partes que componen el llamado 'plano generativo', comose crea el objeto emergente codificado en esas partes".

    [43] Ocorre que estes aspectos desprezados, no especificados permanecem

    presentes, mesmo que submersos pelos aspectos que definem o sistema. Estesaspectos que no interferem de maneira aprecivel na maior parte da trajetria

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    do sistema, em certos pontos crticos, nos chamados "pontos de bifurcao",podem se tornar decisivos e operar mudanas na trajetria do sistema. "Umarealidade at ento no reconhecida no sistema, que se manteve em umacondio virtual, latente ou 'dormida', pode irromper inopinadamente edeterminar sua evoluo futura de maneira no previsvel pela 'descriooficial' (NAVARRO, 1977)".

    [44] No outra a razo de uma certa tendncia a privilegiar a informao emCincia e Tecnologia.

    [45] Em lugar da conceituao clssica da Fsica de constrio como"limitao dos graus de liberdade de um sistema". Navarro nos prope comoconceito de constrio: "a influncia modificadora do comportamentoespontneo de um sistema" (exercida por outro sistema).

    Em relao ao termo sincronizar que normalmente significa "fazer que certaseqncia de sucessos ocorra em instantes determinados da srie temporal(totalmente ordenada) na qual se d outra seqncia de sucessos, para umfenmeno de sincronizao se verifica quando duas ou mais seqncias desucessos, mutuamente independentes - cada uma delas constitudas porsucessos causalmente conectados - "entram em contato" de forma que umamodifica a outra.

    [46] Existe uma certa similitude aqui com a compreenso da informao comouma mudana de estrutura.

    [47] Somente neste caso poderamos ter algo similar ao modelo tradicional decomunicao.

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    d'Universit Analyse Regionale et Amnagement du Territoire I - Institutd'tudes du Dveloppement Economique et Social -Paris. Doutorando emCincia da Informao (IBICT/UFRJ)